Refluxo Gastroesfágico – Dor, queimação e azia

Conheça mais a respeito do refluxo gastroesofágico e saiba como agir diante do problema!

O refluxo gastroesofágico é um problema de saúde que atinge diversas pessoas rotineiramente.

Na verdade, a quantidade de pessoas atingidas por esse problema é tão alta que torna ele uma das principais causas de procura para o atendimento médico sobre questões gastrointestinais.

Por isso, entender sobre o que se trata essa patologia e como ela pode influenciar no nosso cotidiano é bastante importante.

Sendo assim, hoje iremos nos aprofundar a respeito desse problema de saúde e entender como prevenir e, até mesmo, tratar essa situação.

Confira!


1. O que é o refluxo gastroesfágico?

Refluxo é uma palavra que se refere a quando o conteúdo gástrico faz o caminho inverso ao esperado do trato gastrointestinal e acaba atingindo regiões acima do estomago (como esôfago, laringe e boca).

Por isso, quando falamos a respeito do refluxo, logo imaginamos uma situação ligada à doença.

Porém, o que poucos sabem é que, fisiologicamente falando,  todos nós, após termos realizados uma refeição, vamos apresentar algum grau de refluxo.

Entretanto, o que devemos observar é que esse pequeno refluxo, não causa sintomas e, muito menos, prejuízo para as pessoas.

Logo, quando estamos diante de um quadro de refluxo gastroesofágico, estamos falando de um refluxo bem mais grave, no qual, o conteúdo do estomago pode chegar até mesmo na boca.

Desse modo, não fica difícil imaginar o porque esse problema se torna algo tão prejudicial.

Pois, nesse contexto, , quando esse refluxo é muito intenso ou induz o aparecimento de outros problemas como o esôfago de Barret e lesões na parede do esôfago.


2. O que causa o refluxo gastroesfágico

O refluxo gastroesfágico pode ter várias causas, mas, a principal delas está relacionada ao mau funcionamento do esfíncter esofágiano inferior (EEI).

Isso porque esse esfíncter é o responsável por relaxar e permitir a passagem do alimento para o estômago, além de impedir que o conteúdo presente no estomago retorne para o esôfago.

Mas, em condições patológicas, ele pode ter um relaxamento patológico por  não estar relacionado a alimentação e, desse modo, permitir que ocorra um escape do conteúdo do estômago para o esôfago.

Essa alteração no funcionamento do esfíncter pode ter alguns fatores de risco, são eles:

• Obesidade;

• Uso de medicamentos;

• Comidas (ainda que um pouco controverso, nesse ponto é incluído alimentos como café, chocolate e gorduras)

• Gravidez;

• E tabagismo.

Para aprofundarmos mais, observaremos agora como algumas situações conseguem predispor o aparecimento da doença.

Primeiro, se estamos diante de uma pessoa grávida ou obesa, o mecanismo que predispõe o aparecimento do refluxo gastroesfágico é bastante parecido, já que o aumento do volume corpóreo comprime as vísceras e faz com que o esfíncter não funcione corretamente.

Isso tudo acontece por existir um aumento da pressão intra-abdominal, o que não permite o correto funcionamento dessa estrutura.

Fora isso, outras condições também predispõe o aparecimento desse refluxo, como a presença de hérnia de hiato e a bactéria H. pylori.

Primeiramente a respeito dessa hérnia, podemos observar que ela consiste no deslocamento do esfíncter inferior do esôfago e do estômago para um local diferente do habitual (acima do diafragma).

Consequentemente, isso gera um mau funcionamento dessa região por conta do aumento da pressão do local e um deslocamento equivocado dos órgãos.

Já sobre a bactéria H. pylori, sabemos que ela se encontra exclusivamente na mucosa gástrica e altera o seu funcionamento.

E, até onde se sabe, esse microrganismo está associado a problemas como a gastrite e a doença do refluxo gastroesfágico.


3. Quais os sintomas do refluxo gastroesfágico

O principal sintoma do refluxo gastroesfágico é a presença de dor em queimação, de moderada intensidade, na região um pouco acima do estômago e retroesternal (atrás do esterno).

Essa dor, normalmente, é sentida após as refeições e, para ser considerada suspeita, precisará aparecer em, pelo menos, duas vezes na semana.

Além disso, a pessoa também pode relatar a sensação de retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, o qual, às vezes pode chegar até na boca.

Nessas situações, pode ser que quem sofre com o problema relate outros sintomas como a rouquidão e a tosse, o que significa que o conteúdo gástrico provavelmente atingiu a faringe.

Fora esses sintomas típicos, existem alguns sinais de alarme que é necessário estar atento, pois, a presença deles pode indicar a existência de um câncer.

São eles:

• Início após os 60 anos;

• Perda de peso;

• Sangramento do trato gastrointestinal;

• Anemia ferropriva;

• História familiar positiva para câncer do trato gastrointestinal;

• E odinofagia (que consiste na presença de dor na hora de engolir alimentos ou líquidos).


Porém, é importante deixar claro que não é porque uma pessoa apresenta algum dos sinais de alarme que ela necessariamente tem câncer.

Na verdade, essa é apenas uma possibilidade e a presença deles apenas indica que talvez seja a hora de realizar alguns exames mais aprofundados a fim de buscar possíveis complicações.

Pois, por exemplo, a perda de peso pode ser causada por diversas outras circunstancias (como uma doença infecciosa).

Assim como ter uma idade superior a 60 anos não significa que a pessoa terá câncer e, sim, que está mais suscetível ao seu aparecimento.


4. Quais os exames que podemos solicitar?

Não são todos os casos que precisam realizar exames complementares, porém, em algumas situações, pode ser interessante a realização deles.

Normalmente, as situações em que solicitamos esses exames são: quando aparecem sintomas atípicos ou para avaliar possíveis complicações (principalmente se estamos diante dos sinais de alarme citados anteriormente)

Portanto, a seguir, falamos mais a respeito dos três exames mais solicitados: endoscopia digestiva alta, avaliação do pH esofágico e manometria esofágica.


4.1. Endoscopia digestiva alta

Existem três situações em que está indicada a realização da EDA (endoscopia digestiva alta) em pessoas que apresentam o refluxo gastroesofágico. São elas:

• Pessoas que não apresentam uma boa resposta ao início do tratamento;

• Pessoas que têm sinais que podem indicar suspeita de malignidade;

• E pessoas que apresentam risco de ter esôfago de Barrett.

Para deixar claro, o esôfago de Barrett consiste em uma modificação do tecido normal do esôfago por outro, isso acontece porque o retorno do conteúdo gástrico do estomago acaba gerando uma agressão a mucosa do esôfago.

Assim, como uma forma de proteção, o corpo deixa o tecido agredido mais resistente o transformando em outro, o que, em longo prazo, acaba não sendo tão benéfico para o seu funcionamento.

Sobre essa condição, podemos dizer que temos alguns fatores de risco que podem indicar uma maior propensão a apresentar o problema, são eles:

• Idade acima de 50 anos;

• Obesidade;

• Presença de hérnia de hiato;

• Refluxo gastroesofagico noturno;

• Sexo masculino;

• E ser caucasiano.

Outra alteração que pode ser encontrada quando se realiza uma EDA, é a presença de esofagite erosiva, a qual acaba se caracterizando por ser um diagnóstico diferencial do refluxo gastroesfágico.


4.2. Avaliação do pH esofágico

Quando a realização da endoscopia digestiva alta não consegue realizar o diagnóstico e estamos diante de um quadro muito diferente do usual, fica recomendado a avaliação do pH esofágico.

Nesse exame, um sensor avaliará o pH esofágico, principalmente na sua região mais próxima ao estômago.

Assim, após 24 horas, o cateter é retirado e se avalia a presença de possíveis alterações. Tendo em vista que caso estejamos diante de um quadro de refluxo, vamos observar a alteração do pH desse local.


4.3. Manometria esofágica

Esse exame também indicado caso não seja possível realizar o diagnóstico através da EDA e o caso encontrado seja atípico.

Basicamente, a manometria esofágica busca identificar a peristaltite esofágica  e tônus do EEI.

Logo, podemos perceber que nesse exame estaremos observando o funcionamento da musculatura da região e, por isso, acaba sendo útil para identificar o diagnóstico diferencial de outras doenças.

5. Como funciona o diagnóstico?

Para se fechar o diagnóstico é necessário que um médico análise os sintomas e solicite os exames necessários para excluir outras possibilidades.

Além disso, é preciso estar atento aos diagnósticos diferenciais, como por exemplo, um infarto agudo do miocardio.

Isso porque, se uma pessoa (principalmente se for idosa) está sentindo dor um pouco acima da barriga, é possível que ela esteja diante de um quadro clínico de infarto.

Portanto, não é recomendado que as pessoas fizessem um autodiagnostico e, sim, procurem um médico caso apresentem algum dos sintomas.

Pois, por exemplo, caso a pessoa julgue está apenas com refluxo, mas estiver diante de um quadro de infarto, pode acabar indo a óbito por não receber o suporte adequado.

6. Como funciona o tratamento?

O tratamento para o refluxo gastroesofagico pode ser realizado depois que é analisado o grau de refluxo, a gravidade dele e a presença de possíveis complicações.

Normalmente, se usam antiácidos, antagonistas de H2 e inibidores de bombas de prótons, mas em alguns casos, também pode ser recomendado medidas não farmacológicas.

Uma das medidas é a perda de peso no caso de obesidade, isso porque, essa medida é conhecida por ser o principal fator modificáveis no caso de refluxo gastroesofagico.

Ademais, evitar o consumo de alguns alimentos e parar o tabagismo também é indicações que o médico costuma fazer a fim de prevenir e tratar o quadro.

Outro ponto importante é a adoção de algumas medidas ambientais, as quais são:

• Elevar a cabeceira da cama (pelo menos 15 cm);

• Não deitar por, pelo menos, duas horas após as refeições;

• E não ingerir muitos alimentos de uma vez.

For a essas recomendações gerais, o tratamento vai se dar de acordo com cada situação, como explicado a seguir:


6.1. Sintomas leves que acontecem no máximo duas vezes na semana

Quando estamos diante de um quadro leve, além das medidas não farmacológicas, é indicado iniciar o tratamento com dois fármacos: antiácidos e antagonistas do receptor H2 (como, por exemplo, a ranitidina).

Essa medida deve ser levada por, pelo menos, duas semanas, a qual se não tiver os efeitos desejados, pode ter as sua dose aumentada.

Se, mesmo assim, a pessoa não apresentar melhoras, o médico pode indicar o uso de inibidores da bomba de prótons (como o omeprazol).

Desse modo, após se ter tido resultados satisfatórios, é recomendado que a terapia continuasse por, pelo menos oito semanas.


6.2. Sintomas mais persistentes ou com a presença de esofagite erosiva

Nesses casos, o tratamento vai iniciar já com os inibidores da bomba de prótons.

Se, após oito semanas a pessoa não apresentar mais sintomas, pode se realizar a substituição desse fármaco pelos inibidores de H2.

Depois, se o paciente não tiver sintomas mesmo com a dose mínima dos inibidores de H2 pode se realizar a retirada da terapia farmacológica.

Mas, se o caso estiver relacionado com a esofagite erosiva, será necessário continuar o tratamento com inibidores da bomba de prótons mesmo na ausência de sintomas.


6.3. Refratária ao tratamento com inibidores da bomba de prótons

Quando mesmo com os inibidores da bomba de prótons não existe melhora do quadro de refluxo gastroesfágico, é preciso que a pessoa adote outros medicamentos.

Dentre as possíveis opções se encontram:

• Associação com inibidores de H2;

• Baclofeno;

• Antidepressivos triciclícos;

• E inibidores da recaptação de serotonina.

6.4. Cirurgia para o tratamento de refluxo gastroesofagico

Por fim, caso a pessoa não apresente melhora com nenhum dos tratamentos utilizando medicamentos, o médico pode optar por utilizar cirurgia para corrigir o problema.

Pois, ainda que não exista resultados mostrando os benefícios em longo prazo, essa acaba sendo a alternativa indicada para ter alívio do problema.

7. Conclusão

Caso você tenha chego até aqui, já conhece bem mais a respeito do refluxo gastroesofágico e o seu tratamento.

Para relembrar, você descobriu mais sobre:

  • O que é o refluxo gastroesofágico;
  • Quais são as causas desse problema;
  • Quais os sintomas que essa patologia gera;
  • Quais são os exames que se pode solicitar;
  • Como funciona o diagnóstico;
  • E quais são os tratamentos que são possíveis de se solicitar.

Porém, vale ressaltar que caso você suspeite que esteja com um quadro de refluxo gastroesofágico, deve procurar um médico imediatamente par que ele consiga orientar melhor como proceder na sua situação.

Gostou? Então compartilhe para que mais pessoas tenham conhecimento a respeito dessa patologia!

Dra. Celia Yunes Portiolli

CRM-SP 27971 / RQE 5148 – 19469 Médica Pediatra e Especialista em Acupuntura Área de Atuação em Dor pela AMB (Associação Médica Brasileira), Coordenadora do Curso de Especialização em Acupuntura do CEIMEC – Centro de Estudo Integrado em Medicina Chinesa Médica colaboradora do Ambulatório de Acupuntura do Centro de Dor da Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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Dra. Celia Yunes Portiolli

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