Queilose (Queilite Angular) – O que é, quais são os sintomas e como prevenir!

Queilose

A queilose, também chamada de queilite angular, é um problema inflamatório que surge em um ou ambos os cantos da boca. Os sintomas típicos incluem vermelhidão, rachaduras dolorosas, descamação, sangramento e até mesmo úlceras nos ângulos labiais. No Brasil, ela é popularmente conhecida como “boqueira”.

A queilose pode surgir sem um motivo específico, mas é mais comum em pessoas que utilizam dentaduras ou aparelhos orais, naqueles que têm o hábito de usar máscaras de proteção devido ao trabalho e até mesmo em algumas crianças pequenas, principalmente aquelas que babam bastante ou usam chupeta.

A maioria dos pacientes experimenta ressecamento e desconforto labial. Geralmente, relatam uma sensação de ardência que frequentemente se torna evidente quando pressionam as lesões. A causa subjacente da queilose é motivo de debate.

Causas comuns

A causa mais frequente é de origem infecciosa, envolvendo organismos como Candida albicans, Staphylococcus aureus e estreptococos β-hemolíticos.

Observações clínicas de melhora das lesões com tratamento antifúngico e antibiótico fortemente indicam o papel desses agentes na condição.

Outras causas não infecciosas abrangem:

  • Uso inadequado de próteses;
  • Mudanças na dimensão vertical da boca;
  • Pregas cutâneas anormais nos cantos da boca;
  • Reações alérgicas;
  • Anemia;
  • Pele seca;
  • Excesso de salivação;
  • Dermatite atópica ou seborreica; e
  • Deficiências nutricionais.

Em países desenvolvidos, as deficiências nutricionais são menos comuns, mas ainda podem afetar grupos vulneráveis, como idosos, indivíduos com doença celíaca, pessoas de baixa renda, pacientes com problemas de saúde mental, veganos e bebês que são amamentados exclusivamente por mães veganas sem suplementação vitamínica.

Aqueles que passaram por cirurgia bariátrica e ressecção ileal também enfrentam riscos mais elevados de deficiências nutricionais.

Queilose 2

A queilose também é comum em pacientes que são portadores do HIV e naqueles que têm síndrome de Down. Observou-se um aumento na ocorrência dessa condição em crianças que têm o hábito de lamber os lábios e chupar o dedo com frequência. Além disso, foram relatados casos de queilose causada pela exposição ao níquel devido ao uso de aparelhos ortodônticos.

O excesso de lavagem bucal e o uso agressivo do fio dental também podem contribuir para o desenvolvimento da queilose. Em resumo, essa condição tem uma série de causas, o que resulta em uma variedade de tratamentos possíveis.

Sintomas

A dor nem sempre é um problema principal e, quando ocorre, normalmente é leve. As sensações mais relatadas são de “secura”, “coceira”, “irritação”, “dor” e “queimação”. Essas sensações ficam restritas à área afetada. A queilose, uma condição inflamatória, tem características típicas, como manchas vermelhas e inchadas na pele, frequentemente dolorosas, nos cantos dos lábios. As lesões têm uma forma aproximadamente triangular.

Em casos leves, pode haver apenas uma tonalidade rosada, com lábios próximos normais ou rachados. À medida que a condição progride, a umidade pode causar amolecimento e erosão da camada superficial da pele, resultando em pequenas lesões branco-acinzentadas cercadas por uma mucosa avermelhada.

Em casos mais moderados, a pele fica elevada, com aparência de eczema e mais fissurada. Essas lesões mais desenvolvidas podem ter uma cor branca-azulada, com uma camada descamativa cercada por vermelhidão. Em situações graves, a fissura pode ser profunda o suficiente para causar sangramento, embora isso seja raro.

Diagnóstico

Queilose 1

Na maioria dos casos, uma avaliação clínica juntamente com a história médica é geralmente suficiente para fazer o diagnóstico correto. É importante obter detalhes sobre a saúde bucal, hábitos de higiene oral e ocupação do paciente.

Perguntas sobre problemas médicos, como anemia e condições que afetam a imunidade, além de hábitos como tabagismo, uso de tabaco, consumo de álcool, problemas de pele (como dermatite atópica, psoríase, líquen plano), alergias (como asma, eczema) e uso de medicamentos, são essenciais.

Geralmente, acredita-se que pessoas com próteses dentárias (dentaduras e aparelhos) estejam mais suscetíveis à presença de Cândida em sua boca. Por outro lado, aqueles que usam máscaras faciais com frequência tendem a ter maior probabilidade de ter Staphylococcus aureus colonizando a área.

Embora a maioria dos casos seja facilmente identificada, algumas lesões podem simular outras condições comuns. Por exemplo, problemas como herpes labial e líquen plano erosivo podem se parecer com a queilose, já que todos eles podem afetar os cantos da boca. Isso ressalta a importância de coletar informações detalhadas sobre as lesões, como quanto tempo estão presentes, se ocorrem em intervalos, tratamentos anteriores e se voltam a aparecer.

Durante o exame clínico, é importante ficar atentos a sinais de crostas, bolhas, rachaduras, áreas finas da pele, secreções e úlceras. Além disso, é necessário avaliar possíveis problemas dentro da boca, como dentes, dentaduras, gengivas e mucosa oral. Após essa análise clínica e avaliação da extensão da condição, os pacientes podem ser categorizados em três grupos principais: leve (tipo 1), moderado (tipo 2) e grave (tipo 3).

Uma investigação microbiológica por swab pode ser útil, tanto nos cantos da boca quanto nas narinas anteriores. Para aqueles que usam dentaduras ou aparelhos orais, pode-se coletar uma amostra de enxágue bucal. Se houver suspeita de infecção, também é possível coletar amostras das superfícies das dentaduras ou aparelhos.

Caso as medidas terapêuticas simples não surtam efeito para o paciente, o próximo passo apropriado é realizar uma avaliação completa do sangue. Isso inclui medições de hemoglobina, tamanho das células vermelhas (volume corpuscular médio), níveis de folato, vitaminas B2, B6 e B12, além de avaliar ferro sérico, ferritina, transferrina e glicemia em jejum. Deficiências nutricionais, principalmente de ferro e vitaminas do complexo B, desempenham um papel importante no desenvolvimento da queilose.

Tratamento e Prevenção

O tratamento da queilose depende muito da causa. Para casos sem causa específica, às vezes basta aplicar vaselina nas áreas afetadas. É importante notar que a maioria dos casos é infecciosa e deve ser tratada como tal.

Se a bactéria S. aureus estiver envolvida, uma combinação de mupirocina ou ácido fusídico, juntamente com creme de hidrocortisona a 1% (para reduzir a inflamação), funciona bem quando aplicada nos cantos da boca e nas narinas, se estiverem colonizados. Embora ainda não se saiba ao certo como o organismo passa das narinas para a boca, parece que infecções respiratórias e aumento das secreções nasais têm um papel nisso.

Se a Cândida for identificada, uma pomada antifúngica como o cetoconazol deve ser usada, tanto nas áreas afetadas quanto nas superfícies de dentaduras, se necessário. Alguns pacientes podem precisar de terapia antifúngica sistêmica se a infecção for mais extensa. Aqueles que usam esteróides inalatórios devem enxaguar a boca com água após o uso para reduzir a quantidade de esteróides que permanecem na boca e minimizar o risco de infecção.

Queilose

Para pacientes com doenças hematológicas subjacentes, corrigir as deficiências nutricionais pode fazer a inflamação regredir.

A reposição de ferro é um tratamento eficaz para pacientes com anemia por deficiência de ferro e tem mostrado reduzir significativamente a queilose. Existem muitos outros tratamentos possíveis para diferentes causas. Por exemplo, em idosos, substituir dentaduras por próteses adequadas para quem não tem dentes pode ser uma solução eficaz. Para aqueles que já usam dentaduras ou aparelhos, é essencial que eles se encaixem bem.

Além disso, é importante evitar substâncias irritantes, garantir que haja salivação suficiente e tratar qualquer problema estrutural, se houver. Para evitar a recorrência, deve-se manter uma boa higiene bucal. A taxa de recorrência desta condição é relatada em cerca de 80%, então é importante que os pacientes sejam tratados de maneira eficaz e incentivados a adotar medidas preventivas.

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

Compartilhe Esse Conteúdo
Facebook
Twitter
LinkedIn
Dra. Juliana Toma

Dra. Juliana Toma

CRM-SP: 156490 / RQE: 65521.
Médica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Residência Médica em Dermatologia pela UNIFESP. Pós-Graduação em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês (SP).
Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA (Principles and Practice of Clinical Research).

Últimos Posts

newsletter

Receba Novidades Por E-mail

Deixe um Comentário

Postagens Relacionadas

Anosognosia: tudo sobre o assunto

Anosognosia: o que é, sintomas e principais causas

Anosognosia é uma condição neurológica caracterizada por uma falta de consciência ou negação de uma doença ou deficiência, mais comumente observada em pacientes com danos cerebrais ou distúrbios neurológicos.  Esquecimentos são comuns,

Continue Lendo
categorias

Pesquise por Categoria

Urologia

Sintomas

Reumatologia

Radiologia

Psiquiatria

Psicologia

Pediatria

Otorrinolarigonlogia

Ortopedia

Oncologia

Oftalmologia

Nutrição

Notícias

Neurologia

Neurocirurgia

Nefrologia

Medicina Esportiva

Mastologia

Infectologia

Ginecologia e Obstetrícia

Gerontologia

Geriatria

Gastroenterologia

Fisioterapia

Fisiatria

Farmácia

Endocrinologia

Educação Física

Dor

Doenças

Dermatologia

Curiosidades

Clínica Médica

Cirurgia Vascular

Cirurgia Plástica

Canabidiol

Biomedicina

Artigos

Alergia

Acupuntura

newsletter

Receba Novidades Por E-mail