Transtornos Alimentares: Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa: O que é?

Os Transtornos Alimentares Anorexia Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN) e entre outros apresentam seus primeiros sintomas na infância e na adolescência. Taxas de incidência tem aumentado na população nos últimos anos sendo motivo de preocupação para os especialistas.

Estes distúrbios evidenciam a internalização de comportamentos ideais e obsessivos sobre controle de peso havendo uma valorização excessiva da imagem corporal representando um critério diagnóstico importantíssimo para a psiquiatria e desafio nosológico aos profissionais da saúde.

A Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN) são os principais Transtornos Alimentares denotando grave problema de saúde mental no que diz respeito ao comportamento alimentar, apresentando danos a saúde e qualidade de vida.

Atualmente, índices de insatisfação com o corpo cultivados por padrões de beleza inatingível tem alcançado proporções altíssimas em ambos os gêneros levando jovens a buscarem uma identidade ou felicidade que está fora de si como ideal gerando sofrimento emocional.


Anorexia Nervosa

A Anorexia Nervosa é tida como restrição do hábito alimentar de maneira severa capaz de levar a
pessoa a perda de peso voluntária demasiadamente no desejo de obter a magreza a todo custo.

Cerca de 0,5% da população mundial sofre desse problema de saúde mental com a prevalência em mulheres jovens ocidentais entre 15 a 19 anos de idade podendo chegar sua taxa a 1,4% nessa população e nos homens 0,2%.

Estima-se que o peso corporal é compreendido abaixo de 15% do esperado. É uma doença que requer bastante preocupação, visto que, entre os Transtornos Alimentares é a que maior possui índices de mortalidade, por volta de 10% a 18%.

Entretanto, seu quadro pode ser reversível se o quanto antes for iniciado o tratamento e a reversão do estado nutricional do paciente.


Etiologia dos transtornos alimentares

A etiologia do Transtorno Alimentar aponta para múltiplos fatores associados: genética, neurobiologia e
aspecto familiar sóciocultural. Algumas psicopatologias foram correlacionadas como: Ansiedade, Depressão e Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

Todavia, também há traços de personalidade acerca da predisposição para Anorexia Nervosa (AN), a saber: baixa autoestima, perfeccionismo, competitividade, obediência em excesso e leve autismo em atitudes.

Entre as complicações médicas têm-se elevado níveis de hormônio do crescimento, níveis elevados de cortisol, metabolismo alterado, mudanças na tireoide e anormalidades de secreção de insulina.

De modo geral, nos Transtornos Alimentares é possível detectar a dinâmica familiar que existe, uma
ausência de limites nos subsistemas entre as gerações familiares, ocultado conflitos interpessoais subjacentes; perfis psicológicos podem esconder correlações atípicas com Transtornos Afetivos e Transtorno Obsessivo- Compulsivo, baixa autoestima e distorção da imagem corporal correspondem a Anorexia Nervosa.

disturbio alimentar

Pacientes com o subtipo purgativo são mais impulsivos, já os do subtipo restritivo são mais obsessivos e perfeccionistas. Costumam ser pacientes com sentimentos de desesperança, bastante sensibilidade a crítica, tendência a buscar aprovação de terceiros, evolução insatisfatória da identidade e conflitos de autonomia.


Diagnóstico de transtornos alimentares

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) descreve critérios diagnósticos sobre a Anorexia Nervosa.

Compreender pontos importantes que validam comportamentos nocivos a saúde preenchendo critérios estabelecidos pelo manual são relatados abaixo:

a) Restringir a ingestão calórica perfazendo um peso inferior ao contexto de idade, gênero e necessidades usuais;

b) Apresentar medo superior ao esperado de ganhar peso ou de engordar, mesmo com um peso baixo daquele designado como saudável;

c) Perturbação na experiência de vivenciar o peso ou forma corporal atual; ausência da percepção da gravidade de autorreconhecimento;

  • Tipo Restritivo: durante últimos 3 meses, não houve episódios de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (vômitos autoinduzidos, uso de laxantes ou diuréticos, por exemplo); esse quadro é característico de perda de peso por meio de dieta, jejum e/ou exercício excessivo;
  • Tipo Compulsão Alimentar Purgativa: nos últimos 3 meses, ocorreu a incidência de episódios de compulsão alimentar recorrente sob o ato de purgar (vômitos autoinduzidos, uso de laxantes ou diuréticos, por exemplo).
  • Leve: IMC ≥ 17 kg/m2 / Moderada: IMC 16-16,99 kg/m2 / Grave: IMC 15-15,99 kg/m2 / Extrema: IMC < 15 kg/m2


Tratamento para Anorexia Nervosa

O tratamento da Anorexia Nervosa é difícil, lento e complexo devido taxas de recaída e recidiva com estimativa de 5 a 8 anos de acompanhamento para se obter saúde mental e física demandando sentimentos de ambivalência do paciente.

O paciente precisa se sentir engajado para voltar a comer, ganhar peso e então manter um peso saudável. Dentro do tratamento é indispensável uma abordagem multidisciplinar especializada em saúde mental contendo apoio nutricional, psicoterapia e tratamento medicamentoso e se possível, o transdiagnóstico.

Pesquisas indicam que 33,5% dos pacientes atingem recuperação parcial no tratamento para Anorexia Nervosa frente a 20% dos pacientes que se tornam crônicos. É um tratamento custoso associado a reabilitação nutricional e internações hospitalares.

No entanto, a identificação precoce pode fornecer resultados satisfatórios e estratégias promissoras as intervenções a longo prazo no tratamento da Anorexia Nervosa.


Bulimia Nervosa

A Bulimia Nervosa (BN) é outro tipo de Transtorno Alimentar impulsionado pelo paradigma de estereótipos de beleza.

A estética da magreza valorizada como sinônimo de saúde em detrimento do passado, por conseguinte proporciona conflitos psicológicos atuais e porque não, gatilhos para o surgimento de Transtornos Alimentares.

Pesquisas afirmam que a Bulimia Nervosa (BN) é relatada em 1,9% das mulheres e 0,6% dos homens com início também observado na adolescência ou jovens adultos. O risco de suicídio também se mostrou alto nesse transtorno psiquiátrico.

A Bulimia Nervosa é descrita como o ato alimentar em excesso, compensatório por meio de vômitos, laxantes, dietas e exercícios físicos exageradamente visando manter a aparência e o peso corporal desejado.

Existe apreensão persistente sobre alimentar-se e um desejo incontrolável por comida. Por vezes, pode ter havido episódio pregresso de Anorexia Nervosa seja entre alguns meses ou até vários anos antecessora a Bulimia Nervosa.

comer

A psicopatologia da Bulimia Nervosa é caracterizada por episódios de compulsão alimentar frenquentemente durante e após dietas para perder peso, persistindo por vários anos, manifestando-se de forma intermitente ou crônica, podendo alternar com períodos de remissão de quadros de mudança no hábito alimentar.


Etiologia de Bulimia Nervosa

Sua etiologia abrange fatores individuais, ambientais, genéticos e variáveis modificadoras do curso.
Comorbidades são frequentemente associadas a Bulimia Nervosa: Transtornos Depressivos, Transtorno Bipolar, Transtornos de Ansiedade, Transtornos de Personalidade e Transtorno por Uso de Substância.


Diagnóstico de Bulimia Nervosa

Pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais (DSM-5) é postulado como:

A) Episódios se caracterizam por compulsão alimentar recorrente: 1. Ingerir grande quantidade de alimento maior que a maioria das pessoas sob circunstâncias idênticas e 2. Sentir que está sem controle sob a ingestão durante um episódio;

B) Atitudes compensatórias inapropriadas frequentes para impedir ganho de peso;

C) No período de 1 vez por semana dentro de 3 meses ocorre o comportamento de compulsão alimentar e atividades compensatórias inadequadas;

D) A forma física e o peso corporal influem de modo indevido sobre a autoavaliação;

E) A perturbação não acontece apenas em episódios de anorexia nervosa.

A gravidade do quadro depende dos sintomas e nível de incapacidade funcional:

  • Leve: Média de 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana.
  • Moderada: Média de 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana.
  • Grave: Média de 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios inapropriados por semana.
  • Extrema: Média de 14 ou mais comportamentos compensatórios inapropriados por semana.


Tratamento de Bulimia Nervosa

No tratamento da Bulimia Nervosa é importante primeiro definir o diagnóstico, ter clareza do
diagnóstico diferencial e considerar as doenças clínicas recorrentes ao quadro.

O trabalho em equipe multidisciplinar é essencial contendo psiquiatra, psicólogo e nutricionista. Sobre o manejo do tratamento se faz necessário educar a família e o paciente acerca da natureza da doença e seguimento do cuidado em saúde. Riscos também devem ser alertados.

Prevenir Transtornos Alimentares possui duas vertentes. A primeira pautada na diminuição de fatores
influenciadores na incidência dos Transtornos alimentares, ou seja, na redução de estratégias que minimizem os impactos de pressões sociais, principalmente direcionado as mulheres.

Já a segunda causa tem como enfoque a duração do Transtorno Alimentar, ou melhor, a redução da sua operacionalização.

Por isso, o foco é detectar e intervir precocemente. A família e amigos se encontram em um grau de proximidade privilegiado para identificar mudanças de atitude relacionadas a comida, peso e forma física. Professores podem ajudar a avaliar problemas alimentares devido visão objetiva e bastante tempo dispendido com adolescentes e jovens adultos em idade escolar.

Referências

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    Prognóstico. Acta Med Port. Ago 31;30(7-8):517-523, 2017.
  2. Appolinário, J. C., & Claudino, A. M. Transtornos alimentares. Brazilian Journal of Psychiatry 22, 28-31. 2000.
  3. De Almeida, J. P., & das Chagas Cardoso, K. C. Bulimia nervosa em adolescentes do sexo feminino. Research, Society and Development, 10(15),
    2021.
  4. Dos Reis JA, Júnior CR, de Pinho L. Fatores associados ao risco de transtornos alimentares entre acadêmicos da área de saúde. Rev Gaucha
    Enferm. Jun;35(2):73-8, 2014.
  5. Hay P. Current approach to eating disorders: a clinical update. Intern Med J. Jan;50(1):24-29, 2020.
  6. Kontić O, Vasiljević N, Trisović M, Jorga J, Lakić A, Gasić MJ. Eating disorders. Srp Arh Celok Lek. Sep-Oct;140(9-10):673-8, 2012.
  7. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (American Psychiatric Association) 5ed. Porto alegre: Artmed, 2014.
  8. Oliveira, É. A., & Santos, M. A. Perfil psicológico de pacientes com anorexia e bulimia nervosas: a ótica do psicodiagnóstico. Medicina (Ribeirão
    Preto), 39(3), 353-360, 2006.
  9. Sá, M. D. Anorexia nervosa: definição, diagnóstico e tratamento, 2012.
  10. Silva, A. R. J. Anorexia nervosa-Revisão integrativa da literatura, 2018.

Adhila Carlos Oliveira de Espírito

CRP 06/109972
Psicóloga.
Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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Adhila Carlos Oliveira de Espírito

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Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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