O Que É Compulsão Alimentar no Século XXI

Na sociedade, falar sobre hábitos alimentares é algo bastante trivial em conversas do dia a dia. Basta observar quando se aproximam datas festivas, como confraternizações de final de ano ou quando alguém diz que tem adoração por tal comida ou bebida.

Desse modo, é importante dizer o quanto esse tema não é atual nas rodas de conversa, redes sociais e para a ciência, que desde 1950 tem a palavra Compulsão Alimentar nos manuscritos teóricos sendo, portanto, referenciada como comportamento digno de observação e pesquisa.


Por que a compulsão alimentar ocorre?

Alguns estudos levantam a hipótese de não ocorrer uma ligação entre a Compulsão Alimentar e fatores sociodemográficos, socioeconômicos e antropométricos que poderiam desencadear sua predisposição.

Entretanto, sabe-se que um hábito alimentar não saudável pode levar a consequências psicológicas consideráveis.

Há pesquisas que revelam a presença de traços de personalidade fortemente correlacionados aos Transtornos Psiquiátricos.

Indivíduos com personalidade mais ansiosa tenderiam a responder a situações e questões da vida com constância de gatilhos repetitivos.

Os Transtornos Alimentares não são tão comuns comparados aos Transtornos Depressivos e Transtornos Ansiosos.

Nesse quadro psiquiátrico emoções e pensamentos se encontram comprometidos em relação ao comportamento alimentar e corporal, onde a pessoa permanece obcecada por um padrão de conduta instigada pelo medo e anseios.


Principais transtornos de compulsão alimentar

Os principais Transtornos Alimentares do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) são: Pica ou Alotriofagia, Transtorno de Ruminação, Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo, Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Outro Transtorno Alimentar Especificado e Transtorno Alimentar Não Especificado.

Porém, cientificamente o diagnóstico de Compulsão Alimentar passou a ser considerado apenas recentemente.


Distinções de compulsão alimentar

Mesmo clinicamente sendo comportamentos adotados por pessoas com diagnóstico de Obesidade, novos parâmetros têm sido investigados para estabelecer melhores formas de distinções psicopatológicas, as quais substancialmente trazem perspectivas em longo prazo satisfatórias ao tratamento desses pacientes.

Na América Latina já se mostra fenômeno verificável entre as características clínicas encontradas atualmente.

Pela primeira vez na história, o manual utilizado no Brasil como sistema diagnóstico, a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) incorporou critérios para Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), descrevendo uma seção com pontos divergentes do diagnóstico de Obesidade.

Catalogada doença, o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) foi incluído também no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) por se tratar de comportamento alimentar gerador de grande sofrimento e prejuízos necessários de tratamento.

Sua prevalência é de 1,6% entre mulheres e 0,8% entre homens e, curiosamente, o número de pessoas portadoras de Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) que procuram ajuda para emagrecer são maiores do que a população geral.


bulimia


Sobre os critérios de definição, o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) se caracteriza por:

  • Ingestão de certa quantidade de alimento em dado momento maior que maioria das pessoas consumiria em uma refeição;
  • Falta de controle sobre o ato de comer ou sentimento de que não é capaz para tanto;
  • Alimentar-se rápido demais;
  • Alimentar-se até se empanturrar;
  • Preferir estar sozinho por vergonha daquilo que está comendo;
  • Sentimento de tristeza ou culpa de si mesmo após um episódio; e
  • Sofrimento significativo em decorrência do comportamento alimentar.

Outros problemas de saúde mental também se assemelham ao Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) definido basicamente de alimentar-se compulsivamente frequente em intervalos marcados sem que haja uma compensação em si, como Obesidade e Bulimia Nervosa.

Entretanto, há diferenças importantes em sua apresentação clínica, como purgação, na Bulimia Nervosa e valorização das formas corporais, na Obesidade, o que possibilitaria o diagnóstico diferencial, descartando hipóteses ou comorbidades equivocadas para esse tratamento.


Condições psiquiátricas associadas

Podem-se destacar algumas condições psiquiátricas associadas: Transtorno Depressivo, Transtorno Ansioso, Transtorno Afetivo Bipolar e Transtorno por Uso de Substância.

Os impactos da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19) no século XXI que vivenciamos, drasticamente aumentaram sintomas nos pacientes portadores com Transtorno Alimentar, e, em especial, também com Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), trazendo agravos em termos de regulação emocional, altas taxas de estresse e isolamento social.

Por último, o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) é uma condição médica psiquiátrica relevante que merece atenção, pois, é algo que impacta significativamente a qualidade de vida, traz prejuízos nas interações sociais, possui quadros concomitantes de doenças físicas além de, ter gravidade clínica acentuada e requerer uma série de medidas terapêuticas, a saber:

  • Uso de medicamentos prescritos;
  • Indicação de terapia cognitivo comportamental;
  • Mudança de hábitos alimentares;
  • Exercícios diários de automonitorização; e
  • Engajamento em estratégias contínuas para transformar metas de tratamento em rotina para toda vida.


Referências

  1. Appolinario, J. C.; et al. Os Transtornos Alimentares nos Sistemas Classificatórios Atuais: DSM-5 e CID-11. Revista Debates in Psychiatry. Jul/Set, 2019.
  2. Bloc, L.; et al. Transtorno de Compulsão Alimentar: Revisão Sistemática da Literatura. Revista Psicologia e Saúde. Campo Grande, v.11, n.1, p. 3-17, 2019.
  3. Buonfiglio, H. B.; Aratangy. E. W. Como Lidar com os Transtornos Alimentares: Guia Prático para Familiares e Pacientes. 1ed. São Paulo: Hogrefe, 2018.
  4. Claudino, A. M.; et al. Uma Revisão dos Estudos Latino-Americanos sobre o Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica. Revista Brasileira de Psiquiatria. v. 33, 1 (Suppl), Maio, 2011.
  5. Coletty, I. M. S. Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) e Ansiedade em Adolescentes Obesos. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, 2005.
  6. Devlin, M. J.; Goldfein, J. A.; Dobrow, I. What is This Thing Called BED? Current Status of Binge Eating Disorder Nosology. International Journal of Eating Disorders. 34 (Suppl), S2-S18, 2003.
  7. Viebrantz, J. F. Transtorno de Compulsão Alimentar em Tempos de COVID-19: Uma Revisão Sistemática. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021.
  8. Garcia, G. D.; et al. Relação entre Sintomatologia Ansiosa, Depressiva e Compulsão Alimentar em Pacientes com Doenças Cardiovasculares. Revista Latino-Americana De Enfermagem. v. 26, e3040, 2018.
  9. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (American Psychiatric Association) 5ed. Porto alegre: Artmed, 2014.
  10. Wilfley, D. E.; Wilson, G. T.; Agras, W. S. The Clinical Significance of Binge Eating Bisorder. International Journal of Eating Disorders. 34 (Suppl), S96-106, 2003.

Adhila Carlos Oliveira de Espírito

CRP 06/109972
Psicóloga.
Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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Adhila Carlos Oliveira de Espírito

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Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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