Nada dá certo na minha vida: o que fazer?

vida

Encarei por alguns minutos a questão que dá título ao texto que se segue. “O que fazer quando nada dá certo na minha vida?”

Quando se chega perto dos 30 a vida parece cobrar mais, e responder a tal pergunta consome boa parte do dia.

Nem sempre foi assim…

Aos 17 anos tive muita incerteza de tudo aquilo que dizia respeito da minha vida profissional, mas isso não incomodava. Existe uma demarcação moderna que dita o que se faz e o que se deve faz em cada etapa da vida, percebem? Retome agora suas memórias e quais preocupações relacionadas a diferentes idades. É um exercício mental importante, no decorrer do texto iremos entender o motivo.

Lembro que, quando criança, minha maior preocupação era a de combinar meias coloridas com o uniforme da escola. A tendencia da moda era essa na época. Meias coloridas até o joelho com um par de sandália melissa. Explico. A ideia de pertencimento social caminha junto de nosso desenvolvimento pessoal. Pertencer a um espaço, grupo, é uma das coisas que mais traz segurança ao ser humano. Poder ser quem se é, ao lado de pessoas que se identificam com seu estilo de vida, nos faz sentir um conforto imenso, como se mais alguém no mundo tivesse preocupações parecidas com as nossas; como se mais alguém no mundo estivesse passando pela mesma etapa que você.

Aos 18 anos, bem diferente dos 9, me deparei com outra questão típica da idade: o que eu vou fazer da minha vida? – Eis aqui uma das grandes adversidades que caminham junto da humanidade. Determinar, a cada fase da vida e idade cronológica, um grandioso problema existencial a ser resolvido, que parece ficar mais complexo com cada vela apagada. Sinto falta de uma das minhas primeiras preocupações: combinar roupa com minhas amigas.

Os números que se somam a cada aniversário comemorado vão chegando com um peso, que é cada vez maior.

E é para isso que gostaria de atentar o leitor…

A questão central aqui:

o que fazer?

Acompanhada da manifestação de descontentamento com tudo que existe na vida:

nada dá certo

É permeada de insegurança, ansiedade e sentimentos que desassossegam, por buscarmos respostas que não deveríamos, e digo ainda, por fazermos perguntas que não nos conduzem a um lugar de mudança estrutural. Respostas e perguntas baseadas em experiências, falas, vídeos do youtube e textos motivacionais de quem esconde seus próprios anseios. Fazendo parecer que, a partir de passos simples e de frases prontas, encontraremos soluções.

E sabe por quê, mesmo após ter lido coisas bonitas, textos fortes, mensagens motivacionais, a gente não se sente livre do peso que carrega? Porque uma vida não deveria nunca carregar o peso de basear-se em outra.

Às vezes é questão de perspectiva.

Às vezes só é preciso mudar a pergunta.

Nada dá certo na minha vida?!

Os anos passam e continuamos nos perguntando sobre o que vem depois e quando chega o depois. Quando o momento em que, aquilo que é desejado e sonhado, por fim, vai acabar com o sentimento de preocupação com o agora e o depois.

Sinto dizer, mas esse momento, no qual vamos olhar para nossas vidas e pensar “enfim, alguma coisa deu certo”, bem… Esse momento não vai chegar não. E não vai chegar pelos seguintes motivos:

– Atualmente vivemos vidas fundamentadas em uma lógica de mercado. Você é o que você tem, o que você veste, seu saldo no banco, o que come e o que posta na rede social. As felicidades, refrescos e conquistas diárias, quase não tem espaço ou significado real em nós, principalmente quando comparamos essas coisas “pequenas” com aquilo que acreditamos faltar.

– O meio social em que estamos incluídos é organizado por modelos sociais, modelos de identidade e maneiras de ser. Ou seja, quando você se cobra por não estar trabalhando na sua área de formação aos 26 anos. Por não estar casado aos 30, por não ter seu carro próprio e ainda estar vivendo de aluguel aos 32, isso só é sentido como angústia dentro de você, pois crescemos idealizando um modo de organização da vida a partir de vidas que não são as nossas. São vidas de nossos pais, de avós, primos, gente famosa e influenciadora.

– Aquelas ilustres vidas que deram certo, nos levam a reflexionar que a nossa própria também pode “dar certo”. Basta querer muito, fazer algum feitiço, dormir pouco e estudar demais, entre outras coisas mirabolantes que todos nós já cogitamos em algum momento. Mas alguém para pra pensar o custo de viver a própria vida baseada em uma outra?

Nada dá certo na minha vida? Às vezes é só questão de perspectiva

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Alguma coisa já deu certo: a importância de refletir sobre sua vida sem comparações

Sabe aquelas matérias sensacionalistas que explanam os famosos que já tiveram depressão? Sabe aquele primeiro pensamento que nos vem na cabeça quando lemos essas matérias? É, aquela coisa de “como assim ele tem depressão?! ele tem tudo!”. Possivelmente esses famosos tenham tudo mesmo. O glamour, as viagens inesquecíveis, o carro do ano, a profissão de sucesso. Eles deram certo na vida! Como explicar então o sentimento de descontentamento com uma vida de sucesso e os vários famosos com transtorno depressivo?

Veja, ser e ter são palavras miúdas, mas que podem modificar uma perspectiva de vida e um modo de viver, quando destrinchadas.

Uma vida não deveria basear-se no que se tem. E é por exemplos como os de Whindersson Nunes, Jim Carrey, entre outros nomes conhecidos, que isso atesta-se como realidade. Nem quem tudo tem, quem correspondeu ao cronograma da vida e tornou-se parâmetro de sucesso, pode dizer que a vida, de fato, deu certo.  

 O que deu certo na sua vida? O que você é além daquilo que tem? Nada é permanente e ao mesmo tempo, nada nos falta. A vida é fluída, os problemas também. Caso contrário, um texto, daqueles que todos nós já lemos um dia, bastaria como fórmula pra fazer uma vida dar certo.

Ao invés de questionar-se, sobre o que é possível fazer para sua vida acontecer do mesmo modo como a vida de alguém que você admira, questione-se sobre os motivos que nos levam a comparações. Vidas que deram certo só se sustentam com filtro instagramável. Offline todos nós estamos um pouco perdidos…   

Foque nas pequenas conquistas, vitórias diárias e reais. Foque naquilo que te dá um alívio existencial e não no que faz crer que tudo está dando errado.

Lembre-se, todo mundo está buscando dar certo, mesmo quando já deu!

Eduarda Moro

CRP 06/182921
Psicóloga, Mestra em Educação e Doutoranda em Ciências Humanas. Interessa-se por temas relacionados as humanidades, problemas da contemporaneidade e tudo aquilo que faz a vida mais viva e criativa. Pesquisadora na área de subjetividade e modos de subjetivação.

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Psicóloga, Mestra em Educação e Doutoranda em Ciências Humanas. Interessa-se por temas relacionados as humanidades, problemas da contemporaneidade e tudo aquilo que faz a vida mais viva e criativa. Pesquisadora na área de subjetividade e modos de subjetivação.

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