Apatia: Da Definição Ao Tratamento

A Apatia é um comportamento observado em diferentes contextos. Em crianças pode ser uma
resposta de um evento a um ambiente, caracterizando uma patologia que interfere tanto no desempenho escolar quanto na vida social ainda na infância.

Já em idosos, tal temática tem sido estudada constantemente devido forte associação com quadros neuropsiquiátricos.

Todavia, esse assunto é de extremo interesse e dificuldade pela conceituação de fatores emocionais, psicológicos e comportamentais que aparecem sobrepostos ao sintoma da Apatia.


Mais sobre a Apatia

Nos últimos 15 anos, a Apatia tem recebido um enfoque diferente das pesquisas científicas. A
definição da Apatia se dá como rebaixamento dos níveis excitatórios de emoções e de afetos no
organismo, podendo ser denominado como falta de interesse ou perda motivacional, sendo a ausência da experimentação de sensações importantes.

Recentemente houve aumento das altas taxas de prevalência da síndrome em diversas condições de saúde acarretando níveis de incapacidade significativo e índices de resistência ao tratamento.

Para indivíduos saudáveis estima-se que, a prevalência seja de 1,45% entre jovens adultos reduzindo o número de responsabilidades laborais proporcionando prejuízos a qualidade de vida.

Sintoma de apatiaDescrição
Falta de MotivaçãoInteresse reduzido ou ausente em atividades que antes eram agradáveis
Falta de EmoçãoReações emocionais reduzidas ou ausentes a eventos
IndiferençaFalta de interesse ou preocupação por coisas que antes eram importantes
Retirada socialEnvolvimento reduzido com família, amigos ou atividades sociais
Falta de IniciativaFalha em tomar iniciativa ou concluir tarefas sem solicitação externa
Redução de energiaFadiga ou falta de energia para realizar atividades
Pouca concentraçãoDificuldade em se concentrar em tarefas ou lembrar detalhes


Apatia e outras patologias

Alguns estudiosos discutem sua conceituação com frequência, uma vez que, essa síndrome é
frequentemente prevalente nas seguintes patologias: Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson,
Acidente Vascular Cerebral, Lesão Cerebral Traumática, Demência, Paralisia Supranuclear Progressiva e
Esquizofrenia.

Pesquisas indicam que na Depressão a Apatia não necessariamente será um elemento presente para a manifestação do quadro.

Porém, clinicamente ainda há relatos de que em casos de Depressão Grave a associação com Apatia ocorrerá significativamente. Embora debilitante, deve ser diferenciada nos critérios da Depressão e Anedonia.


Diagnóstico Diferencial de apatia

Diagnóstico diferencialDescrição
Transtorno Depressivo MaiorUm transtorno mental caracterizado por um humor deprimido generalizado e persistente que é acompanhado por baixa auto-estima e por uma perda de interesse ou prazer em atividades normalmente agradáveis.
Transtornos de personalidadeUm tipo de transtorno mental em que um indivíduo tem um padrão rígido e doentio de pensar, funcionar e se comportar.
EsquizofreniaUm transtorno mental caracterizado por um colapso dos processos de pensamento e da capacidade de resposta emocional.
Abuso de substânciasO uso excessivo de drogas ou álcool, a ponto de interferir na saúde física ou mental ou na vida cotidiana.
Distúrbios médicosQualquer condição de saúde física ou mental que exija atenção médica, como câncer, diabetes ou dor crônica.
Transtornos de ansiedadeUm grupo de transtornos mentais caracterizados por sentimentos de ansiedade e medo, que às vezes podem afetar o comportamento.
Transtorno BipolarUm transtorno mental caracterizado por episódios de mudanças extremas de humor, de surtos maníacos a crises depressivas.
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)Um transtorno mental caracterizado por dificuldade de concentração, hiperatividade e impulsividade.

Falando sobre semelhanças entre a Apatia e a Depressão, em alguns momentos pode acontecer
certa confusão em relação à sintomatologia de cada conceito. Isso se deve ao fato da ocorrência da
sobreposição de sintomas observáveis clinicamente entre ambas condições.

Segue breve distinção:

Diferenças E Sobreposições de Sintomas Clínicos de Apatia E Depressão (adaptado de Landes et al., 2001)

Sintomas de apatia: Embotamento emocional, Indiferença, Isolamento social, Iniciativa diminuída, Pouca persistência.

Sintomas de depressão: Disforia, Ideação suicida, Autocrítica, Sentimento de culpa, Pessimismo, Desesperança.

Sintomas comuns entre apatia e depressão: Interesse diminuído, Retardo psicomotor, Fadiga/hipersonia, Ausência de insight.

*Lopes.; F. C. Metilfenidato no Tratamento da Apatia no Idoso. Monografia (Conclusão de Curso) Universidade Federal da Bahia -Salvador, 2013.

Bastante comum em uma série de transtornos psiquiátricos e neurológicos, a Apatia possui ligação
com a diminuição da funcionalidade global do sujeito, aumento do sofrimento emocional, redução da
resposta ao tratamento, cronicidade da doença e risco de mortalidade.

Alguns autores postulam a caracterização da conceituação do termo Apatia. Abaixo segue breve
relato:

  • Ausência de motivação orientada;
  • Redução do planejamento de metas;
  • Diminuição da atividade cognitiva;
  • Rebaixamento da relação estabelecida entre os aspectos emocionais e objetivos;
  • Diminuição do comportamento objetivo direcionado.

Não obstante, também há mecanismos que fazem parte do conceito subjacente da Apatia:

1) SISTEMA EMOCIONAL:

a) dificuldade em conciliar aspectos afetivos com aspectos comportamentais;

b) tendência em ter dificuldade para traduzir contextos importantes do âmbito emocional que
auxiliem no comportamental;

c) problemas na investigação das consequências que derivam as ações;

d) apresentação de embotamento afetivo;

e) falta de interesse por atividades antes motivadoras;

2) SISTEMA ATITUDINAL:

a) falta de iniciativa perante próprios pensamentos e atitudes;

b) perda da espontaneidade e outros estados ou respostas emocionais;

c) presença de vazio mental;

d) esboçamento de respostas emocionais com baixa intensidade;

e) diferenças marcadas entre o tempo do evento e o tempo da resposta dada;

3) SISTEMA COGNITIVO:

sem concentracao

a) dificuldade no planejamento de ações e objetivos;

b) redução da conduta comportamental devido latência cognitiva;

Alguns especialistas relatam critérios funcionais que permitem avaliar o quadro clínico da Síndrome
da Apatia:

  • Critério A: Diminuição das atividades em comparação ao que era possível realizar anteriormente;
  • Critério B: Persistência dos sintomas em quatro semanas e prejuízo de ao menos duas dimensões
    dentre elas: a emoção, a interação social, o comportamento e a cognição;
  • Critério C: A síndrome deve ocasionar dificuldades funcionais perceptíveis;
  • Critério D: Não há outras causas que podem influenciar ou explicar os efeitos da síndrome no
    organismo;

A padronização de critérios diagnósticos possibilita melhores formas de obter um tratamento
adequado de também conhecimento global sobre a doença.

Na Síndrome Apática é necessário ao menos um sintoma dentre os três domínios descritos pelo menos nos últimos trinta dias, excluindo critérios de deficit cognitivo.

Abaixo *Critérios de Diagnóstico da Síndrome Apática (adaptado de Marin, 1991):

*De Matos, P. F. F. Apatia na Doença de Parkinson: Contribuição do Estudo da Apatia Para Compreensão da Doença de Parkinson – Dissertação de Mestrado, Universidade de Évora (Portugal), 2011.


A) Falta de motivação, em relação ao nível prévio de funcionamento por consideração à idade e à
cultura, evidenciada nos três domínios seguintes:

  1. Diminuição do comportamento orientado para objetivos – aspecto comportamental:
  • diminuição da produtividade, esforço, tempo gasto em atividades de interesse, iniciativa ou
    perseveração;
  • dependência de terceiros na planificação de atividades;
  • diminuição da socialização e atividades recreativas.

2. Diminuição do comportamento orientado para objetivos – aspecto cognitivo:

  • falta de interesse, falta de interesse em realizar novas aprendizagens/novas experiências;
  • despreocupação com problemas pessoais ou estado de saúde;
  • diminuição da socialização, produtividade, iniciativa, perseverança e curiosidade.

3. Diminuição do comportamento orientado para objetivos – aspecto emocional:

  • poucas alterações afetivas;
  • diminuição das reações emocionais face a experiências positivas e negativas;
  • expressão emocional eufórica ou depressiva;
  • ausência de excitação ou intensidade emocional.

B) Falta de motivação não atribuída a uma diminuição do nível de consciência e/ou a sofrimento
emocional. A apatia é considerada um sintoma no âmbito de outras patologias como demência, delírio ou depressão, quando atribuída aos factores supracitados.

C) Sofrimento emocional ausente ou insuficiente para causar falta de motivação.

depressao 1

A Síndrome da Apatia é costumeiramente descrita como resistente nos tratamentos de saúde. Há
tratamentos farmacológicos indicados para essa síndrome com substâncias de acordo com cada
psicofarmacologia apropriada.

Atualmente no tratamento da Apatia é usual as seguintes substâncias: inibidores de colinesterase, agonistas dopaminérgicos e psicoestimulantes.

Existem estratégias de enfrentamento destinadas a várias doenças cujo objetivo é reduzir o
desconforto provocado associado ao quadro. As práticas terapêuticas devem ajudar também amenizando
sentimentos desagradáveis com o intuito de propor o indivíduo uma nova realidade de saúde.

As estratégias psicoemocionais possibilitam atenuar outros sintomas causados durante o próprio processo, como o estresse. Entre os eventos estressores, há estratégias que podem balizar o tratamento:

  • Estratégia de Enfrentamento Focalizada na Emoção: tem como principal foco diminuir as
    sensações físicas causadoras de desconforto decorrente do processo estressor derivado da
    doença;
  • Estratégia de Enfrentamento Focalizada no Problema: o objetivo está em trabalhar a situação
    que originou o processo estressor;
  • Estratégia de Enfrentamento – Coping: é considerada toda forma de lidar com a situação e
    enfrentamento.

Referências

  1. Caramelli.; P. Teixeira Jr.; L. A. Apatia na Doença de Alzheimer. Braz. J. Psychiatry 28 (3) Se. 2006.
  2. Dalgalarrondo.; P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais – 2. ed.– Porto Alegre: Artmed, 2008.
  3. De Matos, P. F. F. Apatia na Doença de Parkinson: Contribuição do Estudo da Apatia Para Compreensão da Doença de Parkinson – Dissertação de Mestrado – Universidade de Évora (Portugal), 2011.
  4. Fahed.; M, Steffens.; D. C. Apathy: Neurobiology, Assessment and Treatment. Clin Psychopharmacol Neurosci,May, 2021.
  5. Ishizaki.; J. Mimura.; M. Dysthymia and Apathy: Diagnosis and Treatment. Depress Res Treat. 2011; 2011:893905.
  6. Marin.; R. S. Apathy: A Neuropsychiatric Syndrome.The Journal of Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences, 3(3), 243-254. 1991.
  7. Marin.; R. S., et al. Apathy: A Treatable Syndrome.The Journal of neuropsychiatry and clinical neurosciences, 7 1, 23-30, 1995.
  8. Moreira.; E. C. M. et al. Estratégias Psicoemocionais como Mecanismos no Enfrentamento do Câncer do Colo Uterino: Revisão da Literatura. Panorama brasileiro de tungstênio (w) entre os anos de 2008 e 2014 06.12 (2019) 05-20 .
  9. Lopes.; F. C. Metilfenidato no Tratamento da Apatia no Idoso. Monografia (Conclusão de Curso) Universidade Federal da Bahia – Salvador, 2013.
  10. Santiago.; A. L. B. A Apatia em Questão: Patologia ou Resposta da Criança à Escola? Rev. psicol. plur, p.25-48, 2008.
  11. Van Reekum.; R, Stuss.; D. T, Ostrander.; L. Apathy: Why Care? J Neuropsychiatry Clin Neurosci. 2005 Winter;17(1):7-19.

Adhila Carlos Oliveira de Espírito

CRP 06/109972
Psicóloga.
Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

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Adhila Carlos Oliveira de Espírito

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Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
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