VOCÊ já percebeu que depois que você corre, sente-se melhor, mais disposto e relaxado? Exercícios físicos e uma boa corrida fazem bem ao cérebro, pois podem estimular mais tecido cerebral e melhorar sua saúde mental.
Neste artigo, abordaremos com mais detalhes o que acontece com o seu cérebro quando você corre e pratica atividades físicas, enfatizando a importância do exercício aeróbico para a saúde do cérebro.
De acordo com Lieberman na obra entitulada The story of the human body: Evolution, health and disease, a corrida nos tornou humanos em sentido anatômico, pois ela tornou possível a fuga de predadores e a perseguição da caça.
O autor aborda que a importância da corrida na evolução humana é tão significativa, que se a seleção natural não a tivesse favorecido, ainda seriamos parecidos com macacos. Muitos traços humanos tornaram a corrida possível, como: os tendões dos pés que funcionam como molas; os ombros que fazem rotação independentemente da cabeça e do pescoço, possibilitando equilíbrio durante a corrida; pernas alongadas, entre outras características marcantes e tipicamente humanas.
O corpo humano foi evoluindo para suportar longos períodos de estresse cardiovascular, como forma de se adaptar a um estilo de vida ativo, o que pode ter influenciado o crescimento do cérebro no decorrer dos tempos. Consequentemente, a corrida teve um papel crucial na modelagem da forma e estrutura do cérebro humano.
Você já notou que a inatividade e o sedentarismo tornam as pessoas doentes mais facilmente, tanto física quanto mentalmente? Na realidade, a ciência explica essa relação. Estudos vêm demonstrando que a corrida e a atividade física são tão essenciais para o humano, que o cérebro não só precisa, mas requer esses movimentos de forma regular para poder funcionar adequadamente.
O exercício aeróbico tem efeitos no bem-estar mental e isso se dá pela regulação do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal. Apesar de o exercício ser um fator estressor, apresenta também efeito neuroprotetor.
Um estudo publicado pela Revista Brasileira de Medicina do Esporte mostrou que pessoas submetidas a um programa de exercícios apresentam níveis mais reduzidos de cortisol durante repouso, quando comparados a pessoas sedentárias.
Estudos já comprovaram que a corrida também está associada a melhoras cognitivas em jovens e idosos. O exercício protege o cérebro contra demência e pode retardar o declínio cognitivo que acontece com o avanço da idade, além de reduzir sintomas de doenças crônicas que tem impacto em funções neurocognitivas. Os efeitos da corrida no cérebro são únicos no sentido de melhorar a saúde mental e minimizar fatores periféricos de risco que talvez influenciem diretamente na saúde cerebral.
Quando seu corpo está preguiçoso demais, a tendência é seu cérebro ficar da mesma forma: preguiçoso e lento. Ficar muito tempo sentado, por longos períodos, sem fazer nada, pode ser perigoso para o seu estado mental. Por isso, praticar exercícios e correr é bastante útil para fazer seu cérebro trabalhar melhor.
Em 2011, o periódico The Journal of Physiology publicou que a corrida possui efeitos antioxidantes, devido a sinalização mediada por espécies reativas de oxigênio. Como isso acontece? A produção mitocondrial de espécies reativas de oxigênio, devido ao alto interesse metabólico, induz a sinalização mediada pelo fator de transcrição nuclear kappa B (NF-kB).
Isso instiga a expressão de genes que codificam catalisadores antioxidantes, que combatem a agregação de radicais livres. Além disso, a concentração de espécies reativas de oxigênio regula o movimento de vias intracelulares envolvidas no processo das fibras musculares.
Estudos em animais apontaram que níveis mais elevados de espécies reativas de oxigênio ativam a proteína CREB (proteína de ligação ao elemento de resposta C-AMP), estimulando a biogênese mitocondrial. Como consequência, uma corrida vigorosa promove um aumento da atividade biogênica mitocondrial mediada por antioxidantes.
O exercício aeróbico modula grande parte dos neurotransmissores no sistema nervoso central associados a inibição e sedação, sistema de recompensa e humor, influenciando nos níveis de monoaminas, como a dopamina, serotonina, noradrenalina e norepinefrina.
Os exercícios vigorosos, como a corrida, ativam as monoaminas, que aumentam as chances de recuperação de transtornos mentais, como estresse, ansiedade e depressão. Inclusive, os efeitos antidepressivos dos exercícios físicos têm se mostrado tão eficazes e potentes quanto as medicações farmacológicas.
A serotonina é capaz de atenuar a formação de memórias associadas ao medo, reduzindo as respostas a eventos ameaçadores por meio de projeções serotoninérgicas que partem para o hipocampo. O exercício influencia a síntese de dopamina devido ao aumento de cálcio no cérebro, em consequência do aumento da atividade enzimática do sistema cálcio-calmodulina.
Outro fato interessante é que os exercícios aumentam o número de novos neurônios, influenciando também na morfologia de neurônios recém-formados. Uma pesquisa na Hippocampus mostrou que neurônios recém-formados se desenvolveram durante vários meses no cérebro adulto em decorrência de exercícios físicos vigorosos, como a corrida.
Um cérebro deprimido é definido pela redução da plasticidade sináptica e da neurogênese hipocampal. Essa redução pode ser revertida e neutralizada pelos exercícios físicos, como a corrida.
Os impactos de uma corrida no cérebro são positivos, representando uma técnica útil para o bem-estar psicológico e saúde mental. Seja por consequências diretas para o sistema nervoso central, como a expansão de novos neurônios, o aumento de fatores neurotróficos, gliogênese e sinaptogênese, ou por efeitos indiretos, como a diminuição da inflamação sistêmica, a prática da corrida no cérebro é única quando se refere a melhorar a saúde mental e o bem-estar emocional, reduzindo a massa cinzenta decorrente da idade e melhorando as funções cognitivas.
Cada vez mais, os exercícios vêm sendo aceitos como “remédio natural” para doenças do cérebro e do corpo, em virtude dos seus benefícios, pois para o cérebro, os exercícios vigorosos oferecem vantagens à nível químico, celular e estrutural, incluindo, como já dito, a formação de novos neurônios, glia e vasos sanguíneos, remodulação dendrítica e estabilização do estresse.
REFERÊNCIAS
BRONZINO, J. D. et al. Maturation of long-term potentiation in the hippocampal dentate gyrus of the freely moving rat. Hippocampus, v. 4, n. 4, p. 439-446. 1994.
FERREIRA, C. V. et al. Nascidos para correr: a importância do exercício para a saúde do cérebro. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 23, n. 6, 2017.
LIEBERMAN, D. E. Understanding apes. In: The story of the human body: evolution, health and disease. New York: Pantheon Press, 2013.
POWERS, S. K.; TALBERT, E. E.; ADHIHETTY, P. J. Reactive oxygen and nitrogen species as intracellular signals in skeletal muscle. The Journal of Physiology, v. 589, p. 2129-2138. 2011.