Criada em 1960 a pílula anticoncepcional era utilizada apenas para o tratamento de problemas no ciclo menstrual e em decorrência dos avanços da medicina, hoje além de evitar uma gestação indesejada, ela também auxilia com problemas tipicamente femininos, como tensão pré-menstrual, cólicas, nível do fluxo menstrual, melhora no aspecto da pele devido o controle da oleosidade e consequente redução de espinhas, cabelo e unha mais fortes, diminuição da incidência de anemia e gravidez ectópica.
Segundo pesquisas, o Brasil tem aumentado a utilização de contraceptivos desde 2006. Atualmente, cerca de 80% de mulheres em idade fértil utilizam algum tipo de método reversível. No entanto, o número de pacientes que optam por métodos irreversíveis tem diminuído drasticamente. Com a facilidade de acesso ao fármaco, o anticoncepcional oral é um dos métodos contraceptivos mais utilizados no Brasil.
Além disso, conta com uma eficácia de 99,8% quando tomado de forma correta e sem esquecimentos, um contraceptivo prático e seguro.
Contudo, é importante lembrar que apresenta efeitos adversos no início do uso, ou em alguns casos a mulher pode não se adaptar ao uso da pílula anticoncepcional. Após a primeira dosagem, pode ocorrer alguns efeitos colaterais, que são associados ao medicamento e até a adaptação da paciente. Os efeitos adversos mais comuns são dores de cabeça, enjoo, tontura, irritabilidade e em raros casos aumento do apetite.
A falta de informação destes efeitos colaterais no primeiro uso da pílula, faz com que muitas mulheres não persistam e interrompam o uso e consequentemente falta de eficácia devido ao uso de forma incorreta.
Dados do Ministério da Saúde comprovam que a utilização irregular da pílula tem provocado um aumento nas gestações indesejadas[1]Almeida AP, Assis MM. Efeitos colaterais e alterações fisiológicas relacionadas ao uso contínuo de anticoncepcionais hormonais orais. Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde. 2017 Jan;5(5):85-93..
Mecanismo de ação
As pílulas anticoncepcionais são hormônios esteroidais, que mimetizam hormônios ovarianos, ou seja, após ingeridos os contraceptivos orais inibem a liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas pelo hipotálamo, e consequentemente inibindo o amadurecimento do óvulo e a liberação dos hormônios da hipófise que estimulam a ovulação. Além disso, afetam a mucosa do útero, aumentando o espessamento do muco cervical, o que torna impermeável aos espermatozoides[2]Mansour D, Inki P, Gemzell-Danielsson K. Efficacy of contraceptive methods: a review of the literature. The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care. 2010 Feb 1;15(1):4-16..
Os contraceptivos orais podem ser combinados (estrogênio e progesterona) ou somente progesterona. As combinadas dividem-se ainda em monofásicas, bifásicas e trifásicas. Nas monofásicas a dose dos esteroides é constante nos 21 a 24 dias, já as bifásicas contêm dois e trifásicas contêm três tipos de comprimidos com os mesmos hormônios em proporções diferentes.
Os contraceptivos orais também podem ser classificados de acordo com a efetividade, seja ela maior ou menor, ou se são hormonais ou não hormonais[3]Hubacher D, Trussell J. A definition of modern contraceptive methods. Contraception. 2015 Nov 1;92(5):420-1..
Diante do exposto, vamos elucidar os prós e contras no uso de pílulas anticoncepcionais orais e possíveis alterações decorrentes do seu uso.
Benefícios dos anticoncepcionais hormonais orais (ACHO)
Com o surgimento dos anticoncepcionais, houve uma redução no número de abortos, diminuição da morbidade e mortalidade feminina[4]Ross J, Hardee K. Access to contraceptive methods and prevalence of use. Journal of biosocial science. 2013 Nov;45(6):761-78..
Além disso, o uso de anticoncepcionais orais vem acompanhado de outros benefícios como a regularização dos ciclos menstruais, diminuição da tensão pré-menstrual, alívio do fluxo exagerado, redução de casos de anemia, redução de gravidezes ectópicas, diminui as chances de câncer de ovário, melhora de acnes devido à redução da oleosidade da pele.
Ao analisar esses aspectos, podemos perceber que os benefícios são grandes, e principalmente o benefício da contracepção, uma vez que evitam gravidezes indesejadas ou precoces, sendo possível ter um planejamento reprodutivo de forma consciente.
O início do uso de anticoncepcionais pode ser em todas as fases da idade adulta da mulher, exceto na menopausa. Muitos inícios se dão em mulheres jovens, no início da fase adulta com objetivo de regularizar o ciclo menstrual, ou sangramento uterino disfuncional e até mesmo manifestações de acne devido à fase hiper androgênica.
Desvantagens dos anticoncepcionais hormonais orais
Como mencionado acima, o uso dos anticoncepcionais hormonais orais apresenta eficiência e praticidade estabelecidas, no entanto apresentam alguns efeitos colaterais que podem colocar em risco o aparecimento de outras doenças, assunto este que vem sendo discutido ao longo dos anos.
Assim como vários medicamentos, os anticoncepcionais hormonais também podem causar diversos efeitos colaterais, bem como alterações metabólicas:
- Dificuldades no emagrecimento e ganho de massa magra
- Queda de libido
- Depressão
- Exaustão
- Aumento do colesterol LDL e redução do HDL
- Dores de cabeça
- Aumento da pressão arterial e consequente aumento dos batimentos cardíacos e portanto, deve ser levado em consideração os riscos cardiovasculares
- Alterações na sensibilidade da insulina
- Redução do zinco sérico. A deficiência de zinco está associada a modificações no sistema imune, e consequente aumento de problemas infecciosos
- Depleção de nutrientes, e em alguns casos é necessário reposição de vitaminas e minerais
- Riscos de trombose devido a problemas causados nas vias da hemostasia relacionados a coagulação
- Tendência a infecções do trato genital inferior como por exemplo candidíase de repetição devido ao aumento da insulina no sangue
- Relatos no aumento do risco de doenças inflamatórias pélvica
- Quando utilizado de forma precoce por um longo período pode ser fato importante no desenvolvimento de câncer de colo de útero
De maneira geral, atualmente devido ao acesso à informação e entendimento dos efeitos colaterais causados pelos anticoncepcionais hormonais orais têm sofrido um aumento na taxa de descontinuação do uso.
Qual método escolher?
A escolha do método contraceptivo deve levar em consideração vários fatores, dentre eles, idade, número de filhos, desejo de gravidez a curto ou longo prazo, o histórico e quadro clínico da paciente, visto que pacientes que apresentem riscos cardiovasculares, pré-disposição a diabetes ou presença de outras doenças crônicas que possam agravar-se com o uso de determinado método.
No entanto, o uso de anticoncepcionais orais são mais acessíveis e são disponibilizados pelo SUS e por isso ainda sim é o método mais utilizado.
Além disso, é de extrema importância a orientação médica na escolha do anticoncepcional adequado, assim como a informação e conhecimento para sociedade dos possíveis efeitos adversos, quais são as contraindicações, interações medicamentosas, desta forma é possível evitar a descontinuação do uso ou uso incorreto.
Referências Bibliográficas
↑1 | Almeida AP, Assis MM. Efeitos colaterais e alterações fisiológicas relacionadas ao uso contínuo de anticoncepcionais hormonais orais. Rev. Eletrôn. Atualiza Saúde. 2017 Jan;5(5):85-93. |
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↑2 | Mansour D, Inki P, Gemzell-Danielsson K. Efficacy of contraceptive methods: a review of the literature. The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care. 2010 Feb 1;15(1):4-16. |
↑3 | Hubacher D, Trussell J. A definition of modern contraceptive methods. Contraception. 2015 Nov 1;92(5):420-1. |
↑4 | Ross J, Hardee K. Access to contraceptive methods and prevalence of use. Journal of biosocial science. 2013 Nov;45(6):761-78. |