A maioria das mulheres associa imediatamente um atraso na menstruação à gravidez. No entanto, existem dezenas de outras causas que podem levar à alteração do ciclo menstrual, incluindo a antecipação, o atraso ou até mesmo a suspensão da ovulação. Em geral, atrasos de poucos dias podem ser insignificantes e ocorrem até mesmo em mulheres com ciclos regulares.
Fatores como estresse, erros de cálculo, mudanças nos métodos contraceptivos ou ansiedade (especialmente devido ao medo de gravidez) são motivos mais comuns para atrasos pontuais.
Contudo, se a menstruação está atrasada por vários dias ou não ocorre por meses consecutivos, e a gravidez foi descartada, é crucial investigar as causas subjacentes. Confira, abaixo, alguns fatores que podem interferir no ciclo menstrual com detalhes técnicos:
1. Infecções ou Doenças
Doenças sistêmicas, como infarto, tuberculose e hepatite, podem causar um estresse físico significativo que afeta o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, responsável pela regulação hormonal. Infecções agudas, mesmo aquelas consideradas menos graves, como gripes ou infecções urinárias (cistite) e amigdalites, podem desencadear uma resposta inflamatória no corpo.
Alterações hormonais em doenças sistêmicas e infecções
Este estado inflamatório interfere na produção hormonal, particularmente na secreção de hormônios gonadotróficos (FSH e LH), necessários para o ciclo menstrual regular.
Durante infecções graves ou doenças sistêmicas, o corpo pode alterar os níveis de vários hormônios:
- Redução do Estrogênio: Quando o corpo está sob estresse, como durante uma infecção grave, os níveis de estrogênio podem diminuir devido à supressão da função ovariana. Isso ocorre porque o corpo está focado em utilizar energia para combater a infecção em vez de sustentar processos reprodutivos, resultando em ciclos anovulatórios (sem ovulação) e atrasos menstruais.
- Aumento da Prolactina: Doenças crônicas e condições como tuberculose ou hepatite podem elevar os níveis de prolactina, um hormônio que também é regulado pelo eixo HHO. A prolactina tem um efeito inibitório sobre a secreção do GnRH, o que pode levar a ciclos menstruais irregulares ou ao completo desaparecimento da menstruação (amenorreia).
Infecções e doenças impactam a menstruação através da interferência no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, aumento do cortisol, liberação de citocinas inflamatórias, alterações na produção de hormônios sexuais e desvio das reservas energéticas.
O corpo, ao entrar em um estado de “priorização da sobrevivência”, pode suprimir funções reprodutivas não essenciais até que o estado de saúde seja restabelecido.
2. Medicamentos
Alguns medicamentos interferem diretamente no ciclo menstrual, incluindo:
- Corticoides: Aumentam os níveis de cortisol, o que pode perturbar a função do eixo hipotálamo-hipófise-ovário e, consequentemente, impactar a ovulação e a menstruação.
- Antidepressivos e Antipsicóticos: Podem alterar os níveis de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, que possuem um papel na regulação hormonal.
- Imunossupressores: Podem alterar a função imunológica e hormonal do corpo, desregulando a produção dos hormônios sexuais.
- Anti-hipertensivos: Alguns atuam nos receptores hormonais, alterando o fluxo sanguíneo nos órgãos reprodutivos, afetando a função ovariana.
Nota: Antibióticos, por si só, geralmente não causam atraso menstrual. O que afeta o ciclo é a infecção ou condição subjacente para a qual os antibióticos foram prescritos.
3. Perda de Peso Excessiva ou Distúrbios Alimentares
O baixo índice de gordura corporal afeta a leptina, um hormônio crucial para a função reprodutiva. A leptina sinaliza ao hipotálamo o estado energético do corpo. Em condições de anorexia ou extrema restrição calórica, os níveis reduzidos de leptina podem inibir a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), causando uma interrupção do ciclo menstrual, um fenômeno conhecido como amenorreia hipotalâmica.
Sobre a Anorexia
A anorexia nervosa é um distúrbio alimentar caracterizado por restrição alimentar extrema, perda de peso significativa e um baixo índice de gordura corporal. A condição afeta negativamente o ciclo menstrual, frequentemente levando à amenorreia (ausência de menstruação) ou ao atraso menstrual.
O mecanismo de como a anorexia influencia o atraso menstrual é complexo e envolve a interação entre fatores nutricionais, hormonais e metabólicos.
A drástica perda de peso e baixo índice de gordura corporal reduzem a produção do hormônio leptina, que sinaliza ao hipotálamo que o corpo está em um estado de déficit energético. Essa redução de leptina inibe a secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), afetando o eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Isso leva à diminuição da produção dos hormônios FSH e LH, essenciais para a ovulação e produção de estrogênio e progesterona.
Além disso, a privação alimentar e aumento do cortisol (hormônio do estresse) na anorexia também inibem a função ovariana, resultando em ciclos anovulatórios e ausência de menstruação. Esse estado de “amenorreia hipotalâmica” ocorre porque o corpo interrompe as funções reprodutivas para preservar energia para processos vitais.
Em outras palavras, o corpo, ao detectar um estado de baixo índice de gordura e déficit energético, interrompe as funções reprodutivas para preservar recursos para processos vitais.
4. Obesidade
A obesidade pode causar atrasos menstruais devido ao excesso de tecido adiposo, que atua como um órgão endócrino produzindo estrogênio.
Em mulheres obesas, o excesso de gordura corporal leva a um aumento da produção de estrogênio, resultando em um estado de “dominância estrogênica”. Esse desequilíbrio inibe a liberação dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH), essenciais para a maturação dos folículos ovarianos e para a ovulação. Sem a ovulação, o ciclo menstrual se torna irregular, ocasionando atrasos.
Além disso, a obesidade frequentemente está associada à resistência à insulina, o que pode desencadear ou agravar a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), que será descrita com mais detalhes abaixo. Nessa condição, os níveis elevados de insulina estimulam os ovários a produzirem mais hormônios androgênicos, como a testosterona, o que interfere no ciclo menstrual e leva à anovulação (ausência de ovulação). Esse processo contribui ainda mais para os atrasos e irregularidades menstruais.
Outro fator é a inflamação sistêmica crônica associada à obesidade. A presença constante de citocinas inflamatórias pode afetar diretamente a função ovariana e a sensibilidade dos receptores hormonais. Essa inflamação, combinada com o desequilíbrio do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, prejudica a liberação e a ação dos hormônios reguladores do ciclo menstrual, resultando em ciclos irregulares ou ausentes.
A obesidade pode causar atrasos menstruais devido ao excesso de estrogênio produzido pelo tecido adiposo, levando a um desequilíbrio hormonal que inibe a ovulação. Além disso, a resistência à insulina e o estado inflamatório associado à obesidade afetam negativamente o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, resultando em ciclos irregulares ou ausentes.
5. Dietas Muito Restritivas
Dietas muito restritivas influenciam os atrasos menstruais principalmente devido ao déficit energético que causam no corpo. Quando a ingestão de calorias é muito baixa, o corpo entra em estado de alerta e começa a priorizar funções vitais em detrimento do sistema reprodutivo. Essa mudança afeta diretamente o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, reduzindo a liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH). Com níveis menores de GnRH, a produção dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH) é reduzida, o que prejudica a ovulação e provoca atrasos no ciclo menstrual.
A restrição de gordura na dieta é um dos fatores críticos nesse processo. A gordura é essencial para a produção de hormônios sexuais, como o estrogênio, e para a síntese de colesterol, que serve como precursor desses hormônios. Além disso, a gordura corporal produz leptina, um hormônio que sinaliza ao hipotálamo o estado energético do corpo. Dietas muito restritivas levam à diminuição dos níveis de leptina e de estrogênio, afetando a ovulação e, consequentemente, a regularidade do ciclo menstrual.
O estresse fisiológico gerado por dietas restritivas também leva ao aumento da produção de cortisol, o hormônio do estresse. Altos níveis de cortisol podem suprimir ainda mais a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, inibindo a liberação de GnRH. Isso reduz a produção de FSH e LH, afetando negativamente a ovulação e resultando em ciclos irregulares ou na ausência completa da menstruação, conhecida como amenorreia hipotalâmica.
6. Excesso de Atividade Física
O excesso de atividade física pode causar atrasos menstruais devido ao impacto que exerce sobre o equilíbrio energético do corpo, os níveis de gordura corporal e a regulação hormonal. Quando uma mulher se engaja em exercícios físicos intensos, especialmente se não há uma compensação adequada de ingestão calórica, o corpo entra em um estado de “déficit energético”. O corpo percebe essa deficiência de energia e prioriza funções vitais, reduzindo as atividades não essenciais, como a reprodução. Esse estado de baixo suprimento energético afeta o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, responsável pela regulação do ciclo menstrual, resultando em alterações ou interrupções na menstruação.
O principal mecanismo envolvido nesse processo é a redução da secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo. O GnRH é fundamental para a liberação dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH) pela hipófise, que regulam a maturação dos folículos ovarianos e a ovulação. Em situações de déficit energético, o hipotálamo diminui ou interrompe a liberação pulsátil do GnRH, levando a uma diminuição da secreção de FSH e LH. Como resultado, os ovários não recebem o estímulo necessário para a ovulação e produção dos hormônios estrogênio e progesterona, causando irregularidades no ciclo menstrual ou até mesmo a amenorreia (ausência de menstruação).
Além disso, o excesso de atividade física também pode levar à redução do percentual de gordura corporal. A gordura é um importante reservatório de energia e atua como um órgão endócrino, produzindo hormônios como a leptina. A leptina sinaliza ao hipotálamo o estado das reservas energéticas do corpo. Quando os níveis de gordura corporal são muito baixos, a quantidade de leptina diminui. Essa redução envia sinais ao hipotálamo indicando um estado de “fome”, o que resulta em inibição da produção de GnRH, prejudicando ainda mais a secreção de FSH e LH. Sem esses hormônios, a ovulação é inibida e a menstruação pode ser atrasada ou interrompida.
Além das alterações hormonais, o excesso de atividade física pode aumentar os níveis de hormônios do estresse, como o cortisol e as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). Altos níveis de cortisol têm um efeito supressor no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, reduzindo ainda mais a liberação de GnRH. Esse aumento do cortisol também afeta o metabolismo do corpo, resultando em uma maior quebra de proteínas e reservas de energia, intensificando o déficit energético. A combinação desses fatores — déficit energético, baixo percentual de gordura corporal e elevação dos hormônios do estresse — afeta a regularidade do ciclo menstrual, causando atrasos e até mesmo a ausência da menstruação em mulheres submetidas a níveis intensos de exercício físico.
Fatores | Descrição | Impacto no Ciclo Menstrual |
---|---|---|
Déficit Energético | O corpo entra em um estado de baixa energia devido ao gasto calórico elevado e ingestão insuficiente de nutrientes. | Reduz a liberação de GnRH, levando à menor produção de FSH e LH, causando atrasos ou ausência da ovulação. |
Redução da Gordura Corporal | A baixa gordura corporal reduz a produção de leptina, que sinaliza o estado energético ao hipotálamo. | Diminui a secreção de GnRH, afetando a ovulação e a regularidade do ciclo menstrual. |
Aumento do Cortisol | Exercícios intensos elevam os níveis de hormônios do estresse, como o cortisol. | O cortisol suprime o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, reduzindo ainda mais a liberação de GnRH. |
Inibição da Ovulação | Redução da produção de FSH e LH, hormônios necessários para a ovulação. | Leva a ciclos irregulares ou à ausência de menstruação (amenorreia). |
7. Problemas na Tireoide
A glândula tireoide produz hormônios (T3 e T4) que são essenciais para o metabolismo e a regulação do ciclo menstrual. No hipotireoidismo, níveis reduzidos de hormônios tireoidianos podem levar ao aumento da secreção de prolactina, que por sua vez inibe o eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Já no hipertireoidismo, um metabolismo acelerado pode causar a aceleração do ciclo menstrual ou a redução da duração do fluxo.
Como Problemas na Tireoide Influenciam o Atraso Menstrual
Os problemas na tireoide, como hipotireoidismo (produção insuficiente de hormônios tireoidianos) e hipertireoidismo (produção excessiva), podem afetar diretamente o ciclo menstrual, causando atrasos e irregularidades. Os hormônios tireoidianos (T3 e T4) desempenham um papel fundamental no metabolismo do corpo e na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Vamos explorar como cada condição da tireoide influencia o ciclo menstrual.
1. Hipotireoidismo e Atraso Menstrual
O hipotireoidismo ocorre quando a glândula tireoide produz uma quantidade insuficiente de hormônios tireoidianos. Isso pode afetar o ciclo menstrual de várias maneiras:
- Metabolismo Lento: A produção insuficiente de T3 e T4 desacelera o metabolismo do corpo, afetando o equilíbrio hormonal geral.
- Aumento da Secreção de TRH: O hipotireoidismo leva ao aumento da produção de hormônio liberador de tireotropina (TRH) pelo hipotálamo.
- Elevação da Prolactina: O TRH estimulado em excesso ativa a produção de prolactina pela hipófise. Níveis elevados de prolactina têm um efeito inibitório sobre o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), que é fundamental para o ciclo menstrual.
- Redução de FSH e LH: Com a inibição do GnRH, a produção dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH) é reduzida, prejudicando a ovulação e resultando em atrasos ou irregularidades no ciclo menstrual.
- Alterações Endometriais: A baixa produção de estrogênio associada ao hipotireoidismo pode levar a mudanças na espessura do endométrio, resultando em sangramentos irregulares ou em atrasos na menstruação.
2. Hipertireoidismo e Atraso Menstrual
O hipertireoidismo é caracterizado pela produção excessiva de hormônios tireoidianos, o que afeta o equilíbrio hormonal e pode levar a irregularidades menstruais:
- Aceleração do Metabolismo: O excesso de T3 e T4 acelera o metabolismo e pode alterar os níveis dos hormônios sexuais, afetando o ciclo menstrual.
- Alteração na Globulina Transportadora de Hormônios Sexuais (SHBG): O excesso de hormônios tireoidianos aumenta a produção de SHBG, que se liga aos hormônios sexuais, diminuindo a disponibilidade de estrogênio e progesterona. Esse desequilíbrio interfere na ovulação.
- Conversão de Estrogênio: O hipertireoidismo pode aumentar a conversão periférica de androgênios em estrogênio, o que altera o ciclo hormonal natural, levando a irregularidades menstruais.
- Interferência no Eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovário: O aumento dos níveis de T3 e T4 pode causar disfunções no eixo hormonal responsável pela ovulação, levando a ciclos menstruais irregulares, atrasos e fluxos reduzidos.
Em ambos os casos, a disfunção da tireoide afeta o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, levando a alterações na secreção hormonal que prejudicam a ovulação e, consequentemente, a regularidade do ciclo menstrual.
É importante monitorar a saúde da tireoide para manter o equilíbrio hormonal e o funcionamento adequado do sistema reprodutivo.
8. Menopausa
A menopausa é marcada pela depleção folicular ovariana, levando à redução na produção de estrogênio e progesterona. Antes da menopausa propriamente dita, na perimenopausa, os ciclos tornam-se irregulares devido à diminuição da sensibilidade do eixo hipotálamo-hipófise à secreção de hormônios ovarianos.
9. Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)
A SOP é caracterizada por um desequilíbrio hormonal, com níveis elevados de hormônios androgênicos e resistência à insulina. Esses fatores causam anovulação crônica, resultando em menstruações irregulares. A hiperinsulinemia pode aumentar a produção de andrógenos pelos ovários, agravando os sintomas.
10. Início Recente do Ciclo Menstrual
Durante os primeiros anos pós-menarca (primeira menstruação), o eixo hipotálamo-hipófise-ovário ainda está em processo de maturação. A produção e liberação dos hormônios gonadotróficos (FSH e LH) podem ser irregulares, levando a ciclos menstruais irregulares até que o sistema se estabilize.
Se os atrasos menstruais forem recorrentes ou prolongados, e a gravidez tiver sido descartada, é fundamental procurar um profissional de saúde. Um diagnóstico preciso e um tratamento adequado podem ajudar a restabelecer a regularidade do ciclo menstrual.