Como acabar com a insônia?

Você deita na cama a noite, vira de um lado e do outro e não consegue dormir. Ou acorda várias vezes no meio da noite, demorando a pegar no sono novamente.

Ou desperta horas antes do necessário. Se você se identifica com estas afirmações, e tais sintomas persistem por mais de um mês [1], você pode estar sofrendo de insônia.

A insônia é um quadro médico definido pela dificuldade de iniciar ou manter o sono restaurador [1, 2], e ter resistência a dormir em horários pré-estabelecidos [3-5].

Seus casos aumentaram consideravelmente após a pandemia pela COVID-19: estima-se que o número de pessoas com insônia subiu de 30% da população mundial [6, 7] para cerca de 55% [8], onde apenas 5% destes procuram ajuda médica [1] para o controle do quadro.

Em sua fisiopatologia, observa-se uma disfunção hipotalâmica ou defeito na produção de melatonina [4].

Sintomas de insônia crônicaExplicação
Dificuldade em adormecerDificuldade para adormecer à noite, mesmo quando estão se sentindo cansados. Isso pode ser devido a uma variedade de fatores, incluindo estresse, ansiedade, depressão, dor ou problemas de estilo de vida.
Acordar frequentemente durante a noitePodem acordar várias vezes durante a noite e ter dificuldade em voltar a dormir. Isso pode ser devido a estresse, ansiedade, depressão ou outras condições médicas, como apneia do sono.
Acordar muito cedoAcordar mais cedo do que o desejado e ter dificuldade em voltar a dormir. Isso pode ser devido a estresse, ansiedade, depressão ou outras condições médicas, como apneia do sono.
Sentir-se cansado durante o diaSonolência diurna excessiva, fadiga e diminuição da concentração ao longo do dia. Isso pode ocorrer devido à falta de sono de qualidade à noite, bem como a outros fatores, como estresse, ansiedade ou depressão.
Dificuldade de concentraçãoDificuldade de concentração ou foco em tarefas ao longo do dia. Isso pode ocorrer devido à falta de sono de qualidade, bem como a outros fatores, como estresse, ansiedade ou depressão.
Mudanças de humorAlterações de humor, incluindo irritabilidade, ansiedade ou depressão. Isso pode ocorrer devido à falta de sono de qualidade, bem como a outros fatores, como estresse, ansiedade ou depressão.

Diversas condições podem desencadear a insônia, desde episódios pontuais de estresse, doenças psicológicas como ansiedade e depressão, até condições médicas como apneia do sono e síndrome das pernas inquietas [9].

Hábitos não saudáveis também contribuem para exacerbar este quadro. Ainda, a insônia pode ser fator de risco para desenvolvimento de depressão e ansiedade [10], perda de memória [5], além de aumentar o risco de acidentes por falta de atenção [2], levando a um grande impacto social e econômico[7].

CausaDescrição
Eventos estressantes da vidaUm evento traumático ou estressante pode levar à insônia crônica.
Condições médicasAlgumas condições médicas, como dor crônica, podem levar à insônia crônica.
MedicamentosCertos medicamentos, como os para depressão, podem interferir no sono.
Uso de substânciasO uso de substâncias, como álcool, pode atrapalhar seu ciclo sono-vigília.
Poucos hábitos de sonoDesenvolver maus hábitos de sono, como ir para a cama muito tarde ou usar aparelhos eletrônicos antes de dormir, pode levar à insônia crônica.

Portanto, saber como lidar ou acabar com a insônia é de extrema importância para a melhoria da qualidade de vida.

O tratamento da insônia

Diversas estratégias multidisciplinares [9]podem ser traçadas para melhorar o sono, sendo que apenas alterar os hábitos de vida são suficiente para 70 a 80% dos indivíduos [1], sem necessidade de uso de medicamentos.

Abaixo, veremos as principais abordagens indicadas para melhorar a qualidade do sono:

Tratamento natural para a insônia

O tratamento com ervas, extratos e chás para a insônia é um dos mais antigos, e de forma geral são métodos seguros e bem tolerados, embora pesquisas revisadas por pares ainda sejam escassas [7].

cha 1

Dentre as plantas mais estudadas, destaca-se a valeriana, que demonstrou melhora geral na indução e na qualidade do sono, a lavanda, que atua na qualidade do sono e possui efeitos ansiolíticos, a camomila, que pode ser utilizada em forma de extrato ou chá, melhorando a qualidade geral do sono e sua latência, e o extrato kava-kava, que tem propriedades sedativas e afrodisíacas [7, 11].

Também destaca-se a inalação de certos óleos voláteis (aromaterapia), como a lavanda, camomila e o ylang-ylang, para a geração do efeito sedativo, sonífero e calmante [11].

Suplementação de melatonina

Uma das propostas fisiopatologia da insônia é a falta de produção de melatonina, então suplementá-la pode ser interessante. Indicado principalmente para pessoas idosas, àqueles que trabalham no período noturno, e pessoas com algum déficit visual, a suplementação de melatonina apresenta pouco efeito colateral e demonstra melhora nos aspectos do sono.

Entretanto, seu uso no Brasil ainda é restrito, sendo comercializado apenas em farmácias de manipulação [2].

Terapia não medicamentosa

Diversos recursos terapêuticos indicam alterações em hábitos de vida para a melhoria do sono. Uma das frentes que estuda e propõe estas alterações é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) [1, 2], bastante eficaz a longo prazo [12].

Essa terapia destina-se a analisar os hábitos do paciente, e tentar remanejá-los de maneira a influenciar positivamente nos aspectos de sono.

Dentre as propostas, destacam-se a terapia de higiene do sono, e a técnica de restrição do sono [6, 9].

A terapia de higiene do sono [1, 2, 4, 6, 13] é um conjunto de práticas que tem como objetivo estabelecer uma rotina a ser realizada perto do horário de dormir, como evitar o uso de telas azuis; evitar ingestão de substâncias estimulantes como nicotina, cafeína e álcool; e tomar banho em temperatura agradável.

A prática de exercícios físicos também é um importante da higiene do sono [10, 14], embora o melhor horário para realizá-los ainda esteja em discussão [3].

Já a terapia de restrição de sono recomenda evitar ficar na cama por longos períodos de tempo que não envolvam dormir [5, 6].

Cochilos durante o dia com duração maior de uma hora também são desestimulados.

Esses hábitos de forma isolada se demonstraram bastante eficazes para melhoria na latência do sono, tempo acordado e eficiência geral do sono [15].

Entretanto, a combinação com o uso de medicamentos podem levar a melhores resultados gerais [15].

Terapia medicamentosa

Para o tratamento medicamentoso, remédios benzodiazepínicos como Lorazepam, Clonazepam e Diazepam costumam ser a primeira escolha [1, 4].

Recentemente, popularizou-se a prescrição do remédio Zolpidem [9], um hipnótico não-diazepínico com menor meia-vida que leva a uma sedação mais rápida [4], embora a sua ingestão possa ser associada com efeitos colaterais como confusão, tontura e sonolência diurna [3].

Ainda, para o tratamento de insônia secundária, é recomendado o uso de fármacos que auxiliem na causa primária – por exemplo, um antidepressivo para depressão e ansiedade, e antipsicótico para casos de psicose[1].

É importante reiterar que apenas o tratamento medicamentoso sem alterações dos hábitos de sono é menos eficaz para o tratamento da insônia.

Por outro lado, técnicas de readequação de hábitos de vida com a conjugação de medicamentos, sendo eles benzodiazepínicos ou não, leva a uma melhor eficiência e taxa de remissão quando comparado apenas às terapias não medicamentosas [15] – este efeito, inclusive, é melhorado quando os medicamentos são descontinuados depois de poucos meses prescritos [15].

A insônia tem cura, e seu manejo pode ser simples quando acompanhado por um profissional. Procure ajuda quando observar dificuldades persistentes em dormir ou manter o sono. Não se automedique.

Referências

1.         Berlim, M.T., M.I. Lobato, and G.G. Manfro, Diretrizes e algoritmo para o manejo da insônia. Psicofármacos: Consulta Rápida, Porto Alegre, 2005: p. 385-396.

2.         ROSA, R.C. and A. BORJA, O USO DA MELATONINA NA INSÔNIA.

3.         Kay-Stacey, M. and H. Attarian, Advances in the management of chronic insomnia. BMJ, 2016. 354: p. i2123.

4.         Limandri, B.J., Insomnia: Will Medication Bring Rest? Journal of psychosocial nursing and mental health services, 2018. 56(7): p. 9-14.

5.         Bootzin, R.R. and D.R. Epstein, Understanding and treating insomnia. Annu Rev Clin Psychol, 2011. 7: p. 435-58.

6.         Maness, D.L. and M. Khan, Nonpharmacologic Management of Chronic Insomnia. Am Fam Physician, 2015. 92(12): p. 1058-64.

7.         Guadagna, S., et al., Plant Extracts for Sleep Disturbances: A Systematic Review. Evid Based Complement Alternat Med, 2020. 2020: p. 3792390.

8.         Palagini, L. and C. Bianchini, Pharmacotherapeutic management of insomnia and effects on sleep processes, neural plasticity, and brain systems modulating stress: A narrative review. Front Neurosci, 2022. 16: p. 893015.

9.         Edinoff, A.N., et al., Zolpidem: Efficacy and Side Effects for Insomnia. Health Psychol Res, 2021. 9(1): p. 24927.

10.       Passos, G.S., et al., Tratamento não farmacológico para a insônia crônica. Brazilian Journal of Psychiatry, 2007. 29: p. 279-282.

11.       Wheatley, D., Medicinal plants for insomnia: a review of their pharmacology, efficacy and tolerability. J Psychopharmacol, 2005. 19(4): p. 414-21.

12.       Davidson, J.R., C. Dickson, and H. Han, Cognitive behavioural treatment for insomnia in primary care: a systematic review of sleep outcomes. Br J Gen Pract, 2019. 69(686): p. e657-e664.

13.       Nunes, M.L. and O. Bruni, Insomnia in childhood and adolescence: clinical aspects, diagnosis, and therapeutic approach. J Pediatr (Rio J), 2015. 91(6 Suppl 1): p. S26-35.

14.       OLIVEIRA, L.M.F.T.d., C.E.V. FEITOSA, and J.C.d. SILVA, A influência dos diferentes tipos de exercício na insônia: uma revisão sistemática. 2016.

15.       Morin, C.M., et al., Cognitive behavioral therapy, singly and combined with medication, for persistent insomnia: a randomized controlled trial. JAMA, 2009. 301(19): p. 2005-15.

Dra. Celia Yunes Portiolli

CRM-SP 27971 / RQE 5148 – 19469 Médica Pediatra e Especialista em Acupuntura Área de Atuação em Dor pela AMB (Associação Médica Brasileira), Coordenadora do Curso de Especialização em Acupuntura do CEIMEC – Centro de Estudo Integrado em Medicina Chinesa Médica colaboradora do Ambulatório de Acupuntura do Centro de Dor da Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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