A síndrome compartimental aguda acontece quando a pressão dentro de uma área do corpo, também chamada de pressão intracompartimental, aumenta a ponto de prejudicar a circulação local.
Quando essa pressão fica mais alta do que deveria, ela afeta a capacidade dos músculos e nervos de funcionar bem. Se não for tratada, pode até ameaçar a saúde dos músculos e nervos naquela área.
A síndrome compartimental nas pernas é uma situação intrigante e, muitas vezes, subestimada que afeta pessoas de diferentes idades, afetando a saúde e a forma como vivem. Isso acontece quando a pressão nos compartimentos musculares das pernas aumenta demais, causando problemas nos tecidos, vasos sanguíneos e nervos que estão ali.
Manter a circulação do sangue é muito importante para garantir que os tecidos, incluindo nervos e músculos, funcionem corretamente.
Causas
A área da perna abaixo do joelho é onde a síndrome compartimental aguda é mais provável de acontecer, seguida pelo antebraço, coxa e braço. Mais de um terço dos casos estão relacionados a fraturas no osso da tíbia. Isso pode ocorrer após traumas fortes ou leves, ou até mesmo por razões que não envolvem traumas diretos.
Acidentes de carro e de moto são as causas mais comuns, mas também pode acontecer devido a esmagamentos, queimaduras, quedas, lesões esportivas, ferimentos por objetos penetrantes, além de sobrecarga e compressão ao redor da área afetada.
Atividades esportivas como futebol e rugby, mesmo sendo consideradas de baixo impacto, têm sido associadas ao desenvolvimento da síndrome compartimental aguda. Isso porque esses esportes podem causar lesões locais significativas e inflamação em pessoas mais jovens, com mais músculos e que já estão sob esforço. Mesmo que essas lesões não causem uma ruptura dos limites da área afetada, elas podem aumentar o risco de síndrome compartimental aguda.
Além disso, é importante destacar que a síndrome compartimental pode ocorrer até mesmo na parte do corpo que não foi diretamente afetada pela lesão. Isso pode acontecer devido a uma resposta inflamatória generalizada e ao vazamento de líquidos dos vasos sanguíneos para os tecidos. Em casos raros, infecções do tipo estreptocócicas do grupo A, que liberam toxinas e causam inchaço dos tecidos, também podem desencadear essa síndrome.
Independentemente do motivo, todas as pessoas com fraturas na tíbia devem ser observadas de perto com exames regulares para detectar qualquer sinal de síndrome compartimental aguda.
O sangramento é a causa mais comum dessa síndrome, podendo ocorrer após lesões nos vasos sanguíneos ou nos ossos após fraturas. O inchaço também pode ocorrer devido ao aumento da permeabilidade dos capilares, muitas vezes causado pela falta de oxigênio devido ao sangramento. Esse inchaço pode bloquear o fluxo sanguíneo, resultando em falta de oxigênio e acúmulo de ácido.
Existem diversos fatores que podem aumentar o risco de desenvolver uma síndrome compartimental. Alguns deles são histórico médico de uso de anticoagulantes e problemas de coagulação. Fatores relacionados a lesões incluem traumas de alta energia, queimaduras, picadas de cobras, uso de drogas intravenosas, idade mais jovem, confusão mental e pressão arterial baixa.
Sintomas
Os sintomas da síndrome compartimental nas pernas podem variar, mas costumam envolver uma dor intensa que aumenta ao longo do tempo e não melhora com repouso e nem com medicamentos usuais para alívio da dor. Além disso, podem surgir sensações de dormência, formigamento, fraqueza muscular e até mesmo perda de sensibilidade na região afetada.
Nos casos mais graves, a redução do fluxo sanguíneo adequado pode levar a danos nos tecidos, exigindo cuidados médicos de emergência.
Diagnóstico e Tratamento
Um atraso no diagnóstico da síndrome compartimental aguda pode ter impactos extremamente prejudiciais para o paciente. É por isso que é crucial realizar uma avaliação minuciosa e cuidadosa de pacientes suspeitos de terem essa condição.
Geralmente, são realizados exames clínicos para verificar a pressão dentro do compartimento e a função dos nervos e músculos. Além disso, exames de imagem como ressonância magnética podem ser usados para avaliar a extensão do dano. Se houver qualquer suspeita de síndrome compartimental, especialmente quando alguém apresenta dor desproporcional em uma parte lesionada do corpo, as pressões no compartimento devem ser checadas imediatamente.
Quando se trata de lidar com a síndrome compartimental, a abordagem envolve uma intervenção cirúrgica imediata. Nos casos em que a dor após a cirurgia é intensa, é importante abrir completamente curativos e gessos para aliviar a pressão do lado de fora do corpo. Se houver suspeita de uma síndrome compartimental prestes a ocorrer, deve-se evitar elevar a extremidade, já que isso pode prejudicar ainda mais o fluxo sanguíneo já comprometido.
Uma vez diagnosticada a síndrome compartimental, uma fasciotomia deve ser realizada imediatamente como um procedimento cirúrgico de emergência para aliviar a pressão no compartimento afetado. A fasciotomia é uma intervenção simples e direta, e é altamente eficaz se realizada cedo. Quanto mais cedo a pressão em um compartimento problemático for aliviada, menor será o risco de complicações a longo prazo.
Na fasciotomia, uma incisão na lateral alivia a pressão nos compartimentos anterior e lateral, enquanto outra incisão na parte interna alivia os compartimentos posterior superficial e profundo. É de extrema importância que a fasciotomia seja completa, pois aquelas parciais não conseguem liberar adequadamente a pressão nos compartimentos musculares, o que pode perpetuar a síndrome compartimental e resultar em desfechos adversos.
A síndrome compartimental na perna é uma complicação rara, mas séria, que os cirurgiões precisam estar atentos.
Complicações
Infelizmente, complicações após a realização de uma fasciotomia não são incomuns.
Cerca de um terço dos pacientes submetidos a esse procedimento cirúrgico pode enfrentar complicações após a operação, como necrose de tecidos moles, abertura da incisão, infecção ou até mesmo necrose do enxerto de pele.
Lesões vasculares subjacentes que levam à necessidade de uma fasciotomia estão ligadas a uma taxa mais alta de complicações em comparação com pacientes sem danos vasculares. Após a cirurgia, é importante monitorar o paciente regularmente e verificar os níveis de creatina quinase (CK).
A perda do membro é, sem dúvida, a complicação mais devastadora da síndrome compartimental. As estatísticas indicam que a taxa de amputação após o desenvolvimento dessa síndrome varia entre 5,7% e 12,9%.
Fatores como ser do sexo masculino e ter uma lesão vascular associada aumentam o risco de amputação. Além disso, atrasos na realização da fasciotomia também foram relacionados à necessidade de amputação.
Prevenção
Apesar de nem sempre ser possível evitar totalmente a síndrome compartimental, algumas medidas preventivas podem ajudar a diminuir o risco.
Evitar sobrecarregar os músculos, realizar um aquecimento adequado antes do exercício, utilizar equipamentos de proteção adequados e buscar assistência médica imediatamente em caso de lesões ou sintomas suspeitos são passos importantes para preservar a saúde muscular e evitar complicações.