Por Que meu Ombro Dói?

porque meu ombro doi

O objetivo deste artigo é explicar um pouco sobre a causa das dores e, especificamente, sobre o que faz o ombro doer.

Este é sem dúvida um tópico enorme, e foge ao escopo de um artigo resumido descrever tudo minuciosamente em detalhes.

É importante ter em mente que há muitas lacunas enormes em nosso conhecimento, sendo então perfeitamente normal que haja confusão conforme nos aprofundamos nestas áreas ainda em grande parte desconhecidas.


Sintomas de dor no ombro

A dor e sua importância

CICLO DA DOR

Em primeiro lugar, a dor é uma entidade bastante subjetiva e pode ser definida do seguinte modo:

“Uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada ao dano tecidual potencial ou real, ou descrita nos termos deste dano”.

Esta definição abrange justamente a importância dos sistemas central e periférico no processamento e desenvolvimento da dor. É essencial lembrar que a dor muitas vezes é uma sensação totalmente necessária e útil.

A dor subsequente à lesão aguda nos lembra que devemos ser cuidadosos e nos força a graduar os nossos níveis de atividade em um patamar que possa ser tolerado pelo tecido em cicatrização.

É interessante notar que numa lesão aguda, como a produzida após um traumatismo cego ou uma queimadura, a resposta dolorosa normal envolve aumento da sensibilidade à dor junto às estruturas de processamento da dor (nociceptoras) centrais (sensibilização central) e periféricas (sensibilização periférica).

A divisão artificial em central e periférica se dá ao nível da medula espinal, com a sensibilidade da medula para cima sendo denominada ‘central’, e a sensibilidade a partir da periferia até a medula sendo considerada ‘periférica’. 

Os nossos sistemas nociceptores não são simples aferentes sensoriais de dano tecidual, como já foi pensado, implicando que os sistemas mais superiores, como os da emoção e do humor, podem produzir efeitos descendentes poderosos sobre o sistema nervoso periférico via circuito modulador descendente.

O circuito descendente consiste em rotas neurais diretas e rotas endócrinas indiretas, como o eixo hipotálamo-hipófise. Estes sistemas descendentes podem afetar não só a percepção da dor como também a homeostasia e cicatrização tecidual periférica.

O importante papel do sistema nervoso periférico na homeostasia e cicatrização tecidual foi relativamente pouco estudado e, em consequência, é precariamente compreendido. Contudo, está bem estabelecido que a desnervação é altamente prejudicial para a cicatrização de ligamentos e ossos.

Pode haver dor na presença ou na ausência de dano tecidual. Em consequência, observa-se uma enorme variabilidade de padrões de alterações periféricas e centrais em pacientes que apresentam dor no ombro.

Alguns pacientes têm anormalidade tecidual significativa, como ruptura do manguito rotatório, por exemplo, com um padrão muito periférico de sensibilidade dolorosa, enquanto outros não apresentam anormalidade tecidual significativa e exibem um padrão bastante central de sensibilidade à dor. Vale à pena notar, ainda, que muitos pacientes têm anormalidades teciduais significativas sem nenhuma dor ou sintomas funcionais.

Dor e estrutura

anatomia do ombro 2

Apesar do alto número de pacientes assintomáticos com rupturas de manguito rotador, continua havendo uma relação muito forte entre sintomas de dor e integridade do manguito rotatório. A tendinopatia do manguito rotatório (TMR) é a ‘causa’ mais comum de dor no ombro, responsável por cerca de ¾ dos pacientes afetados.

Os pacientes com ruptura de manguito rotatório são bem mais propensos a terem sintomas do que aqueles sem lesão (trabalho não publicado de Oag et al.), enquanto os pacientes previamente assintomáticos tendem muito mais a desenvolverem sintomas com a ampliação do tamanho da ruptura.

É improvável que algum fator específico precisamente determinante do desenvolvimento de sintoma seja identificado. A dor é complexa e muitos fatores podem contribuir para o seu desenvolvimento.

A cinemática da articulação glenoumeral muda conforme a ruptura é ampliada, porém esta anormalidade é igualmente prevalente tanto em pacientes sintomáticos como em pacientes assintomáticos.

Embora os tendões do manguito rotatório sejam a ‘fonte’ mais comum de dor no ombro, o dano a qualquer estrutura pode resultar em desenvolvimento de dor. Outras fontes frequentes são a cápsula e articulação glenoumeral, o lábio, a articulação acromioclavicular e a coluna espinal cervical. Pode ser incrivelmente difícil (e às vezes impossível) apontar a ‘fonte’ exata de dor usando a história, o exame e as investigações radiológicas, devido a uma ampla variedade de motivos complicados.

Quanto maior for o grau de ‘sensibilização central’ de um paciente, mais difícil pode se tornar a obtenção de um diagnóstico específico. Isto pode ser demonstrado por achados clínicos como dor que irradia para baixo descendo pelo braço, e sensibilidade à palpação sobre uma área ampla.

É importante perceber que pacientes altamente centralizados podem ter uma patologia periférica isolada bastante tratável, contudo também é essencial considerar o aprisionamento do nervo na coluna espinal cervical uma parte integrante do diagnóstico diferencial. 


Causas comuns de dor no ombro

A causa mais comum de dor no ombro ocorre quando os tendões do manguito rotador ficam presos sob a área óssea do ombro. Os tendões ficam inflamados ou danificados. Esta condição é chamada de tendinite ou bursite do manguito rotador.

A dor no ombro também pode ser causada por:

  • Artrite na articulação do ombro
  • Esporões ósseos na área do ombro
  • Bursite, que é a inflamação de um saco cheio de líquido (bursa) que normalmente protege a articulação e a ajuda a se mover suavemente
  • Osso do ombro quebrado
  • Luxação do ombro
  • Ombro congelado (capsulite adesiva), que ocorre quando os músculos, tendões e ligamentos dentro do ombro ficam rígidos, tornando o movimento difícil e doloroso
  • Uso excessivo ou lesão de tendões próximos, como os músculos bíceps dos braços
  • Lesão do nervo que leva ao movimento anormal do ombro
  • Fissuras dos tendões do manguito rotador
  • Má postura e mecânica do ombro
  • Tendinopatia de músculos locais (tríceps, bíceps)
  • Síndrome Dolorosa Miofascial


Rotura dos tendoes do manguito

A história e os achados dos exames (incluindo testes e injeções diagnósticas, como injeção de bursa ou bloqueios de raiz nervosa) sem dúvida são úteis, mas todos podem ser problemáticos devido à falta de especificidade (p. ex., um bloqueio da raiz nervosa em C6 pode anular a dor no ombro ‘relacionada à ruptura do manguito rotatório’ de um paciente, como resultado da inervação da articulação do ombro por C6).

Tanto as rupturas do manguito rotatório como a degeneração da coluna espinal cervical se tornam cada vez mais comuns com o avanço da idade, implicando que muitos pacientes podem ter patologias duplas e, em certos casos, somente é possível reconhecer a existência de uma patologia que contribui de modo significativo e que não foi detectada após a falha de uma intervenção cirúrgica.

A anormalidade tecidual somente se pode explicar, quando muito, em termos de sintomatologia, sendo que o fato de pacientes com anormalidades teciduais pesadamente diferentes poderem manifestar níveis tão distintos de sintomas é provavelmente justificado pelas variações individuais do processamento nociceptor, tanto periférica como centralmente. 


Causas comuns de dor no ombro

Ombro congelado (capsulite adesiva)

Sintomas: Articulação do ombro persistentemente dolorosa e rígida.

Definição

Também chamado de capsulite adesiva, o ombro congelado é caracterizado por rigidez e dor na articulação do ombro.

Se você está se recuperando de uma condição médica que afeta a mobilidade de um braço, como um acidente vascular cerebral ou mastectomia, o risco de desenvolver ombro congelado aumenta.

Bursite/tendinite do ombro, tendinite do manguito rotador e síndrome do impacto

Sintomas:

  • Dor e rigidez ao levantar ou abaixar o braço.
  • Dor leve que está presente tanto durante a atividade quanto em repouso.
  • Dor irradiando da frente do ombro para o lado do braço.
  • Dor súbita com movimentos de levantamento e alcance.
  • Atletas podem sentir dor com atividades (como arremessar uma bola).
  • Dor à noite.
  • Perda de força e movimento.
  • Dificuldade em fazer atividades que coloquem o braço atrás das costas.


Osteoartrite

artrite reumatoide mao

A cartilagem é um tecido macio e macio que cobre as extremidades dos ossos onde eles se encontram em uma articulação.

A cartilagem saudável ajuda as articulações a se moverem suavemente. Com o tempo, a cartilagem pode ficar desgastada ou danificada devido a lesão ou acidente, levando ao desenvolvimento de osteoartrite.


Dor referida

A dor no ombro também pode ser causada por problemas que afetam o abdômen (por exemplo, cálculos biliares), coração (por exemplo, angina ou ataque cardíaco) e pulmões (por exemplo, pneumonia).

Problemas com as articulações e nervos associados do pescoço e da parte superior das costas também podem ser uma fonte de dor no ombro.

A dor no pescoço e na parte superior das costas é frequentemente sentida na parte de trás da articulação do ombro e na parte externa do braço.


Síndrome Dolorosa Miofascial

dor miofascial

A síndrome da dor miofascial é uma condição crônica que causa dor no sistema musculoesquelético. Esta dor está confinada a uma área específica. Por exemplo, você pode sentir apenas a dor e a sensibilidade no ombro e no pescoço direitos. A dor é tipicamente associada a pontos-gatilho nos músculos.

Pode ocorrer o surgimento de bandas tensas (nó musculares) e pontos-gatilho, com dor local ou referida. Pode ocorrer limitação do movimento dos ombros, e fraqueza muscular.

É Possível Prevenir estas Condições?

Como a maioria das lesões por excesso de uso, muitas pessoas não sabem que estão usando demais uma determinada área do corpo, até que a condição de uso excessivo se instale no local. Entretanto, existem formas de prevenir estes tipos de lesões

Dada a relação com os esportes de tênis e golfe, os jogadores podem ser beneficiados por lições que ensinem as técnicas corretas de agarrar e bater.

Com as lesões por uso excessivo no dia a dia, você deve prestar atenção em particular no seu corpo e naquilo que ele está lhe dizendo.

Se você sente dor ou fadiga constante no antebraço ao realizar determinada atividade, deve parar, fazer intervalos e saber as formas adequadas de alongar o antebraço para manter os vários músculos desta região relaxados. Um músculo tenso é músculo ineficiente e suscetível a distensões junto aos tecidos.

 

Vetores Farmacêutica: Desenho vetorial, imagens vetoriais Farmacêutica|  Depositphotos

Tratamentos para dor no ombro

Alguém que lida com estes sintomas deve primeiro consultar um médico.

Com base no relato do paciente, o médico pode considerar opções como imobilização, medicação, encaminhamento para terapia ocupacional/fisioterapia, ou repouso e licença temporária do trabalho. 

Tratamentos como acupuntura, ondas de choque podem ser benéficas.

Pode ser difícil tratar estas duas condições, a menos que o paciente seja totalmente removido do ambiente causador da distensão por uso excessivo. 


Fisioterapia para dor no ombro

Uma das primeiras abordagens de tratamento para dor no ombro envolve fisioterapia e modificação das atividades que agravam a dor.

O tratamento de fisioterapia terá como objetivo corrigir problemas como rigidez e fraqueza.

Também incluirá o retreinamento dos movimentos ou atividades relacionadas ao seu esporte, trabalho ou atividades cotidianas que estavam agravando seu ombro para que, sempre que possível, você possa voltar ao que estava fazendo.

Importância da Fisioterapia para a Reabilitação do Ombro
A fisioterapia é um componente necessário da reabilitação do ombro. Ajuda a restaurar a força, a mobilidade e a flexibilidade, reduzindo a dor.
Pode aumentar a amplitude de movimento, melhorar a coordenação do movimento e diminuir o inchaço.
Também pode diminuir o risco de novas lesões e ajudar a restabelecer a função normal.
Ajuda a promover a cicatrização dos tecidos enquanto cria um ambiente que permite a melhor recuperação possível.
Papel importante na educação dos pacientes sobre a mecânica adequada do ombro e como evitar lesões futuras.


Medicamentos para dor no ombro

Medicamentos como paracetamol e anti-inflamatórios de baixa dose podem ser úteis no controle da dor enquanto você trabalha para manter e restaurar o movimento e a função.

Se você tem pressão alta ou doença cardíaca, ou renal, converse com seu médico antes de usar esses medicamentos.

DrogaClasse FarmacológicaDosagem
IbuprofenoAINE400-800mg a cada 4-6 horas
NaproxenoAINE250-550mg a cada 8-12 horas
CelecoxibeAINE100-200mg a cada 12 horas
TramadolOpioide50-100mg a cada 4-6 horas
CodeínaOpioide30-60mg a cada 4-6 horas
AmitriptilinaAntidepressivo50-100mg a cada 8-12 horas
FluoxetinaAntidepressivo20-40mg a cada 8-12 horas
GabapentinaAnticonvulsivante300-1800mg a cada 8-12 horas
PregabalinaAnticonvulsivante150-600mg a cada 8-12 horas
AcetaminofenoAnalgésico325-1000mg a cada 4-6 horas
AspirinaAnalgésico325-650mg a cada 4-6 horas
CetoprofenoAnalgésico50-100mg a cada 8-12 horas
DiclofenacoAnalgésico25-50mg a cada 8-12 horas
LidocaínaAnalgésico2-4% de concentração, aplicada localmente

Medicamentos não devem ser considerados como uma solução de longo prazo para sua dor no ombro. Se a dor persistir, discuta outras opções de tratamento com seu médico.


Quando procurar uma consulta médica imediata?

Você deve ir ao pronto-socorro mais próximo se:

  • A dor é repentina ou muito forte
  • Você não pode mover seu braço
  • Seu braço ou ombro mudou de forma, ou está muito inchado
  • Você tem sensação de alfinetada ou agulhada que não desaparece
  • Não há sensibilidade em seu braço ou ombro
  • Seu braço ou ombro está quente, ou frio ao toque


A dor no ombro que não melhora após duas semanas pode ser causada por algo que precisa de tratamento. Não se automedique – consulte o seu médico se estiver preocupado.

Dr. Andrew Seung Ho Park

CRM-SP: 157730 RQE: 67991 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Residência Médica de Fisiatria pelo HC-FMUSP. Residência Médica em Neurofisiologia Clínica pelo HC-FMUSP. Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professor Colaborador do CEIMEC – Centro Integrado de Estudo em Medicina Chinesa. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR).

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Dr. Andrew Seung Ho Park

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CRM-SP: 157730 RQE: 67991 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Residência Médica de Fisiatria pelo HC-FMUSP. Residência Médica em Neurofisiologia Clínica pelo HC-FMUSP. Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professor Colaborador do CEIMEC – Centro Integrado de Estudo em Medicina Chinesa. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR).

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