Estar em relacionamento amoroso pode ser definido pelo apreço e estima no objeto de amor e na relação estabelecida.
O amor é o sentimento que permeia grande parte das relações humanas, entretanto, quando em demasia pode caracterizar sintomatologia ou etiologia semelhante a outras dependências. Nesse sentido, a dependência emocional seria o envolvimento em relacionamentos interpessoais baseados em comportamentos aditivos.
Pesquisas indicam que sentimentos amorosos utilizariam a mesma circuitaria neural que substâncias psicoativas ativando sintomas de dependência, o sistema de recompensa cerebral.
Porém, não necessariamente toda relação caracterizaria esse tipo de ímpeto.
O Apego Emocional se preocupa em estabelecer relações significativas com figuras primárias havendo qualidade nos determinantes dos relacionamentos. O processo de vinculação é de extrema importância, ainda mais se tratando de laços afetivos precoces capazes de criar uma base segura ao ser humano emocionalmente, contribuindo para o funcionamento e desenvolvimento psicológico ou de perturbações que possam indesejadamente romper relações afetivas.
O Apego tem sido considerado comumente um mecanismo básico nas relações humanas. Sendo um comportamento esperado está ligado a uma imagem que oferece respostas disponibilizando segurança para a relação. Acredita-se que as primeiras experiências relacionais de Apego criadas logo na infância influenciam a história de vida da pessoa.
Estudos revelam que o Apego é um comportamento instintivo e com potencial adaptativo. A emoção denota traço principal da comunicação entre as relações de Apego. Tal tipo de linguagem emocional possibilita regular e expressar suas emoções para o estabelecimento das interações com o outro e meio social. Analisando o ciclo vital, o Apego é um processo contínuo sendo de continuidade que se dá pela interação estabelecida dos pais e cuidadores sempre associada a algum grau de segurança.
Teoria do apego
A Teoria do Apego foi desenvolvida para descrever a qualidade da relação entre a criança e seu cuidador, podendo interagir a partir de 4 padrões de Apego: Seguro, Inseguro Evitativo, Inseguro Ambivalente e Desorganizado. Dentre esses, os 3 últimos perfazem relações disfuncionais, apenas o primeiro indicando um fator de proteção.
Na relação, a pessoa demandará ações procurando a aproximação certificando-se de que o outro será o mais apto para manejar as nuances do mundo adequando as necessidades de segurança.
Estilo de cuidado proferido pela Mãe
O estilo de cuidado proferido pela mãe ou cuidador nos primeiros anos de vida e até mesmo educacional derivam características sobre padrões de Apego. Outro fator relevante são as condições de nascimento, desenvolvimento cognitivo, contexto sociofamiliar, aspectos socioeconômicos, estressores familiares e suporte familiar.
A relação de Apego que se estabelece quando criança, a priori, influenciará basicamente grande parte das relações que serão construídas pelo adulto. Por isso, se faz necessário o estabelecimento de relações de Apego seguras tanto nos aspectos emocionais quanto cognitivos para que haja confiança na exploração do mundo, ajudando na organização do comportamento e desenvolvimento de competências.
Nas relações humanas, o tipo de interação que é estabelecida caracteriza o padrão de Apego formada. Gradualmente, as experiências de Apego vivenciadas de antemão são internalizadas e organizadas para funcionar como modelo de funcionamento mental, reverberando na idade adulta.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
Para o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) existe a classificação do Transtorno de Apego Reativo*:
A) Um padrão consistente de comportamento inibido e emocionalmente retraído em relação ao cuidador adulto, manifestado por dois aspectos:
1. A criança rara ou minimamente busca conforto quando aflita.
2. A criança rara ou minimamente responde a medidas de conforto quando aflita.
B) Perturbação social e emocional persistente caracterizada por pelo menos dois dos seguintes aspectos:
1. Responsividade social e emocional mínima a outras pessoas.
2. Afeto positivo limitado.
3. Episódios de irritabilidade, tristeza ou temor inexplicados, evidentes até mesmo durante interações não ameaçadoras com cuidadores adultos.
C) A criança vivenciou um padrão de extremos de cuidado insuficiente evidenciado por pelo menos um dos seguintes aspectos:
1. Negligência ou privação social na forma de ausência persistente do atendimento às necessidades emocionais básicas de conforto, estimulação e afeição por parte de cuidadores adultos.
2. Mudanças repetidas de cuidadores, limitando as oportunidades de formar vínculos estáveis (p. ex., trocas frequentes de lares adotivos temporários).
3. Criação em contextos peculiares que limitam gravemente oportunidades de formar vínculos seletivos (p. ex., instituições com alta proporção de crianças por cuidador).
D) Presume-se que o cuidado do Critério C seja responsável pela perturbação comportamental do Critério A (p. ex., as perturbações do Critério A iniciam após a ausência de cuidado adequado do Critério C).
1. Não são preenchidos os critérios para transtorno do espectro autista.
2. A perturbação é evidente antes dos 5 anos de idade.
3. A criança tem uma idade de desenvolvimento mínima de 9 meses.
Especificar se: Persistente: O transtorno está presente há mais de 12 meses.
Especificar a gravidade atual: O transtorno de apego reativo é especificado como grave quando a criança exibe todos os sintomas do transtorno, e cada sintoma se manifesta em níveis relativamente elevados.
*Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (American Psychiatric Association) 5ed. Porto alegre: Artmed, 2014.
Pessoas com Apego Seguro apresentam maior facilidade na resolução de tarefas.
Já pessoas com Apego Inseguro demonstram maiores dificuldades em termos de competência social, independência, resiliência e saúde mental, além de sintomas ansiosos, depressivos e de humor. Além do mais, pessoas com esse tipo característico mostram tendência a desenvolver uma referência negativa sobre expectativas acerca do trabalho.
Já adolescentes com Apego Inseguro tendem a se envolver em comportamentos de risco apresentando impasses em traços de regulação emocional como por exemplo, na impulsividade. Jovens com Apego Seguro na relação se beneficiam de menos estresse e mais afeto e autoestima nas interações sociais, além de habilidades interpessoais.
Associações entre Apego e Regulação Emocional tem sido estudadas pelas consequências e pequenas semelhanças. Evidências científicas relatam que indivíduos seguros em suas relações de Apego apresentam mais otimismo e menos pensamentos catastróficos, lidando com desafios de maneira construtiva e expressando suas emoções de modo estratégico. Para indivíduos seguros comunicarem os sentimentos e emoções torna-se uma experiência com menos distorções cognitivas.
A Dependência Emocional é conceituada como uma questão crônica forjada em demandas afetivas insatisfeitas que buscam por intermédio de relacionamentos interpessoais um Apego patológico. Esse comportamento ocorre em decorrência de um funcionamento internalizado e aprendido do indivíduo ao longo da vida, sendo que várias pessoas e fatores se tornaram influenciadores para tal comportamento.
A Dependência Emocional pode ser classificada em dois tipos: a Genuína, quando há o envolvimento de uma patologia que esteja relacionada a Dependência Emocional e a Mediada, pautado no comportamento adicto ou quando o outro sente a necessidade de conviver com outrem.
É possível ainda nomear as principais dependências afetivas dos subtipos Genuínas em: Dependência Emocional, Tendência Dependente, Apego Ansioso, Transtornos de Personalidade e etc.
Já as dependências Mediadas constituem: Codependência e Bidependência. A Codependência é caracterizada pela relação patológica entre uma pessoa não adicta com outra usuária problemática de álcool e outras drogas. Na Bidependência o indivíduo dependente estabelece relação de Apego com outras pessoas que fazem uso de substâncias ou não.
As principais características da Dependência Emocional são: ter cuidado e atenção em excesso com o outro havendo renúncia de interesses pessoais; presença de elementos que evidenciam abstinência pela ausência do parceiro ligadas a tensão muscular, taquicardia e insônia; queixa frequente da falta de atenção do companheiro; dificuldade de controle de si; raiva, mágoa, ressentimento, tristeza, solidão, desânimo e depressão.
Analisando que o Apego elucida tanto um padrão comportamental da personalidade quanto condições psicopatológicas, a dimensão emocional que constitui os modelos psicológicos de vínculos de Apego Emocional constituem conceitos teóricos essenciais ao entendimento da constituição da subjetividade humana.
Portanto, pesquisas na área do Apego ainda são um desafio e por esse motivo se faz necessário aumentar conceito teórico em detrimento das relações de Apego buscando compreender a influência de vários vínculos e de padrões funcionais internos; validar instrumentos de avaliação sistemática do Apego preferencialmente na idade adulta com objetivo de analisar como a variável altera com o passar do tempo; desenvolver novos instrumentos metodológicos com dados empíricos que auxiliem no entendimento na observação das transformações dos vínculos de Apego na vida adulta, possibilitando a verificação de sequelas; e criar conceitualizações mais complexas acerca de associações válidas.
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