Efeitos do Estresse sobre Dor – Stress piora dor?

O estresse e a dor têm uma relação complexa e recíproca. O estresse pode tanto inibir quanto exacerbar a dor, dependendo se é agudo ou crônico. Por outro lado, a dor crônica também pode causar estresse. É importante entender essa interação para quebrar o ciclo vicioso entre estresse crônico e dor crônica.

Evolução do entendimento sobre dor

Nossos ancestrais viam a dor como um espírito maligno ou punição divina. Na renascença, pensadores como Descartes acreditavam que a dor era uma perturbação no corpo que enviava mensagens pelo nervo até o cérebro. Hoje sabemos que a experiência da dor é muito mais complicada, envolvendo várias estruturas cerebrais.

De forma simplificada, lesões teciduais levam à dor através dos nervos que carregam as mensagens da periferia até o cérebro. Porém, o cérebro não é um mero receptor passivo. Ele modula cuidadosamente o processamento dos sinais dolorosos dependendo da situação, inibindo ou facilitando a dor. Isso permite responder aos desafios do mundo físico e social.

O efeito do estresse agudo na dor

Em situações de perigo, o corpo entra em estado de estresse para se preparar para a luta ou fuga. O coração acelera, a pressão sobe, a respiração ofega, a atenção se concentra, a digestão para. Em termos sensoriais, o estresse agudo pode mascarar a dor, ativando vias inibitórias e neurotransmissores opioides e canabinoides endógenos.

Isso dá a oportunidade de escapar e depois o sistema doloroso se reequilibra. Então, o estresse agudo pode ser benéfico para sobreviver a ameaças.

O efeito do estresse crônico na dor

Infelizmente, com o estresse crônico, o equilíbrio da dor se desloca para um estado menos estável. O estresse crônico pode facilitar a dor, realçando vias facilitadoras e tornando o corpo menos sensível aos neurotransmissores inibitórios.

Consequentemente, o estresse crônico amplifica os inputs dolorosos. Um estímulo inócuo pode now causar dor crônica. Além disso, a dor crônica causa estresse, ansiedade e depressão, fechando o ciclo vicioso.

Teoria do Controle da Dor

A teoria do controle da porta da dor propõe que estímulos não dolorosos podem inibir a transmissão da dor ao sistema nervoso central. Isso ocorre porque os neurônios inibitórios bloqueiam os neurônios de projeção responsáveis por levar o sinal doloroso ao cérebro.

Alguns exemplos de como essa teoria é aplicada:

  • Fisioterapia utiliza exercícios e massagem para gerar impulsos não dolorosos que fecham o “portão” para a dor
  • Psicologia usa relaxamento e distração para fechar o portão
  • Procedimentos como estimulação nervosa geram impulsos elétricos para fechar o portão
  • Medicações analgésicas agem bioquimicamente para fechar o portão

Estratégias para quebrar o ciclo

A solução não é instantânea, já que o sistema sensibilizado demorou a se desenvolver. Porém, podemos atacar o problema em múltiplas frentes:

  • Modificações de estilo de vida:
    • Atividade física regular como fisioterapia, caminhadas, natação, ioga. Isso fortalece os músculos, aumenta a energia e melhora a função.
    • Sono adequado, pois a falta de sono aumenta hormônios do estresse.
    • Dieta saudável e balanceada para ajudar o corpo a se curar.
  • Adaptações psicológicas:
    • Mindfulness e relaxamento como meditação e respiração profunda para acalmar a mente.
    • Terapia cognitivo-comportamental para identificar e mudar pensamentos negativos sobre dor e estresse. Isso melhora o coping.
  • Suporte social:
    • Interação com família e amigos previne e alivia o estresse. Apoio social é crucial para reduzir o estresse.

Conclusão

Portanto, embora não exista uma bala de prata, com uma abordagem multifacetada podemos alcançar adequado controle da dor e restauração funcional. A chave é quebrar o ciclo vicioso entre estresse crônico e dor crônica.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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