Dor nas Costas na Gravidez – Tratamento de dor na gestação

Se ainda não passou por isso, já deve ter visto uma amiga ou até uma desconhecida gestante apoiando as mãos nas costas com sofrimento para executar os movimentos mais básicos, como caminhar ou se levantar de uma cadeira.

A dor lombar durante a gravidez é tão comum que quase ninguém a associa a um problema evitável ou tratável, mas a verdade é que ela não precisa ser necessariamente uma realidade na suas experiências, sobretudo se você tomar algumas medidas básicas preventivas.

Causas e prevalência da lombalgia gestacional

Como você já sabe, mesmo que nunca tenha ficado grávida antes, a dor nas costas é uma queixa comum entre gestantes, sobretudo as dores na região lombar.

Diversos estudos realizados no Brasil e em outros países já apontaram uma prevalência de 75% a 85% do sintoma nas gestantes, e é com essa estimativa que a medicina trabalha hoje. Ou seja, se você está grávida e vem se sentindo incomodada com as dores nessa área, você está junto da maioria das mulheres também grávidas! E vai dar tudo certo!

Um estudo realizado pelo Departamento de Tocoginecologia da Universidade de Campinas (Unicamp) em 2005, por exemplo, confirmou as estatísticas acima ao analisar 266 pacientes em salas de espera de consultas pré-natal.

Destas, 79,3% delas relataram algum tipo de dor nas costas, em uma ou mais regiões. As queixas sobre a lombar foram, com folga, as mais populares: cerca de 80% das pacientes apontaram o problema. As na região sacroilíaca vieram logo em seguida, afetando quase 50% das entrevistadas. Ou seja, dor nas costas e gravidez andam de mãos dadas.

As queixas tiveram proporções semelhantes em todas as fases da gestação e não apresentaram melhora ou piora com o passar do tempo.

Outro levantamento, este mais recente, feito em 2015 por pesquisadores de várias partes do Brasil e publicado na Revista Brasileira de Anestesiologia, chegou a uma média de 68% de queixa sobre o sintoma na gestação. A amostra foi mais modesta (97 gestantes), mas o resultado não menos significativo, mesmo que menor em porcentagem que o da Unicamp.

A lombalgia (outro nome para dor lombar) foi mais frequente durante o segundo trimestre gestacional (presente em 43,9% das pacientes). A maioria (71,2%) sentia piora dos sintomas durante a noite, sendo que o repouso aliviava as dores para 43,9% delas.

Quanto às causas, elas vão desde as hormonais quanto às físicas, relacionadas ao aumento natural de peso relativamente rápido durante a gestação e ao deslocamento do centro de gravidade da mulher conforme a barriga cresce.

Não causa espanto que algumas gestantes apresentem as primeiras queixas logo nas no início de gravidez, antes mesmo de a barriga começar a despontar.

Isso porque as alterações no corpo da mulheres começam com a mudança hormonal, que sofrem de significativa retenção hídrica em função do estímulo da progesterona. Além disso, o crescimento acelerado e intenso das mamas e do útero impõe sobrecarga à coluna e à região pélvica, o que, por si só, pode afetar a sustentação corporal “normal” da grávida.

Todas essas mudanças já são candidatas a causarem dores sozinhas, mas o “perigo” ainda é potencializado pela possibilidade de que elas acarretem também compressão de algum nervo, o que pode piorar a intensidade das dores.

Some a isso o fato de que, nesse período, os músculos abdominais ficam mais alongados e enfraquecidos, o que desestabiliza o core e acaba por deixar as mulheres mais vulneráveis a lesões. Os sintomas geralmente aparecem quando você fica pé ou sentada por períodos prolongados, rola na cama ou ao deitar e se levantar da cama ou de assentos baixos.

Principais causas de dor lombar na gestação

  • Alterações hormonais.
  • Crescimento acelerado das mamas e do útero.
  • Deslocamento do centro de gravidade na gestação.
  • Enfraquecimento do core.
  • Compressão de nervos.
  • Afrouxamento de articulações e ligamentos.


Tipos de dor lombar gestacional

Há vários tratamentos possíveis, sem necessariamente precisar de medicamentos (que são muitas vezes restritos na gestação). Acupuntura, fisioterapia e exercícios podem ajudar.

Além disso, exercícios específicos de fortalecimento da lombar e do core – apenas com o aval do médico que acompanha a gestação, claro – também podem trazer benefícios.

Se você ainda não está grávida, mas planeja uma gestação para logo, pode começar a se preparar agora mesmo, buscando exercícios de fisioterapia e atividade física específica para essas regiões. Assim, as chances de você passar longe das estatísticas aumentam.

Quais os tipos de dor lombar mais comuns na gravidez?

Segundo especialistas, há dois padrões comuns de dor lombar na gravidez:

Algumas mulheres podem sentir os dois tipos ao mesmo tempo, em fases distintas da gestação ou simultaneamente. O mais comum é que você sinta com mais intensidade apenas uma delas.

O primeiro tipo é parecido com outras dores lombares que você talvez já tenha sentido mesmo antes de estar grávida. Ela é sentida redor de sua coluna vertebral, aproximadamente ao nível da cintura e pode ou não irradiar para as pernas.

Já a dor pélvica posterior aparece na região das nádegas, em um lado ou nos dois.


Atenção:

Muitas vezes, quando essa dor irradia para o glúteo e para as coxas, acaba sendo confundida com a dor ciática – uma condição que é na verdade relativamente incomum, e afeta apenas entre 13% e 40% da população (leia mais sobre a dor ciática neste artigo).

Nas mulheres grávidas, então, é ainda mais rara, sendo que apenas uma pequena parte dela tem o problema, causado por abaulamento ou herniamento de um disco intervertebral. Um outro diagnóstico diferencial é a síndrome do piriforme, que pode gerar uma pseudo-ciática. O estimado é que apenas 1% das gestantes sintam, de fato, a ciatalgia “verdadeira”.

Algumas coisas podem lhe ajudar a diferenciar uma dor lombar comum e esperada para o período de uma dor ciática. Está última costumka causar dor mais intensa nas pernas do que nas costas e pode ser sentida ainda abaixo do joelho e até mesmo nos pés e dedos dos pés.

Essa dor ainda pode vir acompanhada de outros sintomas, como sensação de formigamento, alfinetada, agulhadas ou ainda dormência nas pernas.

Se desconfiar que o seu problema esteja de fato relacionado ao nervo ciático, procure um médico. Principalmente se apresentar os também sintomas acima ou perda de sensação na virilha e dificuldade de urinar ou defecar, que pode ser um reflexo da inflamação no nervo.

Fatores de risco para dor lombar na gestação

Quem tem mais chances de ter dor lombar durante a gravidez?

Em geral, mulheres com histórico de lombalgias prévias, seja durante ou fora de gestações anteriores, apresentam maior risco de apresentar os sintomas.

Além disso, mulheres sedentárias, com baixa flexibilidade da região lombar ou com músculos das costas e da região abdominal fracos também estão mais suscetíveis.

Gravidezes de múltiplos, como as gemelares, também consistem em um fator de risco e alguns estudos ainda sugerem que gestantes obesas estariam mais propensas, mas não há consenso ainda sobre isso nos estudos científicos.

Principais fatores de risco:

  • Histórico de lombalgia em gestações anteriores
  • Sedentarismo
  • Baixa flexibilidade
  • Músculos das costas e do abdômen fracos
  • Gravidez de múltiplos
  • Obesidade (sem consenso científico)



Como tratar dor lombar na gravidez?

1. Exercícios

Esqueça o repouso. Na prática médica, o observado é que, a longo prazo, a falta absoluta de atividade acaba por piorar os sintomas mais do que a atividade física, porque pode acabar por enfraquecer e encurtar ainda mais os músculos lombares e pélvicos.

Alguns estudos recentes demonstraram que atividade física controlada e de intensidade moderada é benéfica para gestantes, seja na prevenção e melhora das dores lombares e nas pernas, como para disposição geral e melhora da qualidade de vida nesse período.

É o que demonstra este estudo publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem.

Consulte seu médico antes de iniciar um programa de exercícios, principalmente se você estiver no grupo de gestantes de alto-risco, como as que podem ter eclâmpsia.

Com a liberação do especialista, pode ser bom considerar:

  1. Exercícios para fortalecer os músculos que oferecem suporte a suas costas e pernas, incluindo os fortalecer os músculos abdominais.
  2. Alongamentos para os músculos das costas e pernas.

Essas duas coisas podem ser conseguidas com uma série de atividades:

  • Yoga, que além de alongar e fortalecer, ainda proporciona relaxamento.
  • Musculação, desde que planejada por um profissional.
  • Natação ou hidroginástica (o empuxo da água diminui a pressão sobre as articulações).
  • Caminhada.
  • Exercícios específicos para a lombar que podem ser feitos em casa, como a ponte.

Acupuntura pode ajudar a controlar a dor lombar

Além dos métodos listados acima, vale consultar seu médico quanto a possibilidade aliar aos exercícios musculares e posturais também algumas sessões de acupuntura.

Embora ainda existam poucos estudos específicos sobre o benefícios da técnica para o controle da dor em mulheres grávidas, alguns estudiosos já observaram efeitos positivos da acupuntura na diminuição da dor lombar nesse período.

É o caso de um estudo de 2017 publicado na Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). Nele, os pesquisadores observaram como a técnica refletia no bem-estar de grávidas de 14 a 37 semanas e que relatavam dor lombar.

A conclusão foi de que, embora os benefícios da acupuntura sejam progressivos com mais sessões, um número significativo de gestantes afirmou ter sentido melhora na intensidade da dor logo após a primeira sessão, com a percepção sensorial de dor caindo mais de 8 pontos.

Além da dor, os pesquisadores ainda pontuaram outros efeitos positivos da acupuntura:

“Além da dor lombar, as gestantes referiam melhorias percebidas em outros aspectos, como: relaxamento, estresse, sono, ansiedade e paciência. Não foram evidenciados eventos adversos graves no tratamento”, relataram no artigo sobre a pesquisa.

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Dicas de postura para melhorar a dor lombar na gravidez

Se você somar às terapias e aos exercícios algumas pequenas mudanças de hábito e de atenção à sua postura no dia a dia, conviver com as mudanças trazidas pelo corpo na gravidez pode se tornar menos penoso e as dores, mais suportáveis.

Tente seguir as dicas abaixo:

  • Fique ereto. Isso fica mais difícil de fazer com as mudanças de seu corpo, mas tente manter seu glúteo para dentro e os ombros para trás. Mulheres grávidas tendem a ter queda de seus ombros e arquear suas costas enquanto sua barriga cresce, o que coloca mais pressão sobre a coluna vertebral e pode causar dores.
  • Use um apoio para os pés e um travesseiro pequeno para as costas ao se sentar.
  • Faça pausas. Se você trabalha sentada por longas horas, levante-se a cada hora para relaxar a coluna. Se trabalha em pé, sente-se de vez em quando.
  • Evite movimentos que pioram a sua dor. No caso da dor pélvica, por exemplo, isso pode acontecer ao subir escadas. Também evite rotacionar muito o quadril ou a coluna.
  • Deixe os saltos altos para depois do parto. Conforme sua barriga cresce, o equilíbrio se desloca, e o salto pode desalinhar ainda mais sua postura. Além de causar dor, isso ainda pode fazer com que você se desequilibre e caia.
  • Ao carregar pesos, como sacolas de mercado, divida-os entre os dois braços.
  • Ao levantar da cama, dobre as pernas na altura dos joelhos e quadris, role para o lado e use os braços como uma alavanca para se empurrar para cima até ficar sentada.
  • Quando for dormir, você pode dormir de lado com um ou ambos os joelhos dobrados e um travesseiro entre as pernas. À medida que sua gravidez avança, apoiar outro travesseiro sob a barriga também pode ser confortável.

Dr. Andrew Seung Ho Park

CRM-SP: 157730 RQE: 67991 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Residência Médica de Fisiatria pelo HC-FMUSP. Residência Médica em Neurofisiologia Clínica pelo HC-FMUSP. Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professor Colaborador do CEIMEC – Centro Integrado de Estudo em Medicina Chinesa. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR).

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CRM-SP: 157730 RQE: 67991 | Médico especialista em Fisiatria e Acupuntura. Residência Médica de Fisiatria pelo HC-FMUSP. Residência Médica em Neurofisiologia Clínica pelo HC-FMUSP. Pós-Graduação em Dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professor Colaborador do CEIMEC – Centro Integrado de Estudo em Medicina Chinesa. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (SBMFR).

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