Cólicas Intestinais: o que são, por que acontecem e o que fazer

Você sofre de cólicas intestinais? Nesse texto iremos explicar o que são, porque elas acontecem e o que fazer em cada caso

As cólicas intestinais, que ocorrem devido a espasmos na musculatura dos intestinos delgado e grosso, costumam ser consideradas dores de leve a moderadas, e podem ocorrer por diferentes causas e acarretar em diferentes sintomas.

De maneira geral, as cólicas intestinais podem acontecer como consequência de qualquer substância, microrganismo ou situação que irrite o trato gastrointestinal (principalmente os intestinos) e leve a uma maior produção de gases e/ou inicie um processo inflamatório no local.

Mecanismos

As cólicas intestinais estão intimamente relacionadas a alterações na motilidade e funcionamento do intestino. Entender esses mecanismos ajuda a compreender melhor essa condição tão comum.

A motilidade intestinal refere-se aos movimentos de contração e relaxamento que ocorrem no tubo digestivo e que impulsionam o bolo alimentar. Quando esse processo está alterado, podem ocorrer contrações mais lentas ou rápidas que o normal, espasmos, movimentos descoordenados ou encorecidos, que levam à dor.

Um dos gatilhos mais conhecidos das cólicas é a gastrocolite, que consiste no reflexo que normalmente ocorre após as refeições, no qual o enchimento gástrico induz movimentos propulsivos no cólon. Em pessoas sensíveis, esse reflexo é exacerbado, causando contrações colonicas intensas e dolorosas.

Processos inflamatórios de qualquer natureza no intestino, como infecções, doenças inflamatórias intestinais e reações a intolerâncias alimentares, também podem alterar a motilidade, aumentar a secreção e a distensão da parede intestinal, levando a cólicas.

A distensão da parede do intestino por acúmulo de gases, fezes ou obstruções é outro fator diretamente relacionado. A dilatação das fibras musculares estimula terminações nervosas sensoriais na musculatura lisa, interpretada pelo cérebro como a dor tipo cólica.

Além disso, a microbiota intestinal alterada, como no caso de disbiose, supersuplementação e intolerâncias alimentares, produz uma maior quantidade de gases e substâncias irritativas, gerando inflamação, hipersensibilidade e hipermotilidade.

Sintomas de Cólicas Intestinais

As cólicas intestinais caracterizam-se pela presença de dor abdominal, geralmente ao redor do umbigo, causada por contrações involuntárias dos músculos da parede intestinal (peristalse).

Dor Abdominal

A dor é intermitente e costuma vir em ondas, aumentando gradualmente e diminuindo em intensidade. Pode ser classificada como espasmódica ou em cólica. Acomete principalmente a região periumbilical, podendo se irradiar para flancos, região lombar ou virilha.

O processo envolve a distensão da musculatura lisa intestinal pelo acúmulo de gases, fezes ou alimentos. Isto estimula os neurônios sensoriais viscerais a liberarem neuropeptídeos como a substância P, que sensibilizam as terminações nervosas, levando ao espasmo refleixo das fibras musculares circulares e à dor.

Inchaço Abdominal

O inchaço (distensão abdominal) ocorre pelo acúmulo de gases e aumento da pressão intra-abdominal. Além dos gases, a inflamação da parede intestinal também contribui para a distensão.

O estímulo mecânico da distensão ativa reflexos que levam ao espasmo e contração das fibras musculares. Isto impede a progressão do conteúdo intestinal, resultando em mais distensão e dor.

CausaExplicação
Acúmulo de gasesProdução excessiva ou dificuldade na eliminação de gases intestinais pode distender o intestino.
Má digestãoDigestão inadequada de alimentos leva à fermentação e produção de gases.
ConstipaçãoRetenção de fezes endurecidas aumenta o diâmetro intestinal.
Obstrução intestinalObstáculo mecânico impede o esvaziamento intestinal adequado.
InflamaçãoProcessos inflamatórios como SII e DII causam edema da parede intestinal.
Má absorçãoDefeitos na absorção de nutrientes levam à distensão por excesso de líquido intestinal.

Alterações Intestinais

Diarreia ou prisão de ventre podem estar presentes, dependendo da causa das cólicas. A diarreia é explicada pelo reflexo gastro-cólico, que acelera o trânsito intestinal em resposta à dor. Já a prisão de ventre ocorre pela contração reflexa dos músculos circulares do intestino.

Outros Sintomas

Náuseas, vômitos, falta de apetite e febre baixa podem surgir em alguns casos, por irritação do peritônio ou influxo simpático. Sintomas sistêmicos como mal-estar geral, ansiedade e sudorese fría também são comuns.

Cólicas intestinais: possíveis causas

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Entre as causas mais comuns das cólicas intestinais, podemos citar:

  • Intolerâncias alimentares: quando uma pessoa possui alguma intolerância (como a intolerância à lactose, por exemplo) e consome algo que contenha tal componente, é possível que ela apresente cólicas intestinais e entre outros sintomas, como gases e até mesmo diarreia.
  • Consumo de alimentos que aumentam naturalmente a produção de gases: alguns alimentos, como o feijão, o repolho e o ovo, possuem uma maior chance de produzirem gases no organismo se comparados a outros alimentos. Dessa forma, caso sejam consumidos em excesso, e/ou por uma pessoa com uma maior sensibilidade no trato gastrointestinal, é possível que tal consumo leve a uma produção de gases (flatulência) e portanto a cólicas intestinais. 
  • Infecções intestinais: as infecções intestinais podem ser virais, bacterianas ou parasitárias, e podem ocorrer em diferentes pontos dos intestinos e pelas mais diversas causas. Se tratando de casos de infecções em um dos intestinos, as cólicas intestinais costumam ser sintomas relativamente comuns.
  • Constipação: a constipação, ou prisão de ventre, é uma causa comum das cólicas intestinais. Normalmente sendo causada pela baixa ingestão de fibras, desidratação, sedentarismo ou pelo uso de alguns tipos de medicações.
  • Consumo excessivo de alimentos: em alguns casos, comer além do necessário, principalmente em casos de maior exagero, pode acabar acarretando em uma alteração das contrações do intestino, o que pode ocasionar em espasmos na musculatura da região e em cólicas intestinais.
  • Doenças de caráter inflamatório: as doenças inflamatórias intestinais, como a Doença de Crohn, a Diverticulite ou a Colite Ulcerativa, também apresentam dentre seus sintomas a cólica intestinal. Nesses casos, as dores costumam ter uma duração maior, e costuma ser necessário a realização de exames para que um diagnóstico seja fechado.
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Além dos casos citados acima, podemos generalizar um pouco, e indicar que a maioria das coisas que causam constipação, diarreia ou gases, tem potencial de causar também cólicas intestinais. 

Outros fatores de risco

Além das causas diretas, alguns outros fatores podem aumentar o risco de cólicas intestinais em certos indivíduos:

  • Estresse e ansiedade: o estresse crônico e transtornos de ansiedade podem alterar a motilidade intestinal, aumentando o tônus do músculo liso e gerando espasmos que levam às cólicas. Além disso, o estresse favorece a hipersensibilidade visceral.
  • Sedentarismo: a falta de exercícios físicos regulares está relacionada a um pior funcionamento do trato gastrointestinal. A atividade física ajuda a melhorar o trânsito intestinal, aliviar o estresse e minimizar episódios de cólicas.
  • Consumo de álcool: o álcool em excesso pode irritar o revestimento do intestino e desencadear cólicas abdominais. Além disso, bebidas alcoólicas contêm substâncias que estimulam a produção de ácido no estômago, o que também contribui para a dor.
  • Consumo de cafeína: o excesso de cafeína provoca um aumento da motilidade gastrointestinal, culminando em espasmos dolorosos. Pessoas sensíveis podem sofrer com cólicas mesmo com pequenas quantidades de cafeína.

Constipação crônica

Constipação crônica é uma condição comum na prática clínica, caracterizada por evacuações intestinais infrequentes e/ou difíceis, fezes endurecidas ou sensação de evacuação incompleta.

A prevalência da constipação crônica na população geral varia bastante entre estudos, com estimativas de 1,9% a 27,2% nos adultos.

Existem vários fatores que podem contribuir para a constipação crônica:

  • Fatores extrínsecos: baixa ingestão de fibras, de líquidos e de exercícios físicos; consumo de medicamentos (ex: opioides, antidepressivos, antiácidos com cálcio); comorbidades (ex: diabetes, hipotireoidismo); fatores psicológicos (ex: depressão, estresse).
  • Fatores intrínsecos: disfunção no assoalho pélvico (ex: anismus, dissinergia entre músculos puborretal e esfíncter anal externo); trânsito intestinal lento; hipossensibilidade retal; anomalias anatômicas (ex: retocele, prolapso retal).
  • A prevalência é maior em mulheres, idosos e institucionalizados. Fatores de risco incluem baixo nível socioeconômico, menor escolaridade, sedentarismo, abuso físico/sexual, eventos estressantes.

Por que a constipação pode gerar cólicas intestinais?

A constipação crônica pode levar a cólicas intestinais por alguns mecanismos:

  • O acúmulo de fezes endurecidas no cólon pode distender as paredes do intestino e causar dor tipo cólica. O estiramento da muscular da parede intestinal estimula as terminações nervosas sensitivas, gerando a sensação dolorosa.
  • O excesso de fezes no cólon também pode estimular contrações mais intensas do músculo liso intestinal na tentativa de promover a propulsão e evacuação, o que causa dor.
  • A estase fecal prolongada pode levar ao supercrescimento bacteriano no cólon, com produção excessiva de gases. Isso distende o intestino e provoca cólicas.
  • Em alguns casos, o trânsito intestinal lento está associado a alterações na motilidade, com contrações descoordenadas e espasmos do cólon, que também ocasionam dor tipo cólica.
  • A constipação crônica frequentemente coexiste com a síndrome do intestino irritável, onde a hipersensibilidade visceral e alterações na motilidade já predispõem a cólicas. A estase de fezes pode exacerbar essas alterações.
  • Complicações como fecalomas, obstrução intestinal e megacólon também podem ocorrer na constipação grave e levar a quadros obstrutivos dolorosos.

Onde as dores podem ocorrer e o que fazer

De maneira geral, as cólicas intestinais acontecem em toda a região do abdômen, ou podem também ocorrer mais centradas na parte inferior da barriga – também chamada de “pé” da barriga.

Caso não haja outros sintomas associados, ou apenas uma diarréia leve, é possível que se trate de um caso mais simples e provavelmente de causa alimentar, seja pela baixa ingestão de fibras ou pelo consumo de algo que não te faça bem (como casos de intolerantes a lactose, por exemplo).

Porém, alguns outros casos necessitam de cuidados maiores, incluindo uma visita a um pronto socorro ou clínico geral.

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Dessa forma, caso sinta dores muito fortes ou que durem por muito tempo (mais de 3 dias), apresente sangue nas fezes, febre, náusea, vômitos, dores no peito ou perda de apetite seguida por uma perda de peso, busque auxílio médico.

No geral, e principalmente quando não há outros sintomas envolvidos, as cólicas intestinais tendem a desaparecer sozinhas, sendo apenas recomendado que haja um período de  repouso, uma maior ingestão de líquidos e que uma alimentação mais leve seja mantida, evitando frituras e alimentos com alto teor de açúcares ou gorduras.

Tratamentos para Cólicas Intestinais

Para aliviar os sintomas das cólicas intestinais, vários tratamentos medicamentosos e naturais podem ser utilizados.

Medicações

Alguns medicamentos comuns utilizados são:

  • Analgésicos: para aliviar a dor abdominal associada às cólicas. Opções incluem paracetamol, dipirona e antiinflamatórios não esteroides como ibuprofeno.
  • Antiespasmódicos: ajudam a relaxar a musculatura intestinal, reduzindo os espasmos. Exemplos são drotaverina, procinéticos como o citrato de orfenadrina e anticolinérgicos como butilbrometo de escopolamina.
  • Laxantes osmóticos: como lactulose e sorbitol, podem ser usados em casos de prisão de ventre, para ajudar na eliminação e aliviar a dor.

É importante consultar um médico antes de utilizar qualquer medicamento, especialmente em casos recorrentes ou graves. O uso adequado e sob supervisão é essencial para evitar efeitos colaterais ou complicações.

MedicamentoDosagemEfeitos Colaterais
Drotaverina40-80mg, 3 vezes ao diaNáusea, vômito, tontura, dor de cabeça
Citrato de orfenadrina100mg, 3 vezes ao diaTontura, sonolência, retenção urinária
Butilbrometo de escopolamina10-20mg, 3 a 4 vezes ao diaBoca seca, visão turva, sonolência
Trimebutina200-300mg, 3 vezes ao diaTontura, náusea, dor de cabeça

Modificações na Dieta

Ajustes na alimentação também podem ajudar a prevenir e tratar as cólicas intestinais:

  • Aumentar a ingestão de fibras, consumindo mais frutas, verduras, cereais integrais. As fibras regulam o trânsito intestinal.
  • Evitar alimentos gordurosos, frituras, fast-foods. Estes podem desencadear as cólicas.
  • Reduzir ou eliminar lactose se houver intolerância à lactose. Bebidas vegetais sem lactose podem ser boas alternativas.
  • Evitar alimentos que causem gases, como feijão, repolho, cebola.
  • Beber bastante água para manter o intestino hidratado. Chás de camomila, boldo ou erva-cidreira também auxiliam.

Suplementos Úteis

Alguns suplementos naturais podem ajudar a reduzir espasmos, gases e melhorar os sintomas:

  • Probióticos, para restaurar a flora intestinal equilibrada.
  • Enzimas digestivas, melhoram a digestão de alimentos.
  • Óleos essenciais como hortelã-pimenta, podem reduzir gases e inchaço abdominal.
  • Fibras como psyllium ou mamão verde em pó, melhoram o trânsito intestinal.

Novamente, é recomendado consultar um médico antes de utilizar qualquer suplemento, para evitar interações ou efeitos adversos. Um tratamento combinado e personalizado tende a trazer os melhores resultados contra as cólicas intestinais.

Como aliviar as dores em casa

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Caso seu episódio de cólica intestinal seja mais simples, apenas com dores leves e sem outros sintomas, há algumas coisas que podem te auxiliar na redução do desconforto, como por exemplo:

  • Mantenha uma alimentação mais leve, e tente comer menos e em refeições menos espaçadas, comendo de pouco em pouco e a cada 3 horas.
  • Reduza a ingestão de produtos lácteos, como iogurtes, queijos e leites. Caso suspeite de uma possível intolerância à lactose, busque ajuda médica para realizar um exame e confirmar ou descartar essa possibilidade.
  • Tente não ingerir alimentos muito gordurosos enquanto as dores durarem (e se possível alguns dias depois), desta maneira, evite alimentos fritos, com muita manteiga, óleo ou azeite e industrializados que possuam alto nível de gordura em sua composição.
  • Faça uma massagem na região do abdômen. Nos casos envolvendo constipação, massagear a região pode auxiliar na soltura do intestino, e portanto na redução das dores – não realize massagens abdominais caso esteja com diarreia, uma vez que se trata de um sintoma oposto ao da constipação.

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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Dra. Juliana Toma

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

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