A infância é a época da aventura. Durante essa época, as crianças usam de toda a sua curiosidade e, por vezes, teimosia, para aprender na prática como funciona o mundo à sua volta.
Normalmente, isso é um comportamento seguro e benéfico. Estando dentro de casa, sob supervisão dos pais, e mantida em um ambiente seguro, a criança passa a descobrir mais sobre todas as características desse pequeno mundo: as texturas, os cheiros, os gostos, como as coisas funcionam e porquê.
Mas, para sua própria saúde, precisam também passar certo tempo em ambientes externos, como no quintal, em ambientes naturais e na escola ou na creche. São ambientes que, mesmo com supervisão, apresentam menor previsibilidade, o que, em certos casos, pode trazer certos problemas.
Nessa idade, seu sistema imunológico ainda é pouco desenvolvido, o que as tornam mais suscetíveis a todo tipo de infecção. O contato com outras crianças, assim como a ocorrência de pequenos ferimentos, podem contribuir para isso. Ainda que essas doenças não sejam necessariamente sérias, causam bastante apreensão e dor de cabeça para os pais.
Uma das doenças comuns da infância é o impetigo. O impetigo comumente surge com a ocorrência de ferimentos ou diminuição da imunidade, sendo comumente caracterizado pelo surgimento de pequenos aglomerados de bolhas no corpo, de forma semelhante à herpes simples.
Porém, ao contrário da herpes simples, o impetigo é perfeitamente curável, visto que é causado por uma infecção bacteriana. Descreveremos os principais métodos de tratamento para impetigo ao longo deste artigo.
Tratamento para impetigo
O impetigo é uma infecção bacteriana causada por bactérias já presentes na nossa pele, como o Staphylococcus aureus e o Streptococcus pyogenes. Em certas condições, como uma queda na imunidade, a formação de algum ferimento ou a ocorrência de alguma outra doença, pode ocorrer uma infecção oportunista por parte delas, gerando o impetigo.
Essas bactérias também podem causar outras condições de pele comuns, como furúnculos, foliculite e acne.
Geralmente, os sintomas são leves, consistindo apenas na formação de algumas poucas bolhas, especialmente na região da boca e do nariz, sendo facilmente tratada. Mas, em alguns casos pode se espalhar pelo corpo todo e gerar complicações mais graves, especialmente se não tratada precocemente.
É essencial que, ao primeiro sinal do aparecimento das bolhas, seja procurado atendimento médico. Somente um dermatologista tem capacidade de diagnosticar a doença e o agente causador e, com isso, direcionar o tratamento para impetigo de forma a garantir a melhor recuperação.
Recuperação natural
Em certos casos, é possível que o impetigo seja curado naturalmente. Isso é especialmente o caso quando a infecção se limita a uma região pequena, com poucas bolhas, especialmente na região da boca e do nariz.
A infecção gera a formação das bolhas, que tendem a estourar e formar uma crosta amarelada, que se desprende da pele alguns dias depois. Nesses casos mais leves, as bolhas tendem a ser o único sintoma, tornando-a mais tolerável.
Porém, deve-se também tomar alguns cuidados. Mesmo em casos leves, o impetigo é contagioso, portanto, a criança deve ser mantida em casa enquanto durarem os sintomas, e o local afetado deve ser mantido limpo, especialmente quando as bolhas começarem a estourar, para evitar a transmissão da doença.
Por outro lado, é importante não optar pela automedicação e consultar um médico ao perceber o surgimento do impetigo. Existe a possibilidade da infecção evoluir e causar complicações graves, como a glomerulonefrite pós-estreptocócica, doença que pode causar falência renal, e a celulite infecciosa, que é potencialmente fatal.
Tratamento com antibióticos
O tratamento para impetigo com antibióticos apresenta diferentes abordagens de acordo com a intensidade da infecção.
Nos casos mais leves, em que o impetigo se mostra pequeno e limitado, o tratamento comumente se baseia no uso de antibióticos tópicos, isto é, aplicados no local afetado.
O antibiótico deve ser utilizado conforme receitado pelo médico, ao invés do tratamento ser parado após findarem os sintomas. Se o tratamento for parado precocemente, há o risco da infecção retornar e, dessa vez, estar mais resistente ao antibiótico utilizado, prejudicando a qualidade do tratamento.
Como as bactérias causadoras da doença são comuns na pele e causam também outros problemas de pele, algumas delas já apresentam resistência aos antibióticos mais comuns, o que dificulta o tratamento. O processo diagnóstico também busca identificar se o agente causador apresenta essa resistência ou não, para melhor direcionar o tratamento para impetigo.
Em casos mais graves, especialmente quando o impetigo se mostra distribuído pelo corpo e as bolhas são dolorosas, são receitados antibióticos por via oral. A necessidade de realizar o tratamento antibiótico completo também se aplica para este caso.
Para garantir que não ocorram complicações graves, é necessário que o tratamento seja iniciado em até 48 horas após o início dos sintomas. Por isso, o diagnóstico precoce é imprescindível para a obtenção dos melhores resultados.
Tratamento da glomerulonefrite pós-estreptocócica
A glomerulonefrite pós-estreptocócica é uma das possíveis complicações do impetigo, sendo mais comum nos casos mais graves e em pessoas que apresentam sistema imunológico comprometido, especificamente após um impetigo causado por bactérias da espécie Streptococcus pyogenes.
Glomerulonefrite é o nome dado a um tipo específico de doença renal que prejudica seu funcionamento. Consiste em uma doença autoimune, isto é, causada pela ação do próprio sistema imunológico, sendo comumente engatilhada após uma infecção, especialmente por parte de bactérias estreptococos.
Os sinais da doença são sutis. Geralmente não causa dor, mas prejudica a habilidade e qualidade da filtração dos rins. Como resultado, ocorre maior acúmulo de líquido no corpo, diminuindo a frequência urinária, aumentando a pressão arterial e inchando as pernas e o rosto. Além disso, há modificação da cor da urina.
Felizmente, o prognóstico tende a ser favorável, não evoluindo para falência renal em 85% a 95% dos casos. Geralmente não necessita de tratamento especializado, sendo apenas necessário tratar os sintomas (em especial o inchaço e a hipertensão) e adotar uma dieta mais restrita para auxiliar o funcionamento dos rins (restrição da ingestão de proteínas, sódio e líquidos).
Porém, o acompanhamento médico se mantém necessário. Em alguns casos, a condição pode evoluir para glomerulonefrite rapidamente progressiva, que, como o nome descreve, apresenta progressão mais rápida, o que implica em maiores probabilidades de resultar em falência renal.
Em crianças, as chances do quadro evoluir negativamente são consideravelmente menores que para os adultos, ocorrendo em apenas 1% dos casos.
Tratamento da celulite infecciosa
A celulite infecciosa é uma infecção da pele que tende a ser causada pelos mesmos agentes causadores do impetigo. Não apresenta relação com a lipodistrofia ginoide, acúmulo de gordura subcutâneo que causa um aspecto ondulado na pele, que é popularmente conhecido como “celulite”.
A causa mais comum da celulite infecciosa é a infecção por parte dessas bactérias através de um ferimento. Ao adentrar essa abertura, conseguem se multiplicar e se espalhar rapidamente pela pele, visto que apresentam enzimas específicas para isso.
Na maioria dos casos, a infecção é leve e não resulta em complicações. É caracterizada pela vermelhidão e inchaço do local afetado, e é facilmente tratada com o uso de antibióticos.
Porém, caso não seja tratada ou o paciente apresente sistema imunológico debilitado, é possível que a infecção se espalhe pelo corpo, se aproveitando do sistema linfático, o que é potencialmente letal. Em alguns casos, ela pode também evoluir para um quadro de rápida progressão, o que pode causar necrose.
Por isso, o diagnóstico médico precoce e o tratamento correto com antibióticos contribuem para uma melhoria mais rápida e melhores resultados em termos de possíveis sequelas.
No caso do impetigo, a celulite infecciosa pode se desenvolver em conjunto com ela, por exemplo, se aproveitando do mesmo ferimento, ou durante a ocorrência da doença, surgindo de alguma das bolhas. Portanto, o tratamento dela acontece concomitantemente ao impetigo, nem sempre sendo necessário tratamento específico.
Da mesma forma, a escolha do antibiótico também está sujeita à possibilidade dos agentes infecciosos apresentarem resistência aos antibióticos mais usados. Isso geralmente é investigado no caso da doença não estar respondendo ao tratamento, ou da pessoa apresentar sistema imunológico comprometido.
Sobre o impetigo
Existem três tipos de impetigo, que podem se desenvolver, dependendo do agente infeccioso e da gravidade da doença.
O impetigo comum é o causado pelas bactérias do tipo estreptococos, em especial a Streptococcus pyogenes, sendo responsável por 90% dos casos de impetigo. É caracterizado pelo surgimento de pequenas bolhas agrupadas, semelhantes a espinhas, que normalmente se aglomeram próximo ao nariz e à boca.
Com o passar do tempo, as bolhas estouram, liberando um líquido rico em bactérias, facilitando a transmissão da doença. As bolhas então dão lugar a feridas avermelhadas, que se tornam crostas amareladas ou alaranjadas, e estas se desprendem da pele após alguns dias.
É a forma mais leve, mas, sendo causada por estreptococos, pode em certos casos evoluir tanto glomerulonefrite quanto para celulite infecciosa. Portanto, é necessário acompanhamento médico.
O impetigo bolhoso consiste em um caso um pouco mais grave do impetigo. É causado pela bactéria Staphylococcus aureus, e resulta na formação de bolhas maiores e amareladas que se espalham por todo o tronco.
Ao contrário do impetigo comum, outros sintomas costumam acompanhá-la durante a permanência das bolhas, em especial, febre e mal-estar.
Com o tempo, as bolhas estouram, formando uma lesão inflamada. Neste caso, as lesões não formam crostas, mas desaparecem após alguns dias, sem deixar cicatrizes. Geralmente não causam dor, mas podem causar coceira. É importante evitar coçar as feridas para não possibilitar a ocorrência de outras infecções.
Ectima é o nome comumente dado à forma mais grave do impetigo. O agente causador dela costuma ser a Streptococcus pyogenes, mas também é possível que seja resultante de uma infecção conjunta com a Staphylococcus aureus.
Ao invés de bolhas, o principal sintoma da ectima é a formação de úlceras, normalmente nas pernas. São feridas pequenas e de cor escura, que demoram alguns dias para se curar e podem conter pus. Essas úlceras são o resultado de bolhas que se estouram, de forma semelhante aos outros tipos de impetigo.
A coloração é derivada de uma crosta que ela apresenta, sendo mais grossa que a gerada pelas outras formas do impetigo. As feridas se assemelham a perfurações ou “crateras”, visto que a área ao redor tende a ser inflamada e levemente inchada. Ao serem curadas, as feridas normalmente deixam cicatrizes permanentes.
Sendo uma infecção mais séria, também é comum que cause o inchaço dos gânglios linfáticos (íngua). Porém, geralmente não apresenta outros sintomas além desses.
Devido a essas diferenças, as pessoas costumam não reconhecê-la como um tipo de impetigo, embora o agente causador seja o mesmo. Por isso, a diferença de nome popular.
Porém, a ectima também pode ser causada por um outro agente não relacionado ao impetigo, o Pseudomonas aeruginosa. Os sintomas são semelhantes, mas apresentam maior tendência a evoluir para casos mais graves, sendo, por isso, conhecida como ectima gangrenosa.
Embora o impetigo e a ectima sejam mais comuns em crianças, podem ocorrer em pessoas de todas as idades. Os fatores envolvidos são a formação de um ambiente favorável à infecção. Em especial, o surgimento de um ferida, a ocorrência de alguma doença que favoreça a infecção ou o comprometimento do sistema imunológico.
Felizmente, manter uma boa higiene e manter os ferimentos limpos é uma forma fácil e eficaz de evitar a ocorrência de vários tipos de infecções, inclusive do impetigo e da ectima.
Conclusão
O impetigo é uma doença de pele comum em crianças, sendo resultante da infecção por bactérias já presentes na pele. Porém, pode também ocorrer em adultos, especialmente os que apresentam comprometimento do sistema imunológico.
As bactérias costumam entrar através de ferimentos, sendo seus principais sintomas a formação de bolhas seguida pela formação de feridas. Na maioria dos casos é leve, e a recuperação pode se dar naturalmente. Porém, é recomendado o uso de antibióticos, visto que a infecção pode evoluir para quadros mais graves.
O impetigo mais leve ocorre em 90% dos casos, e os sintomas geralmente são a formação de bolhas próximas ao nariz e à boca. Nos casos mais graves, as bolhas se formam em outras partes do corpo, e há maior chance de causarem complicações.