Pessoas negativas: como conviver com elas?

PESSOAS NEGATIVAS

Quando penso sobre a temática do texto – pessoas negativas; negatividade; pessimismo – sou remetida a um filme que assisti já há algum tempo. Her (2014), de Spike Jonze. Na obra cinematográfica acompanhamos Theodore, em busca de um par romântico.

Her, não se trata, propriamente, de uma trama sobre pessoas negativas. Contudo, a partir da saga do personagem principal, pode-se perceber a exacerbação do sentimento de melancolia, com a qual Theodore encara o ato de conhecer pessoas novas.

Desesperançoso – após ter vivido o fim de uma longa relação – com os últimos encontros que teve, ele então se permite experimentar uma nova categoria relacional, envolvendo-se com uma máquina.

Ou melhor, com um programa de inteligência artificial, instalado em seu computador. O programa é totalmente personalizado, conforme as demandas e exigências de cada usuário. O filme se desenrola a partir desse enredo. Não há como surpreender-se quando Theodore, se apaixona pela voz com quem conversa através da tela. Afinal, ele se apaixona por “alguém” feito especialmente para ele.

Nessa cena, em diálogo com sua amiga, Theodore, demonstra a empolgação com o novo amor que vive:

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Cena do filme Her

E complementa, dizendo: “- Tinha esquecido que isso existia”. Retratando o que foram seus últimos relacionamentos, e representando os vários desafetos que nós mesmos, de fora da tela, já vivemos, não é mesmo?!

Entretanto, os momentos de desesperança e melancolia vividos pelo personagem, só cessam quando encontra um par perfeito para compartilhar os dias.

Pessoas negativas: A “pessoa negativa” pode ser você

“É bom estar com alguém que se encanta com o mundo”, diz Theodore. O quanto isso nos fala… Percebem? Ao mesmo passo em que essa frase nos fala do outro, fala de um eu e do que ele espera. O objetivo do texto em questão: escrever sobre como lidar com pessoas negativas. Ok. Mas, e quando a pessoa negativa é você?! Queria propor então um novo olhar para essa temática.

Somos acostumados a entregar a incumbência de nossa felicidade ao outro. Ele deve nos fazer feliz, alimentar nosso ego, aumentar nossa autoestima. É para isso que serve uma relação, certo?! Na verdade, não!

O caminho mais fácil é esse, o de apontar o erro do outro. Deixando de perceber o quanto nós temos responsabilidade sobre nossa própria vida, e sobre o que permitimos que o outro faça conosco.

Tarefa complexa a de ser otimista e positivo. Principalmente porque, a certa altura da vida existe uma espécie de desacreditamento que toma conta da gente. Depois de tantos encontros que foram ruins, experiencias relacionais que deixaram marcas, a vida que simplesmente parece não colaborar, seja na instância amorosa, familiar ou profissional.

Ser adulto implica em vez ou outra, dar-se conta de que nem tudo vai ser como imaginamos (já falamos disso aqui). A probabilidade de você estar vivendo uma vida que não idealizou é grande. Falo da minha própria ao escrever essa última frase. E isso não quer dizer que sejamos negativos em pensamento. A questão é o que fazemos com isso.

Sem aquela conversinha de coach, que induz a uma positividade exacerbada, ou frases impactantes, tal como “você é negativo e por isso sua vida dá errado, mude o jogo”. Eu nunca entendi qual é o jogo que é preciso mudar.

Veja, o que quero dizer com isso é que, a vida e o modo como vivemos ela – falo aqui da vida humana, como um todo – pode nos prostrar vez ou outra, esgotando nossas fontes de contentamento e prazer. É para isso que precisamos nos atentar.

Entenda que tem coisas que não são passíveis de mudança. Mas muitas outras sim. A maneira como você encara um desafeto, um dia horrível no trabalho, a confusão de casa, uma discussão com um amigo querido… Todas essas coisas são intrínsecas a vida. E eu não vou fazer parte do clube que pede a você para encarar isso com bom humor e positividade.

Sugiro outra coisa.

Sugiro que, quando isso acontecer, você fique por um momento sozinho. Mas, sozinho consigo mesmo. Parando por um momento para assimilar e compreender de onde surge o sentimento de frustração, negatividade e toda aquela carga que vem junto quando algo dá errado.

Costumeiramente, temos pensamentos que se conectam a um acontecimento ruim. E tem coisa que é impossível sentir de maneira diferente. Contudo, não é só contraproducente manter-se em estado de negatividade e mal humor, como também, nos leva a um processo de autossabotagem.

 Se não é possível sentir de maneira diferente, inventemos então um jeito novo para contornar a situação.

Jacob Levy Moreno, psicólogo e criador da abordagem psicoterapêutica do Psicodrama, nos dá pistas de como fazer isso. Para ele, a espontaneidade e a criação são ferramentas essenciais do cotidiano, com as quais podemos operar no mundo em busca de uma vida mais ativa e saudável psiquicamente.

Moreno (1974, p. 76)[1], escreve que a espontaneidade “[…] é o que impele o indivíduo para uma resposta adequada a uma nova situação, ou uma nova resposta a uma situação antiga. Assim a criatividade está relacionada ao ato em si, e a espontaneidade ao aquecimento, a uma prontidão para agir”.

Ainda, para o mesmo autor[2] (MORENO, 1987, p. 42), uma “conduta desordenada e emocionalismo resultantes de comportamento impulsivo, afastam-se do trabalho de espontaneidade pretendido”.

Ou seja, situações que nos fazem encarar a vida com pessimismo e que acabam por resultar em comportamentos de autossabotagem, são sim corriqueiros. É preciso encarar tais situações de um outro ângulo, uma outra perspectiva. Utilizar de nosso conhecimento, sobre as coisas, sobre a vida, e sobre as coisas da vida, para responder, de um jeito novo, às circunstâncias que são intrínsecas a nossa existência.

Vamos viver muitos dias ruins. Vamos, ainda, acordar com mal humor e nos intoxicarmos com nossa própria negatividade. Daí a necessidade do autoconhecimento. É a partir dele que se faz possível modificar e transformar nossa própria vida e o cotidiano. Permanecer nos mesmos erros e perpetuar o momento reflexivo de autoflagelo só nos deixa ainda mais imersos no pessimismo.

Nem sempre o inferno são os outros. Ninguém é maquinaria dotada de artificialidades suficientes para viver a vida de bom humor. Caso contrário, relacionar-se com inteligência artificial seria mais acessível, já que habitam um espaço-tempo no qual, de fato, seria possível viver apenas de contentamento e positividade.  

Às vezes, o inferno somos nós. insistindo em alimentar pensamentos e posicionamentos negativos, em situações que se resolveriam mais facilmente a partir de outra abordagem.


[1]Moreno, J. L. (1974). The creativity theory of personality: spontaneity, creativity, and human potentialities. In I. A. Greenberg (Ed.), Psychodrama theory and therapy (pp.73–84). Nova Iorque: Behavioral publications

[2]Moreno, J. L. (1987). The essential Moreno: Writings on psychodrama, group method, and spontaneity. In J. Fox (Ed.). R

Eduarda Moro

CRP 06/182921
Psicóloga, Mestra em Educação e Doutoranda em Ciências Humanas. Interessa-se por temas relacionados as humanidades, problemas da contemporaneidade e tudo aquilo que faz a vida mais viva e criativa. Pesquisadora na área de subjetividade e modos de subjetivação.

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