GORDURA no fígado, conhecida pelo termo médico como “esteatose hepática”, é caracterizada por um acúmulo de lipídios, ou gordura, nas células do fígado, sobretudo triglicerídeos, que excede 5% do peso do fígado.
A gordura no fígado é um problema comum que ocorre em todas as idades, sendo mais prevalente na quarta ou quinta décadas de vida. Embora a sua ocorrência atinja igualmente os dois sexos, existe uma tendência maior nas mulheres do que nos homens.
As causas da gordura no fígado são multifatoriais, apresentando várias condições ou fatores associados à predisposição para o seu desenvolvimento:
- Obesidade: a obesidade é considerada um estado de estresse oxidativo, o que envolve inflamação, gerando então o armazenamento de gordura no fígado.
- Consumo excessivo de álcool: a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas tem sido associada ao aparecimento de gordura no fígado. Esse órgão possui a capacidade de metabolizar as moléculas de etanol, mas quando os níveis de etanol são elevados, os subprodutos ficam concentrados, tornando-se tóxicos para as células do fígado. Esse dano começa a interferir nas funções do fígado, contribuindo para o acúmulo de gordura.
- Diabetes mellitus: a resistência à insulina provoca um aumento de ácidos graxos livres no fígado, devido à falha da insulina em suprimir a lipase sensível ao hormônio.
- Hiperlipidemia: essa condição envolve o aumento dos lipídios, ou seja, gorduras no sangue, principalmente de triglicerídeos e colesterol, que podem acumular-se também no fígado.
- Sedentarismo: o sedentarismo contribui para doenças como diabetes, obesidade e hipertensão, que quando combinados, tornam-se condições favoráveis para o surgimento de gordura no fígado.
- Dieta rica em gordura, açúcar e carboidratos: a alimentação está relacionada ao acúmulo de gordura no fígado. O consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcares, carboidratos e pobre em fibras resulta em ganho de peso, ocasionando então a esteatose hepática.
- Hepatite B ou C: essas doenças estão relacionadas ao acúmulo de gordura no fígado, pois a presença de lesões provocadas pela hepatite B e C nos hepatócitos dificultam o trabalho do fígado, contribuindo para o acúmulo de gordura no órgão.
- Cirurgia abdominal como derivação biliodigestiva e ressecção extensa do intestino delgado: essas são causas secundárias que podem contribuir para gordura no fígado.
- Uso de medicamentos, como amiodarona, tamoxifeno, cloroquina, corticoides e estrógenos: esses medicamentos podem ocasionar lesões no fígado e, consequentemente, esteatose hepática.
- Lipodistrofia: pessoas que sofrem com essa distribuição anormal de gordura têm mais chances de desenvolver diabetes, altos níveis de triglicerídeos e fígado gorduroso.
- Doença celíaca: pessoas que sofrem com essa doença autoimune desencadeada pela ingestão do glúten têm mais chances de desenvolver certas doenças no fígado, como é o caso da esteatose hepática.
- Doença de Wilson: essa doença é rara, caracterizada pela incapacidade do organismo em metabolizar o excesso de cobre, provocando então um quadro de intoxicação. Geralmente, esse excesso de cobre é armazenado no fígado, causando lesões nos hepatócitos e facilitando o acúmulo de gordura no fígado.
Qual é o tratamento da gordura no fígado?
O tratamento baseia-se em medidas nutricionais visando a redução de peso, o controle da resistência de insulina, o estímulo à desintoxicação do fígado, a melhora dos níveis de triglicerídeos e o incentivo à introdução de uma dieta mais saudável.
O tratamento também inclui a realização de exercícios físicos e administração de medicamentos para reduzir a resistência à insulina, além de medicamentos anti-hipertensivos e hipolipemiantes, caso seja necessário.
Os pilares do tratamento são, portanto, as modificações no estilo de vida e perda de peso, além do controle glicêmico e lipídico.
Como deve ser a dieta para tratar a gordura no fígado?
Uma alimentação inadequada, rica em gorduras, carboidratos simples ou contaminantes externos, contribuem para o surgimento ou agravamento de doenças hepáticas.
É recomendado que o paciente com fígado gorduroso adote uma dieta com restrição moderada de carboidratos para promover a mobilização de lipídios hepáticos. Além disso, dietas com restrição de gordura e carboidratos induzem a perda de peso e melhora o perfil lipídico.
O ideal é que o perfil lipídico seja de aproximadamente 6% de ômega-6 e 1% de ômega-3 do percentual total de energia da dieta. A suplementação de óleo de peixe, diariamente, reduz significativamente a concentração de triglicerídeos e o grau de esteatose hepática.
Alimentos ricos em fibras alimentares também são recomendados por reduzirem a concentração de ácidos graxos livres após as refeições, ajudando inclusive a reduzir os níveis de glicose no sangue.
Sugere-se também a ingestão de alimentos ricos em nutrientes antioxidantes, como forma de reduzir o estresse oxidativo, incluindo vitaminas C, E, carotenoides, coenzima Q e bioflavonóides. A suplementação de zinco protege contra o dano no fígado, promovendo um efeito protetor que pode ser utilizado no tratamento para fígado gorduroso.
Frutas frescas, vegetais, proteínas e leite com pouca gordura devem ser priorizados na dieta de quem tem gordura no fígado. Alimentos ricos em gorduras saudáveis também devem ser consumidos, mas em quantidades moderadas.
A orientação de um nutricionista é primordial para ajudar a montar um plano alimentar e tirar melhor as dúvidas sobre o que comer para reduzir a gordura no fígado.
Referências:
ANTUNES, C. et al. Fatty Liver. National Library of Medicine. StatPearls. 2022.
CARVALHO, M. S. A. Esteatose hepática e fatores associados: um estudo em pacientes atendidos ambulatorialmente em um hospital universitário. 2010. Dissertação (Mestrado em Nutrição) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.