Anti-inflamatórios No Controle da Dor

É comum os medicamentos estarem presentes no dia a dia das pessoas. Atualmente, há uma crescente utilização de diversos medicamentos, não apenas em hospitais, mas dentro de lares, até porque a maioria deles não exige prescrição médica para serem utilizados, facilitando a aquisição, o que pode se tornar perigoso à saúde do usuário.

Dentre a grande variedade de classes de medicamentos, podemos citar os analgésicos, antidepressivos e anti-inflamatórios, sendo estes últimos, os que serão destacados no presente artigo. 

A inflamação consiste em uma resposta imunológica a alguma infecção ou lesão dos tecidos, onde o fluxo sanguíneo aumenta na região afetada, transportando células do sistema imune para combater o agente agressor.

Os anti-inflamatórios, então, agem para impedir ou amenizar essa reação, reduzindo os sintomas comuns causados pela inflamação.

Os anti-inflamatórios representam uma das classes de maior diversidade de fármacos disponíveis no Brasil, atribuído à sua capacidade de analgesia para pacientes de dor crônica. Apresentam ação antipirética e analgésica, visto que inflamação pode causar dor.


Tipos de anti-inflamatórios

anti inflamatorio dor

Esses medicamentos são divididos em duas grandes classes.

1. Anti-inflamatórios esteroidais (corticoides)

Os anti-inflamatórios esteroidais, também chamados de glicocorticoides ou corticosteroides, inibem a ação das prostaglandinas e proteínas envolvidas nos processos inflamatórios.

Inibem a fosfolipase A2 através da ativação da lipocortina, que por sua vez, inibe a formação do ácido araquidônico.

2. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)

Já os anti-inflamatórios não-esteroidais inibem a enzima ciclo-oxigenase I e ciclo-oxigenase II, isoenzimas da cicloxigenase, agindo como inibidores diretos da síntese de prostaglandina e tromboxano por meio do ácido araquidônico.

No pré-operatório, a administração de anti-inflamatórios não-esteroidais atuam na diminuição da sensibilidade de nociceptores periféricos induzidos por mediadores inflamatórios, como prostaglandinas, liberados no local da dor.


Os AINEs funcionam inibindo a atividade de uma enzima chamada ciclooxigenase (COX), crucial na formação de prostaglandinas. As prostaglandinas desempenham um papel na geração da dor e na resposta inflamatória; no entanto, eles também têm papéis em muitas outras funções corporais.


Anti-inflamatórios disponíveis no Brasil

No Brasil, existem um total de 66 diferentes compostos, sendo que 21 são anti-inflamatórios esteroidais e 45 pertencem à classe dos não-esteroidais. Estudos revelam que quase 30 milhões de pessoas ingerem algum tipo de anti-inflamatório não esteroidal, no qual 40% são pessoas idosas.

Aspirina, Ibuprofeno, Diclofenaco, Paracetamol, Naproxeno, Cetoprofeno, Ácido Salicílico são alguns dos anti-inflamatórios de uso mais comuns.

Anti-inflamatórios mais potentes incluem o Toragesic (cetorolaco).


Indicações dos anti-inflamatórios

Os anti-inflamatórios, por inibirem a síntese de prostaglandinas e tromboxano, são úteis em diversas indicações clínicas e sintomáticas musculoesqueléticas, em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica progressiva, poliarterite nodosa, espondilite anquilosante, artrite reumatoide, dismenorréia primária, mastocitose sistêmica, serosites lúpicas (pleurite e pericardite), osteoartrose, artroplastia e fibrose cística.

Atualmente, o ácido acetilsalicílico (conhecido como AAS ou Aspirina) é um dos fármacos mais utilizados no mundo, com seu consumo médio excedendo 20.000 toneladas por ano. A aspirina, assim como os outros anti-inflamatórios, apresentam propriedades analgésicas, antipirética e seu uso clínico serve para alívio de dores leves e moderadas.

dor

Pode ser associada a alguns opioides analgésicos para uso no tratamento do câncer, para distúrbios articulares inflamatórios como artrite reumatoide, febre reumatoide, diminuindo ataques isquêmicos, trombose após enxerto de trombose, entre outros tratamentos.


Tabela 1: Os AINEs são geralmente usados para o alívio sintomático das seguintes condições:


Uso no tratamento de febre

Quando ocorre um desequilíbrio na temperatura corporal, surge a febre a partir de uma infecção, lesão ou doença maligna.

Diante dessas situações, aumentam a formação de citocinas, seguida do aumento das prostaglandinas no hipotálamo. A ação antipirética dos anti-inflamatórios está relacionada por inibir a produção de prostaglandinas no hipotálamo.


Os AINEs variam em sua potência, duração de ação, como são eliminados do corpo, com que intensidade inibem a COX-1 versus COX-2 e sua tendência a causar úlceras e promover sangramento. Quanto mais um AINE bloqueia a COX-1, maior é sua tendência a causar úlceras e promover sangramento.


Efeito analgésico (controle da dor) dos anti-inflamatórios

Com relação ao efeito analgésico, os anti-inflamatórios são eficazes em dor leve a moderada, principalmente em dores oriundas de processo inflamatório ou lesão tecidual.

Em 2011, uma revisão de literatura publicada na Revista Brasileira de Ciências da Saúde citou algumas estratégias de controle da dor pós-operatória em cirurgia oral.

O analgésico paracetamol foi citado como sendo o analgésico de ação periférica de escolha para o alívio da dor pós-operatória em cirurgia oral devido a sua eficácia e segurança, desde que administrado nas doses e intervalos de horários corretos.

Outro anti-inflamatório citado na pesquisa foi a aspirina, frequentemente utilizado como analgésico e demonstrando, inclusive, eficácia superior ao paracetamol, pois proporciona um efeito mais rápido e mais significativo, uma vez que os pacientes tratados com aspirina solúvel relataram dor significativamente menor durante um período de investigação de 4 horas.

Os estudos clínicos mostram que os anti-inflamatórios podem aliviar a dor causada até mesmo por exercício excessivo. Em contrapartida, para o tratamento de Dor Muscular de Início Tardio, os resultados são conflitantes.

Alguns relatos afirmam a redução da dor, enquanto outros mostram a falta de efeito sobre o quadro doloroso.


No esporte, AINEs são úteis para controlar a inflamação, dor e inchaço associados a lesões musculares agudas. Nas primeiras 24 a 48 horas após a lesão, desenvolve-se uma constelação de sintomas, que inclui dor com o uso muscular, rigidez e inchaço.


Anti-inflamatórios para dor muscular

Nahon e colaboradores notaram esses dados conflitantes em um estudo bibliográfico intitulado “Anti-inflamatórios para Dor Muscular de Início Tardio: revisão sistemática e metanálise”, publicado em 2021.

A partir de uma ampla busca de artigos sobre o assunto, o estudo forneceu evidências de que o uso de anti-inflamatórios não esteroidais utilizados para o tratamento de Dor Muscular de Início Tardio não parece ser superior às situações com o uso de placebo, não promovendo melhora significativa da condição clínica.

Sendo assim, no que se refere à condição de Dor Muscular de Início Tardio, é necessário realizar mais estudos para resolver essa aparente incongruência dos resultados.


Cautela no uso de anti-inflamatórios – efeitos adversos

efeito adverso anti inflamatorio

Embora seu efeito analgésico seja evidente para muitas outras situações, o consumo de anti-inflamatórios precisa ser realizado com cautela. Utilizados de forma indiscriminada, os anti-inflamatórios, ao invés de fornecer analgesia, podem gerar sérios problemas de saúde.

Em geral, os efeitos adversos são altos, sendo o trato gastrointestinal o local onde acontecem os problemas mais graves.

Reações cutâneas e efeitos adversos renais em pessoas suscetíveis a doenças renais podem levar à insuficiência renal aguda devido ao uso indiscriminado de anti-inflamatórios, além de problemas cardiovasculares, pois quando esse tipo de fármaco é administrado isoladamente, pode acarretar o aumento da pressão arterial, levando a pessoa a ter um AVC e infarto do miocárdio.

Mesmo diante dos efeitos eficazes dos anti-inflamatórios para o alívio de quadros dolorosos, é importante sempre lembrar de consultar seu médico antes de fazer uso desse tipo de medicamento.


Efeitos colaterais dos anti-inflamatórios incluem:

  • Gastrite – incluindo dores de estômago, mal-estar e diarreia.
  • Úlceras estomacais – podem causar hemorragia interna e anemia; medicamento extra para proteger seu estômago pode ser prescrito para ajudar a reduzir esse risco.
  • Dores de cabeça.
  • Sonolência.
  • Tontura.
  • Reações alérgicas.


Outras precauções com uso de anti-inflamatórios

Alguns indivíduos são alérgicos aos AINEs e podem desenvolver falta de ar quando um AINE é tomado.

As pessoas com asma correm um risco maior de sofrer uma reação alérgica grave aos AINEs. Indivíduos com alergia grave a um AINE provavelmente terão uma reação semelhante a um AINE diferente.


Referências

LIMA, A. S.; ALVIM, H. G. O. Revisão sobre anti-inflamatório não-esteroidais: ácido acetilsalicílico. Revista de Iniciação Científica e Extensão, v. 1, p. 169-174, 2018.

NAHON, R. L. et al. Anti-inflamatórios para Dor Muscular de Início Tardio: revisão sistemática e metanálise. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 27, n. 6, 2021.  

PEIXOTO, R. F. et al. Controle da dor pós-operatória em cirurgia oral: revisão de literatura. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 15, n. 4, p. 465-470, 2011.

SILVA, J. M. et al. Anti-inflamatórios não-esteroidais e suas propriedades gerais. Revista Científica do ITPAC, Araguaína, v. 7, n. 4, 2014.

Dr. Andrew Seung Ho Park

CRM-SP: 157730 RQE: 67991 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Residência Médica de Fisiatria pelo HC-FMUSP. Residência Médica em Neurofisiologia Clínica pelo HC-FMUSP. Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professor Colaborador do CEIMEC – Centro Integrado de Estudo em Medicina Chinesa. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR).

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Dr. Andrew Seung Ho Park

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CRM-SP: 157730 RQE: 67991 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Residência Médica de Fisiatria pelo HC-FMUSP. Residência Médica em Neurofisiologia Clínica pelo HC-FMUSP. Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professor Colaborador do CEIMEC – Centro Integrado de Estudo em Medicina Chinesa. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR).

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