Dor no Couro Cabeludo

A dor no couro cabeludo pode ser provocada por diversos fatores que sensibilizam a região, bem como infecções por bactérias e fungos.

Esses fatores levam à uma inflamação, culminando em coceiras, desconfortos e dores. Suas causas podem ser desde situações corriqueiras, até outras que exigem atenção mais específica e individualizada, especialmente se existem sintomas associados.

Confira nessa matéria as principais causas para esse incômodo no couro cabeludo, seus principais tratamentos, e como evitar esse desconforto.

 Tricotonia

A tricotomia pode ser uma das causas mais comuns para a dor no couro cabeludo.

Considerada como uma microinflamação na região do couro cabeludo, geralmente é associada a coceiras e consequente lesões e inflamações, sendo causada por hábitos diários, como o uso excessivo de bonés ou chapéus, uso de cabelo preso muito apertado, e abuso de exposição ao calor pelo banho ou pelo sol.

Pacientes com tricotomia relatam sintomas de formigamento, sensações de agulhadas, pontadas, ardências ou queimações. Frequentemente surge junto com a queda de cabelo, levando à diminuição na qualidade de vida e aumento de distúrbios psicológicos como ansiedade [1].

Dermatite seborreica e presença de caspa

Podendo ou não ser relacionada com tricotomia, a dermatite seborreica é uma inflamação comum da pele [2] que pode surgir pelo excesso de sebo e consequente coceira na região, que leva vermelhidão local e descamação do couro cabeludo [3].

Estima-se que 3 a 10% da população sofra com este quadro, cuja etiologia ainda é bastante desconhecida [2, 4] e que culmina em uma propensão a infecção por leveduras [3].

Atualmente, alguns fatores de risco associado à presença da dermatite seborreica são definidos, como imunodeficiência, presença de doenças neurológicas, e consumo exagerado de álcool [2, 3].

Pessoas mais propensas ao desenvolvimento de dermatite seborreica devem controlar a oleosidade capilar e possuir cuidados com o uso de produtos químicos no cabelo [2, 4].

Alguns tratamentos podem ser indicados para o controle deste quadro, como a utilização de corticoides de uso oral ou tópico, e uso de antifúngicos [2]. Entretanto, esses pacientes tendem a apresentar reincidência dos sintomas [3].

Queda de cabelo – foliculite decalvante

Você observa que seu cabelo tende a cair mais do que seria normal todas as vezes que mexe nele, o penteia ou lava.

foliculite

Essa queda excessiva pode ser patológica, fruto de condições como ansiedade, efeitos de drogas, deficiência de ferros, e infecções sexualmente transmissíveis [5]. A este quadro geral denominamos de “foliculite decalvante”.

A foliculite decalvante é progressiva e limitada ao couro cabeludo [6], gerando alopecia cicatricial especialmente na região central e occipital da cabeça [7].

Pesquisas demonstram tratamento eficaz com a administração de uma combinação de uso oral de antibiótico com corticoides tópicos [6] e monoterapia de agentes inflamatórios [7].

Líquen Plano Pilar

Definido como um tipo de alopecia, a líquen plano pilar é uma doença imunológica ocasionada pela concentração de linfócitos T na membrana basal epidérmica e folicular do couro cabeludo [5, 8].

Seu diagnóstico é essencialmente clínico, embora biópsias possam ser indicadas para o diagnóstico decisivo do quadro [9].

Seu tratamento é considerável desafiador, uma vez que não se tem diretrizes atuais sobre este quadro [9].

Classicamente, recomenda-se tratamentos com corticosteroides tópicos ou intralesionais [5, 9], isotretinoína, inibidores tópicos de calcineurina [9] e tratamento combinado de anti-histamínicos e esteroides tópicos [8].

Alguns casos de líquen, embora bem tratados, podem ser refratários.

Tínea do couro cabeludo

Esta condição é caracterizada por alopecias com pústulas foliculares, ou placas, no couro cabeludo [10, 11], ocasionada por infecção fúngica [12, 13].

Estima-se que 3 a 11% [10] da população, especialmente crianças e mulheres idosas [11, 14], sofram com essa doença que leva a perda irreversível do cabelo  [12].

Em suas causas, destaca-se relação gênica, ativação por linfócitos T, entre outros [12].

O tratamento é especialmente importante pois este quadro leva à perda irreversível do cabelo.

De forma eficiente, tende-se a ser recomendado o uso de terapia antifúngica tópica e oral[12, 13] com acompanhamento clínico e micológico frequente [15].

Psoríase

Frequentemente confundido com a dermatite seborreica pelos sintomas similares [16], a psoríase é uma doença inflamatória autoimune crônica com predisposição genética [17] que atinge cerca de 2% da população mundial [16, 17], e cerca de 80% dos quadros envolve o couro cabeludo [18].

Entre seus sintomas, destacam-se a hiperqueratose, presença de lesões assimétrica, coceira no couro cabeludo, sangramento e, como consequência, timidez e diminuição da qualidade de vida.

Seu tratamento consiste na aplicação de agentes tópicos [16, 17], como os corticoides [17], além da possibilidade de utilização de análogos à vitamina D e fototerapia [17, 19].


Causas de dor no couro cabeludoExplicação
Dermatite seborreicaInflamação da pele causada por uma superprodução de sebo.
PiolhosInfecção causada por parasitas que vivem no cabelo e no couro cabeludo.
Dores de cabeça de tensãoDor de cabeça causada por tensão muscular e estresse.
Psoríase do couro cabeludoCondição da pele que causa manchas vermelhas e escamosas no couro cabeludo.
FoliculiteInfecção dos folículos pilosos causada por bactérias ou fungos.
TricotilomaniaTranstorno compulsivo que leva a pessoa a arrancar o próprio cabelo.
Tinturas de cabelo e outros produtos químicosProdutos químicos em produtos capilares que podem irritar o couro cabeludo.
Infecção no couro cabeludoInfecção causada por bactéria ou fungo no couro cabeludo.
CeluliteInfecção bacteriana da pele e tecido subcutâneo.
AlergiasReação a certas substâncias que podem causar inflamação do couro cabeludo.

Outros motivos para a sensibilidade do couro cabeludo

Além dos motivos relacionados acima, sabe-se que pessoas portadoras de doenças psicológicas, como ansiedade patológica e estresse, tendem a ter maior chances de irritação e dores no couro cabeludo, uma vez que as mesmas relatam maior irritabilidade na região, oleosidade na região da cabeça, presença de caspa e de queda de cabelo.

diagnostico 1

Ainda, quando há a junção da sensibilidade do couro cabeludo com sintomas como a tontura, pode ser que o diagnóstico curse com sinusite, herpes zoster e carbúnuculo.


Diagnóstico Diferencial

Diagnóstico DiferencialTratamentos
Dor de Cabeça TensionalAnalgésicos, técnicas de relaxamento, massagem, biofeedback
EnxaquecaMedicamentos analgésicos prescritos, triptanos, medicamentos anti-náusea, medicamentos anti-inflamatórios
Dor de cabeça em clusterOxigenoterapia de alto fluxo, medicamentos preventivos, triptanos, medicamentos anti-inflamatórios
Nevralgia do trigêmeoMedicamentos anticonvulsivantes, cirurgia
FibromialgiaMedicamentos analgésicos ou antidepressivos, fisioterapia, exercícios, técnicas de gerenciamento de estresse


Prevenção

Bons hábitos diários podem prevenir o aparecimento do desconforto e da dor no couro cabeludo, como hábitos de higiene, evitar deixar o cabelo preso por muito tempo a fim de evitar fricções, e evitar usar, de forma excessiva, bonés e chapéus.

Ainda, procedimentos químicos devem ser cuidadosamente realizados, e especial atenção deve ser dada à oleosidade na cabeça.

Ainda, a qualquer indício de dor no couro cabeludo, procure um dermatologista, especialmente se esse sintoma vier associado a outros. Um tratamento precoce pode ser bastante importante. Não se automedique.


Referências

1.         Willimann, B. and R.M. Trueb, Hair pain (trichodynia): frequency and relationship to hair loss and patient gender. Dermatology, 2002. 205(4): p. 374-7.

2.         Gupta, A.K. and R. Bluhm, Seborrheic dermatitis. J Eur Acad Dermatol Venereol, 2004. 18(1): p. 13-26; quiz 19-20.

3.         Naldi, L. and J. Diphoorn, Seborrhoeic dermatitis of the scalp. BMJ Clin Evid, 2015. 2015.

4.         Chan, H.P. and H.I. Maibach, Hair highlights and severe acute irritant dermatitis (“burn”) of the scalp. Cutan Ocul Toxicol, 2010. 29(4): p. 229-33.

5.         Wolff, H., T.W. Fischer, and U. Blume-Peytavi, The Diagnosis and Treatment of Hair and Scalp Diseases. Dtsch Arztebl Int, 2016. 113(21): p. 377-86.

6.         Yang, A., R. Hannaford, and S. Kossard, Folliculitis decalvans-like pustular plaques on the limbs sparing the scalp. Australas J Dermatol, 2020. 61(1): p. 54-56.

7.         Otberg, N., et al., Folliculitis decalvans. Dermatol Ther, 2008. 21(4): p. 238-44.

8.         d’Ovidio, R., A. Rossi, and T.M. Di Prima, Therapeutic hotline. Effectiveness of the association of cetirizine and topical steroids in lichen planus pilaris–an open-label clinical trial. Dermatol Ther, 2010. 23(5): p. 547-52.

9.         Fechine, C.O.C., N.Y.S. Valente, and R. Romiti, Lichen planopilaris and frontal fibrosing alopecia: review and update of diagnostic and therapeutic features. An Bras Dermatol, 2022. 97(3): p. 348-357.

10.       Tangjaturonrusamee, C., et al., Tinea capitis mimicking folliculitis decalvans. Mycoses, 2011. 54(1): p. 87-8.

11.       Lin, C.Y., et al., The survey of tinea capitis and scalp dermatophyte carriage in nursing home residents. Med Mycol, 2018. 56(2): p. 180-185.

12.       Hay, R.J., Tinea Capitis: Current Status. Mycopathologia, 2017. 182(1-2): p. 87-93.

13.       Aharaz, A., et al., Tinea capitis asymptomatic carriers: what is the evidence behind treatment? J Eur Acad Dermatol Venereol, 2021. 35(11): p. 2199-2207.

14.       Leung, A.K.C., et al., Tinea Capitis: An Updated Review. Recent Pat Inflamm Allergy Drug Discov, 2020. 14(1): p. 58-68.

15.       Kakourou, T., U. Uksal, and D. European Society for Pediatric, Guidelines for the management of tinea capitis in children. Pediatr Dermatol, 2010. 27(3): p. 226-8.

16.       Merola, J.F., A. Qureshi, and M.E. Husni, Underdiagnosed and undertreated psoriasis: Nuances of treating psoriasis affecting the scalp, face, intertriginous areas, genitals, hands, feet, and nails. Dermatol Ther, 2018. 31(3): p. e12589.

17.       Wang, T.S. and T.F. Tsai, Managing Scalp Psoriasis: An Evidence-Based Review. Am J Clin Dermatol, 2017. 18(1): p. 17-43.

18.       da Silva, F.O., Psoríase no couro cabeludo: síntese das principais evidências clínicas. BWS Journal, 2021. 4: p. 1-11.

19.       Gustafson, C.J., et al., Combination therapy in psoriasis: an evidence-based review. Am J Clin Dermatol, 2013. 14(1): p. 9-25.

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

Compartilhe Esse Conteúdo
Facebook
Twitter
LinkedIn
Dra. Juliana Toma

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

Últimos Posts

newsletter

Receba Novidades Por E-mail

Deixe um Comentário

Postagens Relacionadas

Anosognosia: tudo sobre o assunto

Anosognosia: o que é, sintomas e principais causas

Anosognosia é uma condição neurológica caracterizada por uma falta de consciência ou negação de uma doença ou deficiência, mais comumente observada em pacientes com danos cerebrais ou distúrbios neurológicos.  Esquecimentos são comuns,

Continue Lendo
categorias

Pesquise por Categoria

Urologia

Sintomas

Reumatologia

Radiologia

Psiquiatria

Psicologia

Pediatria

Otorrinolarigonlogia

Ortopedia

Oncologia

Oftalmologia

Nutrição

Notícias

Neurologia

Neurocirurgia

Nefrologia

Medicina Esportiva

Mastologia

Infectologia

Ginecologia e Obstetrícia

Gerontologia

Geriatria

Gastroenterologia

Fisioterapia

Fisiatria

Farmácia

Endocrinologia

Educação Física

Dor

Doenças

Dermatologia

Curiosidades

Clínica Médica

Cirurgia Vascular

Cirurgia Plástica

Canabidiol

Biomedicina

Artigos

Alergia

Acupuntura

newsletter

Receba Novidades Por E-mail