Depressão não é frescura: entenda os sinais e como buscar ajuda

Depressão não é frescura: causas, sintomas e tratamentos

Infelizmente, atualmente, ainda é comum ouvir que o paciente com depressão está exagerando, tem falta de vontade e que a situação não é tão grave assim. Contudo, depressão não é frescura, e sim uma doença grave que exige tratamento e acompanhamento terapêutico.

Acompanhe abaixo os principais sintomas da depressão, causas, como é feito o tratamento e como argumentar para que a sociedade entenda a seriedade dessa doença tão incapacitante.

Depressão não é frescura

Conviver com o sentimento de vazio, tristeza ou apatia, dia após dia, é algo muito mais complexo do que apenas estar em uma “fase ruim”. Infelizmente, algumas pessoas têm a tendência a diminuir a dor do próximo e não entender que sim, a depressão é uma doença tão séria e incapacitante quanto às demais, mas não é visível.

Um paciente com depressão, muitas vezes, é rotulado como preguiçoso, como alguém que deixa de fazer as coisas porque quer, e que é questão de esforço e vontade. Contudo, com a energia e a vitalidade tão em baixa, uma concentração tão pequena de neurotransmissores e um sentimento tão forte de desvalorização, é realmente difícil conseguir ter a mesma vida que se levava antes do desenvolvimento do transtorno.

Com um sentimento de culpa devastador, o paciente que convive com uma sociedade que rotula uma doença tão séria como a depressão como frescura, se sente desmotivado a buscar tratamento e inferiorizado por estar nessa situação. Mas, ninguém está livre de passar por isso e não está sob o controle do indivíduo ter os sintomas ou não.

Para conscientizar a sociedade da seriedade e da urgência de cuidar dos portadores do quadro de depressão, devemos falar abertamente sobre o assunto.

Se você está passando por um momento difícil e quer conscientizar o seu próximo; se alguém que você ama está sofrendo com a doença ou se quer ajudar nessa causa, falar abertamente sobre o tema, de forma embasada e empática, é a melhor maneira de trazer uma discussão saudável à tona.

Muitas pessoas têm o pensamento de que a depressão é frescura por falta de informação qualificada e conhecimento, e cabe a quem tem esses dados, espalhar para tornar a sociedade mais consciente sobre a seriedade da situação.

O que é depressão?

depressao

A depressão é um distúrbio mental que afeta os sentimentos e a vida do paciente. Ao longo do tempo, o portador passa a ter sentimentos negativos sobre a vida e sobre si mesmo, sofrendo com falta de prazer em atividades que antes eram de extrema importância para o seu bem-estar, e em casos mais graves, havendo o questionamento sobre o valor da sua vida e pensamentos suicidas.

De acordo com a OMS, cerca de 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão, uma estimativa de 11,5 milhões de casos ao ano. O índice no país é o maior em toda a América Latina, e o segundo maior nas Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, onde 5,9% da população sofre com o transtorno.

Quais são os principais sintomas da depressão?

A depressão se apresenta em diversos sintomas, mas os mais comuns, na maioria dos pacientes, são:

  • Perda ou ganho de peso;
  • Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas ou normais em sua rotina;
  • Dificuldade em manter o cuidado com a higiene e cuidado pessoal;
  • Sentir-se triste ou desanimado a maior parte do dia ou frequentemente;
  • Irritação e cansaço persistentes;
  • Fraqueza;
  • Em alguns casos, choro constante;
  • Sentimento de desvalorização, inutilidade, falta de esperança e culpa;
  • Apatia e sentimento de vazio;
  • Pensamentos de morte e suicídio, etc.

A intensidade dos sintomas e sua frequência irá depender da gravidade da doença e se o paciente já está em tratamento. Logo, caso esteja com algum desses sintomas e sinta que a sua qualidade de vida foi afetada, não deixe de procurar ajuda de um profissional médico e acompanhamento terapêutico.

Quais são as principais causas da depressão?

As causas da depressão ainda são uma incógnita para a ciência. Mas com o passar do tempo e o desenvolvimento de pesquisas de ponta, algumas das principais causas já foram decodificadas, como:

Circunstâncias e acontecimentos da vida

Há acontecimentos na vida que impactam de forma direta o nosso bem-estar, humor e funcionamento cerebral. Perdas familiares e afetivas, demissões, excesso de trabalho e pressão no ambiente estudantil e universitário, e outras situações igualmente estressantes podem ser o gatilho para o desenvolvimento de um quadro de depressão. 

Traumas psicológicos

Divórcios, abusos físicos ou psicológicos, agressões verbais ou físicas, ou em casos mais graves, estupros e outros tipos de violência, são apenas algumas das situações que mais contribuem para o desenvolvimento da depressão. Juntamente com o transtorno, nessas circunstâncias, geralmente o quadro de Transtorno de Estresse Pós-Traumático também se faz presente, potencializando ainda mais os sintomas da depressão.

Fatores genéticos e ambientais

Históricos de casos de depressão e transtornos como ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, etc., podem aumentar a propensão de outros membros da mesma família a desenvolver o quadro de depressão. Além disso, o impacto ambiental, como viver em um ambiente estressante ou com pressão de outras pessoas, também pode ser um forte gatilho para o desenvolvimento do transtorno.

Abuso de substâncias

O álcool é uma das substâncias mais presentes entre os depressivos. A substância traz a sensação de prazer, despreocupação e desinibição, que podem amenizar os sintomas da depressão por alguns minutos e horas, e por isso, grande parte das vezes se torna parte da rotina dos pacientes, desenvolvendo o vício por álcool.

Contudo, posteriormente, a substância causa efeitos nocivos no cérebro, que dependendo da sua magnitude, podem ser permanentes, e cooperam para agravar o caso depressivo. Além disso, o abuso do álcool é uma porta de entrada para drogas ilícitas.

Como funciona o cérebro e a mente de uma pessoa com depressão?

A depressão é um desequilíbrio químico do cérebro, que é formado por células chamadas neurônios. Os neurônios se comunicam entre si por meio de substâncias chamadas neurotransmissores. Quando há um quadro ativo de depressão, alguns dos neurotransmissores, por algum motivo que ainda está sendo estudado com afinco pela ciência, não circulam pelo cérebro como deveriam.

As causas para essa não circulação, como citamos no tópico acima, podem estar ligadas ao ambiente, predisposição genética, situações de estresse ou traumas, abusos de álcool e drogas, e também a doenças neurológicas ou traços de personalidade melancólica do paciente.

O desenvolvimento da depressão, logo, está relacionado ao mau funcionamento bioquímico da atividade de alguns dos neurotransmissores, sendo os de maior destaque a dopamina, a serotonina e a noradrenalina. Entenda, abaixo, o caminho que a doença percorre e como passa a funcionar a mente do paciente em casos de crise:

  1. Quando o cérebro detecta situações de risco, estressantes ou potencialmente nocivas, estruturas como a amídala, glândula pituitária e hipotálamo ficam em estado de alerta. Essas estruturas trocam informações entre si e enviam sinalizadores químicos e impulsos nervosos por todo o corpo, que o deixa preparado para situações de combate ou momentos difíceis;
  2. As glândulas supra-renais, localizadas no topo dos rins, reagem de forma intensa liberando adrenalina, fazendo o coração bater mais rápido e os seus pulmões trabalham com mais vigor para oxigenar o corpo. As células nervosas injetam no corpo a noradrenalina, que tensiona os músculos para deixar o corpo mais seguro e aguça os sentidos para se defender de qualquer ameaça. Nesse ínterim, a digestão e motilidade intestinal ficam prejudicadas, o que pode provocar náuseas, perda de apetite, ou até mesmo vômitos e diarreias.
  3. Depois que essa influência externa passa, os níveis de hormônios caem, mas se as crises depressivas ou ansiosas, que podem acontecer dentro da depressão, forem muito frequentes, podem haver danos nas artérias, e em casos crônicos, o enfraquecimento do sistema imunológico, prejudicando a memória e provocando a perda de massa óssea.

Com esse percurso, o corpo e a mente se mantêm alertas e com o passar do tempo, os sintomas como apatia e desvalorização da vida surgem, pelo desgaste da mente e do corpo ao tentar se defender e se manter seguro.

A depressão pode causar sintomas em outras partes do corpo?

O excesso de preocupação e os demais sintomas da depressão, ao longo do tempo, principalmente se não forem tratados, podem causar alguns sintomas físicos. Gastrite, úlceras estomacais, refluxo, dores de cabeça ou cefaleias em salvas e alterações na motilidade intestinal são as alterações corporais mais citadas pelos portadores do transtorno.

Além disso, a depressão afeta o sono (causando hipersonia, excesso de sono ou insônia), causa falta de apetite ou excesso de apetite, problemas no desempenho sexual e desejo, e indisposição para tarefas básicas, que passam a não ter mais sentido, como tomar banho, ver televisão ou atividades que antes eram prazerosas.

Qual é o tratamento para depressão?

tratamento depressao

A depressão, como qualquer outra doença que afete a qualidade de vida e bem-estar do paciente, precisa ser tratada com medicamentos, e também, com acompanhamento terapêutico. Quando falamos sobre as medicações antidepressivas, existem algumas categorias disponíveis, que são escolhidas pelo profissional da saúde de acordo com o seu caso e o seu relato de sintomas.

Tratamentos medicamentosos

IRND – Inibidores da recaptação da noradrenalina e dopamina

Essa modalidade de antidepressivos age como inibidores da recaptação dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina, impedindo a ação de transporte dos mesmos, causando o aumento extracelular dos neurotransmissores e amenizando os sintomas de depressão. O exemplo mais conhecido de antidepressivo IRND é o cloridrato de bupropiona.

ISRS – Inibidores seletivos de recaptação da serotonina

Essa modalidade de medicamento promove o aumento da disponibilidade do neurotransmissor serotonina na fenda sináptica. Os mais conhecidos são a paroxetina, sertralina, fluvoxamina, fluoxetina e escitalopram.

ADTs – Antidepressivos tricíclicos

Os antidepressivos tricíclicos são responsáveis pelo aumento de concentração extracelular de neurotransmissores como a dopamina, norepinefrina e serotonina. São indicados, também, no tratamento de insônia e dores musculares crônicas. O antidepressivo tricíclico mais conhecido é a amitriptilina. O relaxante muscular cloridrato de ciclobenzaprina, se tomado com constância e prescrição médica, age como um antidepressivo tricíclico.

Acompanhamento terapêutico

Além do tratamento farmacológico, o acompanhamento com um terapeuta, psicólogo ou psicanalista é outra alternativa importante a ser considerada. Conversar sobre o que sente abertamente, sem medo do julgamento, dividir seus medos e pensamentos a respeito de si mesmo é uma forma de aliviar a angústia e aos poucos, ter mais consciência sobre como a depressão está agindo sobre o seu corpo.

Como argumentar com as pessoas ao seu redor que a depressão não é frescura?

Mesmo com os movimentos em prol da conscientização da sociedade, muitas pessoas ainda têm dificuldade em entender que a depressão é uma doença, e que mesmo que os sintomas não sejam aparentes, eles causam intenso sofrimento ao paciente. Para argumentar com quem questiona a validade e veracidade do que é a depressão, tenha as seguintes questões sempre em mente:

  1. Sintomas como oscilação do sono, apetite, estresse, irritabilidade, sensibilidade, dificuldade com o cuidado e higiene pessoal, falta de esperança ou desânimo causam um intenso sofrimento e danos ao cotidiano do paciente;
  2. É uma doença associada a questões biológicas e ambientais. Está no CID médico e tem tratamento medicamentoso assim como qualquer outra doença que afeta a vida do portador;
  3. A depressão é um desequilíbrio no cérebro, onde os neurotransmissores, como a noradrenalina, dopamina e serotonina não circulam nos neurônios como deveriam. Logo, os sintomas têm uma base química e orgânica para se fazerem presentes na rotina dos pacientes;
  4. Em casos graves em que a depressão não é corretamente tratada ou assistida, ou ainda, se o paciente é desencorajado a continuar o seu tratamento, pode levar ao suicídio;
  5. O tratamento medicamentoso tem o objetivo de regular o nível dos neurotransmissores, a fim de tornar efetiva a comunicação entre eles em nosso corpo, ajudando com que o paciente se recupere mais facilmente;
  6. A terapia é um dos meios de se recuperar do quadro de depressão, mas é indicada para todos, mesmo que não haja nenhum quadro de transtorno de humor e ansiedade. Na terapia, qualquer pessoa tem a chance de tratar seus medos, anseios e traumas e levar uma vida mais leve.

Depressão não é frescura: leve esta doença a sério

Aqui no Blog da Saúde, nos preocupamos em trazer informação relevante, verdadeira e científica para orientar nas mais diversas situações da sua vida.

Se você tem notado qualquer um dos sintomas citados ao longo do artigo, não hesite em buscar auxílio médico e terapêutico, e assim, resgatar o seu bem-estar e qualidade de vida.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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