A DOR no ombro é a terceira causa mais comum de queixas musculoesqueléticas em consultórios médicos, com prevalência estimada entre 16% a 26% da população mundial.
Uma das principais causas associadas a essas queixas envolve a articulação acromioclavicular[1]Mazzocca AD, Arciero RA, Bicos J. Evaluation and treatment of acromioclavicular joint injuries. The American journal of sports medicine. 2007 Feb;35(2):316-29..
A articulação acromioclavicular é uma articulação diartrodial entre as áreas da clavícula e o acrômio. A sua estabilidade se torna possível em virtude da cápsula, ligamentos e disco intra-articular.
Osteoartrite (ou artrose) é a causa mais comum de dor no ombro acometida pela articulação acromioclavicular, sendo frequente em pacientes com mais de 50 anos de idade.
Um estudo publicado pela Archives of Gerontology and Geriatrics revelou que cerca de 57% dos pacientes idosos apresentam nos exames radiográficos evidências de artrose acromioclavicular[2]HORVATH, F.; KERY, L. Degenerative deformations of the acromioclavicular joint in the elderly. Archives of Gerontology and Geriatrics, v. 3, n. 3, p. 259-265. 1984..
O Que Causa A Artrose Acromioclavicular?
Devido ao uso constante do ombro durante as atividades do dia a dia, a tensão resultante torna a artrose acromioclavicular um problema bastante comum.
Pessoas que fazem uso demasiado dos ombros, colocando tensão constante nessa região, são as mais propensas a desenvolverem artrose acromioclavicular ao longo do tempo[3]Beitzel K, Cote MP, Apostolakos J, Solovyova O, Judson CH, Ziegler CG, Edgar CM, Imhoff AB, Arciero RA, Mazzocca AD. Current concepts in the treatment of acromioclavicular joint dislocations. … Continue reading.
Levantadores de peso frequentemente sofrem com essa patologia, muitas vezes, em uma idade ainda jovem.
A artrose acromioclavicular também pode se desenvolver após uma lesão na articulação, pancadas ou acidentes no ombro que causem deslocamento dessa articulação, resultando em quadros dolorosos futuros.
As separações da articulação acromioclavicular são normalmente causadas por trauma direto no ombro como resultado de uma queda ou durante esportes de contato quando o braço do paciente é aduzido.O acrômio é geralmente impactado pela força na direção superolateral para inferomedial, pois a clavícula tende a manter sua posição anatômica, levando a um espectro de rupturas dos ligamentos acromioclavicular e coracoclavicular.
Anatomia do ombro
O ombro é extremamente móvel e composto por várias articulações que trabalham juntas. A escápula, clavícula e úmero são os ossos do ombro. A articulação glenoumeral é a articulação principal e é mais como uma bola de golfe em um tee.
A articulação acromioclavicular liga a clavícula ao acrômio, que faz parte da omoplata ou escápula. Não há muito movimento nesta articulação, mas quando há uma lesão nesta região, a dor pode ser incapacitante.
Os ligamentos no ombro são todos nomeados após os ossos que conectam.
A clavícula tem dois ligamentos envolvendo o ombro que ajudam a estabilizá-lo nas estruturas ósseas próximas: o ligamento acromioclavicular e o ligamento coracoclavicular ambos estabilizam a clavícula na omoplata.
Sintomas da Artrose Acromioclavicular
A lesão do ombro pode causar sintomas como:
- Dor
- Movimento limitado no ombro
- Inchaço
- Contusão
- Vermelhidão na parte superior do ombro
Esse tipo de artrose é consequência natural do envelhecimento do músculo esquelético, então nem sempre as pessoas sentem ou sentirão dor e redução da função devido a essa patologia.
Porém, quando há sintomas, os pacientes com artrose acromioclavicular frequentemente apresentam uma limitação na amplitude de movimento, acompanhada de dor na articulação e no ombro, principalmente em movimentos de rotação.
É observada uma dor na área deltóide ao cruzar o corpo, provavelmente causada por irritação da bursa subacromial subjacente.
Quando a região é apalpada, é possível sentir dor, inchaço e calor na área da articulação.
Tipos de lesões da articulação acromioclavicular
O tipo de separação do ombro depende de quanto você rompe a articulação acromioclavicular (AC) ou os ligamentos coracoclaviculares (CC) que mantêm a articulação no lugar.
- Tipo I = o ligamento AC está levemente rompido, mas não há danos ao ligamento CC está ileso.
- Tipo II = o ligamento AC está completamente rompido e há pouca ou nenhuma ruptura no ligamento CC.
- Tipo III = ambos os ligamentos AC e CC estão completamente rompidos. Neste caso, a clavícula se separa da extremidade da omoplata.
Diagnóstico da Artrose Acromioclavicular
É vital um diagnóstico preciso da localização da artrose na articulação acromioclavicular para determinar o tratamento adequado, a fim de evitar a persistência do quadro doloroso no ombro[4]Stucken C, Cohen SB. Management of acromioclavicular joint injuries. Orthopedic Clinics. 2015 Jan 1;46(1):57-66..
Durante o exame físico, a articulação acromioclavicular mostra-se sensível à palpação. Geralmente, o médico realiza o teste de adução do corpo cruzado, onde ele estabiliza o ombro, flexionando-o para frente em um movimento de 90° com o cotovelo pronado.
Depois, leva o membro superior para a frente do corpo em direção contralateral. Se houver dor, o resultado do teste é positivo para artrose acromioclavicular.
A patologia na articulação acromioclavicular também pode ser confirmada através da injeção de um anestésico local. A injeção de lidocaína a 1% ou 2% ou de bupivacaína a 0,25 ou 0,5% na articulação acromioclavicular é capaz de reduzir os sintomas dolorosos.
Se a dor persistir após a injeção anestésica, fica claro que se trata de outra patologia no ombro, como a síndrome do manguito rotador.
Outro método diagnóstico é a injeção de lidocaína a 1% na região subacromial. Se a dor persistir na articulação acromioclavicular após a injeção, o resultado do teste é positivo.
Exames de imagem para diagnóstico
A radiografia é a técnica inicial de escolha para o diagnóstico, pois é capaz de demonstrar alterações degenerativas, cistos subcondrais, esclerose, osteófitos, e estreitamento do espaço articular.
A tomografia computadorizada mostra-se um método interessante na avaliação de alterações ósseas artríticas na articulação acromioclavicular, como estreitamento da articulação, erosões e cistos subcondrais.
A ressonância magnética torna possível detectar hipertrofia capsular, derrames e edema. Embora a ultrassonografia seja utilizada para detectar derrames articulares na articulação acromioclavicular, não consegue fazer a diferenciação entre derrames associados a processos inflamatórios agudos e alterações degenerativas, tornando-o então menos eficaz na avaliação da artrose acromioclavicular.
Além da artrose, o diagnóstico diferencial de dor na articulação acromioclavicular inclui tendinite calcificada, artrite glenoumeral e a síndrome do manguito rotador.
Diagnóstico | Descrição |
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Artrose Acromioclavicular | Uma condição causada pela degeneração da cartilagem entre o acrômio e os ossos da clavícula da articulação do ombro. |
Raio X | Um exame de imagem usado para procurar sinais de dano articular e estreitamento do espaço articular. |
Tomografia Computadorizada | Uma tomografia computadorizada pode ser usada para procurar esporões ósseos e outros sinais de artrose. |
Ressonância Magnética | A ressonância magnética é usada para procurar alterações nos tecidos moles, como rupturas ou inchaço da articulação. |
Ultrassom | Ondas sonoras de alta frequência são usadas para procurar sinais de inflamação nas articulações. |
Exames de sangue | Exames de sangue podem ser usados para procurar sinais de inflamação no corpo. |
Tratamento da Artrose Acromioclavicular
Não há cura para a artrose acromioclavicular, mas o tratamento pode melhorar os sintomas.
Tratamento de lesão articular AC tipo I ou II
Os tratamentos para lesões do tipo I e II incluem:
- Aplicar gelo no ombro.
- Colocar o braço em uma tipoia para diminuir o movimento.
- Tomar AINEs, como ibuprofeno ou naproxeno, para ajudar com a dor.
Tratamento conservador
À princípio, o tratamento para artrose acromioclavicular é não cirúrgico. Inclui modificação das atividades, medicamentos anti-inflamatórios não esteróides, fisioterapia, TENS e injeção articular de anestésicos ou corticosteróides.
Fisioterapia e exercícios para artrose acromioclavicular
A modificação das atividades envolve evitar movimentos que causam a dor, como mergulhos, exercícios de supino e flexões. A fisioterapia inclui um programa de exercícios para manter a amplitude de movimento ativa, aumentando a força muscular para a estabilização escapular.
Entretanto, a fisioterapia é mais eficaz para a síndrome do manguito rotador do que para a artrose acromioclavicular.
Intervenção | Descrição |
---|---|
Terapia Manual | Técnicas práticas, como mobilização articular, massagem de tecidos moles e alongamento para aumentar a amplitude de movimento e diminuir a dor. |
Exercícios | Exercícios específicos desenvolvidos para fortalecer os músculos ao redor da articulação e melhorar a amplitude de movimento. |
Educação Postural | Orientação sobre postura adequada, mecânica corporal e ergonomia para reduzir o estresse na articulação afetada. |
Terapia de gelo/calor | Uso de frio e/ou calor para reduzir a dor e a inflamação. |
Ultrassom | Uso de ondas sonoras para reduzir a dor e a inflamação. |
Estimulação Elétrica | Uso de corrente elétrica para reduzir a dor e a inflamação. |
Gravar | Uso de fita para fornecer suporte e estabilidade à articulação afetada. |
Corticoides injetáveis
A administração de injeções de corticoides é indicada quando a fisioterapia e o fortalecimento muscular não deram resultados satisfatórios. O efeito das injeções é potente e prolongado.
Se todos os procedimentos não cirúrgicos falharem, não minimizando os sintomas, a opção de tratamento passa a ser cirúrgica.
Tratamento de lesão articular AC tipo III
O seu médico decidirá o melhor curso de tratamento, com base na extensão do dano à articulação.
Você pode ter que usar uma tipoia e fazer fisioterapia.
Em alguns casos, seu médico pode sugerir cirurgia para reparar os ligamentos rompidos.
É necessário cirurgia para artrose acromioclavicular?
Deve-se tentar pelo menos 6 meses de tratamento conservador, para então optar pelo procedimento cirúrgico[5]DOCIMO, S. et al. Surgical treatment for acromioclavicular joint osteoarthritis: patient selection, surgical options, complications and outcome. Current Reviews in Musculoskeletal Medicine, v. 1, n. … Continue reading.
A base do tratamento cirúrgico para a artrose acromioclavicular é a excisão distal da clavícula. Nesse procedimento, é retirado um fragmento da clavícula e o disco articular afetado.
O espaço residual passa a ser preenchido por fibrose cicatricial. Essa cirurgia pode ser realizada de modo aberto ou por artroscopia.
É essencial que o médico explique ao paciente as vantagens e desvantagens de cada técnica.
Após a cirurgia, o paciente deve imobilizar o membro por aproximadamente 3 semanas, para depois realizar uma fisioterapia de reabilitação.
Referências Bibliográficas
↑1 | Mazzocca AD, Arciero RA, Bicos J. Evaluation and treatment of acromioclavicular joint injuries. The American journal of sports medicine. 2007 Feb;35(2):316-29. |
---|---|
↑2 | HORVATH, F.; KERY, L. Degenerative deformations of the acromioclavicular joint in the elderly. Archives of Gerontology and Geriatrics, v. 3, n. 3, p. 259-265. 1984. |
↑3 | Beitzel K, Cote MP, Apostolakos J, Solovyova O, Judson CH, Ziegler CG, Edgar CM, Imhoff AB, Arciero RA, Mazzocca AD. Current concepts in the treatment of acromioclavicular joint dislocations. Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery. 2013 Feb 1;29(2):387-97. |
↑4 | Stucken C, Cohen SB. Management of acromioclavicular joint injuries. Orthopedic Clinics. 2015 Jan 1;46(1):57-66. |
↑5 | DOCIMO, S. et al. Surgical treatment for acromioclavicular joint osteoarthritis: patient selection, surgical options, complications and outcome. Current Reviews in Musculoskeletal Medicine, v. 1, n. 2, p. 154-160. 2008. |