A LACTOSE é um carboidrato, composto por dois monossacarídeos, a glicose e a galactose, sendo, portanto, um dissacarídeo.
Este carboidrato é pouco solúvel em água e está presente no leite de mamíferos. A sua importância nutricional para os adultos não é essencial, mas para as crianças é a principal fonte de energia no primeiro ano de vida.
O que é lactose?
A lactose é um dissacarídeo encontrado apenas em leite de mamíferos e seus derivados, sendo sintetizada pelo complexo de Golgi de células epiteliais das glândulas mamárias, produzida por condensação através da ação de uma enzima chamada lactose sintetase.
A lactose pode ser encontrada em duas formas isoméricas: α hidratada e β anidra, apresentando propriedades físicas bem diferentes entre si.
Como ocorre a digestão da lactose?
A digestão da lactose depende da ação de uma outra enzima, chamada de lactase, presente naturalmente no corpo humano, que pode ser encontrada nas extremidades das microvilosidades intestinais, em maior quantidade no jejuno médio, local onde a concentração bacteriana é mais baixa, ocorrendo então, pouca fermentação.
Deficiência ou diminuição da lactase
Quando há deficiência ou diminuição da expressão de lactase, a lactose não é digerida de forma adequada, ocorrendo a má digestão desse dissacarídeo, também conhecida como intolerância à lactose.
Então, não sendo absorvida, a lactose é fermentada por diversas bactérias do trato gastrointestinal, causando sintomas como aumento do trânsito intestinal, gases, diarreia, inchaço, dor abdominal, comprometendo a absorção de diversos nutrientes importantes, especialmente o cálcio, pelo organismo.
O vômito surge como forma de eliminar o conteúdo estomacal, para que não alcance o intestino, sendo esta ação induzida pelo sistema nervoso central, que recebe a transmissão de que alguma perturbação intestinal está acontecendo, causando, portanto, o reflexo de vômito.
Intolerância à lactose
De acordo com um estudo publicado no periódico Current Gastroenterology Reports, estima-se que 65% da população mundial seja intolerante à lactose. Essa condição, geralmente, tem mais probabilidade de acontecer em pacientes com síndrome do intestino irritável com diarreia predominante.
O estudo também afirma que indivíduos com diferentes raças são afetados, havendo uma maior prevalência nos asiáticos, africanos e sul-americanos, talvez pelos diferentes hábitos alimentares ao longo dos tempos.
Quanto ao gênero, homens e mulheres são igualmente afetados pela intolerância à lactose. Porém, das mulheres adultas que possuem essa deficiência, 44% recuperam a capacidade de digerir a lactose durante a gravidez, provavelmente, devido ao trânsito intestinal ficar mais lento e pela adaptação bacteriana durante a gravidez.
Intolerância em crianças
Existem poucos dados disponíveis sobre a prevalência de intolerância à lactose nas crianças entre 1 a 5 anos.
Estudos revelam que todos os mamíferos apresentam um declínio de lactase após o desmame. O mecanismo de ação máximo da lactase acontece logo após o nascimento, que se mantém alto durante o período de amamentação e, depois de algum tempo após o desmame, entre 3 a 7 anos.
Nos adultos, os níveis de lactase decaem, podendo chegar até mesmo a 10% de lactase existente no período da infância.
Como melhorar a digestão da lactose?
Agora que você já entendeu como ocorre a digestão da lactose e do que depende o mecanismo dessa digestão, talvez esteja se perguntando: “Devo descartar totalmente alimentos com lactose da minha dieta? Como posso melhorar a digestão da lactose?”
Indivíduos que não possuem em sua cultura o hábito do consumo de leite e derivados tendem a expressar uma maior prevalência dos sintomas de intolerância à lactose.
Existem ideias equivocadas sobre o desenvolvimento da intolerância à lactose, onde acreditam que o leite e seus derivados devem ser totalmente excluídos da alimentação de pessoas que apresentam sintomas de intolerância à lactose.
Na verdade, hoje já se sabe que a exclusão do leite da dieta de pacientes portadores de má digestão da lactose pode acarretar prejuízos nutricionais e ainda mais danos à saúde.
Isso porque, atitudes radicais podem comprometer o consumo de quantidades de nutrientes necessários ao organismo como vitaminas, cálcio, e outros minerais, fundamentais na dieta de crianças e mulheres.
Possibilidades de tratamento
Atualmente, no mercado, já existem produtos alternativos com baixos teores de lactose, que são capazes de suprir as necessidades nutricionais das pessoas que sofrem com esse problema.
Entre esses produtos, estão os iogurtes, queijos duros e leites processados com baixos teores de lactose. Esse é um nicho de mercado que se encontra em expansão, favorável ao investimento das indústrias laticinistas.
Algumas alterações na alimentação podem ajudar a reduzir ou até mesmo acabar com o incômodo da intolerância à lactose sem precisar excluir totalmente os produtos lácteos da dieta.
Os produtos lácteos fermentados são recomendados, pois a lactase presente nos micro-organismos utilizados na fabricação desses produtos fermentados possibilita a hidrólise de parte da lactose presente.
Por exemplo, experimente iogurtes que constam na embalagem a presença de culturas ativas. O iogurte é o produto fermentado que apresenta melhor tolerância.
Isso está relacionado à alta atividade da lactase presente nos micro-organismos usados na produção do iogurte comparados com outras bactérias produtoras de ácido lático. Iogurtes que contém baixo teor de lactose e utilizam a enzima lactase durante a fabricação, possuem menor grau de acidez e melhor sensação de sabor doce.
Outras dicas para quem tem intolerância à lactose
Outra dica interessante seria optar por queijos duros e envelhecidos.
Os queijos duros são os mais recomendados para quem sofre com má digestão de lactose, porque no processo de sua fabricação, uma boa parte da lactose fica concentrada no soro, e a outra parte da lactose que fica na massa é transformada em ácido lático.
Os queijos cheddar e parmesão apresentam pouca lactose em comparação com os queijos mais pastosos.
Os leites de alta digestibilidade, com redução de até 90% de lactose, também são excelentes alternativas disponíveis no mercado.
A digestão da lactose se torna facilitada devido à sua quebra em glicose e galactose, melhorando a digestibilidade, sem perda da qualidade nutricional do leite.
Inclusive, esses tipos de produtos com redução de lactose vêm atingindo não apenas portadores de má digestão da lactose, mas um público consumidor muito maior, por serem produtos com características de suavidade e sabor adocicado.
Na manifestação de sintomas como náuseas, flatulências, diarreia e vômitos após a ingestão de leite e seus derivados, provavelmente a digestão de lactose no seu organismo está comprometida. Consulte um gastroenterologista para fazer uma investigação mais detalhada.
REFERENCIAS
BAYLESS, T. M. et al. Lactase non-persistence and lactose intolerance. Current Gastroenterology Reports, v. 19, n. 23, 2017.
OLIVEIRA, J. A. F. Intolerância à lactose. 2020. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2020.
PEREIRA, M. C. S. et al. Lácteos com baixo teor de lactose: uma necessidade para portadores de má digestão da lactose e um nicho de mercado. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v. 67, n. 389, p. 57-65. 2012.