Acne Fúngica

Acne Fúngica é um termo comumente usado para descrever a foliculite por Malassezia, também conhecida como foliculite por Pityrosporum. Esta condição é uma infecção dos folículos pilosos causada por espécies do fungo Malassezia. Clinicamente, apresenta-se como pápulas e pústulas eritematosas, geralmente no tronco, pescoço e face, e pode ser confundida com acne vulgaris.

A distinção entre a foliculite por Malassezia e a acne vulgaris é importante, pois o tratamento difere. Enquanto a acne vulgaris é tratada com antibióticos e retinoides, a foliculite por Malassezia responde melhor a antifúngicos. O tratamento mais eficaz é com antifúngicos orais, como o itraconazol ou fluconazol, seguidos por antifúngicos tópicos, como o cetoconazol.

O diagnóstico pode ser confirmado por métodos diagnósticos adequados, como microscopia ou biópsia, para identificar a presença de esporos fúngicos nos folículos.

Foliculite por Malassezia

A foliculite por Malassezia é frequentemente diagnosticada de forma errada como acne vulgar, pois é fácil passar despercebida. Essa condição consiste em uma desordem benigna que resulta do crescimento excessivo da levedura Malassezia na pele, que é encontrada principalmente nos folículos das glândulas sebáceas, pois se alimenta da composição lipídica do sebo.

Enquanto a acne vulgar é causada pelo entupimento das glândulas sebáceas, provocando protuberâncias na pele, como espinhas, cravos e pústulas, com formas e tamanhos diferentes, a foliculite pitirospórica é causada por infecção fúngica nos folículos pilosos, nas quais as protuberâncias tendem a ser uniformes em toda a parte superior do corpo, como rosto, costas, tórax e ombros.

Portanto, a acne fúngica na verdade não é acne, mas sim uma foliculite. A foliculite faz com que o folículo piloso fique inflamado e infectado, causando pústulas na pele. Nessas condições, as pessoas podem achar que se trata de acne, e até fazem tratamento para acne, mas não observam efeitos satisfatórios.

Causas comuns

A acne fúngica resulta do crescimento excessivo da levedura Malassezia, um fungo lipofílico, que prospera em ambientes oleosos e úmidos. Sua proliferação pode ser desencadeada por vários fatores, descritos abaiox.

A acne fúngica é mais comum em adolescentes, provavelmente devido ao aumento da atividade das glândulas sebáceas, até porque a frequência e densidade da colonização da levedura estão associadas à idade e à atividade das glândulas sebáceas.

Além disso, a acne fúngica é mais comum em pessoas que vivem em climas quentes e úmidos, particularmente naquelas afetadas pela transpiração excessiva. Visto que os homens costumam transpirar mais que as mulheres, a acne fúngica também ocorre com mais frequência em homens. Praticar exercícios físicos constantes e usar roupas muito apertadas pode aumentar as chances de desenvolver acne fúngica.

Outros fatores também são determinantes para acne fúngica, incluindo o uso de antibióticos tópicos ou orais, o uso de corticosteroides orais e imunossupressão.

Outros fatores

• Desequilíbrio do microbioma da pele: A pele possui um equilíbrio natural de bactérias e fungos. O uso excessivo de antibióticos, seja oral ou tópico, pode eliminar as bactérias benéficas, permitindo que a levedura Malassezia se prolifere sem competição.
• Fatores de Risco:
  • Ambientes quentes e úmidos: O suor excessivo cria um ambiente propício para o crescimento da levedura. Vestir roupas justas que não permitem que a pele respire pode exacerbar a condição.
  • Uso prolongado de antibióticos: Antibióticos orais, muitas vezes prescritos para tratar a acne bacteriana, podem perturbar a microbiota da pele e promover o crescimento da Malassezia.
  • Higiene inadequada: A falta de limpeza adequada após atividades físicas ou em ambientes quentes pode levar ao acúmulo de suor e sebo, que são fontes de nutrientes para a levedura.
  • Sistema imunológico comprometido: Pessoas com condições imunossupressoras ou que estejam tomando medicamentos imunossupressores têm uma maior predisposição para infecções fúngicas na pele.
  • Uso de produtos oleosos: O uso de cosméticos e protetores solares à base de óleo pode obstruir os poros e fornecer nutrientes que promovem o crescimento da Malassezia.

Sintomas da acne fúngica

Os sintomas da acne fúngica incluem: protuberâncias vermelhas na pele; muita coceira; manchas na testa, no queixo, nas laterais do rosto, nas costas, peito, pescoço e braços; ausência de resposta ao tratamento para acne vulgar; folículos pilosos irritados; outros tipos de infecções fúngicas, como dermatite seborreica e tinea versicolor.

Cremes antibacterianos, ácidos e outros tratamentos típicos da acne não conseguem resolver o problema, indicando a necessidade de um diagnóstico específico e abordagem antifúngica.

Como são as lesões?

Pequenas pústulas uniformes, geralmente do mesmo tamanho, que podem aparecer em grandes quantidades em áreas como peito, costas, ombros e zona T do rosto. Diferente da acne bacteriana, raramente surgem cravos ou cistos.

A coceira é um sintoma marcante que ajuda a distinguir a acne fúngica da acne comum. A coceira é causada pela inflamação e irritação dos folículos devido ao crescimento excessivo da levedura.

Diagnóstico da acne fúngica

A acne fúngica pode persistir por muitos anos se for diagnosticada erroneamente como acne vulgar. Devido a isso, é essencial considerar esse diagnóstico em pacientes que não respondem aos medicamentos típicos para acne, principalmente aqueles com pápulas e pústulas uniformes. 

A acne fúngica não responde aos tratamentos tradicionais usados para a acne bacteriana. Portanto, o diagnóstico incorreto pode levar ao agravamento dos sintomas. Uma avaliação dermatológica é crucial para distinguir entre as duas condições.

Métodos de Diagnóstico:

• Exame Clínico: O dermatologista examina as lesões da pele, levando em consideração a distribuição das erupções (frequentemente em áreas como o tronco e os ombros) e a presença de sintomas como coceira.
• Exame Microscópico: Para confirmar o diagnóstico, o dermatologista pode coletar uma amostra da lesão para análise microscópica. Uma raspagem suave da pele é tratada com hidróxido de potássio (KOH) e, em seguida, observada ao microscópio para verificar a presença de células fúngicas e hifas da levedura Malassezia.
• Cultura Fúngica: Embora menos comum devido ao tempo e custo, a cultura fúngica pode ser realizada para confirmar a presença da levedura Malassezia. Esse método pode identificar o tipo específico de fungo envolvido, o que pode ser útil em casos mais resistentes ao tratamento.

Tratamento de acne fúngica

O tratamento mais eficaz para acne fúngica são os medicamentos antifúngicos orais, como fluconazol ou cetoconazol, principalmente no início, pois a levedura está localizada profundamente no folículo piloso.

Tratamentos Tópicos

Os tratamentos tópicos são a primeira linha de defesa na maioria dos casos de acne fúngica. Eles atuam diretamente sobre a pele, reduzindo a proliferação do fungo Malassezia e aliviando os sintomas.

1. Shampoos e Sabonetes Antifúngicos:

• Sulfeto de Selênio: Este é um composto antifúngico frequentemente encontrado em shampoos. Ele age suprimindo o crescimento do fungo e reduzindo a produção de sebo na pele, criando um ambiente menos propício para a proliferação da Malassezia. Para tratar a acne fúngica, o shampoo de sulfeto de selênio pode ser aplicado nas áreas afetadas da pele e deixado agir por 5 a 10 minutos antes de enxaguar. A aplicação é normalmente recomendada 2 a 3 vezes por semana.
• Piritionato de Zinco: Outro agente antifúngico e antibacteriano encontrado em shampoos e sabonetes. O piritionato de zinco é eficaz na inibição do crescimento da Malassezia, ajudando a restaurar o equilíbrio da microbiota cutânea. Seu uso regular (de 2 a 3 vezes por semana) pode ajudar a prevenir a recorrência da infecção.
• Cetoconazol: Um dos antifúngicos tópicos mais potentes, o cetoconazol é amplamente utilizado em cremes, shampoos e loções. Ele age interrompendo a membrana celular do fungo, inibindo seu crescimento e eliminando a infecção. Para acne fúngica, produtos com concentração de 1-2% de cetoconazol são usados. Recomenda-se a aplicação nas áreas afetadas, deixando agir por alguns minutos antes de enxaguar. Para casos mais resistentes, o cetoconazol em formato de creme ou gel pode ser aplicado diretamente sobre as lesões.

2. Cremes Antifúngicos:

• Miconazol e Clotrimazol: Esses são antifúngicos tópicos que agem inibindo a síntese do ergosterol, um componente essencial da membrana celular do fungo, levando à morte celular do mesmo. A aplicação é geralmente recomendada duas vezes ao dia, diretamente nas áreas afetadas, até que as lesões diminuam. É importante continuar o uso por alguns dias após a melhora dos sintomas para garantir a completa erradicação do fungo.

3. Hidratantes Livres de Óleo e Não-Comedogênicos:

• Embora não sejam antifúngicos, hidratantes não-oleosos ajudam a manter a barreira cutânea saudável e prevenir a desidratação, que pode agravar a proliferação da levedura. Produtos com ingredientes calmantes, como aloe vera e niacinamida, também ajudam a reduzir a inflamação e a coceira associadas à acne fúngica.

Tratamentos Orais

Os tratamentos orais são indicados para casos moderados a graves de acne fúngica ou quando os tratamentos tópicos não apresentam resultados satisfatórios. Eles atuam sistemicamente para reduzir a presença do fungo em todo o corpo.

1. Antifúngicos Orais:

• Fluconazol: O fluconazol é um antifúngico sistêmico que inibe a enzima fúngica CYP450, essencial para a síntese do ergosterol, um componente-chave da membrana celular do fungo. Ao interromper essa síntese, o fluconazol causa a morte do fungo. Ele é eficaz no tratamento da foliculite por Malassezia. A dosagem padrão varia, mas um esquema comum é 150 mg uma vez por semana, por 2 a 4 semanas. Em casos mais graves, a dosagem e a duração do tratamento podem ser ajustadas pelo dermatologista.
• Itraconazol: Este é um antifúngico de amplo espectro que se acumula nas camadas da pele e no folículo piloso, oferecendo uma ação prolongada. Sua principal vantagem é a capacidade de alcançar altas concentrações nos locais de infecção. A dose recomendada pode variar de 100 a 200 mg por dia, geralmente por 7 a 14 dias, dependendo da gravidade da condição. O itraconazol interfere na síntese do ergosterol na membrana celular fúngica, causando a morte do fungo.

2. Considerações no Uso de Antifúngicos Orais:

• Monitoramento: O uso prolongado de antifúngicos orais, especialmente o itraconazol, requer monitoramento médico, incluindo exames de sangue para avaliar a função hepática, devido ao potencial hepatotóxico desses medicamentos.
• Interações Medicamentosas: Tanto o fluconazol quanto o itraconazol podem interagir com outros medicamentos, como anticoagulantes e anticoncepcionais, devido à sua ação sobre o sistema enzimático do fígado. É fundamental informar o médico sobre qualquer medicação em uso antes de iniciar o tratamento antifúngico.
• Duração do Tratamento: É importante que os pacientes completem o curso prescrito, mesmo que os sintomas melhorem rapidamente, para evitar a recidiva da infecção.

Cremes antifúngicos também são muito úteis como terapia adjuvante, bem como manutenção e terapia profilática, até porque a recorrência é comum. Em alguns casos, medicamentos para acne podem ser necessários associados a medicamentos antifúngicos. 

Tratamentos complementares

Alguns profissionais de saúde podem ainda recomendar tratamentos complementares, como a terapia fotodinâmica.

A terapia fotodinâmica utiliza a energia da luz. Embora esse tipo de tratamento contra infecções bacterianas e fúngicas esteja crescendo nos últimos anos, essa terapia já é conhecida a muito tempo. É utilizada na Dermatologia para o tratamento de acne, rosácea, ceratose actínica e câncer de pele não melanoma.

Como já mencionado, a acne fúngica pode ser diagnosticada erroneamente como acne vulgar, mas também pode ser confundida com foliculite bacteriana. 

É importante diferenciar essas condições porque o tratamento com antibióticos não é útil e não ajudará na acne fúngica, pois esses medicamentos pode alterar a flora cutânea e exacerbar ainda mais a doença, fazendo a acne fúngica durar ainda mais tempo. Tanto o diagnóstico quanto o tratamento podem ser perdidos por longos períodos, já que diferentes medicamentos para acne são tentados sem o paciente ter nenhuma resposta.

Antes de definir o tratamento, é importante que o médico analise o que desencadeia as crises. 

Os tratamentos podem ser necessários durante os meses de verão, pois nesse período o clima é mais quente e úmido. Se for o caso, o tratamento pode ser recomendado também durante períodos de aumento da transpiração, ao realizar exercícios físicos intensos ou trabalho ao ar livre. 

Determinados produtos tópicos, como maquiagem, loção ou protetores solares podem ser os causadores das crises, portanto, observe se esses são os fatores determinantes para o aparecimento da acne fúngica.

Medidas para tratamento em casa

Além dos medicamentos antifúngicos, algumas mudanças no estilo de vida também podem ajudar a tratar a acne fúngica.

Estes incluem:

• Tomar banho com mais regularidade, especialmente após suar ou se exercitar.
• Usar roupas mais folgadas que permitam a circulação do ar e reduzam o atrito.
• Evitar produtos oclusivos para a pele que contenham óleos ou ácidos graxos.
• Usar ácido azelaico como tratamento tópico para regular a produção de sebo.

Como prevenir

A acne fúngica pode se manifestar quando a pele fica muito quente, suada e úmida. Então, é importante investir em algumas práticas de autocuidado e higiene para ajudar na prevenção da acne fúngica. Algumas práticas incluem: trocar imediatamente as roupas suadas, especialmente as de academia; tomar banho logo após os exercícios físicos; usar roupas largas; e evitar arranhar ou cutucar áreas infectadas, pois isso pode espalhar e piorar a infecção.

Cuidado, pois a acne fúngica pode ser contagiosa. Ela pode ser transmitida por meio de lâminas de barbear e banheiras de hidromassagem compartilhadas ou, menos provavelmente, pelo contato pele a pele entre as pessoas.

Para prevenir a acne fúngica, evite produtos para a pele ou protetores solares que sejam gordurosos e lave bem a sua pele, pelo menos, uma vez por dia.

Referências:

RUBENSTEIN, R. M.; MALERICH, S. A. Malassezia (Pityrosporum) Folliculitis. The Journal of Clinical and Aesthetic Dermatology, v. 7, n. 3, p. 37-41. 2014. WEBMD. What is Fungal Acne?. 2021. Disponível em: https://www.webmd.com/skin-problems-and-treatments/acne/what-is-fungal_acne