Silimarina: Suplemento para Esteatose Hepática e Saúde do Fígado

o que causa gordura no fígado

A silimarina tem despertado grande interesse nos últimos tempos. Certamente, muitos já ouviram falar dela, mas nem sempre as informações disponíveis são corretas.

O cardo mariano, também conhecido como silimarina, tem sido utilizado há séculos como um remédio herbal em diversas culturas ao redor do mundo. O seu uso tem sido associado a uma melhoria significativa na saúde do fígado, devido às suas propriedades protetoras e regenerativas[1]Vargas-Mendoza N, Madrigal-Santillán E, Morales-González Á, Esquivel-Soto J, Esquivel-Chirino C, y González-Rubio MG, Gayosso-de-Lucio JA, Morales-González JA. Hepatoprotective effect of … Continue reading.

Quando se fala em proteção hepática, é comum pensar em substâncias tóxicas, medicamentos e outras agressões que nosso fígado enfrenta diariamente. E é aí que o cardo mariano entra em ação! A planta possui compostos poderosos que auxiliam na proteção do fígado contra danos, atuando na regeneração de suas células e prevenindo futuros problemas[2]Cacciapuoti F, Scognamiglio A, Palumbo R, Forte R, Cacciapuoti F. Silymarin in non alcoholic fatty liver disease. World journal of hepatology. 2013 Mar 3;5(3):109..

Origem e Composição da Silimarina

A silimarina é uma substância extraída do cardo mariano, uma planta conhecida por suas propriedades medicinais. É composta por diversos flavonoides, como a silibina, silidianina e silicristina. Juntas, estas substâncias apresentam potencial benéfico para o fígado.

Benefícios da Silimarina

Um dos principais benefícios da silimarina é a proteção hepática. Estudos demonstraram que ela pode preservar o fígado contra substâncias tóxicas, tornando-a uma aliada na prevenção de danos causados por medicamentos e outras substâncias, incluindo esteróides anabolizantes.

A silimarina não só protege, como também acelera a recuperação hepática. Ela potencializa a síntese de proteínas no fígado, o que pode ajudar em situações onde o órgão está debilitado ou em processo de recuperação.

Além disso, a silimarina pode ser útil no alívio de dores de cabeça associadas a problemas hepáticos e na melhoria de questões digestivas relacionadas à bile. No entanto, é crucial entender que sua principal ação é direcionada ao fígado.

Entendendo o Mecanismo de Ação

Um fato fascinante sobre o leite de cardo é sua capacidade de induzir o que é chamado de estresse do retículo endoplasmático. Isso pode parecer prejudicial à primeira vista, mas esse processo pode realmente ajudar a fortalecer o fígado, tornando-o mais resistente a danos futuros.

No entanto, é essencial observar que essa indução de estresse só é benéfica quando não combinada com outros estressores. Assim, enquanto o leite de cardo pode ajudar a construir resiliência no fígado, não deve ser visto como um escudo contra práticas prejudiciais, como o consumo excessivo de álcool.

Mecanismo de açãoEfeito
Atividade antioxidanteReduz a produção de espécies reativas de oxigênio e a peroxidação lipídica
Efeito anti-inflamatórioInibe o fator nuclear kappa B e reduz citocinas pró-inflamatórias
Ação imunomoduladoraModula a resposta imune hepática
Propriedade antifibróticaDiminui ativação e estimula apoptose das células estreladas hepáticas
Efeito hepatoprotetorEstabiliza membrana dos hepatócitos, impedindo entrada de toxinas
Estimulação da síntese proteicaAumenta síntese de proteínas pelos hepatócitos

Uma descoberta recente é a capacidade do leite de cardo de modular a inflamação hepática. Ao fazer isso, pode melhorar a função hepática, permitindo que o órgão retorne a um estado mais saudável. Além disso, o leite de cardo também pode ativar a AMPK, uma proteína que, quando ativada, pode sugerir benefícios metabólicos e anti-inflamatórios para o fígado.

Evidências em Modelos Humanos e Animais

Embora os modelos em ratos tenham mostrado resultados promissores, as pesquisas em humanos ainda são um pouco inconclusivas. Por exemplo, uma metanálise no World Journal of Gastroenterology analisou 17 estudos diferentes e descobriu que não havia uma alteração significativa nas enzimas hepáticas ou no próprio fígado em humanos após a suplementação com leite de cardo[3]Colica C, Boccuto L, Abenavoli L. Silymarin: An option to treat non-alcoholic fatty liver disease. World journal of gastroenterology. 2017 Dec 21;23(47):8437-8..

Isso levanta a questão: será que a dosagem é a chave para obter os benefícios?

Dosagem de Silimarina

Forma de apresentaçãoDosagem usual
Cápsulas de extrato seco de silimarina140-200 mg, 2 a 3 vezes ao dia
Comprimidos de silibinina80-120 mg, 2 a 3 vezes ao dia
Solução oral de silimarina140 mg, 3 vezes ao dia
Extrato de sementes de cardo mariano200-400 mg, 2 a 3 vezes ao dia
Complexo silimarina-fosfatidilcolina-vitamina E1 a 2 cápsulas, 2 vezes ao dia

Efeitos Colaterais e Precauções

Como qualquer substância, a silimarina, quando consumida em excesso, pode causar efeitos adversos, como distúrbios gastrointestinais, náuseas, vômitos, diarreia, e inchaço abdominal. A dosagem adequada varia entre 100 mg a 500 mg por dia, dependendo da necessidade de proteção ou recuperação hepática.

Efeito adversoDescrição
Reações alérgicasErupção cutânea, prurido, urticária
Sintomas gastrintestinaisNáusea, vômito, diarreia, desconforto abdominal
CefaleiaDor de cabeça
FadigaCansaço excessivo
VertigemTontura
DispepsiaMá digestão, azia

É importante não superestimar as capacidades da silimarina. Ela é uma ferramenta auxiliar na proteção e recuperação do fígado, mas não é uma “cura mágica”. Em caso de problemas hepáticos graves, o acompanhamento médico é indispensável.

Sobre a Gordura no Fígado (Esteatose Hepática)

A doença hepática gordurosa não alcoólica é uma condição clínica comum, caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado, na ausência de ingestão significativa de álcool.

A prevalência global da esteatose hepática é estimada entre 25% a 30% na população em geral. A obesidade central, dislipidemia, resistência à insulina e diabetes estão frequentemente associadas à esteatose hepática no contexto da síndrome metabólica. O tratamento padrão é focado em modificações do estilo de vida, como dieta saudável e exercício físico.

No entanto, nenhum medicamento ainda foi formalmente aprovado para o tratamento da esteatose hepática.

Estudos mostraram que o tratamento com silimarina está associado à melhora de parâmetros bioquímicos e clínicos em pacientes com doença hepática gordurosa não alcóolica, incluindo redução nos níveis séricos de ALT, AST e gama-GT, bem como diminuição da esteatose hepática identificada por ultrassonografia.

Os mecanismos propostos incluem redução do estresse oxidativo, inibição da produção de citocinas pró-inflamatórias e estabilização das membranas celulares.

Estudos em Esteatose Hepática

Em um estudo recente conduzido pelo Dr. WK Chan e sua equipe da Universidade de Malaya, Kuala Lumpur, foi investigado o papel desta substância no tratamento da esteatohepatite não alcoólica, uma das formas mais severas da doença hepática gordurosa não alcoólica.

O objetivo principal do estudo conduzido pela equipe do Dr. WK Chan era fornecer evidências mais robustas sobre o uso de silymarin no tratamento da NASH. O estudo foi iniciado em 2010 e a pesquisa oficialmente começou em 2012. Pacientes adultos com suspeita de NASH foram submetidos a biópsias hepáticas, e aqueles com NASH comprovado foram incluídos na pesquisa.

Os participantes foram randomizados para receber silymarin ou um placebo durante 48 semanas. A eficácia do tratamento foi avaliada através de biópsias hepáticas ao final do período de estudo. Dos 99 sujeitos que se qualificaram para o estudo, não houve diferença significativa entre os que receberam silymarin e aqueles que receberam o placebo no que se refere ao principal desfecho de eficácia.

Entretanto, uma descoberta notável foi que uma proporção significativamente maior de pacientes no grupo do silymarin apresentou melhoria na fibrose em comparação com o grupo placebo. Além disso, foi observada uma direção simétrica de melhoria, com uma maior proporção de pacientes no grupo silymarin apresentando resolução de fibrose e menor progressão para cirrose.

No entanto, uma meta-análise recente demonstrou que, apesar da silimarina reduzir significativamente os níveis de ALT e AST em pacientes com DHGNA, essa redução é mínima e sem relevância clínica. Além disso, os estudos apresentam importante heterogeneidade metodológica e alto risco de viés.

Portanto, as evidências disponíveis ainda são insuficientes para recomendar formalmente a silimarina como terapia adjuvante na DHGNA, sendo necessários mais estudos clínicos controlados e bem delineados para estabelecer sua real eficácia e segurança nessa condição.

Conclusão

A silimarina é uma substância valiosa para a saúde hepática, mas seu uso deve ser feito de forma consciente e informada. Embora possa ser adquirida sem receita médica, é vital consultar um especialista antes de incluí-la em qualquer regime ou tratamento.

Proteger e cuidar do fígado é essencial para uma saúde geral robusta, e a silimarina pode ser uma grande aliada nesse processo.

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas
1 Vargas-Mendoza N, Madrigal-Santillán E, Morales-González Á, Esquivel-Soto J, Esquivel-Chirino C, y González-Rubio MG, Gayosso-de-Lucio JA, Morales-González JA. Hepatoprotective effect of silymarin. World journal of hepatology. 2014 Mar 3;6(3):144.
2 Cacciapuoti F, Scognamiglio A, Palumbo R, Forte R, Cacciapuoti F. Silymarin in non alcoholic fatty liver disease. World journal of hepatology. 2013 Mar 3;5(3):109.
3 Colica C, Boccuto L, Abenavoli L. Silymarin: An option to treat non-alcoholic fatty liver disease. World journal of gastroenterology. 2017 Dec 21;23(47):8437-8.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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