Decepção Amorosa: O Medo de Relacionar-se Afetivamente

Aspectos Culturais dos Relacionamentos Amorosos

Sabe-se que a busca pelo relacionamento amoroso na vida de uma pessoa se assemelha a
procura pela felicidade para algumas culturas, sendo desse modo o único capaz de trazer completude.

Pesquisas afirmam que ter relacionamentos amorosos saudáveis é aspecto imprescindível no cultivo de
bem-estar e enriquecimento pessoal.

Os relacionamentos amorosos ocupam uma parte considerável em termos de importância na vida
dos seres humanos, como espectro formativo no desenvolvimento e amadurecimento da constituição do
indivíduo.

Porém, todo relacionamento amoroso propõe desafios e um dos principais na vivência é a
experiência do rompimento, embora comum e dolorosa ao mesmo tempo.

Dentre as experiências de sofrimento humano que mais proporcionam estresse e perturbação na vida está à separação na relação amorosa, podendo chegar a casos de transtornos psiquiátricos.

O rompimento de um relacionamento traz lembranças e desilusões e pode ser um processo difícil
em termos de período e efeitos psicológicos negativos, como tristeza, raiva, angústia, luto, baixa
autoestima, passando por sintomas ansiosos e depressivos.

Pesquisas comparativas entre gêneros indicam que mulheres apresentam maior intensidade nos sentimentos frente a ruptura dos relacionamentos amorosos sendo: tristeza, raiva, mágoa, choro, desprezo e medo da solidão.

Entre os homens há sentimentos de tristeza, raiva, culpa, irritação e arrependimento perante o desmanche.

Embora seja costumeira a associação do desfecho de um relacionamento por um evento negativo,
términos de relacionamento amoroso podem ser positivos desde que tragam sensação de alívio,
sentimento de liberdade, pensamentos positivos, autoestima, satisfação e motivação com a vida.

É possível citar quais são as barreiras comuns em um relacionamento amoroso que impedem o
usufruto satisfatório de um contato íntimo e pessoal:

  • A incapacidade para compreensão e trato com as pessoas;
  • A ausência de entendimento e atitudes relacionadas ao amor próprio;
  • A existência de razões para o investimento na relação;
  • A predisposição a crítica excessiva na conduta de respeito e admiração;
  • A crença de que não é merecedor no amor de outra pessoa.


Aspectos Psicológicos dos Relacionamentos Amorosos

Refletir sobre o adoecimento dos relacionamentos amorosos nos consultórios de Psicologia tem sido algo constante. Primeiro porque, falar sobre amor é falar sobre escolhas.

A escolha de um parceiro é física, subjetiva e intelectual e quando isso acontece, o sujeito está tomado a priori pela paixão, que é um componente biológico.

afeicao

Quando se está apaixonado há expectativas, avaliações e frustrações do relacionamento, pois, não se está calcado na realidade, ocorrendo desilusões amorosas individuais ou conjugais que dificilmente se sustentarão na relação a dois.

A conjugalidade se apoia pelo ardor do desejo, sentimento de confiança, sensação de pertença e
contínua interdependência. Isso se dá principalmente nos modelos internalizados da infância e
adolescência de representações aprendidas de figuras significativas no seio familiar.

No amor, diante dos momentos difíceis, pode-se mencionar que o compromisso é um pilar essencial quando há suscetibilidade ao rompimento.

O casamento é entendido como a configuração de uma família repleta de responsabilidades.
Tamanho compromisso pode gerar inseguranças e medo de assumir novos projetos em um relacionamento, o que faria com que o indivíduo experimente estratégias psicológicas denominadas
flutuações.

As flutuações são ações não condicionadas por sentimentos capazes de nutrir investimento na
relação causadora de medo.

O estabelecimento de relacionamentos amorosos se faz cada vez mais rápido com o crescimento
da internet e a evolução das redes sociais que, se modernizaram facilitando interações de contato por
meio de ligações, e-mails, sites de relacionamentos e mensagens de celular.

Essa facilidade que possibilita o estabelecimento de laços duradouros tem suas características evidentes em estudos científicos na contemporaneidade.

Há casos onde os laços amorosos vivenciados são frágeis e fugazes, carregados de decepções, ausência de envolvimento e quaisquer satisfações de relacionamento sério.

É comum no comportamento de adolescentes e jovens o que se chama “ficar” que envolve
carinhos, abraços e beijos. Esse tipo de interação afetiva se configura fortuita, imediatista e
descompromissada.

Os desdobramentos afetivos ocorrem pela efemeridade, porém sempre pautado na
sexualidade, ou seja, objeto de consumo de sensações.

Essa prática também está alicerçada como possível namoro futuro, mas também primeiro contato amoroso além de passatempo social.

Ainda sobre o assunto, as relações estabelecidas pela internet podem ser iniciar por meio dela e
então se efetivar com encontros presenciais, pois, nem sempre o contato e interesse é genuíno para
encontrar um parceiro.

As redes sociais funcionariam como meio de contato de amigos e familiares e em
segundo plano, pessoas novas.

Infelizmente, nem todo relacionamento amoroso será favorável. Porém, há pessoas que terão
mais entraves do que outras de se relacionar amorosamente. Vejamos alguns tipos de perfis
característicos que apresentam dificuldade para amar novamente:

relacionamento

1. Inseguros e Insatisfeitos: necessidade de afeto, segurança e estabilidade nos relacionamentos;
propensão à relação de apego e dependência emocional.

2. Instabilidade Emocional e Abandono: desconfiança e não persistência na vida conjugal;

3. Desconfiança e Atitudes Abusivas: descrédito na relação afetiva e conduta abusiva afetivasexual;

4. Privação Emocional: o outro não está disposto a se entregar ao relacionamento, tendo atitudes
para evitar uma relação próspera;

5. Negativo e Vergonhoso: tendência a qualidades de inferioridade, defeito e ser indesejado;

6. Isolamento Social e Alienação: tentativa para se adaptar as necessidades do outro no
relacionamento;

7. Autonomia e Desempenho: refere-se às expectativas que as pessoas têm sobre si e o ambiente
externo que influenciam em sua maneira de lidar com os problemas;

8. Dependência e Incompetência: sentimento de que não é capaz de executar uma
responsabilidade com competência;

9. Emaranhamento e Self Subdesenvolvido: envolvimento com outras pessoas que julga importante
ao mesmo tempo em prol de desenvolvimento social, experimentando nas relações sensações de
falta de direção e vazio;

10. Fracasso: crença na ausência de inteligência e talento e por consequência o inevitável fracasso;

11. Merecimento e Grandiosidade: sensação de sentir-se superior ao outro, não tendo que obedecer
a regras sociais nas relações;

12. Autocontrole e Autodisciplina: baixo autocontrole e ausência de tolerância à frustração;

13. Subjulgação: descrença de que seus sentimentos não tem importância para os outros e
submissão excessiva;

14. Autosacrifício: cumprimento excessivo à custa de gratificações alheias poupando sofrimento ou
conquistando satisfação pessoal;

15. Aprovação e Reconhecimento: almeja reconhecimento a todo custo com ênfase em status e
sucesso para obter aprovação e reconhecimento;

16. Supervigilância e Inibição: opressão se sentimentos e a própria espontaneidade para satisfazer
com regras internalizadas relacionadas ao desempenho;

17. Inibição Emocional: repressão dos sentimentos e do autocontrole a fim de evitar a reprovação
social;

18. Padrões Inflexíveis: conduta crítica e rígida de comportamento em relação a si e o outro, como
eficiência constante e ideais de perfeccionismo;

19. Negativismo e Pessimismo: padrão de indecisões crônicas e preocupação negativas constantes;

20. Postura Punitiva: crença de que as pessoas devem ser punidas pelos seus erros cometidos,
implicando raiva, intolerância e dificuldade de perdoar;


Os Relacionamentos Amorosos na Atualidade

Uma das justificativas para as pessoas apresentarem medo de amar também é a crença de não
desejarem ser aproveitadas em suas competências ao máximo e, por conseguinte, investirem em um
relacionamento significativamente, e infelizmente, depois de alguns dias romperem pelo desgaste.

Desse modo, ocorre o medo da exclusão e do investimento das relações, havendo uma interligação com o medo do vínculo com o medo do sofrer no trato com as pessoas.

Do ponto de vista individual, estar em um relacionamento amoroso seria melhor do que estar solteiro, entretanto, tal necessidade parece mais rotineira para uns do que para outros.

O amor patológico caracterizado clinicamente como comportamentos repetitivos de atenção,
cuidado e controle com o parceiro, causando prejuízos a vida da pessoa que realiza tais atitudes,
demonstra-se fator corriqueiro em termos de tomada de decisão para relaciona-se novamente.

Tal conduta desmedida é nociva e mantida pelo apego e atração física.

Os relacionamentos amorosos são tão levados a sérios que para os sistemas classificatórios
diagnósticos consideram sua relevância e influência sob os tratamentos de saúde mental.

O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5) descreve uma categoria para o sofrimento relacionado ao parceiro:

  • Qualidade da relação amorosa;
  • Grau de interferência do relacionamento na evolução do quadro e tratamento;
  • Tipo de relacionamento amoroso;
  • Avaliação dos domínios afetivo, cognitivo e mental;
  • Análise acerca dos problemas comportamentais e dificuldades;
  • Parecer frente a sentimentos como tristeza, raiva e/ou apatia crônica do parceiro.

Algumas pesquisas destacam que a construção de um vida a dois não tem sido mais uma das
prioridades do brasileiro na atualidade. Jovens brasileiros têm preterido projetos individuais, projetos
profissionais e realização pessoal.

Todavia, os relacionamentos contemporâneos tendem a ser com idade
mais avançada, estabilidade e durabilidade.

A intimidade é muito importante nos relacionamentos amorosos. Os sentimentos de amor,
conexão, proximidade e união que acompanham o romance, a atração física e o desejo sexual fazem
parte de relações a dois saudáveis e construtivas.

Referências

Barbosa.; M. W. C., Sartori.; M. A. Relacionamentos Amorosos na Atualidade. sn.

Bergner.; R. M. Love and Barriers to Love. An Analysis for Psychotherapists and Others. Am J Psychother. 2000
Winter;54(1):1-17.

Carmo.; S. S. E. et al. Após o Fim de um Relacionamento Amoroso: Uma Revisão Narrativa. Revista Pubsaúde, 7, a233, 2021. DOI: https://dx.doi.org/10.31533/pubsaude.

Falcke.; D., Haack.; R. K. [email protected]: Diferencionando os Relacionamentos Amorosos Mediados e Não Mediados pela Internet. Revista Colombiana de Psicologia vol. 26 n.º 1 enero-junio 2017 – pp. 31-44.

Justo., S. J. O “ficar” na Adolescência e Paradigmas de Relacionamento Amoroso na Contemporaneidade.
Revista do Departamento de Psicologia – UFF, v. 17 – nº 1, p. 61-77, Jan./Jun. 2005.

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) / American Psychiatric Association – 5. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2014.

Rocha.; N. F., Cerqueira.; C. I. Amor e Relacionamentos Amorosos no Olhar da Psicologia. Revista Mosaico. 2018 Jul./Dez.; 09 (2): 10-17.

Sophia.; E. C. Amor Patológico: Aspectos Clínicos e de Personalidade. São Paulo. 2008.

Souza.; C. D. O Olhar da Terapia Cognitiva Focada em Esquemas sobre Relacionamentos Afetivo-Sexuais. Ano 9, Vol XIX, Número 2, Jul-Dez, 2017, Pág. 140-168.

Adhila Carlos Oliveira de Espírito

CRP 06/109972
Psicóloga.
Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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Adhila Carlos Oliveira de Espírito

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Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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