Chama atenção o quanto a evolução tecnológica trouxe artifícios benéficos à atualidade e junto a isso, a necessidade de se manter conectado à internet no mundo virtual. Com o crescimento da interatividade, notam-se alguns problemas relacionados a essa ferramenta que tem sido usada de modo exagerado.
Pode-se dizer que, o isolamento é uma consequência negativa significativa do abuso dos meios tecnológicos realizada pelos usuários, favorecendo o afastamento das pessoas a realidade e predispondo a outras condições de saúde mental como a depressão, principalmente quando a tecnologia é considerada em primeiro lugar frente as relações humanas.
É notório que por vezes as relações estabelecidas com a tecnologia substituam as interações sociais. Curiosamente, isso se torna evidente quando, um aparelho tecnológico dá sentido a existência da vida da pessoa e ao manter longe da conexão, o usuário apresenta sintomas físicos: falta de ar, tontura, sudorese, ansiedade e até ataques de pânico.
Esse vazio, que exprime outros estados de tédio, conformismo, submissão e obsessão, está centralizado na angústia e ansiedade de um vazio existencial. Na verdade, é mais importante neutralizar os sentimentos do que os sentir, buscando a dependência como maneira de supressão.
Tendo em vista que, a internet ostenta um comportamento compulsivo na área da tecnologia, raramente, implicando ordenado negativo no desempenho acadêmico e profissional. Tal afirmação pode ser comparada a associações com a dopamina e alterações nesse neurotransmissor, pois questões relacionadas ao prazer quando afetadas diretamente o corpo e a mente podem trazer dependências intermitentes e a longo prazo.
De modo geral, há pessoas que possuem maior predisposição do que outras para desenvolverem um transtorno.
Um quadro de dependência pode ser considerado a partir de 4 critérios: comportamento de produzir intoxicação/prazer, padrão de uso, impacto negativo em uma esfera da vida e aspectos e tolerância e abstinência.
O Consumo de Redes Sociais e o Sentimento de Vazio
É legítimo que, a dependência pela tecnologia seja uma tentativa de trazer satisfação a vida ligado subordinadamente a falta de sentido à vida. O ser humano procura um significado para a tal, um motivo para viver.
O sentimento de vazio em populações clínicas é bastante comum e foi incluído como critério diagnóstico de vários transtornos, em especial o Transtorno de Personalidade Borderline no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentias (DSM-5).
Dados afirmam que, nessa população, cerca de 34% apresentam sentimento de vazio crônico associado a comportamento suicida, configurando Transtorno de Personalidade Narcisista, Esquizofrenia e Depressão.
A Dependência da Tecnologia e a Solidão
Especialistas levantam considerações sobre o conceito de vazio emocional. Um ponto relevante é que pode ser interessante saber qual é ponto de partida, ou seja, às vezes não há uma noção clara sobre o que é vazio para o locutor e então a interpretação soa subjetiva demais. Desse modo, o constructo irá depender dos sintomas, mecanismo de defesa e estado existencial e até mesmo como a emoção é denotada pela pessoa que menciona, ou melhor, variando de uma pessoa para outra.
Mais adiante, indo a sentimentos profundos, teóricos chegaram a postular que em pacientes com o Transtorno de Personalidade Borderline, o vazio emocional funcionaria como uma espécie de regressão a estados psicóticos. Entretanto, como a terapia cognitivo comportamental se encarrega de cuidar desse assunto, o sentimento de vazio faria a vez de uma estratégia de evasão disfuncional em decorrência de sofrimento de cunho subjetivo marcado por diversos transtornos.
Em um transtorno mental, o vazio emocional passa a ter outro contexto, o de dolorosa incoerência interna e não de perda ou falta como se está acostumado se prever na população geral.
O Sentimento de Vazio Emocional na Juventude Contemporânea
A sensação de vazio pode ser nomeada de diminuição do afeto positivo e uma ausência de propósito feraz, o que faz com que a pessoa se sinta desconectada com o mundo externo, gerando um sentimento de angústia existencial. Não é uma emoção agradável de se sentir pois envolve componentes físicos e emocionais, como a solidão, tédio, disforia e dormência.
Todavia, um dos grandes desafios da contemporaneidade para o ser humano o vazio emocional frente a gama de consumismo, tecnologia e falta de limites para preencher esse aparato. Quando há vazio interior ocorre ausência de autovalorização, autoconfiança e autoestima.
Fato é que a internet evoluiu de tal forma que mudou o modo de interagir entre as pessoas e esse comportamento reflete um distanciamento do eu, perfazendo uma superficialidade que traga angústia a fim de suprir um vazio existencial que incentiva o consumo das redes sociais.
O significado da palavra felicidade está permeado pelas mudanças sociais tecnológicas, afetando diretamente a vida das pessoas que agora possuem novas simbologias em suas vidas. A perda do sentido da vida tem sido declarada como um problema psicopatológico contemporâneo envolvendo tanto questões de ordem social, mas também cultural e psicológica.
Como Prevenir o Uso Excessivo das Tecnologias e o Vazio Existencial
A cultura do bem-estar no aqui e agora influencia o comportamento em seus valores. Já os estes corroboram para práticas de consumo e a desaproximação entre os vínculos, e a ideologia individualista do ponto de vista psicológico centrado nas relações do eu e busca sua satisfação imediata.
Pode parecer que a pessoa tem convicção do que faz, contudo, há como base falta de interiorização das vivências, desvalorização pelo externo, desinteresse e redução dos contatos interpessoais, além do predomínio pela exterioridade em existir.
O que fica em voga é a falta de sentido do vazio, o efêmero e o superficial, com a ausência de interioridade e reflexão, sem vivências em profundidade e reflexões banais relacionadas ao amor, ritmo da vida, importância de “estar-a-par”, que intervém justamente em trocas afetivas significativas e o cultivo do sentimento de autocentramento em que o ser é parecer ao mesmo tempo. O vazio é viver sem direção ou expectativas.
Para a população idosa pode ser comparado a isolamento social, indiferença, egocentrismo, perda do desejo de viver e até o apego a rotina e rituais repetitivos.
Transtornos Mentais e o Sentimento de Vazio
Estar de encontro com o seu sofrimento como o vazio emocional é extremamente doloroso. Apesar disso, trata-se da possibilidade de promover uma confrontação sadia e estratégias de avaliação frente a compreensão que o indivíduo tem sobre a vida, como por exemplo, intempéries e limites impostos, principalmente como estão sendo enfrentados. O objeto é centrar no foco da procura de sentido visando a autorrealização no futuro.
A intervenção auxiliará esse quadro de sofrimento que se alinha na lógica de que é importante: conhecer os fatores pessoais e familiares associados ao vazio; identificar determinantes psicossociais de dificuldades e conflitos; facilitar o desenvolvimento pessoal e contribuir para a libertação individual.
Cada pessoa consegue sentir a vida de um modo e vivenciar os momentos indistintamente, aprendendo a se relacionar com os outros e com a realidade. Uma experiência gera valores referentes àquela vivência adequadamente a sua particularidade em questão, pois o sentido da vida jamais pode ser transferido, ele é singular. Um valor pode preencher um vazio, sendo um momento único ou não para reparar um uma angústia ferida.
Por fim, ao longo da vida há situações que se passa como oportunidade de amadurecimento e crescimento ocasionando um certo sofrimento e servem de base para futuros enfrentamentos. É possível afirmar que jovem fundamentará sua existência a partir daquilo que acreditar e sentir.
Portanto, o equilíbrio psíquico é desafiador para subjetividade em tempos marcados por redes sociais e transformações contextuais rápidas e fugazes a mente humana. O universo digital constrói sentimentos os quais o jovem será influenciado pelo seu cotidiano.
REFERÊNCIAS:
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- Teixeira,J.A.C.(2006).Problemaspsicopatológicoscontemporâneos:Umaperspectivaexistencial.Análise Psicológica, 24(3), 405-413. Ádhila C. O de Espírito – (CRP 06/109972) Especialista em Saúde Mental