O diagnóstico cutâneo muitas vezes pode ser baseado simplesmente em análise visual. No entanto, nem sempre um dermatologista consegue fechar um diagnóstico apenas olhando uma lesão. Eles podem se deparar com situações em que a possibilidade de múltiplos diferenciais complica o diagnóstico, exigindo investigações para confirmação.
Os métodos mais comuns utilizados para o diagnóstico cutâneo podem ser invasivos (como biópsia de pele e de couro cabeludo) ou semi-invasivos (incluindo esfregaços cutâneos e tricograma).
A dermatoscopia é um método não invasivo que tem sido bastante útil para avaliar lesões cutâneas suspeitas. Por meio dessa técnica, o médico dermatologista consegue identificar lesões, diferenciando lesões melanocíticas de lesões displásicas, melanomas ou cânceres de pele não melanoma.
Além disso, o uso da dermatoscopia tem se expandido para o diagnóstico de distúrbios dermatológicos, incluindo dermatose pigmentar, dermatose inflamatória, dermatose infecciosa e distúrbios do cabelo, couro cabeludo e unhas.
Sobre o equipamento
Um dermatoscópio é um instrumento que simula funcionalmente uma lente de aumento, mas com recursos adicionais, como uma ampliação muito maior e um sistema de iluminação ajustável embutido.
Ao contrário de uma lente de mão com iluminação embutida, o dermatoscópio permite a visualização além da superfície da pele, superando os problemas de reflexão e dispersão da luz pelo estrato córneo. Com ele, é possível avaliar estruturas até a profundidade da derme reticular.
O princípio fundamental da dermatoscopia é a transiluminação de uma lesão, permitindo seu estudo com alta ampliação para visualizar características sutis.
A dermatoscopia convencional refere-se ao uso de um dermatoscópio que não possui um processador eletrônico de imagem, onde o médico visualiza a lesão apenas através das lentes do aparelho. Geralmente, a ampliação da imagem é limitada a até 20 vezes. Alguns dermatoscópios convencionais podem permitir a conexão de uma câmera fotográfica.
No entanto, hoje já existe a dermatoscopia “digital”. A dermatoscopia digital é o processo de adquirir e armazenar fotografias dermatoscópicas em formato digital utilizando uma câmera digital, dispositivos inteligentes como smartphones e tablets, ou outros dispositivos dedicados à captura de imagens. Esses aparelhos funcionam como microcâmeras, em que a imagem é processada por um computador ou celular e exibida em uma tela. A ampliação da imagem pode chegar até 70 vezes, com alta resolução. Tendo a capacidade de gravar as imagens em formato digital, elas podem ser armazenadas para comparações futuras.
Existem duas formas de armazenamento de imagens: (1) armazenamento local físico em discos rígidos internos e externos e (2) armazenamento remoto, como o armazenamento em nuvem.
Os avanços recentes na fabricação de dermatoscópios incluem a redução nas dimensões e volume do dispositivo, a incorporação de conectividade Wi-Fi em dermatoscópios USB, a análise de imagem digital e esforços para integrar inteligência artificial visando criar uma unidade de diagnóstico automatizada.
A importância da dermatoscopia digital na detecção precoce do melanoma
A detecção precoce desempenha um papel fundamental na redução da mortalidade e do impacto econômico do melanoma. Pacientes com alto risco de desenvolver melanoma necessitam de monitoramento contínuo a longo prazo.
O acompanhamento dos pacientes com melanoma é crucial por diversos motivos. O diagnóstico precoce é a única maneira de reduzir a mortalidade associada ao melanoma. No entanto, a identificação precisa pode ser desafiadora, uma vez que os melanomas iniciais podem se assemelhar a nevos comuns. A excisão sistemática de todas as lesões pigmentadas é dispendiosa e ineficiente.
Além disso, a remoção de todos os nevos se torna inviável em pacientes com um grande número deles, embora esses pacientes tenham um risco significativamente maior de desenvolver melanoma, exigindo, assim, vigilância a longo prazo.
A dermatoscopia digital possibilita o armazenamento e a recuperação de imagens dermatoscópicas, proporcionando uma análise comparativa ao longo do tempo das lesões cutâneas pigmentadas em diferentes intervalos. Seu principal benefício está relacionado a lesões melanocíticas atípicas, que são difíceis de diagnosticar por meio da dermatoscopia óptica convencional, como nevos benignos ou melanomas muito precoces. Além do exame patológico, que requer a remoção prévia e o diagnóstico das lesões, o acompanhamento da evolução das lesões ajuda a determinar se são benignas ou malignas.
Já foi comprovado que a dermatoscopia digital favorece a detecção precoce de melanoma, incluindo casos em que não há características clínicas e dermatoscópicas típicas de melanoma, conhecidos como “melanomas sem características”. Embora a literatura sobre dermatoscopia digital tenda a concentrar o seu uso em pacientes com um grande número de nevos, essa técnica também é frequentemente empregada para monitorar uma única ou um pequeno número de lesões melanocíticas atípicas.
A dermatoscopia digital desempenha um papel importante no acompanhamento das lesões ao longo do tempo. A comparação de imagens de alta qualidade oferece oportunidades adicionais para um diagnóstico preciso de um melanoma que inicialmente não apresentava características distintas. A incorporação do acompanhamento por dermatoscopia digital na prática clínica diária demonstrou possibilitar a detecção precoce do melanoma e resultar em significativa redução no número de excisões desnecessárias em comparação com o uso exclusivo da dermatoscopia convencional.
Essas vantagens da dermatoscopia digital foram confirmadas por um estudo publicado em 2017 no periódico Acta Dermato-Venereologica. Nesse estudo, o uso do acompanhamento por meio da dermatoscopia digital em pacientes resultou em melhores resultados. A adoção de programas combinados de acompanhamento, que incluem o mapeamento corporal total juntamente com a dermatoscopia digital, proporcionaram melhorias adicionais no diagnóstico precoce e na precisão diagnóstica.
Embora a dermatoscopia melhore consideravelmente a precisão diagnóstica entre observadores treinados, a sua sensibilidade não é de 100%. O melanoma, assim como a maioria dos cânceres, sofre alterações ao longo do tempo. Então, a dermatoscopia digital, quando realizada por profissionais devidamente treinados em pacientes adequados, amplia ainda mais a precisão diagnóstica. O treinamento adequado é, portanto, de extrema importância tanto para dermatologistas quanto para médicos de clínica geral.
Em populações de alto risco para o desenvolvimento de melanoma, a combinação do mapeamento corporal total e da dermatoscopia digital permite a detecção de melanomas em estágios iniciais e reduz significativamente o número de excisões desnecessárias. O acompanhamento a longo prazo é necessário nessas populações de alto risco para possibilitar a detecção de melanomas de crescimento lento.
Complicações
Por ser uma técnica não invasiva, a dermatoscopia é geralmente segura, livre de complicações significativas. No entanto, há uma pequena possibilidade de infecção cruzada entre os pacientes, principalmente na dermatoscopia de contato. Para reduzir essa possibilidade, existem algumas medidas que podem ser adotadas para prevenir a infecção cruzada:
- Uso de dermatoscopia sem contato polarizada;
- Desinfecção da lente (no caso da dermatoscopia de contato) ou da borda do videodermatoscópio USB com álcool isopropílico após cada exame realizado em um paciente;
- Uso de materiais transparentes descartáveis, como película aderente ou tampas plásticas macias, para proteção das lentes durante o exame dermatoscópico. Esses itens são fornecidos gratuitamente na maioria dos dermatoscópios de alta qualidade, principalmente em videodermatoscópios portáteis e USB.