Um Pouco Sobre A História
Na história evolutiva das intervenções terapêuticas, a Terapia Cognitivo Comportamental foi considerada a “quarta força” no campo das abordagens em psicoterapia diante da Psicanálise, do Behaviorismo e do Humanismo.
O surgimento das Terapias Cognitivos Comportamentais foi datado em 1960, sendo apenas notável manuscritos da teoria na década de 70. O médico Aaron Beck foi pioneiro no modelo conceitual da Terapia Cognitiva cuja finalidade era treinar habilidades cognitivas de pacientes com transtornos mentais graves.
A constituição da teoria da Terapia Cognitiva que, hoje é a base da Terapia Cognitivo Comportamental se concentra nas teorias da personalidade, conhecimentos básicos da psicopatologia, a estrutura da psicoterapia breve e os achados clínicos científicos acerca da sua eficácia enquanto procedimento terapêutico.
A integração de novos conhecimentos a abordagem cognitiva, como aspectos comportamentais favoreceu o desenvolvimento da Terapia Cognitivo Comportamental.
Entre as principais características dessa técnica terapêutica há três conceitos centrais que definem bem o seu escopo: o modo de pensar age sobre o comportamento, a atividade cognitiva pode ser observada e modificada, e o comportamento pode ser alterado baseado em padrões cognitivos.
Pode parecer complexo tal premissa, porém na Terapia Cognitivo Comportamental a justificativa da existência desse modelo teórico só ocorre basicamente, pois, acredita-se que há questões internas camufladas por cognições na mente.
Da Teoria A Prática Clínica
O desenvolvimento da teoria também foi influenciado por Albert Ellis e a Terapia Racional-Emotivo-Comportamental. Além dessa variante, apareceu Marvin Goldfried com a Reestruturação Racional Sistemática, Donald Meichenbaum com o Treinamento de Autoinstrução, a Terapia de Auto Controle e a Terapia de Resolução de Problemas.
Desse modo, a constituição do embasamento teórico da Terapia Cognitivo Comportamental abrange não apenas uma única corrente. Sendo ao mesmo tempo acessível, reflexível e clara, sua flexibilidade se adequa as técnicas a cada tipo de necessidade, ou seja, a cada condição psicológica ou transtorno psiquiátrico.
No modelo cognitivo, a teoria subjacente da Terapia Cognitivo Comportamental é de que crenças disfuncionais operam sobre o pensamento e humor geralmente em todos os transtornos mentais.
Como o paciente sente e age será exatamente a forma como ele reagirá ao mundo, pensamentos automáticos podem levar a respostas mal-adpatativas negativas e por consequência a avaliações cognitivas disfuncionais.
A proposta da Terapia Cognitiva Comportamental é fazer com que os pacientes sintam-se melhor psicologicamente, percebendo e ponderando seus pensamentos e crenças com o objetivo de refletirem e, quem sabe, adotarem uma postura mais realista ou funcional diante das situações e pessoas.
Para a Terapia Cognitivo Comportamental a formulação de alguns conceitos básicos é de extrema importância em sua teoria. A constatação das particularidades de cada definição corrobora para o conhecimento e compreensão do seu método.
Logo segue descrição dos principais conceitos:
A. Níveis de Processamento Cognitivo: acompanhar e apreciar contato com o ambiente externo, relacionar memórias do passado a vivências do presente, e monitorar e esboçar tarefas para o futuro;
B. Pensamentos Automáticos: pensamentos que operam em fluxo contínuo e de maneira rápida no subconsciente;
C. Erros Cognitivos: falhas nas formulações de lógica de pensamento;
D. Esquemas: preceitos duradouros de pensamentos com início na infância;
Fundamentação teórica da terapia cognitivo comportamental
Sobre a fundamentação teórica, a Terapia Cognitivo Comportamental trabalha com a correção de distorções cognitivas conscientes ou inconscientes, sobretudo, com interpretações que não condizem de maneira real, o que fomenta a uma lógica de correlações no mecanismo inferente do processo cognitivo.
No entanto, não está limitada a apenas isso. Também enfoca vivências emocionais, sintomas físicos e
comportamentais. Vejamos abaixo os erros cognitivos mais comuns listados pela Terapia Cognitivo
Comportamental:
- Catastrofização: cogitar a possibilidade de que algo ruim irá acontecer desconsiderando um
desfecho positivo; - Raciocínio Emocional: considerar que sentimentos são situações;
- Polarização: presumir que os desfechos e as pessoas se encaixam em duas categorias
dicotômicas; - Abstração Seletiva: concentra-se apenas no foco de um aspecto e os demais ignorá-lo;
- Adivinhação: acreditar que é possível antever o que irá acontecer;
- Leitura Mental: julgar que sabe o que se passa na mente das pessoas sem comprovação;
- Rotulação: rotular uma situação de modo geral;
- Desqualificação do Positivo: atributos positivos recebem qualificação negativa;
- Minimização ou Maximização: aspectos e consequências positivas são diminuídos em quaisquer
circunstâncias e os negativos são valorizados; - Personalização: assentir culpa em tudo que acontece de negativo, desconsiderando o outro
também pode estar envolvido no processo; - Hipergeneralização: crer que ocorre a mesma circunstância em todos os eventos;
- Imperativos: afirmar com robustez como as coisas deveriam ser e não como são;
- Vitimização: colocar-se na posição de injustiçado e mal-entendido;
- Questionalização: o objeto da atenção é aquilo que poderia ter acontecido e não o que
verdadeiramente aconteceu.
A Terapia Cognitivo Comportamental é conhecida por tais aspectos em sua prática: abordagem
ativa, sessões semiestruturadas e duração limitada pautada no tempo e principalmente nos objetivos
alicerçados pelo paciente e terapeuta.
Certamente, o alívio de problemas adaptativos ou relacionados à saúde emocional/mental que causem forte sofrimento na vida da pessoa do ponto de vista cognitivo comportamental é assinalado como adequados à prática dessa psicoterapia.
Princípios da Terapia Cognitivo Comportamental
Entre os princípios mais importantes da Terapia Cognitivo Comportamental têm-se:
- Princípio 1. Respeitar o desenvolvimento terapêutico e terminologia cognitiva dos pacientes;
- Princípio 2. Construir aliança terapêutica duradoura com os pacientes;
- Princípio 3. Ressaltar a participação e colaboração ativa dos pacientes;
- Princípio 4. A psicoterapia deve ser voltada aos objetivos com foco nos problemas dos pacientes;
- Princípio 5. A psicoterapia deve valorizar o momento presente dos pacientes;
- Princípio 6. A psicoterapia deve propor ações educativas e prevenção de recaída dos pacientes;
- Princípio 7. A psicoterapia deve ser limitada na duração do tempo para os pacientes;
- Princípio 8. A psicoterapia deve possuir sessões estruturadas para os pacientes;
- Princípio 9. A psicoterapia deve constatar, ponderar e responder aos pensamentos e crenças
disfuncionais dos pacientes; - Princípio 10. A psicoterapia deve utilizar técnicas para modificar pensamento, humor e
comportamento dos pacientes.
Como é a prática da Terapia Cognitivo Comportamental?
A prática da Terapia Cognitivo Comportamental ocorre da seguinte forma: dados do cliente; história
de vida; queixas/problemas; fatores estressores e situações gatilhos; crenças centrais e intermediárias;
origem e desenvolvimento das crenças; intervenções/medidas padronizadas e complementares; objetivos
e metas; e hipóteses diagnósticas. Nas sessões de psicoterapia, o terapeuta fornecerá ferramentas aos
pacientes no intuito de:
a) identificar quais são as crenças especificamente disfuncionais relacionadas ao transtorno;
b) assinalar quais são os erros cognitivos frequentes e como se caracterizam os pensamentos
automáticos;
c) descrever os sintomas físicos, emocionais e comportamentais fruto das cognições;
d) julgar quais comportamentos podem ser cultivados no enfrentamento de crenças disfuncionais;
e) perceber quais experiências do passado contribuem para a manutenção das crenças do presente.
Há estratégias auxiliares que cooperam na modificação da atenção durante o tratamento para
desvencilhar dos estímulos desencadeantes estressores, como Reestruturação Cognitiva, Meditação,
Procedimentos de Ativação e Modificação Comportamental, Exercícios de Relaxamento e Respiração, e
Estratégias de Aceitação e Exposição.
Hoje, a Teoria de Esquemas do psicólogo Jeffrey Young é a abordagem ampliada da Terapia Cognitivo Comportamental, cogitando que demandas emocionais não realizadas podem acarretar no desdobramento de esquemas desadaptativos prematuros.
Evidências Científicas
Atualmente, a Terapia Cognitivo Comportamental perfaz dentro dos tipos de tratamentos como um
dos mais indicados em quadros de saúde mental e física demonstrando eficácia em grande escala em
estudos realizados por pesquisas científicas mundialmente e, em especial, nos Estados Unidos.
Apenas
no final de 1980 as Terapias Cognitivas começaram a ser difundidas no Brasil.
Não obstante, estudos apontam que a Terapia Cognitivo Comportamental tem sido adaptada a diversos contextos, envolvendo o atendimento de crianças, idosos, casais, grupos, ambiente escolar, ambiente prisional e necessidade de autoconhecimento, por exemplo, independentemente do poder econômico, nível educacional ou cultura. Há fatores de boa resposta de pacientes a Terapia Cognitivo Comportamental:
- Taxas de resposta nas primeiras três a quatro sessões;
- Indícios de qualidade na resolução de problemas;
- Preservação da memória e capacidade de aprendizagem;
- Índices de autocontrole;
- Identificação com o modelo de tratamento;
- Presença de apoio familiar.
A despeito dos Transtornos Mentais Comuns (por exemplo: estresse, ansiedade e depressão), há
porcentagem significativa relacionada a crenças irracionais, porém os esquemas desadaptativos
demonstram maior associação com tais transtornos.
Ainda sobre seus benefícios, tem sido apontada como primordial abordagem terapêutica por ser efetiva na diminuição de sintomas e recorrência em grande parte dos transtornos psiquiátricos em acompanhamento com ou sem medicação.
Novas técnicas de tratamento vêm ganhando espaço e atenção dos especialistas, devido aumento
da eficácia dos tratamentos de saúde. Denominadas Terapias de Terceira Geração, esse modelo
integrativo são intervenções que combinam estratégias da Terapia Cognitiva aliada a Técnicas
Experienciais, visando minimizar comportamentos disfuncionais.
Entre as terapias mais conhecidas:
Mindfulness, Terapia de Aceitação e Compromisso, Terapia Focada na Compaixão e Terapia
Comportamental Dialética.
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