Distensão Abdominal: O Que Pode Ser?

DISTENSÃO abdominal é uma queixa comum encontrada diariamente por gastroenterologistas e profissionais de saúde. É a sensação de que seu abdômen está inchado além do normal, geralmente acompanhado de sintomas como flatulências, inchaço e acúmulo de conteúdos digestivos.

Ter distensão abdominal, na maioria das vezes, não se refere a algo grave, pois é uma condição comum, mas quando está associado a outros sintomas sem motivo aparente, é importante consultar um médico para que ele realize um diagnóstico preciso e entenda as causas da distensão abdominal, direcionando para o tratamento mais adequado.

Causas comuns de distensão abdominal

Um abdômen quando está distendido pode indicar um problema funcional ou orgânico. Condição funcional trata-se de problemas observáveis e condições orgânicas são explicadas por evidências físicas, como alguma doença associada.

Dentre as causas funcionais, a distensão abdominal está relacionada a problemas digestivos que causam acúmulo de gases ou conteúdo digestivo, como constipação, intolerância alimentar e má absorção de carboidratos (como a lactose) e Síndrome do Intestino Irritável (SII).

As causas orgânicas podem incluir: obesidade, gravidez, menstruação (devido a retenção de líquido), doenças gastrointestinais (como a Doença Celíaca e o Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado), hipotireoidismo, insuficiência pancreática, acúmulo de líquido abdominal causado por ascite, malignidade gástrica, entre outros.

Causa da distensão abdominalDescrição
GásGás no estômago e nos intestinos podem fazer com que o abdômen se distenda.
ConstipaçãoUm acúmulo de fezes nos intestinos pode fazer com que o abdômen fique distendido.
Síndrome do Intestino IrritávelPode causar distensão abdominal devido ao excesso de gases e inchaço.
GravidezO abdômen de uma mulher pode ficar distendido durante a gravidez devido ao crescimento do bebê.
Retenção de líquidosA retenção de líquidos pode fazer com que o abdômen fique distendido e inchado.
ObesidadeO excesso de gordura no abdômen pode causar distensão e incômodo local.


A seguir, será abordado com mais detalhes as 5 causas mais comuns de distensão abdominal.

1. Intolerância alimentar e má absorção de carboidratos

Seus hábitos alimentares podem ser os grandes responsáveis pelos sintomas abdominais incômodos, como gases e distensão abdominal.

A sobrecarga de fibras, por exemplo, pode estar associada ao agravamento dos sintomas da Síndrome do Intestino Irritável, por meio da diminuição da motilidade do intestino delgado.

A intolerância à lactose também pode contribuir para o desenvolvimento de distensão abdominal, pois a má absorção de lactose pode produzir sintomas de inchaço e gases.

O acúmulo de carboidratos e polióis de cadeia curta altamente fermentáveis e mal absorvidos no intestino delgado e cólon podem contribuir para o desenvolvimento de sintomas gastrointestinais.


2. Constipação

A distensão abdominal pode estar relacionada à constipação e obstrução intestinal. As fezes que ficam retidas no reto podem causar diminuição da evacuação de gases e lentidão do trânsito intestinal causando, portanto, a distensão abdominal.

Já foi comprovado que pacientes com distensão abdominal possuem um trânsito intestinal mais lento. Uma das causas que favorecem a constipação é a baixa ingestão de fibras alimentares e de água, assim como o consumo excessivo de alimentos industrializados.  

  • Quando as fezes permanecem no cólon por um longo período, elas podem ficar duras e secas, dificultando a passagem do corpo.
  • Os intestinos podem ficar distendidos devido ao acúmulo de fezes duras e secas, resultando em distensão abdominal.
  • Quanto mais tempo os resíduos permanecerem no cólon, mais gás e líquido serão produzidos, o que pode causar inchaço no abdômen.
  • Os músculos do abdômen podem ficar fracos devido ao excesso de pressão do acúmulo de resíduos, fazendo com que o abdômen se projete.


3. Síndrome do Intestino Irritável (SII)

A Síndrome do Intestino Irritável refere-se a uma condição que abrange um grupo de sintomas que ocorrem simultaneamente, incluindo dor abdominal e alterações intestinais, como constipação e diarreia.

Pesquisas mostram que pacientes com Síndrome do Intestino Irritável possuem uma flora colônica intestinal alterada, desempenhando um papel fundamental nos sintomas de inchaço, gases e distensão abdominal.

As causas que contribuem para essa síndrome ainda não são totalmente esclarecidas, mas acredita-se que exista uma associação com processos inflamatórios no sistema digestivo e com aspectos psicológicos, como depressão e ansiedade.


4. Doença Celíaca

A Doença Celíaca é caracterizada como um distúrbio digestivo e autoimune que manifesta sintomas como inchaço, diarreia, gases, distensão abdominal e anemia.

celiac

Essa condição é desencadeada por uma proteína, o glúten, encontrada em grãos, trigo, cevada e centeio. Na Doença Celíaca, o sistema imunológico ataca erroneamente a superfície do intestino delgado, pois confunde as substâncias encontradas no glúten como uma ameaça ao corpo.

O motivo pelo qual o sistema imunológico age dessa maneira ainda não está totalmente esclarecido, mas uma combinação de fatores ambientais e genéticos parecem desencadear o problema.


5. Obesidade

O ganho de peso excessivo está associado ao agravamento dos sintomas de inchaço, gases e distensão abdominal. Um estudo publicado pelo American Journal of Gastroenterology comprovou que a obesidade coincidiu com o início do inchaço em 25% dos participantes da pesquisa experimental.

A explicação para esse fato pode estar relacionada ao mecanismo que envolve um reflexo visceroso-somático anormal originado no tecido adiposo abdominal que modula o eixo cérebro-intestino, acarretando a distensão abdominal.


Diagnóstico

O médico inicia a avaliação com um histórico detalhado do paciente, incluindo seus hábitos alimentares, alterações alimentares, sua relação com determinados alimentos, como trigo, gorduras, fibras, e doenças existentes. O exame físico juntamente com testes diagnósticos, quando necessário, são apropriados.

O exame físico ajuda a revelar o aumento da circunferência abdominal e sinais de obstrução intestinal. Para pacientes constipados, em alguns casos, é necessário que seja realizado um exame retal e pélvico.

É importante descartar qualquer causa orgânica para distensão abdominal, como doença celíaca, ascite ou supercrescimento bacteriano do intestino delgado.

Sintomas como perda de peso, anemia ou sangramento retal exigem investigação imediata e cautelosa. Nesses casos, o médico poderá solicitar exames como, hemograma completo, sorologia celíaca e teste respiratório para o diagnóstico de supercrescimento bacteriano do intestino delgado.


Tratamento

É de suma importância descartar sinais de alarme e doenças orgânicas para iniciar o tratamento comum. Indivíduos que sofrem com distensão abdominal leve precisam ter a garantia de que sua condição é benigna.

Para distensão abdominal leve, a primeira abordagem costuma ser a terapia dietética, geralmente introduzida no início do plano de tratamento.

A terapia dietética visa identificar os alimentos aos quais o paciente é intolerante e que lhe causam desconforto e, com base nisso, fazer alterações no plano de alimentação.

Lembrando que essas intervenções dietéticas restritivas devem ser realizadas, preferencialmente, por nutricionistas treinados, que ajudarão o paciente a ter uma alimentação individualizada e balanceada, reduzindo o risco de deficiências nutricionais.

Quando o problema é mais complexo, é comum o uso de medicamentos como antibióticos, probióticos, procinéticos, antiespasmódicos e antidepressivos, dependendo da causa da condição.

Por exemplo, determinados antibióticos já demonstraram fornecer melhora significativa dos sintomas de Síndrome do Intestino Irritável.

O uso de probióticos alivia significativamente o inchaço e a distensão abdominal, pois esse sintomas são causados pela alteração na microbiota intestinal, e modificar essa alteração com o uso de probióticos pode ajudar no equilíbrio da flora intestinal.

Antiespasmódicos são comumente utilizados no tratamento da distensão abdominal e alguns estudos demonstraram que o óleo de hortelã-pimenta, considerado um agente espasmolítico, é eficaz na redução da distensão abdominal e inchaço.

Somente o médico poderá prescrever os medicamentos apropriados a serem utilizados, bem como outras estratégias de tratamento que podem ser realizadas conjuntamente, a fim de eliminar os sintomas de distensão abdominal.


Quando devo procurar um médico?

gastro

Converse com seu médico se a distensão abdominal e o inchaço persistirem por mais de 30 dias, e se isso estiver afetando a sua rotina, pois esses sintomas podem estar associados a outras doenças.

Não existe nenhum exame específico para distensão abdominal, mas o médico poderá realizar uma análise detalhada e alguns testes para excluir problemas ou doenças relacionadas a distensão abdominal.

SintomasQuando se preocupar
Distensão abdominal em lactentesSe o abdômen estiver visivelmente maior do que o normal ou se o bebê estiver com dificuldade para respirar, procure ajuda médica imediatamente.
Distensão abdominal em adultosSe a distensão abdominal for acompanhada de outros sintomas, como febre, náusea, vômito ou dor, procure ajuda médica imediatamente.

Não esqueça: Sintomas como perda de peso, anemia ou sangramento retal exigem investigação imediata e cautelosa!


Referências

MALAGELADA, J. et al. Bloating and abdominal distension: old misconceptions and current knowledge. American Journal of Gastroenterology, v. 112, n. 8, p. 1221-1231. 2017.

MARI, A. et al. Bloating and abdominal distension: Clinical approach and management. Advances in Therapy, v. 36, n. 5, p. 1075-1084. 2019.

SEO, A. Y. et al. Abdominal Bloating: Pathophysiology and Treatment. Journal of Neurogastroenterology and Motility, v. 19, n. 4, p. 433-453. 2013.

Dra. Celia Yunes Portiolli

CRM-SP 27971 / RQE 5148 – 19469 Médica Pediatra e Especialista em Acupuntura Área de Atuação em Dor pela AMB (Associação Médica Brasileira), Coordenadora do Curso de Especialização em Acupuntura do CEIMEC – Centro de Estudo Integrado em Medicina Chinesa Médica colaboradora do Ambulatório de Acupuntura do Centro de Dor da Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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