“Padrão” sempre é um termo a ser questionado… Mas você sabe o porquê disso e a importância de questionarmos aquilo que a sociedade institui como padrão?
Se algo pode ser enquadrado dentro de um padrão issoimplica concomitantemente na existência de um espaço que existe fora e que diverge do que se entende por padrão. O uso do termo está imbricado com a noção de norma, ou seja, o que é considerado normal/padrão em determinado contexto.
A sociedade moderna é permeada por padrões sociais e estéticos que ditam como devemos nos comportar, como devemos nos vestir, o que devemos dizer ou não dizer e como devemos nos apresentar ao mundo. Essas normas, muitas vezes implícitas e opressivas, moldam nossa percepção da realidade e influenciam nossas escolhas diárias. Mas não é tão fácil reconhecer esses padrões na vida cotidiana, até porque na maioria das vezes são questões tão normativizadas que não se faz possível questioná-las se não as colocarmos em análise. Com a vida acontecendo e a correria do dia-a-dia, quase não há tempo para pensarmos nos motivos que nos levam a considerar algo como normal ou padrão. Ainda assim, eles estão ali, nos acompanhando e moldando nossos comportamentos e pensamentos…
Um exemplo disso é a noção de que a vida deve seguir um caminho: estudar, trabalhar, conhecer alguém do sexo oposto e casar, ter um filho. Em determinadas culturas, prevalece uma convicção enraizada de que o matrimônio e a paternidade são fases intrínsecas e vitais na trajetória de cada pessoa. Esse pensamento pode desencadear pressões discretas ou evidentes, mas que definitivamente instituíram na sociedade ocidental um padrão de vida; frequentemente relacionados a uma noção de “relógio biológico” que insinua uma redução da fertilidade com o avanço da idade.
Contudo, existem padrões sociais que, para além de uma noção de comportamento normativo, imbuem preocupações e pensamentos dismórficos sobre o próprio corpo, e isso é bem mais comum do que se pode imaginar.
Você já fez alguma dieta por achar que está “acima do peso”, considerando apenas a questão estética? Deixou de usar alguma roupa que gosta por medo do que possam falar? Fez algum tipo de procedimento estético para “parecer menos velha”? Se sua resposta foi sim para alguma dessas perguntas, você faz parte de um grande número da população que se sente insatisfeito com seu eu. É cômico pensar que o padrão estético é formado por um ideal de corpo que representa um número pouco expressivo quando pensamos na população em geral. Somos um país miscigenado, com corpos de diferentes cores, estaturas e medidas, mas que busca por um ideal de beleza que nada tem a ver com nosso povo.
Se sentir-se fora do padrão não fosse pesaroso o suficiente, existem distúrbios de imagem e pensamentos de inadequação social que se agravam e se tornam mais comuns conforme se idealiza um corpo perfeito.
Nesse texto, convido você a explorar as normas e padrões sociais para repensar a maneira como a sociedade molda nossas percepções sobre beleza, corpo e identidade, com o intuito de desconstruir esses padrões, expondo as estruturas de poder que os sustentam.
É necessário lembrar que: tudo é construção social! Como falado acima, um exemplo notável é a construção de papéis de gênero. A sociedade frequentemente estabelece expectativas rígidas sobre como homens e mulheres devem se comportar, o que podem desejar e como devem se apresentar. Esses padrões sociais criam uma pressão esmagadora sobre os indivíduos para se conformarem a essas normas, levando a conflitos internos e distorções da identidade quando não correspondemos com o esperado.
A estética desempenha um papel fundamental na perpetuação dos padrões sociais. As representações de beleza, muitas vezes filtradas pela indústria da moda, publicidade e mídia, moldam nossa percepção de como um corpo “ideal” deve ser. Essa estética da conformidade promove um conjunto restrito de características, frequentemente inatingíveis, que levam a distúrbios de imagem e à insatisfação corporal. De modo que se torna tarefa difícil e cada vez mais complexa o sentimento de pertencimento à sociedade e aceitação do corpo. A inadequação continuará existindo se continuarmos a nos colocar em comparação. É preciso lembrar, mesmo que pareça tão óbvio, que não há corpo ou pensamento que possa ser considerado idêntico, em algo sempre iremos diferir, dada nossa constituição social, corpórea, genética…
Devemos nos atentar que a inadequação parece constante principalmente porque os padrões sociais não são universais ou imutáveis, mas sim construções sociais – que podem e devem ser questionadas e desafiadas – que estão mudando conforme a mídia e o consumismo nos apresentam novos corpos e produtos a serem almejados. Ou seja, quando chega-se perto de atingir determinado padrão estético ele logo se renova.
Questionar a estética dominante e buscar entender como ela é construída e mantida pode ser uma das saídas que nos levem a aceitação de quem somos. A indústria da moda, por exemplo, muitas vezes impõe padrões rígidos de magreza e juventude, excluindo corpos diversos e envelhecimento natural. Ao revelar a arbitrariedade dessas normas estéticas, podemos encontrar espaços para desafiar a narrativa da conformidade e celebrar a diversidade de corpos e estilos.
É importante destacar que a estética não se limita apenas à aparência física, mas também se estende à estética comportamental. A sociedade muitas vezes valoriza a conformidade comportamental, marginalizando aqueles que se desviam das normas estabelecidas. Quando falamos de padrão social falamos de padrões que dizem não só como devemos parecer, mas também como devemos ser e como devemos pensar.
Ao reconhecer padrões normativos como contingentes e fluídos, podemos criar linhas de fuga que nos permitem explorar identidades e expressões diversas e autênticas. Isso é fundamental para aqueles que lutam com distúrbios de imagem relacionados à pressão para se conformar com padrões de beleza e comportamento.
Compreender o valor da diversidade e explorar as diferentes maneiras pelas quais as pessoas podem se expressar e interagir com o mundo pode nos aproximar de nós mesmos, fazendo assim com que as normas sociais e estéticas impactem cada vez menos nossa saúde mental.