Senescência e senilidade: qual a diferença?

Senescência e senilidade

O envelhecimento é um processo natural e complexo do nosso corpo. É inevitável, sendo resultado de mudanças naturais de nossa fisiologia e do nosso metabolismo.

Embora seja natural, também é muito temido. Várias das alterações provocadas por esse processo são visíveis, como a flacidez da pele, a mudança da coloração do cabelo, a calvície, as rugas, o surgimento de melanose solar, entre outros. Mudanças bruscas na aparência, mas que surgem aos poucos.

Porém, algumas dessas mudanças não são visíveis, e podem também causar muitos problemas durante essa época da vida. O desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, o declínio cognitivo e doenças como mal de Alzheimer e mal de Parkinson podem prejudicar intensamente a qualidade de vida.

Algumas dessas mudanças são naturais e inevitáveis, mas outras são evitáveis, sendo decorrentes do estilo de vida ao longo da juventude e da vida adulta, e possivelmente intensificadas devido à predisposição genética.

Devido a essa diferença entre esses dois lados do envelhecimento, surgiram os conceitos de senescência e senilidade. Vamos explicar o que esses conceitos significam.

Os conceitos de senescência e senilidade

Senescência e senilidade representam dois aspectos bem diferentes da velhice, mas são conceitos complementares, que descrevem os dois lados do envelhecimento: o lado benigno (senescência) e o lado problemático (senilidade).

Sendo duas palavras relativamente parecidas e usadas nos mesmos contextos, é muito fácil confundi-las ou ter dificuldade de entender suas diferenças. Por isso, esclareceremos essas diferenças a seguir. Ao fim do artigo, também discutiremos como evitar a senilidade para ter uma velhice mais saudável.

Senescência

O termo “senescência” descreve as mudanças naturais e benignas decorrentes do processo de envelhecimento. São as mudanças comumente visíveis, resultantes de modificações graduais na nossa fisiologia e no nosso metabolismo, e causam apenas mudanças estéticas.

Ainda não foram descobertas as causas exatas desse processo, mas há alguns fatores envolvidos. Por exemplo, um dos principais consiste na redução da capacidade multiplicativa das células do corpo. Como resultado, há maior dificuldade de realizar a manutenção dos tecidos e órgãos, o que progressivamente diminui sua capacidade de funcionamento.

A pele é um dos tecidos que mais sente esse efeito. A flacidez e a formação das rugas são o resultado da perda da elasticidade da pele, que por sua vez é causada pela diminuição da produção de colágeno e elastina, proteínas responsáveis por prover firmeza à pele.

Essa diminuição da produção se inicia por volta dos 30 anos de idade, e se torna perceptível após os 40 ou 50 anos. Surge, portanto, lentamente, resultado da diminuição da capacidade de manutenção do corpo. Felizmente, não causa prejuízos à saúde, embora muitos considerem o efeito estético desagradável.

A senescência é inevitável, mas é possível diminuir sua velocidade ao se viver uma vida saudável.

Não se sabe ainda de forma definitiva qual a causa dessa diminuição da capacidade multiplicativa das células do corpo. Porém, várias hipóteses estão sendo investigadas.

Uma das mais conhecidas é quanto ao dano oxidativo. A oxidação é um tipo de reação química comum em seres vivos, pois é muito útil para a geração de energia, entre outras funções. O nosso metabolismo, por exemplo, utiliza a oxidação para obter energia, sendo o oxigênio o principal componente disso. Por isso, precisamos da respiração para conseguirmos nos manter vivos.

Porém, vários outros compostos apresentam grande capacidade oxidativa, o que os permite reagir com moléculas que não deveriam estar envolvidas com esses processo. É o caso dos radicais livres, agentes oxidantes importantes para o corpo, mas que, caso estejam presentes em grandes quantidades no corrente sanguínea, podem causar danos e acelerar o envelhecimento.

É disso que nasce a importância dos alimentos antioxidantes, visto que apresentam substâncias que podem conter a ação dos radicais livres, e também de ter uma alimentação saudável, para diminuir a ingestão e produção desses radicais livres.

Senilidade

O termo “senilidade”, por outro lado, se refere às patologias comuns da velhice, mas que em muitos casos são evitáveis. Envelhecer não implica necessariamente em ficar doente ou ficar muito mais fraco. É possível ter uma velhice saudável. Porém, isso depende muito de ter uma juventude e vida adulta saudáveis, e manter esses hábitos também durante a terceira idade.

Como o envelhecimento afeta a habilidade do corpo de se regenerar e realizar sua própria manutenção, graças à maior dificuldade da divisão celular, isso abre espaço para que algumas condições comecem a afetar o corpo, especialmente condições crônicas.

Por exemplo, isso resulta em maior dificuldade de manutenção do sistema circulatório. Isso inclui uma menor ação por parte do mecanismo de transporte e utilização da gordura. Como resultado, a gordura presente no sangue apresenta maior tendência a se acumular, o que pode diminuir o diâmetro interno dos vasos sanguíneos, originando a hipertensão, e prejudicar o funcionamento do coração, aumentando a propensão a um infarto.

Essa dificuldade de manutenção afeta os músculos também. Isso significa que existe maior tendência a eles atrofiarem, isto é, diminuírem de tamanho, prejudicando a locomoção e a realização das tarefas diárias, assim como a própria autonomia, por consequência.

Também há prejuízo à manutenção dos discos intervertebrais, enrijecendo a coluna e causando perda de altura. Os ossos podem ser prejudicados também, causando osteoporose. As juntas também podem ser prejudicadas, causando osteoartrose.

As condições mais temidas, porém, são o Parkinson e o Alzheimer.

A doença de Parkinson consiste na perda progressiva das capacidades motoras. Lentamente, o corpo começa a desenvolver dificuldades de movimentação. Ela inicia sutilmente, com maior lentidão dos movimentos e diminuição da amplitude dos mesmos. Conforme progride, as dificuldades aumentam, e se torna mais visível com a ocorrência de tremores.

A doença de Alzheimer consiste na perda progressiva da memória. Se inicia com a perda da memória recente e lentamente progride, resultando na perda da memória de longo prazo, iniciando com as memórias formadas mais recentemente. Nos estágios finais, a pessoa apresenta grande perda de autonomia e pode precisar ser restringida à cama.

Ambas consistem na degeneração das funções cerebrais e não apresentam cura. Porém, a adoção de hábitos saudáveis antes da velhice contribui para a prevenção delas, assim como das outras condições características da senilidade.

Envelhecimento saudável

A melhor forma de desacelerar a senescência e prevenir a senilidade é através da adoção e manutenção de hábitos saudáveis ao longo da vida. Esses hábitos contribuem para fortalecer o corpo e manter seu funcionamento em dia, contribuindo para a prevenção do desenvolvimento de condições crônicas.

Um dos hábitos principais para isso é a atividade física. A atividade física regular estimula os mecanismos de regeneração e manutenção do corpo, além de fortalecer os músculos e ossos.

Isso se deve ao mecanismo que possibilita o crescimento dos músculos: a atividade física causa pequenos danos ao músculo e faz com que precise de mais energia do que o corpo pode fornecer, levando à produção de ácido lático. O ácido lático, por sua vez, estimula o corpo a produzir as substâncias necessárias para uma regeneração mais completa.

Portanto, a atividade física regular durante a vida mantém esse estímulo à divisão celular, desacelerando sua diminuição, contribuindo para uma velhice mais saudável.

A alimentação também é importante para isso. O corpo não consegue se regenerar corretamente se não apresenta os recursos necessários para isso. Isso inclui a ingestão de proteínas, cálcio, ferro, vitaminas e outros nutrientes essenciais.

Deve-se ter cuidado também com os alimentos não saudáveis. O excesso de gordura, açúcar e sódio, entre outros, fazem com que o corpo precise utilizar mais recursos para conseguir lidar com essas substâncias. Dessa forma, ele se desgasta com maior velocidade, o que pode contribuir para acelerar o envelhecimento.

É importante também exercitar o cérebro. Tanto a atividade física quanto a atividade intelectual contribuem para prevenir o Parkinson e o Alzheimer. Se manter muito preso a uma rotina rígida e ao ócio, portanto, são prejudiciais ao longo prazo. A leitura frequente é uma das principais formas de realizar esse exercício.

Portanto, embora as condições crônicas características da senilidade não apresentem cura, em grande parte dos casos é possível preveni-las, contanto que medidas sejam tomadas o quanto antes possível.

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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Dra. Juliana Toma

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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