A possibilidade de homem viver mais de cem anos veio com o avanço da medicina. E, junto com ela, a descoberta dos medicamentos.
Os medicamentos são muitas vezes provenientes de substâncias produzidas por plantas, microrganismos e até mesmo animais.
No entanto, os efeitos dos remédios têm sido subestimados e, a automedicação é, atualmente, muito comum no mundo todo, estimado em 50% os medicamentos receitados ou vendidos de forma inadequada de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Só no Brasil, aproximadamente 35% dos medicamentos comprados nas farmácias não possuem receita médica.
Ainda, dados do Conselho Federal de Medicina indicam que 77% dos brasileiros fazem o uso de remédios sem qualquer orientação médica. No mundo, estima-se que um terço da população mundial não tem acesso fácil a medicamentos essenciais.
No entanto, o uso indiscriminado de medicamentos pode ter vários efeitos negativos. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estima que 18% das mortes por envenenamento no país são possivelmente causadas devido à automedicação, e 23% dos casos de intoxicação de crianças estão relacionadas a ingestão acidental de remédios armazenados em casa incorretamente.
Essa situação foi agravada com o maior acesso à internet, onde a população pode adquirir informações médicas com muita facilidade.
Principalmente no período de pandemia da COVID-19, a automedicação pode comprometer a saúde, tornando a pessoa ainda mais vulnerável aos riscos da doença, criando resistência do organismo ao tratamento correto.
Grande parte da população acabou sendo influenciada a buscar remédios por conta própria devido à circulação das chamadas fake news a respeito de medicamentos para combater o coronavírus, com destaque para os remédios hidroxicloroquina (antimalárico), a ivermectina (vermífugo) e a nitazoxanida.
Foi por estes motivos que a própria ANVISA criou até uma cartilha com orientações sobre o assunto.
Confira abaixo mais informações sobre os perigos de se automedicar.
O que é a automedicação?
A automedicação é definida como o ato de tomar remédios para aliviar sintomas sem orientação médica para diagnóstico apropriado, prescrição de receita ou acompanhamento do tratamento.
Conceito de automedicação
De acordo com a OMS, existem dois tipos de uso de medicamentos: o uso racional de medicamentos (URM) e o uso irracional.
O URM é caraterizado pela medicação associada às suas necessidades clínicas, com estipulação de dose e período para administração do medicamento recomendadas por um médico.
Já o uso irracional de medicamentos é caracterizado pelo uso abusivo dos mesmos, uso inadequado, uso excessivo de injetáveis, ou prescrições medicamentos que não estão de acordo com as diretrizes clínicas.
Quais os problemas de se automedicar?
1. Agravamento de doenças
A automedicação pode acabar agravando uma doença, pois o remédio tomado sem uma consulta médica prévia, pode esconder certos sintomas.
2. Resistência a antibióticos
O uso de antibióticos pode acabar gerando uma resistência contra bactérias, deixando-as superpotentes. Consequentemente, a eficácia dos próximos tratamentos, diminui.
Esta produção de superbactérias, estão criando um grande problema de saúde, pois elas estão cada vez mais presentes em hospitais e são a causa de muitas mortes, principalmente em pacientes mais debilitados.
3. Combinação inapropriada
A combinação inapropriada ou interação medicamentosa é o consumo de dois ou mais remédios que não poderiam ser administrados em conjunto. Quando lemos as bulas dos medicamentos, podemos ver que alguns deles não podem ser ingeridos em combinação com outros. Quando tomamos um remédio sem prescrição, há o risco de não nos atentarmos a este fato. A combinação inadequada dos medicamentos pode anular ou potencializar o efeito do outro.
Esta combinação inapropriada é muito comum com anticoncepcionais, antibióticos, e anticoagulantes em geral. Por isso, sempre leia a bula dos medicamentos dos quais faz uso contínuo antes de tomar outro.
4. Intoxicação ou reação alérgica
Outros problemas graves podem surgir do uso inadequado dos remédios, como reações alérgicas e intoxicação. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, aproximadamente 30 mil casos de internação no Brasil anualmente ocorrem devido à intoxicação farmacológica. Os remédios que mais intoxicam são analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios.
5. Dependência química
Algumas substâncias dos medicamentos podem levar o paciente a ficar viciado por conta da dose inadequada ou período inadequado de consumo.
6. Falência hepática.
Outra consequência grave de se automedicar é a falência hepática. A maioria dos medicamentos que consumimos são processados no fígado. Quando a ingestão de medicamentos é alta, há o risco de haver sobrecarga deste órgão e, consequentemente, sua falência.
Assim, o fígado não consegue realizar todas as suas funções para o corpo, que é essencial para a coagulação sanguínea, metabolismo e eliminação de toxinas, causando sérias complicações. Se o tratamento apropriado não for realizado, a falência hepática pode levar a morte.
Além de todos esses perigos, a automedicação também acaba criando um hábito ruim: o de acumular remédios em casa.
Essa prática pode acabar resultando em confusão entre os medicamentos, na ingestão acidental por crianças e idosos, no mau armazenamento dessas substâncias e consumo de medicamentos vencidos.
Causas de se automedicar
- Facilidade da comercialização
- Aspecto cultural
- Comodidade, uma vez que não é necessário realizar uma consulta médica
- Alta quantidade de informação médica disponível na internet
Exemplo de automedicação
Um exemplo recente de surto de automedicação foi no consumo indiscriminado de vitamina D. Durante a pandemia da COVID-19, muitas pessoas aumentaram a ingestão de suplementos a base de vitamina D por conta de seus efeitos sobre a imunidade.
No entanto, a vitamina D é um pré-hormônio que atua regulando o metabolismo do cálcio. Com isso, há o risco de haver intoxicação e excesso de cálcio no sangue. Esse quadro pode causar sintomas como confusão mental, náusea, insuficiência renal, pedra nos rins e, em casos mais graves até a morte.
Dicas
Sabendo dos riscos gravíssimos de se automedicar, é aconselhável que sempre consulte um profissional de saúde, de preferência um médico, antes de ingerir qualquer medicamento.
Somente o médico especialista poderá indicar qual o medicamento, a dose, e o período de tratamento adequado para seu problema de saúde. Com isso, você evita mascarar sintomas de uma doença mais grave e não corre o risco de ter complicações futuras.