Dor de Cabeça Forte – O que pode ser? Causas, sintomas e Tratamentos

Você provavelmente já sentiu uma dor de cabeça incômoda, com durações variadas, e em locais diferentes.

Entretanto, uma dor de cabeça muito forte, acompanhada ou não de outros sintomas, deve ser motivo para procurar ajuda médica para correto manejo, além de possibilitar o diagnóstico precoce de doenças mais sérias [1]. Abaixo, iremos descobrir um pouco mais sobre isso.

Quando procurar ajuda médica

Antes mesmo de entendermos os principais motivos para essa dor de cabeça severa, é importante observarmos os principais sinais para procurar um pronto-atendimento, uma vez que esse sintoma pode indicar um problema maior na saúde [1, 2].

  • Quando esses sintomas estão presentes: visão dupla, dores no pescoço e nos olhos – pode ser um indicativo de aneurisma;
  • Quando a dor é constante e crônica, com duração de dias, e acomete a região da testa e parte frontal da cabeça, além de estar acompanhada de sintomas como sensibilidade sensorial, olhos vermelhos, náusea e vômitos – indicativo de enxaqueca;
  • A dor tem localização nas maçãs do rosto e na região acima dos olhos, além de uma característica inflamação dos seios da face – sinal de sinusite;
  • Quando ela é muito frequente;
  • Quando essa dor de cabeça severa ocorre pela primeira vez;
  • Se há suspeita da relação da dor de cabeça com algum trauma na cabeça;
  • Associação com erupção cutânea e convulsão, e que se observa uma piora mesmo com tratamento.

Principais motivos para uma dor de cabeça forte

Dores de cabeça primárias

Define-se como dores de cabeça primária aquelas que não são resultantes de qualquer outro sintoma ou doença [3]. Dentro desta classificação, destaca-se a dor de cabeça tensional, e a dor de cabeça em salvas.

A dor de cabeça tensional é uma das mais frequentes em adultos [4] e em crianças [5], porém raramente acompanha uma cefaleia grave [6, 7], e portanto poucos pacientes acabam procurando atendimento médico.

Com caráter crônico, episódico e bilateral [8], sua frequência é mais incapacitante do que o grau de dor dos pacientes [7].

Sua fisiopatologia cursa com os receptores sensoriais do sistema nervoso central[9], e seu tratamento é geralmente farmacológico [7, 8].

Já a dor de cabeça em salvas é bem menos frequente (prevalência de 0,2 a 0,3%), e tem como característica ser aguda, severa e ardente, de caráter unilateral e que possui piora durante a noite. Seus ataques possuem duração média de 15 a 180 minutos.

Alguns gatilhos podem levar a uma maior probabilidade do início dos sintomas, como o uso de vasodilatadores, como o álcool.

Causa de dor de cabeça forteDiagnósticoSintomas
EnxaquecasTC, ressonância magnética, exame neurológicoDor latejante, náusea, sensibilidade à luz e ao som
TensãoExame físico, exame neurológicoDor incômoda e incômoda, aperto ou pressão na cabeça
Cluster (Cefaléia em Salvas)Exame físico, ressonância magnética, tomografia computadorizada, exames de sangueDor intensa e lancinante, lacrimejamento ou vermelhidão nos olhos
Uso excessivo de medicamentosExame físico, exames de sangue, tomografia computadorizada, ressonância magnéticaAgravamento dos sintomas de dor de cabeça, dores de cabeça rebote
Sinusite agudaExame físico, tomografia computadorizada, exames de sangueDor na testa ou ao redor dos olhos, pressão no rosto e nariz
MeningiteExames de sangue, punção lombar, tomografia computadorizada, ressonância magnéticaForte dor de cabeça, febre, confusão, rigidez de nuca, náuseas, vômitos
AVCExame físico, exames de sangue, tomografia computadorizada, ressonância magnéticaCabeça de cabeça repentina e intensa, tontura, confusão, dormência, paralisia
AneurismaTomografia, ressonância magnética, angiogramaCabeça de cabeça repentina e intensa, náusea, vômito, torcicolo

Enxaqueca

A enxaqueca tem como característica ser uma dor latejante, de intensidade moderada a intensa, pulsante e unilateral [1, 7, 8], cujas crises podem durar horas.

Esse quadro de cefaleia representa 95% das pessoas com dores de cabeça forte a procurarem ajuda médica [6], e mesmo assim é um quadro bastante subdiagnosticado [5].

Geralmente uma crise de enxaqueca vem acompanhada de outros sintomas como vômitos, náusea, e sensibilidade à luz [1, 7, 8], podendo ou não vir acompanhada de um episódio denominado “aura”, caracterizado como um sintoma neurológico visual ou sensitivo.

O tratamento clássico para a enxaqueca envolve duas frentes [8]: a farmacológica, onde recomenda-se o uso de analgésicos [3], e evitar os denominados “gatilhos” como prevenção de novas crises [1].

Sintoma neurológico grave – Trombose

Dores de cabeça intensa e latejante de início recente e progressivo [10] e acompanhadas de febre, erupção cutânea e redução do nível de consciência podem estar relacionadas com a trombose [2].

A dor de cabeça forte pode estar presente antes do diagnóstico, com dores intensas na região occipital e presença de visão turva [11], ou como dor de cabeça residual[12], o que diminui a qualidade de vida do paciente.

A relação entre a cefaleia e a trombose se dá pelo aumento na pressão intracraniana e até possível hemorragia encefálica[10]. Estima-se que essa forte dor seja o sintoma mais frequente da trombose cerebral[13], o que aumenta a necessidade de procura médica.

Aneurisma

Dores de cabeça forte também podem ser um sinal clássico da presença de um aneurisma, que pode se romper e sangrar.

As cefaleias relacionadas com aneurisma têm como características ser em trovoada – ou seja, súbita, intensa, com pico de intensidade máxima em segundos ou minutos[2] – e ficar mais forte com o tempo, além de não responder com analgésicos[14, 15].

Ainda, uma forte dor de cabeça também pode ser um indicativo de que o aneurisma estourou [16], o que aumenta ainda a gravidade da situação.

meningite

Acidente Vascular Cerebral (AVC)

A característica da dor de cabeça relacionada a episódios de AVC é ser súbita e lancinante, especialmente quando relacionada ao AVC hemorrágico [17]. Ainda, o paciente pode demonstrar outros sintomas como dificuldade na fala e movimento, paralisia facial, e formigamento dos membros.

Um estudo com vários pacientes diagnosticados com AVC isquêmico observou que a dor de cabeça forte foi concomitante ao início do acidente vascular, tendo uma duração prolongada, e características como aumento de intensidade, além de alteração da localização da dor [18] durante o quadro.

Meningite

 A meningite é definida como uma inflamação das meninges gerada por uma infecção viral ou bacteriana, sendo muitas vezes um quadro contagioso.

Dentre seus sintomas mais comuns, destacam-se a cefaleia forte, que pode ser aguda, subaguda ou crônica [19], acompanhada de febre e às vezes vômito [20]. Essas dores de cabeça, tão frequentes, ocorrem pelo envolvimento das meninges nesta patologia, além de quadros inflamatórios associados.

Ainda, estima-se que a gravidade da dor de cabeça seja uma medida indireta das alterações do sistema nervoso central e, portanto, quanto mais intenso o quadro, maior parece ser a relação com a morte e a invalidez do paciente [19].

Portanto, se você sentir uma dor de cabeça forte, acompanhada ou não de outros sintomas, procure ajuda médica! A detecção precoce do motivo para essa cefaleia pode salvar vidas.


Tratamento – possibilidades iniciais

Causa da dor de cabeçaTratamento
EnxaquecasTriptanos, AINEs, antieméticos, alcalóides do ergot
TensãoAINEs, relaxantes musculares, anticonvulsivantes, antidepressivos
ClusterAlcalóides da cravagem do centeio, triptanos, corticosteróides, lítio, anticonvulsivantes
Uso excessivo de medicamentosTriptanos, AINEs, SSRIs, SNRIs
SinusAINEs, descongestionantes, anti-histamínicos, corticosteróides
MeningiteAntibióticos, antivirais, corticosteróides
AVCTerapia trombolítica, aspirina, anticoagulantes, medicamentos para pressão arterial
AneurismaCirurgia, embolização endovascular, embolização


Enxaquecas e cefaléias primárias – Dor de cabeça forte – mensagem geral

Enxaquecas e dores de cabeça são um problema comum que muitas pessoas enfrentam. Aqueles que experimentam esses sintomas devem compreender o significado do diagnóstico e a variabilidade dos sintomas.

Um diagnóstico é necessário para que os indivíduos compreendam a causa de sua dor de cabeça e/ou enxaqueca. Conhecer a causa pode ajudar os indivíduos a selecionar a opção de tratamento ideal.

Existem várias causas potenciais para dores de cabeça e enxaquecas, incluindo estresse, dieta, desidratação e flutuações hormonais. Ao compreender a causa, os indivíduos podem começar a formular um plano para gerenciar a condição.

Enxaquecas e dores de cabeça se manifestam de maneira diferente em cada indivíduo. Os sintomas podem variar de leve a grave e diferem entre os indivíduos. Saber o tipo de dor de cabeça e/ou enxaqueca que uma pessoa está sentindo pode ajudá-la a determinar a estratégia de tratamento mais eficaz. Portanto, é essencial prestar muita atenção a cada sintoma e procurar possíveis gatilhos.

Se as dores de cabeça e enxaquecas se tornarem persistentes ou interferirem nas atividades diárias, é importante procurar atendimento médico. Um médico pode ajudar no diagnóstico e tratamento da doença. Além disso, eles podem ajudar os indivíduos a desenvolver uma estratégia para controlar os sintomas e prevenir futuras dores de cabeça e/ou enxaquecas.


Conclusão

Em suma, dores de cabeça e enxaquecas são uma doença comum experimentada por muitos indivíduos. É essencial compreender o significado do diagnóstico e a diversidade dos sintomas. Além disso, é essencial prestar muita atenção a cada sintoma e procurar possíveis gatilhos.

Se as dores de cabeça e enxaquecas se tornarem persistentes ou começarem a interferir nas atividades diárias, é essencial procurar assistência médica para desenvolver um plano para tratar a condição.


Referências

1.         Clinic, M. Headaches: Treatment depends on your diagnosis and symptoms. 2019; Available from: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/chronic-daily-headaches/in-depth/headaches/art-20047375.

2.         Sekhon, S., R. Sharma, and M. Cascella, Thunderclap Headache, in StatPearls. 2022: Treasure Island (FL).

3.         School, H.M. Headache: When to worry, what to do. 2020; Available from: https://www.health.harvard.edu/pain/headache-when-to-worry-what-to-do.

4.         Wang, Y., et al., Classification and clinical features of headache patients: an outpatient clinic study from China. J Headache Pain, 2011. 12(5): p. 561-7.

5.         Al Momani, M., B.A. Almomani, and A.T. Masri, The clinical characteristics of primary headache and associated factors in children: A retrospective descriptive study. Ann Med Surg (Lond), 2021. 65: p. 102374.

6.         Friedman, B.W., et al., Use of the emergency department for severe headache. A population-based study. Headache, 2009. 49(1): p. 21-30.

7.         Belyaeva, II, et al., Pharmacogenetics in Primary Headache Disorders. Front Pharmacol, 2021. 12: p. 820214.

8.         Kahriman, A. and S. Zhu, Migraine and Tension-Type Headache. Semin Neurol, 2018. 38(6): p. 608-618.

9.         Monteith, T.S. and M.L. Oshinsky, Tension-type headache with medication overuse: pathophysiology and clinical implications. Curr Pain Headache Rep, 2009. 13(6): p. 463-9.

10.       Sparaco, M., M. Feleppa, and M.E. Bigal, Cerebral Venous Thrombosis and Headache–A Case-Series. Headache, 2015. 55(6): p. 806-14.

11.       Chaudhary, P., et al., Severe headache as a presenting complaint in sigmoid sinus thrombosis complicated by functional overlay. Ind Psychiatry J, 2015. 24(1): p. 79-81.

12.       Ji, K., et al., Risk Factors for Severe Residual Headache in Cerebral Venous Thrombosis. Stroke, 2021. 52(2): p. 531-536.

13.       Timoteo, A., et al., Headache as the sole presentation of cerebral venous thrombosis: a prospective study. J Headache Pain, 2012. 13(6): p. 487-90.

14.       Cianfoni, A., et al., Clinical presentation of cerebral aneurysms. Eur J Radiol, 2013. 82(10): p. 1618-22.

15.       Witham, T.F. and A.M. Kaufmann, Unruptured cerebral aneurysm producing a thunderclap headache. Am J Emerg Med, 2000. 18(1): p. 88-90.

16.       Hong, C.K., et al., The Course of Headache in Patients With Moderate-to-Severe Headache Due to Aneurysmal Subarachnoid Hemorrhage: A Retrospective Cross-Sectional Study. Headache, 2015. 55(7): p. 992-9.

17.       Jamieson, D.G., N.T. Cheng, and M. Skliut, Headache and acute stroke. Curr Pain Headache Rep, 2014. 18(9): p. 444.

18.       Lebedeva, E.R., et al., Headache at onset of first-ever ischemic stroke: Clinical characteristics and predictors. Eur J Neurol, 2021. 28(3): p. 852-860.

19.       Kumar, S., et al., Prevalence and outcome of headache in tuberculous meningitis. Neurosciences (Riyadh), 2016. 21(2): p. 138-44.

20.       Iguchi, M., et al., Diagnostic test accuracy of jolt accentuation for headache in acute meningitis in the emergency setting. Cochrane Database Syst Rev, 2020. 6(6): p. CD012824.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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