Atualmente, existe muito foco na conscientização sobre as DSTs, isto é, as doenças sexualmente transmissíveis. Com os avanços da medicina e a epidemia de AIDS que ocorreu há algumas décadas, muitos recursos foram investidos para conscientizar as pessoas sobre as DSTs e a importância do uso de métodos para preveni-las, como a camisinha.
Essa iniciativa contribuiu para salvar muitas vidas. A AIDS ainda não tem cura, e o HIV se mantém no corpo por toda a vida após a infecção. Porém, os tratamentos utilizados atualmente permitem controlar a doença e estender consideravelmente a vida do paciente.
Porém, um efeito colateral dela foi o surgimento do estigma quanto às DSTs. Pessoas que apresentam alguma delas, em especial a AIDS, podem ter de lidar com exclusão por parte de seus pares e prejuízo à própria vida sexual, mesmo com os avanços na criação de remédios e métodos de prevenção à transmissão delas.
Por isso, a ocorrência de um primeiro surto de herpes, por exemplo, pode causar grande sofrimento psíquico ao paciente, ainda que a dificilmente cause complicações sérias, devido ao estigma que envolve essa DST.
Assim como a AIDS, a condição não apresenta cura. Porém, existem opções de tratamento para herpes simples.
Tratamento para herpes simples
Existem dois tipos de herpes simples, conhecidos na literatura médica pelos nomes Herpes Simplex 1 (HSV-1) e Herpes Simplex 2 (HSV-2).
O HSV-1 é popularmente conhecido como herpes oral. Se manifesta predominantemente na região da boca e do nariz, geralmente apresentando sintomas mais leves em conjunto com o aparecimento das feridas, como coceira, formigamento e ardor.
O HSV-2 é mais conhecido como herpes genital. Se manifesta normalmente na região da genitália, e os sintomas que acompanham as feridas tendem a ser mais incômodos, comumente envolvendo febre e ardor ao urinar.
Ambos os vírus apresentam grande facilidade de transmissão, em especial o HSV-1. Estima-se que grande parte da população apresente o vírus, ainda que nem todos apresentem sintomas. Embora frequentemente seja associado a uma vida sexual ativa, o primeiro contato com o vírus normalmente ocorre ainda na infância.
Com ambos os vírus, a primeira infecção normalmente é a mais intensa. Após sua ocorrência, o vírus se mantém dormente no corpo, se reativando posteriormente em algumas situações, como de baixa imunidade. Atualmente não há cura nem vacina para a herpes simples, portanto, os tratamentos visam apenas aliviar os sintomas.
Embora o HSV-1 e o HSV-2 sejam comumente denominados “herpes oral” e “herpes genital”, respectivamente, devido à afinidade que apresentam a essas regiões, eles nem sempre se limitam a elas. Por exemplo, o sexo oral possibilita que o HSV-2 acabe infectando a região da boca e que o HSV-1 infecte a região genital.
É também possível que o herpes simples infecte outras partes do corpo, seja na pele ou nos órgãos internos, especialmente em pessoas imunocomprometidas. Isso pode levar a problemas de visão, caso infecte o globo ocular, e é potencialmente fatal, caso a infecção atinja o cérebro.
Tratamentos caseiros
Os episódios de herpes tendem a cessar por recuperação espontânea. As feridas normalmente desaparecem entre duas e três semanas após seu surgimento. Portanto, caso não apresente comprometimento do sistema imunológico, é possível apenas aguardar que os sintomas cessem.
Porém, a presença das feridas tende a causar incômodo, tanto físico quanto visual. As bolhas que surgem estouram após alguns dias, se transformando em ulcerações comumente doloridas. Portanto, alguns métodos caseiros podem ser utilizados para acelerar a recuperação.
Primeiramente, é importante manter o local limpo, lavando-o bem com água e sabão. Deve-se também evitar tocar nas feridas, lavando as mãos posteriormente sempre que isso ocorrer. O objetivo é evitar a transmissão da doença para outras pessoas, assim como evitar que a infecção se espalhe para outras partes do corpo.
Caso apresente alguma ferida nas mãos ou nos dedos, deve-se ter cuidado ainda maior, pois a presença de algum tipo de lesão ou sensibilização na pele, por exemplo, devido à dermatite, pode facilitar a infecção do local pelo vírus da herpes.
Algumas pessoas conseguem bons resultados com a aplicação de gelo no local ao longo do dia. Os resultados, porém, variam de acordo com a pessoa, mas podem resultar em cessamento dos sintomas em um ou dois dias antes do usual e podem aliviar a dor e a coceira.
Analgésicos podem contribuir para diminuir a dor. Caso as feridas tendam a ser muito dolorosas, é também possível utilizar anestésicos tópicos que não requerem prescrição médica, como a benzocaína. Deve-se, porém, seguir com atenção as orientações presentes na bula para o uso correto. Também não se deve ingerir os anestésicos tópicos.
Os anestésicos tópicos também podem causar certo incômodo, visto que anestesiam o local em que são aplicados, gerando uma sensação de dormência característica e impedindo que o local responda a estímulos táteis.
Prevenção dos sintomas
Em muitos casos, os sintomas da herpes são ativados devido a algum estímulo externo, comumente relacionado à imunidade. Causas comuns de reincidência dos sintomas são estresse, contaminação por outras doenças, menstruação, exposição prolongada ao sol, entre outros.
Portanto, é possível prevenir em certa medida o aparecimento de lesões ao controlar e evitar a ocorrência dos fatores que estimulam seu reaparecimento. Isso pode ser feito pela adoção de um estilo de vida mais saudável, visando a melhoria do sistema imunológico, pelo uso de protetor solar e pelo uso regular de pílulas anticoncepcionais.
Porém, nem sempre os episódios de herpes apresentam uma causa clara e bem definida, e nem todas as pessoas conseguem conectar seus episódios a algum fator. Portanto, essas medidas nem sempre são eficazes.
Em muitos casos, é também possível que haja certo “presságio” do surgimento das bolhas. Isso se dá comumente pela ocorrência de formigamento, coceira ou ardor no local em que a ferida surgirá. Nesses casos, algumas pessoas apresentam sucesso em impedir esse surgimento tratando o local precocemente, por exemplo, com a aplicação de gelo.
Isso pode variar consideravelmente de uma pessoa para outra, portanto, é algo a se atentar, mas deve-se manter em mente que esses métodos preventivos podem não necessariamente se aplicarem a todo caso.
Caso a gestante apresente herpes genital, existe a possibilidade da doença contaminar a criança. A contaminação não ocorre durante a gestação, visto que o útero é capaz de impedir a proliferação do vírus para seu interior.
Porém, caso a gestante apresente sintomas da herpes genital durante o parto, é possível que a contaminação aconteça durante esse processo. Portanto, é necessário informar o médico responsável dessa possibilidade para que as medidas necessárias sejam tomadas para minimizar as chances de infecção do recém-nascido.
Tratamento para herpes simplescom antivirais
O uso de medicamentos antivirais também pode contribuir para o alívio dos sintomas. Porém, assim como os métodos caseiros, não diminuem consideravelmente a duração dos mesmos. Os antivirais mais comuns no tratamento para herpes simples são o aciclovir, o valaciclovir e o fanciclovir. O penciclovir, medicamento tópico, também pode contribuir para o tratamento.
Assim como no caso dos tratamentos caseiros, o uso dos antivirais se mostra mais efetivo quando o tratamento é iniciado logo nos primeiros sintomas, especialmente antes do surgimento das bolhas.
Porém, esses medicamentos apresentam maior efetividade em casos mais graves e mais frequentes.
Caso haja grande reincidência dos sintomas, pode ser adotado o uso diário de medicamento antiviral. Dessa forma, pode-se reduzir a frequência ou até impedir o surgimento de novos sintomas durante o uso. Caso os sintomas reapareçam, também terão menor intensidade.
No caso da infecção se espalhar para o cérebro, ou um recém-nascido ser infectado, o tratamento com aciclovir tende a ser o mais indicado. Caso se espalhe para o olho, normalmente se utiliza um colírio antiviral, como o colírio de trifluridina.
Embora os antivirais sejam efetivos no tratamento para herpes simples visto que combater diretamente o vírus herpes simplex, o tratamento com antivirais durante o primeiro episódio da doença não impede a reincidência da mesma.
Sobre a herpes simples
A herpes simples é uma das doenças mais antigas que conhecemos, havendo registros de sua ocorrência já na Roma Antiga. Sua facilidade de transmissão é uma das suas principais características, e também o que a torna tão comum.
O vírus é transmitido primariamente pelo toque. Entrar em contato direito com uma das feridas formadas, ou ainda com uma região do corpo que apresente os sintomas iniciais de um episódio de herpes, como formigamento e coceira, é suficiente para que ocorra a transmissão.
Após o contágio, o primeiro episódio da doença tende a ocorrer em até cinco dias. O primeiro tende a apresentar os sintomas mais intensos, e as incidências posteriores geralmente apresentam o mesmo conjunto de sintomas, mas em menor intensidade. O vírus então se mantém dormente nos gânglios nervosos, permitindo a ocorrência de episódios posteriores.
Ainda não se sabe os mecanismos envolvidos na dormência e na reativação, mas a reativação pode estar ligada a fatores ambientais e situacionais, que podem variar de uma pessoa para outra.
Nem todas as pessoas contaminadas por algum dos vírus desenvolvem sintomas, com o mesmo se mantendo dormente no corpo. É possível, porém, que o transmitam mesmo assim, visto que o vírus também pode se depositar sob a pele de forma não-sintomática. Esse fenômeno também pode ocorrer em pessoas sintomáticas.
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Diagnóstico
O diagnóstico é comumente clínico, especialmente no caso da herpes oral. A presença e formato das feridas, a ocorrência de outros sintomas antes e durante a presença das mesmas e o histórico de contato com pessoas HSV positivo são os principais fatores envolvidos nessa análise.
As feridas comumente se apresentam na forma de múltiplas bolhas arredondadas e próximas uma das outras, inclusive na forma de múltiplos agrupamentos distribuídos sobre uma região. É possível, porém, que ela apresente um aspecto fora do padrão, o que pode dificultar o diagnóstico.
No caso da herpes genital, o diagnóstico por vezes é mais difícil, visto que as lesões e os outros sintomas apresentam semelhanças com outras doenças que afetam a mesma região, como infecções fúngicas, líquen plano, dermatite atópica e infecção da uretra.
Nesse casos, podem ser realizados alguns exames para determinar a causa dos sintomas. Um dos métodos possíveis é a análise em microscópio das bolhas formadas. A herpes apresenta um fenômeno característico de mutação das células afetadas, aumentando suas dimensões, o que facilita sua identificação.
Também pode-se analisar o vírus em si, através de exames de cultura viral em laboratório e do exame PCR, sendo o PCR normalmente o mais sensível. Esses exames também podem distinguir entre HSV-1 e HSV-2.
Caso haja suspeita de que a infecção se espalhou para outras regiões do corpo, existem exames específicos que contribuem para o diagnóstico. Por exemplo, no caso da encefalite herpética, pode ser realizado um exame de ressonância magnética ou exame do líquido obtido por punção lombar.
Convivência
Visto que não há cura para a herpes simples atualmente, é importante desenvolver hábitos para conviver com sua presença no corpo.
Esses hábitos consistem primariamente na prevenção da ocorrência dos sintomas, quando possível, utilizando os métodos descritos anteriormente neste artigo, e o tratamento dos sintomas ao aparecerem, quando necessários.
Deve-se também cuidar para evitar a proliferação da doença. É preciso ser aberto quanto à presença desse agente infeccioso e comunicar ao parceiro sexual. Deve-se evitar contato sexual quando os sintomas estiverem presentes, e também por alguns dias após eles cessarem.
O acompanhamento médico também é importante. Somente um dermatologista é capaz de realizar o diagnóstico e, a partir disso, determinar quais seriam os melhores tratamentos para o caso. O controle da doença se torna ainda mais importante para pessoas imunocomprometidas.
Conclusão
A herpes simples é uma doença sexualmente transmissível que apresenta alta transmissibilidade.
Ela apresenta duas variantes, o HSV-1, comumente conhecido como herpes oral, e o HSV-2, a herpes genital. Embora apresentem esses nomes populares, nem sempre ocorrem nas regiões que lhes deram a nomenclatura.
Devido à alta transmissibilidade e, por vezes, sintomas sutis ou a ausência de sintomas, o HSV-1 é a DST mais comum no mundo. É, inclusive, comumente contraída durante a infância, ao invés de o ser durante uma época sexualmente ativa, como no caso do HSV-2.
A herpes simples não apresenta cura. Os tratamentos existentes são capazes apenas de aliviar os sintomas e diminuir sua frequência, além de tratarem episódios mais graves. Deve-se, portanto, aprender a conviver com a presença do vírus e evitar sua transmissão.