ESTRESSE é a palavra mais ouvida e falada no mundo moderno, rotulada pela Organização Mundial da Saúde como a “epidemia do século XXI”. A palavra estresse denota “pressão”, “insistência” e “estar sob a ação de estímulo insistente e ameaçador”.
O estresse não é necessariamente algo ruim, pois se os nossos corpos não tivessem nenhuma capacidade de resistir à estímulos estressantes, não teríamos sobrevivido até hoje enquanto espécie. Nossos ancestrais utilizavam as reações do estresse como sinais de alerta para luta e fuga.
Não precisamos lutar e fugir de predadores, mas no dia a dia, lidamos com situações que, muitas vezes, podem ser estressantes para a mente e o corpo.
É natural sentir estresse, por exemplo, quando precisamos ir a uma entrevista de emprego ou quando sentimos o coração bater acelerado ao assistir um filme de terror.
O estresse é uma reação natural do corpo, preparando-nos para lidar com algum problema. Mas, algo que precisamos estar atentos é sobre a duração do estresse.
Quando o sistema de alarme natural do corpo fica ligado constantemente, pode acabar se tornando um sério problema para a saúde.
O estresse pode ser classificado em agudo ou crônico. Esse artigo abordará as diferenças entre esses dois tipos de estresse, bem como os sintomas e causas de cada um, trazendo ainda alternativas de tratamentos para os dois casos.
O que é o estresse agudo e quais são as suas causas?
O estresse agudo é o mais comum e menos prejudicial. É natural que algumas vezes por dia, experimentemos o estresse agudo.
O estresse agudo é vivenciado como uma ameaça imediata percebida, seja física, emocional ou psicológica, que nem sempre precisa ser intensamente ameaçadora.
Ouvir o despertador tocando no melhor momento do sono pode desencadear um estresse agudo.
No entanto, o estresse agudo pode também ser mais grave, como por exemplo, quando você entra em uma discussão fervorosa com um amigo, quando perde algum ente querido para a morte ou outros eventos traumáticos.
Estresse agudo significa que os sintomas se desenvolvem rapidamente, mas são passageiros, ou seja, não duram por muito tempo, pois se resolvem dentro de alguns dias – ou horas.
Sintomas de estresse agudo
Os sintomas de estresse agudo podem incluir:
- Irritabilidade, mau-humor, ansiedade, falta de concentração e desejo de isolamento;
- Sonhos desagradáveis;
- Atitudes agressivas que podem ser autodestrutivas;
- Querer evitar pessoas ou situações que desencadeiam memórias ruins ou angustiantes.
- Palpitações;
- Dor no peito;
- Dor de cabeça;
- Problemas gastrointestinais;
- Náuseas e, às vezes, vômitos;
- Dificuldades respiratórias.
É importante destacar que os sintomas físicos de estresse agudo são causados por hormônios do estresse (como a adrenalina) e pelo aumento da atividade do eixo hipotálamo-hipófise adrenal, resultando em altos níveis de cortisol.
O que é o estresse crônico e quais são as suas causas?
Embora o estresse agudo venha se tornando cada vez mais parte da vida, o estresse crônico resulta de uma variedade de graves consequências físicas, financeiras e emocionais relacionadas à saúde, tanto individual quanto socialmente.
O estresse agudo é experimentado a curto prazo, enquanto o estresse crônico é experimentado continuamente ao longo da vida, até o ponto em que se sentir estressado se torna um estado “normal” e constante. Dificuldades financeiras e relacionamentos desafiadores podem ser causas do estresse crônico.
O estresse crônico pode começar ainda na infância, quando a criança vivencia experiências traumáticas que pode levar até a vida adulta.
Eventos assim são conhecidos como Experiências Adversas na Infância (EAI), que podem envolver, por exemplo, abuso físico, emocional ou sexual, divórcio dos pais ou encarceramento de um dos pais.
Na vida adulta, as causas que levam ao estresse crônico também são muito semelhantes, e podem incluir conflitos prolongados no local de trabalho, desemprego e preocupações sérias com problemas à nível mundial, como a epidemia do covid-19, que resultou em muitos quadros de estresse crônico, ansiedade e outros transtornos emocionais.
Sintomas de estresse crônico
O estresse crônico também desencadeia vários sintomas que podem afetar todo o corpo, mas a gravidade varia consideravelmente de acordo com o indivíduo.
Os principais sintomas de estresse crônico podem incluir:
- Irritabilidade extrema;
- Nervosismo;
- Pensamentos confusos;
- Insônia;
- Dificuldade de concentração;
- Dores de cabeça;
- Problemas digestivos;
- Baixa autoestima;
- Infecções frequentes.
O estresse crônico está intimamente relacionado com o sistema endócrino, podendo afetar a estrutura cerebral, o sistema imunológico e o comportamento. Pessoas que estão mais expostas ao estresse crônico durante a vida possuem maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, obesidade, câncer e distúrbios mentais, como a depressão.
Quais as diferenças entre o estresse agudo e o crônico?
Uma revisão da literatura publicada pelo periódico Journal of the College of Community Physicians of Sri Lanka ressaltou que os mecanismos do estresse agudo e crônico não são os mesmos.
A homeostase é um estado estacionário de equilíbrio, que é essencial para a sobrevivência. O estresse é uma condição em que a homeostase do organismo é perturbada, diante de estímulos estressores.
Em resposta ao estresse, Selye denominou de “Síndrome Geral de Adaptação” os eventos de resposta ao estresse, que ocorrem em diferentes estágios: a reação de alarme, fase de resistência e fase de exaustão.
O estresse agudo corresponde às fases de reação de alarme (quando o organismo percebe o estímulo estressante) e fase de resistência (quando o organismo tenta se adaptar ao estímulo estressante), enquanto o estresse crônico lida com a fase de exaustão (quando o organismo perde a capacidade de adaptação).
Durante um evento traumático agudo, a pessoa entra na fase de alarme com sinais de alerta. Para enfrentar esse evento, o corpo toma medidas de segurança durante a fase de resistência. Alguns podem ter poucos ou nenhum dano relacionado a esse incidente.
Em contrapartida, alguns estressores, por exemplo, podem levar a uma lesão grave ou morte de um ente querido, que por sua vez, continuariam a descarregar uma resposta ao estresse, mesmo após o término. É o que acontece no estresse crônico.
Tratamentos e controle para o estresse agudo e crônico
Não é necessário nenhum tratamento específico para o estresse agudo, pois os sintomas desaparecem quando o evento estressante termina, dentro de alguns dias. Mas, se os sintomas persistirem por mais de três dias – e menos de um mês – ocorre o chamado Transtorno de Estresse Agudo.
Para essa condição, como também para o estresse crônico, algumas medidas podem ser úteis, como o autocuidado.
Realizar exercícios físicos regularmente, adotar uma dieta saudável, dormir melhor e limitar o consumo de cafeína e álcool são excelentes práticas para a sua saúde mental geral.
Os exercícios físicos aumentam a produção de endorfinas do corpo, substâncias químicas que melhoram o humor e reduzem o estresse.
Melhorar a qualidade do sono é essencial, pois dormir pouco contribui para o estresse. Portanto, procure obter pelo menos 7 horas de sono por dia, estabelecendo horários regulares para dormir e acordar.
É quase impossível eliminar todos os elementos estressores que estejam ao redor, mas você pode reduzir esses elementos, tomando medidas que ajudem a minimizar os níveis gerais de estresse.
Aprender técnicas de relaxamento podem também ser de grande ajuda para relaxar o corpo e acalmar a mente.
Você pode entrar em contato com seu médico para obter apoio prático e aconselhamento com relação a terapias psicológicas, como a Terapia Cognitivo Comportamental. Essa terapia se baseia na ideia de que certas maneiras de pensar podem desencadear ou alimentar alguns problemas mentais de saúde.
Em alguns casos, medicamentos como betabloqueadores são indicados para ajudar em problemas específicos, como dor, depressão e insônia.
Esses medicamentos ajudam a aliviar alguns sintomas físicos causados pela liberação de hormônios do estresse. Apesar de betabloqueadores não serem viciantes, devem ser receitados apenas por um médico.
Estratégias como meditação, mindfulness (atenção plena) e exercícios respiratórios podem ajudar a recuperar do estresse crônico.
Nunca sinta vergonha de pedir ajuda. Se você se sente deprimido devido ao estresse crônico, procure atendimento psicológico, que poderá orientá-lo a lidar com os fatores estressantes à sua volta de forma mais efetiva.
Referências
CORTEZ, C. M.; SILVA, D. Implicações do estresse sobre a saúde e a doença mental. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 36, n. 4, p. 96-108. 2007.
SENANAYAKE, G. B.; ARAMBEPOLA, C. Understanding chronic stress: a narrative review of literature. Journal of the College of Community Physicians of Sri Lanka, v. 25, n. 1, p. 30-36. 2019.