Atualmente, o álcool é considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) a droga que tem o maior impacto sobre a saúde mental das pessoas. O alcoolismo está entre os transtornos psiquiátricos mais observados no mundo ocidental, e vem se tornando cada vez mais comum e precoce no mundo inteiro, o que mostra como é importante manter as pessoas informadas sobre o assunto e incentivar o beber social e com moderação.
Em uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro do Fígado, foi calculado que mais de 55% da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, sendo que 17,2% delas declaram um aumento considerável do consumo da substância durante a pandemia de Covid-19, para o alívio de quadros de ansiedade por conta do isolamento social.
Você sabia que existem transtornos mentais causados pelo álcool? É sobre isso que falaremos ao longo deste artigo.
Acompanhe.
Quais são os principais transtornos mentais causados pelo álcool?
O álcool é uma das drogas lícitas que mais causa problemas de saúde em todo mundo, mas sem dúvidas, é o que mais causa problemas e transtornos da saúde mental. Com o passar do tempo, quando o paciente adquire o hábito de beber, fica mais propenso a desenvolver outros problemas de saúde graves.
Como o álcool é uma neurotoxina, afeta o cérebro de modo complexo, e dessa forma, pode causar diversas doenças, muitas vezes com consequências graves.
Abaixo, confira os problemas de saúde mental mais comuns relacionados ao álcool, saiba mais sobre eles e a sua relação com o consumo da droga, confira:
Transtorno mental | Causada ou agravada pelo abuso de álcool |
---|---|
Depressão | Sim |
Ansiedade | Sim |
Transtornos de personalidade | Sim |
Transtorno de Estresse Pós-Traumático | Sim |
Esquizofrenia | Sim |
Transtorno Bipolar | Sim |
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade | Sim |
Depressão
A depressão é uma doença séria e crônica que se caracteriza pelo distúrbio afetivo do paciente, que pode acompanhar o indivíduo por um médio período de tempo ou de forma persistente. É imprescindível, ao perceber uma mudança em seu comportamento, buscar ajuda para tratar o quanto antes essa condição.
Os principais sintomas da depressão são:
- Desinteresse no que antes era importante para si, falta de motivação e sensação de apatia;
- Desânimo e sensação de cansaço persistente;
- Necessidade ou sensação de maior esforço para cumprir suas tarefas;
- Diminuição ou incapacidade de sentir felicidade, alegria e prazer nas atividades que antes eram prazerosas para o paciente;
- Humor irritado, depressivo e sensação de ansiedade e angústia;
- Sentimentos de medo e insegurança sobre a sua vida;
- Crônica sensação de vazio e desamparo, se sentindo constantemente sozinho no mundo;
- Falta de vontade de fazer as tarefas cotidianas e dificuldade de decisão;
- Pessimismo em relação a sua vida, sensação de culpa e baixa estima;
- Pensamentos persecutórios (de perseguição);
- Pensamentos suicidas e ideações de morte;
- Dificuldade de manter o asseio e a higiene pessoal;
- Perda ou ganho excessivo de peso;
- Raciocínio mais lento e esquecimento;
- Diminuição do desempenho sexual e queda da libido;
- Dificuldade extrema de concentração.
Além disso, outros sintomas são associados a depressão, como insônia (o sono fica entrecortado, com múltiplos despertares a dificuldade de pegar no sono), despertar matinal precoce (geralmente duas ou três horas antes do horário habitual) e também a hipersonia, o excesso de sono que pode atrapalhar a sua rotina de vida, trabalho, relacionamentos, etc., trazendo a sensação de que precisa de mais horas dormindo.
O transtorno depressivo é uma via de mão dupla em relação ao consumo do álcool. O consumo persistente e exacerbado da droga pode desencadear quadros de depressão, e se for desenvolvido o quadro de alcoolismo, o paciente pode experimentar os males da depressão alcoólica. E, por outro lado, a depressão como doença psíquica primária, por dificultar a sensação de prazer e completude da vida para o paciente, pode desencadear o consumo em excesso de álcool, levando a quadros mais graves de vício e dependência química.
Ansiedade
Os transtornos de ansiedade e a ansiedade em si são um conjunto de doenças psiquiátricas marcadas pela preocupação excessiva ou constante de que algo ruim, negativo ou catastrófico irá acontecer. Durante as crises de ansiedade, o indivíduo que sofre com a condição não consegue focar no presente e no que está acontecendo de forma racional, sentindo um medo fora do comum e grande tensão, mesmo que não haja um motivo aparente.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 265 milhões de pessoas vivem com esse problema em todo mundo, mesmo sem saber ou ter um diagnóstico. O mais curioso de tudo é que nos últimos anos o Brasil foi o líder desse ranking de ansiedade global, transtorno que já afeta mais de 9,3% da população do país.
Os principais sintomas da ansiedade e a forma como se apresenta em nosso corpo e mente são:
- Crises de pânico;
- Falta de ar ao ter as crises de pânico;
- Medo de eventos sociais e exposição pessoal
- Medo irracional do futuro e de outras situações que possam lhe fazer mal;
- Tensão muscular e rigidez;
- Desenvolvimento de bruxismo, tanto à noite como em vigília;
- Preocupação excessiva, mesmo que seja infundada e sem razão;
- Insônia e sensação de dormir pouco;
- Cansaço físico e mental;
- Dificuldade de pensar com clareza;
- Sensação de constrangimento social;
- Sensação de desespero e descontrole em situações de estresse;
- Sintomas físicos e psicossomáticos: a ansiedade é uma doença da mente, mas pode trazer diversos sintomas físicos, pela sua intensidade. O paciente pode ter dores musculares, fisgadas nos músculos, tensão na nuca e ombros, sensação de corpo pesado, pressão no peito, nó na garganta, dificuldade de coordenação motora em crises, dores nos olhos e até mesmo problemas com incontinência em casos graves ou pessoas propensas ao quadro;
- Sintomas digestivos: assim como os sintomas físicos psicossomáticos podem se manifestar na vida de alguém que convive com a ansiedade, também são comuns os sintomas digestivos. Azia, refluxo, quadros de gastrite, flatulência, constipação; sensação de empachamento, enjoo, dores abdominais, diarreia e às vezes até mesmo urgência para evacuar ou urinar são apenas alguns dos sintomas que a ansiedade pode causar;
- Dificuldade de concentração e se manter no aqui e agora;
- Mente acelerada e dificuldade de controlar os pensamentos,
- Irritabilidade e humor inconstante.
Assim como muitas pessoas que têm depressão buscam no álcool e outras substâncias químicas uma forma de aliviar o sofrimento, também é com a ansiedade. A dependência e o uso excessivo de álcool pode ser uma das principais razões para o desenvolvimento de quadros ansiosos, pois o abuso da substância descontrola a liberação regular de substâncias cerebrais responsáveis pelo controle emocional do indivíduo, elevando a sua vulnerabilidade às crises.
O álcool aumenta o risco de ataques de pânico, que são ligados de forma direta à ansiedade, aumenta o risco de preocupação excessiva com o futuro ou com atos do dia ou noite anterior, devido ao abuso da substância, mesmo que a pessoa estivesse em plena consciência de que nada estava errado, e também, aumenta a vulnerabilidade do indivíduo para desenvolver comportamentos de risco, como fazer sexo desprotegido, dirgir embreagado ou sem habilitação, se envolver em brigas, etc.
Psicoses
A psicose, de forma resumida, é uma síndrome neurológica em que algumas partes do cérebro não funcionam normalmente devido à ação inadequada de alguns neurotransmissores, como a dopamina. A dopamina tem inúmeras funções no cérebro, sendo de grande importância para a comunicação entre os neurônios e atuando em diversos sistemas do nosso organismo.
Mas, o excesso da dopamina no nosso cérebro traz um dano direto a nossa vida, como alucinações, delírios, pensamentos e comportamentos desorganizados e alterações de personalidade.
Os sintomas da psicose são muitos, e se caracterizam por repetição de palavras e ações sem sentido, dificuldade de controlar as ações e fala, comportamentos de risco e pensamentos indesejados, até mesmo com ideação suicida.
Por ser um quadro grave, é extremamente importante que o paciente que tenha previamente esse diagnóstico não faça o consumo de álcool, pois o mesmo pode acarretar um quadro chamado psicose alcoólica, uma psicose secundária que tem alucinações relacionadas ao consumo crônico da substância ou a sua abstinência.
Com o consumo aumentando, já que níveis cada vez maiores de álcool podem produzir tolerância à substância, os quadros de psicose podem se agravar, trazendo ansiedade, angústia, comportamentos impulsivos, hiperatividade do sistema nervoso autônomo e quadros de insônia.
Esse transtorno em si não é causado pelo consumo de álcool, mas pode ser desencadeado, caso o indivíduo tenha propensão a doença. Relata-se na literatura médica com grande frequência uma ampla associação entre transtornos da personalidade antissocial e a predileção pelo consumo do álcool. Alguns estudos sugerem, até mesmo, que o transtorno de personalidade antissocial é mais comum em homens, que já são as pessoas com maior propensão social a desenvolver problemas relacionados ao álcool.
Alcoolismo
Por fim, no último estágio de dependência da substância, o indivíduo desenvolve alcoolismo, que não é considerado apenas um transtorno mental, mas um transtorno que envolve toda a saúde e tem a ver com o comportamento e vícios. É, de longe, um dos problemas mais sérios que o álcool pode desenvolver na vida de uma pessoa, afetando não somente a sua vida, mas a vida de quem o cerca.
Nos próximos tópicos iremos abordar um pouco mais sobre esse transtorno causado pelo álcool e como saber se você ou outra pessoa que conhece estão propensos ou apresentando sinais de alerta.
Alcoolismo é considerado uma doença?
Sim, o alcoolismo é considerado uma doença. Desde o ano de 1967, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o alcoolismo uma doença e recomenda que as autoridades médicas encarem esse assunto como uma importante questão de saúde pública.
O uso constante, desregrado, descontrolado e progressivo da substância compromete de forma definitiva o funcionamento mental e saúde física de um indivíduo, até mesmo levando a consequências irreversíveis, como no caso de cirrose hepática, lesões hepáticas, etc.
Quais são os sintomas do alcoolismo?
- Aumento da pressão arterial
- Amnésias anterógradas
- Déficits cognitivos temporários
- Diminuição dos reflexões
- Danos cerebrais irreversíveis, quando usado em grande quantidade.
É importante citar, também, os sintomas psíquicos e mentais do alcoolismo e de transtornos causados pelo consumo do álcool, como:
- Perda da inibição
- Comportamento de risco
- Perda de memória
- Alterações do humor
- Comportamento explosivo e violento
- Depressão e pensamentos suicidas,
- Diminuição da produtividade no trabalho;
- Prejuízo na vida familiar.
E, se você notar em si ou em alguém que conhece os comportamentos abaixo, não deixe de procurar ajuda médica e psicológica para tratar o problema o quanto antes:
- Beber sozinho ou em segredo;
- Armazenar bebidas alcoólicas em lugares improváveis;
- Apresentar problemas de relacionamento ou endividamento por conta da bebida;
- Sentir vontade incontrolável de beber;
- Precisar de mais quantidade de bebida para sentir os mesmos efeitos, etc.
Além disso, é importante citar que o consumo desenfreado de álcool está ligado a doenças como câncer de esôfago, estômago, língua e boca, problemas de vesícula biliar, cirrose hepática, lesões hepáticas, úlceras pépticas, gastrite, aumenta o risco de desnutrição, de problemas cardíacos e de pressão.
Há tratamento para o alcoolismo?
Atualmente o tratamento para alcoolismo consiste em terapia, tratamentos psicológicos, grupos de apoio e tratamento médico e psiquiátrico. Hoje em dia, já existem medicações desenvolvidas para ajudar nos casos de dependência química, como os antidepressivos naltrexona e bupropiona. Também, o estabilizador de humor topiramato vem sendo utilizado como parte do tratamento.
Tratamento | Descrição |
---|---|
Terapia Comportamental | Sessões de aconselhamento individual e em grupo com um terapeuta treinado. |
Medicamento | O uso de medicamentos para ajudar a controlar os sintomas físicos e psicológicos do abuso de álcool. |
Programas de 12 passos | Programas de apoio em grupo que seguem um programa estruturado de recuperação do abuso de álcool. |
Tratamento hospitalar | Programas de tratamento residencial que fornecem assistência médica e psicológica 24 horas por dia. |
Tratamento ambulatorial | Programas de internação parcial que oferecem terapia intensiva durante o dia, mas permitem que os pacientes voltem para casa à noite. |
Instalações de vida sóbria | Programas residenciais de longo prazo que fornecem um ambiente seguro e de apoio para a recuperação. |
Transtornos mentais causados pelo álcool: ao perceber qualquer sintoma, busque ajuda médica para garantir a qualidade de vida do paciente
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Se você tem notado qualquer um dos sintomas citados ao longo do artigo, não hesite em buscar auxílio médico e terapêutico, e assim, resgatar o seu bem-estar e qualidade de vida.
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