Por quanto tempo posso tomar suplemento vitamínico?

Por quanto tempo posso tomar suplemento vitamínico?

Nos últimos anos tem-se notado um considerável aumento da popularidade dos suplementos. Devido à facilidade de obtenção dos mesmos, que podem ser encontrados em farmácias e pela internet, comumente sem a necessidade de prescrição médica, passaram a ser vistos como uma forma de atingir algum objetivo mais rapidamente.

Esse objetivo pode ser, por exemplo, facilitar o aumento da massa muscular, para aumentá-la em menos tempo. No caso, sendo usados principalmente os suplementos proteicos, como a creatina. No campo estético, isso também se mostra comum, por exemplo, pelo uso de suplementos de colágeno e de algumas vitaminas, visando melhorar a aparência da pele e combater o envelhecimento.

O uso de suplementos, porém, nem sempre é benéfico. Embora comumente consistam de substâncias que contribuem para a saúde do corpo, várias dessas substâncias podem trazer malefícios ao corpo, a curto ou longo prazo, caso sejam ingeridas em excesso.

Por isso, mesmo não sendo requerida para sua compra, a análise por profissional médico especializado se mantém necessária para determinar a dose correta do suplemento a ser utilizado.

Uma das questões envolvidas é a resposta do corpo ao processamento desses suplementos a longo prazo. No caso de vitaminas, por exemplo, o fígado tende a ser o responsável por processá-las, e os rins, por filtrar os excessos. Esse aumento da atividade dos mesmos e exposição a maiores quantidades da vitamina pode, portanto, prejudicar esses órgãos a longo prazo.

Isso é algo que pode, em certos casos, também se aplicar a pessoas que tomam suplementos por indicação médica. Embora, nesse caso, o esforço do fígado e dos rins esteja mais próximo do normal, há a questão de que o suplemento apresenta os nutrientes de forma mais concentrada. Portanto, causa aumentos mais súbitos e intensos da atividade desses órgãos, o que pode ser prejudicial também.

Chegamos a seguinte dúvida: Por quanto tempo posso tomar suplemento vitamínico?

Toxicidade e hipervitaminose

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Quando tratamos do uso de suplementos vitamínicos, é importante ter conhecimento desses dois termos: toxicidade e hipervitaminose. Eles são, de certa forma, relacionados, nesse contexto, mas a ação de cada um depende das vitaminas envolvidas.

Hipervitaminose, como o nome já indica, se trata do consumo excessivo de alguma vitamina. Embora vitaminas sejam essenciais para o funcionamento correto do corpo, é preciso que sejam ingeridas na quantidade correta. Tanto o excesso e a deficiência podem resultar em problemas de saúde.

A hipervitaminose é mais comum a curto prazo. É um resultado comum do uso de suplementos vitamínicos sem prescrição médica, originada do acúmulo do excedente ingerido. O acúmulo eleva a concentração dessas vitaminas nos tecidos e no sangue, causando efeitos adversos de diversos níveis de gravidade.

Toxicidade, por outro lado, se refere à ação nociva de uma substância frente ao corpo ou a algum órgão dele. O fígado é um alvo frequente de toxicidade por parte de diversas substâncias, inclusive por algumas que são benéficas ao resto do corpo, devido à sua função de processamento de substâncias e toxinas.

Isso se mostra evidente no caso de alguns medicamentos. Analgésicos como o ibuprofeno, a Aspirina e o paracetamol, por exemplo, causam danos ao fígado durante seu processamento, embora contribuam para o alívio da dor e, em alguns casos, para o alívio da febre e da inflamação.

Quando utilizados esporadicamente, não causam problemas. Porém, o uso contínuo pode gerar danos graves e resultar em falência hepática. A combinação desses medicamentos com outras substâncias processadas pelo fígado, como o álcool, intensifica sua ação prejudicial, contribuindo para aumentar os danos ao órgão e aumentar os riscos de sobredosagem.

No caso das vitaminas, a questão é semelhante. Elas são processadas pelo fígado e excretadas pelos rins, apresentando, portanto, certa toxicidade para eles. O uso contínuo em quantidades elevadas pode, portanto, resultar em problemas graves de saúde a longo prazo, ainda que não apresentem os sintomas associados à hipervitaminose.

Então, por quanto tempo posso tomar suplemento vitamínico?

Quando há acompanhamento médico, essas questões são monitoradas e a dosagem é continuamente regulada de forma a balancear as necessidades do corpo e o esforço desses órgãos, prevenindo a ocorrência dos efeitos adversos ou ao menos tratando-os precocemente.

Leia também: Tiamina (Vitamina B1) – Qual é a sua importância para o corpo?

Vitaminas hidrossolúveis

As vitaminas hidrossolúveis são as vitaminas que facilmente se dissolvem na água. Dentre elas, encontramos a vitamina C e as vitaminas B (B1, B2, B3, B6, B12, entre outras).

Isso significa também que elas se dissolvem facilmente no sangue e na urina. Portanto, são as vitaminas mais facilmente excretadas pelo corpo caso estejam presentes em excesso, tornando-as, em geral, as vitaminas mais seguras.

Isso é especialmente importante para a vitamina B12 (cobalamina). Essa vitamina é crucial para a manutenção do tecido e a produção das células vermelhas do sangue. Porém, a principal fonte dessa vitamina são alimentos de origem animal, e ela é muito sensível ao ácido gástrico, necessitando uma proteína especial para sua absorção.

Como resultado, a deficiência de vitamina B12 é comum entre pessoas vegetarianas e veganas, pessoas que passaram por cirurgias no estômago ou no duodeno, e também pode se desenvolver naturalmente com a idade. Portanto, esses grupos de pessoas dependem de suplementos da vitamina ou de alimentos fortificados com ela.

Devido à maior facilidade de excreção dela, seu uso é mais seguro, e a definição da dosagem ideal é um processo mais simples. Isto é, o corpo apresenta boa tolerância a possíveis excedentes da mesma. Deve-se considerar, porém, que a cianocobalamina, tipo específico de vitamina B12 comumente presente em suplementos e alimentos fortificados, apresenta outras questões a que se deve atentar também.

Existe, porém uma exceção: a vitamina B3 (niacina).

A vitamina B3 é uma das vitaminas que acabam sendo procuradas por pessoas que buscam perder peso mais rapidamente. Isso se deve à sua relação com o colesterol: ela é uma das vitaminas responsáveis por transformar o colesterol ruim (LDL) em colesterol bom (HDL), contribuindo para a saúde do sistema circulatório e a excreção da gordura.

Porém, esse efeito é mais marcado quando a vitamina está presente em grandes quantidades, o que incentiva o uso de suplementos. Por outro lado, a presença de grandes concentrações dela no sangue ocasiona a danificação progressiva do fígado. Essa danificação inicialmente não apresenta sintomas, mas posteriormente resulta em sintomas similares ao da hepatite, e pode culminar na falência do órgão.

Felizmente, esses sintomas se dissipam com o cessamento do uso dos suplementos, e ele pode inclusive ser retomado em dosagem mais baixa posteriormente. Por isso, o acompanhamento médico é crucial para o bom uso dela.

Vitaminas lipossolúveis

As vitaminas lipossolúveis são as vitaminas que se dissolvem mais facilmente em lipídios, isto é, em gordura, e, consequentemente, apresentam maior dificuldade de se dissolverem em água. Dentre elas, encontram-se as vitaminas A, D, E e K.

Essas vitaminas, pouco após entrarem na corrente sanguínea, se depositam nos tecidos do corpo, em especial no tecido adiposo, responsável por armazenar a gordura, para posteriormente serem utilizadas pelos tecidos. O fígado tende a ser o órgão que mais acumula essas vitaminas. Dificilmente são reabsorvidas pela circulação para serem excretadas, portanto, tendem a se acumular no corpo.

Essa tendência a se acumular, portanto, aumenta as chances de ocorrência de hipervitaminose. O corpo as utiliza em uma taxa praticamente fixa, portanto, ingerir essas vitaminas a uma taxa maior que essa contribui para o desenvolvimento de hipervitaminose no curto a médio prazo.

Nesse caso, ao contrário da hepatotoxicidade, os sintomas aparecem mais lentamente, e crescem em intensidade conforme a quantidade de vitamina acumulada. O acompanhamento médico permite que esses sintomas sejam notados precocemente e que a dosagem seja ajustada mais rapidamente.

A vitamina A, porém, também pode ser tóxica ao fígado. Quando ingerida rapidamente em grandes quantidades, causa grandes danos ao fígado em poucos dias. E se ingerida em quantidades moderadamente altas por alguns anos, pode também danificar o órgão. Isso se soma também aos efeitos da hipervitaminose, intensificando os problemas.

Com as vitaminas D, E e K, embora não estejam associadas a danos ao fígado, o acúmulo delas no corpo também é prejudicial, visto que favorece a ocorrência da hipervitaminose.

A vitamina D é uma vitamina que apresenta certa tendência à automedicação. Visto que na atualidade tendemos a passar a maior parte de nosso tempo em ambientes fechados, por exemplo, em casa ou no trabalho, a produção dessa vitamina pode ser prejudicada, visto que necessita a interação entre a pele e o sol.

Como a deficiência desse nutriente é mais comum atualmente, ela passou a ser associada à ocorrência de diversas condições e doenças se mostraram mais comuns recentemente, como o câncer, o autismo e a COVID-19. Portanto, o uso de suplementos dela acaba sendo visto como uma espécie de “cura milagrosa”.

Porém, o excesso de vitamina D causa desidratação intensa, descalcificação dos ossos, e pode inclusive culminar em falência renal. Por isso, o acompanhamento médico se mantém necessário.


Suplementos polivitamínicos

Na busca por melhorar a própria saúde ou a própria aparência, muitas pessoas recorrem ao uso de suplementos polivitamínicos. Esses são suplementos que, ao invés de conterem apenas uma vitamina, em dose calibrada, apresentam uma grande variedade de vitaminas em diferentes dosagens.

Isso pode se dar tanto por uma suspeita de não estar ingerindo as devidas quantidades de vitaminas com a própria alimentação, ou pela ideia errônea de que, como as vitaminas fazem bem para a saúde, em maiores quantidades seriam ainda mais benéficas.

Porém, como mostrado nas sessões anteriores, o excesso de vitaminas pode causar grandes prejuízos à saúde, especialmente no caso das vitaminas lipossolúveis. Com os polivitamínicos, porém, ao invés apresentarem apenas uma delas, apresentam várias.

Isso cria a possibilidade de ocorrer hipervitaminose de múltiplas vitaminas, além de intensificar os danos ao fígado com a presença tanto de vitamina A quanto de B3. Isso pode resultar em efeitos mais intensos e graves, além de dificultar o processo diagnóstico, pois se torna mais difícil associar os sintomas resultantes às diferentes hipervitaminoses.

Isso pode, por exemplo, resultar em sintomas mais complexos. A hipervitaminose de vitamina E resulta em hemorragia, visto que interfere na coagulação sanguínea. Com a vitamina K, por outro lado, há aumento da coagulação. Portanto, quando ocorrem conjuntamente, esses sintomas mais expressivos podem se cancelar, enquanto outros sintomas se mantêm, dificultando o processo diagnóstico.

Suplementos polivitamínicos só devem ser usados em caso de deficiência generalizada, com acompanhamento médico, e não substituem uma alimentação mais saudável e equilibrada.

Leia também: Leucina: Para que serve, como tomar e benefícios


Alternativas aos suplementos vitamínicos

Para conseguir melhorar a própria saúde, a melhor opção sempre é a adoção de uma dieta mais equilibrada, optando por produtos naturais ao invés de produtos industrializados. A ingestão de carne, verduras, legumes e vegetais em quantidades apropriadas diariamente é suficiente para obter todos os nutrientes necessários para o funcionamento correto do corpo.

A ingestão de quantidades excedentes de vitaminas não irá contribuir para melhor a própria saúde nem a própria sensação de bem-estar. No melhor dos casos, esse excedente será rapidamente processado e excretado pelo corpo, sem causar efeitos colaterais.

No pior dos casos, porém, o acúmulo dessas substâncias e sua interação com o fígado e os tecidos do corpo diariamente podem resultar em danos graves e até irreversíveis, dependendo da gravidade dos sintomas e do tempo levado para procurar atendimento médicos.

Por isso, é crucial que suplementos sejam utilizados somente com prescrição e acompanhamento médico especializado, visando obter a dosagem apropriada para o seu caso, no caso de o suplemento ser realmente necessário.

Ou seja, se a sua dúvida é “Por quanto tempo posso tomar suplemento vitamínico?”, a resposta é depende. Apenas o seu médico pode dizer qual a resposta precisa. 

Existem, também, outras alternativas, especialmente no caso de haver restrições alimentares.

O uso de alimentos fortificados para sanar deficiências dietéticas já se mostrou como uma ótima ferramenta para melhorar a saúde da população. Aos alimentos são adicionadas quantidades seguras de algum nutriente como forma de complementar sua ingestão, a depender dos hábitos alimentares da população.

No Brasil, por exemplo, há a adição de flúor na água, de iodo no sal e inclusive de ácido fólico (vitamina B9) na farinha de trigo e de milho. Essas adições contribuem para a saúde do corpo e não resultam em ingestão excessiva dos nutrientes, sendo importantes, respectivamente, para a saúde dos dentes, para a prevenção do bócio e para o desenvolvimento fetal.

A vitamina B12 é outro nutriente que apresenta sucesso com a fortificação. É obrigatória em alguns países da África e, fora deles, contribui para a complementação da dieta de pessoas vegetarianas e veganas, sem apresentar os riscos da automedicação de suplementos.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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