Dismenorreia: Causas, Sintomas e Tratamentos da Cólica Menstrual

A dismenorreia, termo médico para as cólicas menstruais, pode ser de dois tipos. Os sintomas afetam mais de 70% das mulheres em idade reprodutiva.

Se você faz parte da gorda estatística de mulheres que sofrem todos os meses ou já sofreram alguma vez com dores abdominais antes ou durante a menstruação, sabe que a dismenorreia – nome médico do problema – não é nada agradável.

Ainda que a maior parte das pacientes em idade reprodutiva conviva com o problema de forma (mais ou menos) amigável, há quem sinta dores tão fortes que precise se ausentar do trabalho ou se render a tratamento médico ambulatorial para amenizar os sintomas.

Cólicas menstruais são causadas por contrações do útero e são comuns, não levando a maiores preocupações para a maior parte das mulheres. No entanto, o que importa você saber agora é que elas podem ser de dois tipos: primárias ou secundárias.

A dismenorreia primária refere-se à cólica menstrual comum, que aparece cerca de um a três dias antes do período e pode se estender ao longo dele.

Já a dismenorreia secundária resulta de um distúrbio nos órgãos reprodutivos. Há tratamentos disponíveis para os dois tipos.

Sintomas e causas da dismenorreia primária

A dismenorreia primária, como são chamadas as cãibras menstruais comuns, costuma ser recorrentes (voltam todos os meses) e não está relacionada a nenhuma outra doença. Geralmente, ela começa um ou dois dias antes do período ou com o início da menstruação e é sentida no abdômen inferior, costas e até coxas, pela irradiação nervosa da dor. Pode variar de leve a muito forte, durar de 12 a 72 horas e ser acompanhada, ainda, de sintomas paralelos, como náuseas e vômitos, cansaço e diarreia.

O problema costuma ser corriqueiro para quem sofre com ele, mas tende a amenizar com o envelhecimento e pode até sumir por completo após uma gestação.

Ela é causada pelas contrações naturais do útero durante o período menstrual. Quando a musculatura do órgão se contrai demais, pode acabar comprimindo vasos sanguíneos da região e interrompendo o fornecimento de oxigênio para os tecidos. É essa falta de oxigenação que leva à dor.

As contrações, por sua vez, são ocasionadas pela liberação da prostaglandina, hormônio responsável pela liberação do endométrio na menstruação, a camada interna do útero que abrigar o embrião caso a mulher ficasse grávida.

Sintomas da cólica menstrual comum:

SintomaDescrição
DorCólicas ou dores intensas na parte inferior do abdome que podem ser de intensidade moderada a intensa.
NáuseaSensação de enjôo no estômago que pode levar ao vômito.
Dor de cabeçaDor pulsante ou latejante na cabeça, geralmente acompanhada de sensibilidade à luz e ao som.
FadigaExaustão ou sensação de cansaço que pode ser acompanhada de falta de motivação.
DiarreiaEvacuações intestinais soltas e aquosas ocorrendo mais de três vezes ao dia.
Dor nas costasDor ou pressão na região lombar, geralmente na baixa das costas.
TonturaSensação de instabilidade ou tontura, às vezes acompanhada de confusão.
InchaçoDistensão abdominal devido ao acúmulo de gás, muitas vezes acompanhada de arrotos.

Causas e sintomas da dismenorreia secundária

A dismenorréia secundária é a dor causada por um distúrbio nos órgãos reprodutivos da mulher, tais como endometriose, adenomiose, fibróides uterinos (miomas) ou infecção.

Há ainda quem associe o uso de dispositivo intrauterino (DIU) à ocorrência desse tipo de dor. Em mulheres que sentem cólicas causadas por distúrbios, a dor costuma ser bastante mais intensa e tem duração maior que as cólicas comuns: começa mais cedo e se arrasta por mais dias ao longo das 72 horas esperadas nos casos normais.

Diferentemente do que acontece com a dismenorreia primária, mesmo sendo mais fortes, as dores nesse caso não são acompanhadas de náuseas e diarreia.

A causa principal da dismenorreia secundária é a endometriose, mas muitos outros problemas ginecológicos podem causar cólicas muito dolorosas na menstruação.

Outras das mais comuns são:

  • Endometriose: Patologia caracterizada pelo crescimento anormal da parede interna do útero (endométrio), mesmo fora do período menstrual.
  • Inflamação pélvica: São processos inflamatórios que acometem diversas estruturas do sistema reprodutor feminino, e que se inicia na vagina, passando pelo útero, trompas e ovários. Pode ser causada por bactérias sexualmente transmissíveis, por exemplo.
  • Miomas uterinos: Tumores não cancerígenos que se formam no útero e causam dor e desconforto. Em alguns casos, afetam a fertilidade da mulher. 

Ao contrário da dismenorreia primária, a secundária costuma ser tão forte que frequentemente leva as mulheres ao hospital. Outros sintomas além da dor pélvica podem estar relacionados à causa específica dos sintomas.

No caso da endometriose, por exemplo, a lista pode incluir também dor durante o sexo, sensação de estômago cheio, gases, dificuldade para engravidar, ciclo menstrual irregular ou muito intenso, além de sangramentos fora da época da menstruação.

Sintomas da endometriose:

No caso dos miomas uterinos, a lista ainda ganha, além da dor durante o sexo e da cólica a sensação de “menstruação pesada”, como se o útero pudesse sair pela vagina.

As inflamações, por sua vez, ainda podem vir com corrimento branco ou amarelado com cheiro forte, dor ao toque na genitália, febre alta e dor no ventre.


Diagnóstico da dismenorreia

O diagnóstico da cólica costuma ser clínico, em consultório. O médico pode fazer uma avaliação do histórico clínico da paciente e complementá-lo com um exame ginecológico meticuloso, além de avaliações laboratoriais para detectar, por exemplo, a presença de infecções ou inflamações.

No caso de suspeitas de mioma ou endometriose, outros exames de imagem, como o ultrassom transvaginal, podem ser solicitados.

ExameFinalidadeDetalhes técnicos
Exame pélvicoPara verificar anormalidades do útero ou ovários.O médico avaliará a genitália externa, a vagina, o colo do útero e o útero quanto a qualquer anormalidade.
Teste de gravidez
Para determinar se a paciente está grávida.Uma amostra de urina ou sangue será coletada e testada quanto à presença do hormônio hCG, que indica gravidez.
UltrassomPara visualizar o útero e os ovários.O paciente se deitará e um transdutor será usado para enviar e receber ondas sonoras, que criarão uma imagem dos órgãos reprodutivos.
Teste de níveis hormonaisPara medir os níveis hormonais.Uma amostra de sangue será coletada para medir os níveis de testosterona, estrogênio e progesterona.
Biópsia endometrialPara verificar se há endometriose.Uma pequena amostra do revestimento uterino será coletada e enviada a um laboratório para exame.
Ressonância magnéticaPara examinar os órgãos pélvicos.O paciente ficará deitado em uma mesa enquanto um campo magnético e ondas de rádio criam imagens dos órgãos pélvicos.
Tomografia ComputadorizadaPara afastar outras causas de dores abdominaisO paciente ficará deitado em uma mesa enquanto as radiografias são tiradas de diferentes ângulos, criando uma imagem 3D.
LaparoscopiaProcurar anormalidades nos órgãos pélvicos.Em caso de dúvida diagnóstica. Um tubo fino com uma câmera é inserido através de uma pequena incisão no abdômen para visualizar os órgãos internos.


Tratamento das dismenorreias primárias e secundárias

O tratamento da cólica menstrual, na verdade, depende do tipo e do que causa a dor.

Nos casos primários, o uso de analgésicos para alívio da dor podem ajudar, assim como os antiespasmódicos (caso do buscopan). Para mulheres que sofrem todos os meses com os sintomas, tratamentos com substâncias bloqueadoras da prostaglandina, como a progesterona, costumam ser eficazes em até 80% dos casos. Esse é o caso dos anticoncepcionais à base do hormônio progesterona.

Medidas mais conservadoras, como aplicação de compressas quentes na região dolorosa, também podem trazer alívio. O repouso pode ser benéfico, mas desde que não seja total – apenas para atividades que intensifiquem a dor, como exercícios de caminhada e força.

Outros hábitos que podem ajudar a regular as dores da cólica menstrual:

  • Alimentação: Comidas muito gordurosas podem contribuir com o aumento da dor, pois eles estimulam a produção de prostaglandina, que tem também como função quebrar as células de gordura. Assim, quanto mais gordura, mais prostaglandina será produzida.
  • Atividade física: Exercícios aeróbicos podem auxiliar no controle da cólica menstrual, porque a liberação de endorfina, a substância do bem-estar para o organismo, ainda melhora a circulação sanguínea e oxigena mais a região acometida.
  • Hidratação: Manter os tecidos hidratados por meio da ingestão de água pode ajudar com a dor, pois quanto menor a presença de água no organismo, maior a concentração das substâncias e hormônios que contribuem para a dor.

Dismenorreias secundárias terão o tratamento voltado especificamente para o que causa a dor, seja endometriose, com anticoncepcional e reposição hormonal, seja uma inflamação pélvica, que vai requerer o uso de antibióticos e anti-inflamatórios.

Alguns miomas se resolvem sozinhos ou apenas com tratamento hormonal, porém alguns podem necessitar de intervenção cirúrgica.

A cirurgia para os casos de mioma ou de tumores cancerosos é com o método de histerectomia (retirada do útero) total ou parcial, por uma incisão no abdômen ou pelo canal vaginal.

Outra técnica cirúrgica é a videolaparoscopia, na qual são feitas pequenas incisões, de cinco a dez milímetros, no abdômen, por onde o médico passa uma micro-câmera auxiliar para a identificação do que será retirado.

Dismenorreia e acupuntura

Diversos estudos comprovam que a acupuntura também pode ser benéfica quando somada ao rol de tratamentos disponibilizados pela medicina ocidental para a dismenorreia, seja para trazer conforto e bem-estar às pacientes, ou para diminuir a intensidade e duração das dores.

Um deles, publicado em 2011 na revista científica australiana Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, comparou dois grupos de mulheres com idade de 14 a 25 anos, com histórico de dismenorreia.

Um dele se submeteu à acupuntura, e outro, à chamada acupuntura sham, uma espécie de “placebo”, em que os pontos estimulados não são verdadeiramente pontos e acupuntura.

Elas foram ouvidas sobre suas percepções de dor menstrual após três, seis e 12 meses de tratamento, mas apenas após os seis primeiros meses houve diferença significativa de redução de dor nos dois grupos, além de uma duração menor, de 30 horas nas mulheres que receberam acupuntura, contra 39 horas, em média, no grupo do placebo.

Dra. Celia Yunes Portiolli

CRM-SP 27971 / RQE 5148 – 19469 Médica Pediatra e Especialista em Acupuntura Área de Atuação em Dor pela AMB (Associação Médica Brasileira), Coordenadora do Curso de Especialização em Acupuntura do CEIMEC – Centro de Estudo Integrado em Medicina Chinesa Médica colaboradora do Ambulatório de Acupuntura do Centro de Dor da Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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