CÓLICAS são comuns durante o período menstrual, embora a menstruação não seja considerada o único motivo para sentir dores na região pélvica.
Algumas mulheres sentem cólicas antes de menstruar, a chamada TPM, ou durante a menstruação. Mas podem sentir dores em momentos diferentes que não estejam relacionadas a esse período.
É normal se preocupar quando isso acontece, mas nem sempre é um problema grave.
Pode ser que você esteja sentindo dor em áreas próximas ao útero, como a bexiga ou o intestino, o que pode ser a razão pela qual você não está menstruando. Esta dor pode não ser exatamente uma cólica, mas outro tipo de desconforto que precisa ser investigado.
Por isso, nesse artigo, você irá aprender as principais condições que causam cólicas fora do período menstrual.
A dor pélvica fora do período menstrual pode ser causada por diversos fatores. Os mais comuns são ovulação, endometriose, mioma, doença inflamatória pélvica, adenomiose, estenose cervical e gravidez.
Lembrando que é importante consultar sua ginecologista, caso você esteja passando por essa situação. Mesmo sendo um problema simples de resolver, apenas um profissional capacitado poderá realizar o diagnóstico correto e o tratamento adequado para cada caso.
1. Ovulação
A ovulação é um processo fisiológico onde ocorre a ruptura e liberação do óvulo de seu ovário até a trompa de Falópio, onde tem o potencial de ser fertilizado.
Normalmente, esse processo acontece uma vez em cada ciclo menstrual, por volta do 14° dia de um ciclo típico de 28 dias.
O processo de ovulação causa alguns sintomas característicos, incluindo: secreção vaginal transparente que se assemelha à clara de ovo; alterações na libido, fazendo o desejo sexual aumentar; alterações no colo do útero, que pode ficar mais alto e aberto; e dor pélvica, que se assemelha à uma leve cólica.
Muitas mulheres confundem a ovulação com o período fértil, mas não são a mesma coisa. Na ovulação, o óvulo é liberado para ser fecundado, já o período fértil é um conjunto de dias próximos ao dia da ovulação, que é o período em que a mulher tem mais chances de engravidar.
2. Gravidez
As cólicas durante a gravidez podem parecer com cólicas menstruais ou ser semelhante a uma sensação de puxão na região abdominal, de um lado ou em ambos.
As cólicas são uma queixa comum durante a gestação, em especial durante o primeiro trimestre, decorrentes de mudanças durante o desenvolvimento do bebê.
No segundo semestre da gestação, a causa comum das cólicas está relacionada à dor no ligamento redondo, um músculo que sustenta o útero.
Quando esse músculo se estica, é comum sentir uma dor aguda na parte inferior do abdômen. Outras causas de cólicas na gravidez incluem: constipação, gases e relação sexual.
No primeiro trimestre da gravidez, as cólicas geralmente são leves e ocasionalmente necessitam de tratamento. Para aliviar esse incômodo, é recomendado que a gestante adote algumas medidas simples, como: praticar exercícios leves, tomar banhos mornos, realizar massagens suaves no abdômen, aumentar o consumo de água, comer alimentos leves e frequentemente, evitar alimentos gordurosos e ricos em carboidratos, adotar medidas de relaxamento, como yoga e meditação e diminuir o estresse.
Entre em contato imediatamente com seu médico, caso sinta cólicas acompanhadas de dor intensa que não melhora, dor abdominal com contrações, sangramentos, tonturas e cãibras com dor no pescoço e ombros.
3. Endometriose
A endometriose é uma doença crônica dependente de estrogênio, que é caracterizada pela implantação ectópica de tecido funcional que reveste o útero (glândulas endometriais e estroma) fora da cavidade uterina, ou seja, as células do tecido que revestem o útero (endométrio), ao invés de serem expulsas com a menstruação, acabam se direcionando para o lado oposto.
Os sintomas mais comuns são: dor pélvica (semelhante a cólicas intensas), dor durante as relações sexuais, diarreia e infertilidade.
Outros sintomas de endometriose incluem:
- Períodos dolorosos: sensação de cólicas, dor ou latejamento na parte inferior do abdome durante o ciclo menstrual.
- Sexo doloroso: desconforto ou dor durante, ou após a relação sexual.
- Dor lombar: dor incômoda ou intensa na região lombar, que pode piorar durante o ciclo menstrual.
- Períodos abundantes ou irregulares: fluxo menstrual mais pesado do que o normal ou períodos mais longos ou mais curtos do que o normal.
- Dor pélvica entre os períodos: sensação de dor persistente ou intermitente na região pélvica, que pode ser agravada pela atividade física ou relação sexual.
- Defecações dolorosas ou ao urinar: desconforto ou dor durante as evacuações, ou ao urinar.
- Infertilidade ou dificuldade em engravidar: incapacidade de engravidar ou dificuldade em engravidar após um ano de tentativas de engravidar.
- Fadiga: sensação de cansaço ou esgotamento extremo que não é aliviado pelo repouso.
- Náuseas: sensação de enjôo no estômago com vontade de vomitar.
- Diarréia: aumento da frequência de fezes moles e aquosas.
- Constipação: movimentos intestinais pouco frequentes ou difíceis.
- Inchaço: sensação de plenitude no abdome e/ou aumento do tamanho do abdome.
- Spotting entre períodos: sangramento vaginal fora de um ciclo menstrual normal.
- Infecções fúngicas frequentes ou infecções do trato urinário: infecções recorrentes da vagina (infecções fúngicas) ou do trato urinário.
O tecido endometrial cai com mais frequência nos ovários, mas também pode ser encontrado nas trompas de Falópio, no trato gastrointestinal e, menos frequentemente, na pleura, pericárdio ou sistema nervoso central.
O tratamento pode ser farmacológico, consistindo em anti-inflamatórios não esteroidais, progestágenos ou contraceptivos hormonais combinados, ou então tratamento cirúrgico.
4. Mioma
Miomas uterinos são neoplasias benignas muito comuns em mulheres em idade reprodutiva. São raros antes da puberdade e sua probabilidade aumenta à medida que as mulheres envelhecem, chegando a 80% em algumas mulheres antes da menopausa.
Embora benignos, os miomas podem ter um impacto significativo no bem-estar físico e mental diário das mulheres que possuem esse problema.
Os fatores de risco incluem: menarca precoce; obesidade; entrada tardia na menopausa; nunca ter tido filhos ou gravidez com perda gestacional; e histórico familiar de casos de miomas uterinos.
Os sintomas mais comuns envolvem sangramento uterino anormal, dor pélvica que se assemelha a cólicas, ruptura das estruturas pélvicas circundantes (intestino e bexiga) e dor nas costas.
Geralmente, os miomas uterinos são vistos em três locais importantes: fora do útero, dentro do miométrio e dentro da cavidade uterina.
O diagnóstico é realizado através de exame físico e ultrassonografia, que possuem alta sensibilidade para esta condição.
O tratamento visa diminuir os sintomas de sangramento e dor, com base em anticoncepcionais hormonais, agonista de GnRH e a administração de anti-inflamatórios não esteroidais. Com o aumento da gravidade dos sintomas, é recomendado o tratamento cirúrgico.
5. Doença Inflamatória Pélvica
A Doença Inflamatória pélvica (DIP) é uma inflamação no trato genital superior causada por uma infecção em mulheres, especialmente jovens e sexualmente ativas. Esse problema atinge o útero, as tubas uterinas, os ovários, a superfície peritoneal e demais estruturas relacionadas à região pélvica.
Os principais agentes infecciosos causadores são Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, mas Mycobacterium tuberculosis ou demais agentes causadores de vaginose bacteriana também podem ser responsáveis pela Doença Inflamatória Pélvica.
Sintomas incluem:
- Corrimento vaginal anormal: pode se referir a qualquer tipo de corrimento diferente do corrimento vaginal normal e saudável. Pode ser aguado ou espesso, amarelo ou verde e pode ter um odor desagradável.
- Dor ou sensibilidade na parte inferior do abdômen: Refere-se a qualquer tipo de dor ou desconforto na região abdominal inferior. Pode ser agudo ou opaco e pode ser constante ou intermitente.
- Dor ou sangramento durante o sexo: Dor ou sangramento durante a relação sexual pode ser um sinal de doença inflamatória pélvica. A dor pode ser sentida na parte inferior do abdômen ou na área genital.
- Febre: A febre é um sinal de infecção e pode ser um sintoma de doença inflamatória pélvicca.
- Micção dolorosa ou difícil: A micção dolorosa ou difícil pode ocorrer como um sintoma de doença inflamatória pélvica. Isso pode incluir uma sensação de queimação ou sensação de pressão ao urinar.
- Sangramento vaginal incomum (fora do período menstrual): qualquer sangramento que não ocorra durante o ciclo menstrual normal pode ser um sinal de doença inflamatória pélvica. Isso pode incluir manchas ou sangramento após o sexo.
- Evacuações dolorosas: evacuações dolorosas podem ocorrer como um sintoma de doença inflamatória pélvica. Isso pode incluir cólicas abdominais, inchaço ou desconforto.
- Calafrios: Os calafrios podem ser um sinal de infecção e podem ser um sintoma de doença inflamatória pélvica.
- Náuseas e vômitos: Náuseas e vômitos podem ocorrer como sintoma de doença inflamatória pélvica. Isso pode ser acompanhado por cólicas ou dor abdominal.
O tratamento consiste na administração de antibióticos para eliminar os agentes causadores da infecção. Quando essa doença é diagnosticada e tratada da forma adequada, os resultados são muito promissores, mas quando é ignorada, pode haver complicações de curto a longo prazo.
Conclusão
As dores pélvicas são tipicamente localizadas na região inferior do abdômen e podem ser classificadas em três quadros clínicos diferentes: dores pélvicas agudas ou não cíclicas, dores pélvicas cíclicas e dores pélvicas crônicas.
A cólica que ocorre fora do período menstrual pode ser considerada normal se for causada pela ovulação. Esses casos ocorrem em mulheres com ciclos regulares e cólicas menstruais.
Referências
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