A ansiedade faz parte da condição humana e dos animais. Frente aquela oportunidade de emprego ou quando o cachorrinho é exposto a um estímulo que ele adora uma sensação de desconforto surge, porém tende a diminuir.
Isso é natural, é um processo adaptativo que o organismo promove para nos ajudar ao enfrentamento de situações. Podemos dizer que seria uma forma do organismo sinalizar momentos de bastante agitação, insegurança ou medo.
Desse modo, nos levaria a uma preservação de energia e experiências. Contudo, quando é possível diferençar a ansiedade patológica a uma simples ansiedade do dia a dia?
Como diferenciar a ansiedade?
Sendo uma manifestação fisiológica, é considerada normal quando se torna motivacional e conseguimos lidar com aquele momento, já o contrário desencadearia grande sofrimento significativo na vida social, escolar e profissional da pessoa.
Ansiedade – um problema de saúde pública
Taxas de prevalência de transtornos ansiosos no Brasil se assemelham a de outros países. Cerca de 19,9% da população brasileira concentrada nas regiões sudeste e sul possuem algum transtorno ansioso no ano e 28,1% da população na região metropolitana de São Paulo teria algum transtorno ansioso no decorrer da vida.
Especificamente, a prevalência ao longo da vida dos seguintes transtornos ansiosos pode ser observada como: 1,7% transtorno do pânico, 2,5% agorafobia, 7,7% ansiedade de separação, 3,7% transtorno de ansiedade generalizada, 5,6% fobia social, 12,4% fobia específica e 28,1% para qualquer transtorno de ansiedade.
Em breve análise, os valores obtidos podem indicar altos índices e persistência na progressão do quadro de saúde mental.
Ansiedade – mal do século XXI
É sabido pela ciência o quanto a ansiedade tem trazido malefícios à saúde física e mental para população geral e isso tem corroborado salientando a necessidade sobre o conhecimento das diferenças entre os vários tipos de ansiedade.
Catalogados em bases científicas, os critérios diagnósticos possibilitam avaliar pacientes a partir de métodos criteriosos, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) é utilizado como referência e menciona 11 tipos de ansiedade existentes na atualidade, como é possível observar abaixo.
- Ansiedade de Separação
- Mutismo Seletivo
- Fobia Específica
- Ansiedade Social
- Pânico
- Agorafobia
- Ansiedade Generalizada
- Ansiedade Induzida por Substância
- Ansiedade Devido Outra Condição Médica
- Outro Transtorno de Ansiedade Especificado
- Transtorno de Ansiedade Não Especificado
Para entendermos melhor os aspectos relevantes de cada tipo de ansiedade, vale salientar que, pelo menos em algum momento da vida já sentimos esses sintomas ou até já nos identificamos com comportamentos desse tipo, no entanto, isso não nos qualifica como portadores de um ou mais transtornos descritos acima.
Apenas um psiquiatra pode fazer um diagnóstico psiquiátrico.
11 Tipos de Ansiedade
Vejamos então os 11 tipos de ansiedade relacionados pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5):
1. Transtorno de Ansiedade de Separação:
Se caracteriza pelo forte medo da perda em se separar de um ente querido geralmente experienciado nos primeiros estágios de desenvolvimento da vida, assim causando sintomas excessivos de ansiedade, sofrimento emocional, preocupação, relutância, pesadelos e somatizações;
2. Mutismo Seletivo
Pode ser compreendido como aquela falta de êxito para falar em público de maneira persistente, influenciando na comunicação social não por desconhecimento do assunto em pauta, mas sim por uma imensa perturbação marcada pela ansiedade social;
3. Fobia Específica
É o medo conjunto à ansiedade desproporcional a situações ou objetos específicos, como animais, dirigir (amaxofobia), altura, voar, tomar injeção e sangue.
4. Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social)
É capaz de trazer bastante prejuízo às pessoas, pois todas às vezes o indivíduo se defronta com o estímulo fóbico e ocorre uma descarga emocional parecida a um ataque de pânico e ansiedade intensa. Existe medo frente à situação aversiva e a esquiva ativa será adotada frequentemente;
5. Transtorno de Pânico
É marcado por episódios ocasionais de intenso medo e ansiedade. Acontece sem motivo aparente, de modo contínuo e curta duração cada. Entre os critérios mais evidentes têm-se: tosse, palpitação, sudorese, tremor, falta de ar, sensação de asfixia, dor torácica, náusea, tontura, calafrio, formigamento, desrealização, despersonalização, medo de perder o controle e medo de morrer;
6. Agorafobia
A agorafobia é um transtorno de ansiedade que geralmente se desenvolve após um ou mais ataques de pânico.
Pode ser explicada como o medo acentuado e ansiedade proeminente de transporte público, espaços abertos, permanência em locais fechados, aglomerações e sair sozinho;
Os tratamentos incluem terapia e medicação.
7. Transtorno de Ansiedade Generalizada
É compreendido como presença desproporcional de preocupações e ansiedade a atividades reais ou supostamente imaginadas, acompanhada dos sintomas: inquietação, fadiga, dificuldade de concentração, irritação, tensão muscular e alteração no sono;
8. Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância/Medicamento
Vale da seguinte normativa: é importante que ocorra sintomas de ansiedade ou pânico acentuados após abuso, ou abstinência da substância, ou medicação;
9. O Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica
É descrito como efeito direto de outro processo fisiológico do organismo, ocorrendo naturalmente sintomas de ansiedade e até ataques de pânico;
10. Outro Transtorno de Ansiedade Especificado
O paciente não satisfaz os critérios descritos e, portanto, não é elegível para qualquer transtorno de ansiedade específico;
11. O Transtorno de Ansiedade Não Especificado
Geralmente esse diagnóstico é utilizado para nomear pacientes que ainda não possuem critérios bem definidos;
Importância do diagnóstico da ansiedade
A preocupação com o diagnóstico é de suma importância, será ele quem irá nortear o tratamento. Entretanto, tal condição deve ser encarada como balizador de estratégias de cuidado, como escolha de medicamentos, técnicas psicológicas e atividades que possibilitem mudança no estilo de vida.
Por mais desafiador que possa parecer, o diagnóstico de saúde mental ainda enfrenta uma série de tabus, um pouco menos do que antigamente, e cabe a nós disseminar esse olhar de condição clínica de saúde, como enxergamos outras doenças bem estabelecidas, a diabetes ou hipertensão, por exemplo.
Quem sabe, entre tantas dificuldades dentro da saúde mental, o diagnóstico passe a ser um dos menores desafios no tratamento humanizado.
Referências
- Lenhardtk, G.; Calvetti, P. U. Quando a Ansiedade Vira Doença?: Como Tratar Transtornos Ansiosos Sob a Perspectiva Cogntivo-Comportamental. Aletheia, v. 50, n. 1-2, p.111-122, 2017.
- Mangolini, V. I.; Andrade, l. H.; & Wang, Y. P. Epidemiologia dos Transtornos de Ansiedade em Regiões do Brasil: Uma Revisão de Literatura. Revista de Medicina, v. 98, n. 6, p. 415-422, 2019.
- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (American Psychiatric Association) 5ed. Porto alegre: Artmed, 2014.