Como Lidar com a Raiva e o Temperamento Explosivo: O Manejo de Situações Adversas

O ser humano possui como base de interações ao ambiente as emoções e tal influência é importante na
saúde física e mental. Esses estados emocionais vivenciados fazem parte do processamento de informações, reações e comportamentos codificados em determinadas situações pelo indivíduo.

A raiva é uma expressão que representa por vezes injustiça, ofensa e sensação de algum tipo de dano, indicando que objetivos pessoais estão sendo ameaçados, podendo abranger uma variedade de sentimentos e até chegar a um leve aborrecimento, a fúria.


Raiva – emoção comum

A raiva é uma das emoções mais comuns, no entanto é aquela que propicia maior potencial destrutivo,
chegando a se tornar um problema de saúde pública por arcar com questões sociais, físicas e psicológicas.

A raiva pode ser classificada como experiência e expressão. Como experiência, a raiva é caracterizada por 2 componentes principais: o primeiro seria o estado da raiva, representando os sentimentos que oscilam em intensidade e acompanham tensão muscular e excitação; e o segundo se baseia no traço de raiva, na predileção a percepção de momentos como desagradáveis ou não, o tipo de reação, frequência e intensidade.

Elementos básicos – Raiva

Já relacionada a expressão, a raiva tem 3 elementos básicos: expor a emoção da raiva para fora direcionada a pessoas e objetos; reprimir a raiva e controlar a raiva referente a expressão da ira.

Cada indivíduo tem a sua forma de vivenciar a raiva dependendo do temperamento individual e experiências pessoais.

Quando a raiva foge o controle o resultado é costumeiro em hostilidade, agressões e comportamentos de risco, podendo ocasionar consequências significativas ao redor.

Estudos indicam que elevados níveis de excitação emocional resultam em comportamento explosivo, enquanto excitação em menor escala causa dissociação, como dificuldade de reconhecer e expressar necessidades e aquilo que se precisa como apoio.


Sinais de raiva e temperamento explosivo

A raiva pode ser presenciada como um sinal de vigor e força em detrimento de seus próprios valores e motivações.

É essencial para que ocorre o manejo da raiva e o temperamento explosivo o planejamento de ações
adaptativas. Para tal, ter consciência e reconhecimento das emoções que interferem no dia a dia é fundamental.

Pode-se começar pela reflexão de possíveis causas de irritação buscando uma alteração efetiva no
comportamento. Outo passo importante é pensar e iniciar controle de emoções perturbadoras, em vez de compensação e evitação.

O temperamento se refere a dimensões comportamentais manifestando como padrões gerais do
desenvolvimento; surge durante a infância e faz parte constituinte da biologia da personalidade; se manifesta relativamente com estabilidade ao longo do tempo; possui componente biológico; e questões fatoriais podem influenciar a expressão do temperamento.

O Transtorno Explosivo Intermitente se caracteriza por situações isoladas de explosões agressivas de
caráter desproporcional ao evento em si, geralmente causados por fatores estressantes e constituídos por comportamento do tipo: agressão verbal, agressão física e destruição de objetos ou propriedades.


Frequência dos episódios

Especificamente, a manifestação do transtorno costuma ocorrer na frequência de 2 vezes por semana, quando em explosões leves, e 3 vezes por ano, quando em explosões graves, havendo consequências emocionais como angústia, desfuncionalidade social, dificuldades profissionais e problemas financeiros, gerando até transtornos concomitantes.

explosao

Fatores preditores desse tipo de comportamento indicam múltiplos fatores como questões neuroquímicas, genéticas e psicossociais.


Diagnóstico

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o Transtorno Explosivo
Intermitente é uma questão de saúde mental grave e merece atenção.

Para tanto, há alguns critérios listados:

A. Explosões comportamentais recorrentes representando uma falha em controlar impulsos agressivos, conforme manifestado por um dos seguintes aspectos:

  • Agressão verbal (p. ex., acessos de raiva, injúrias, discussões ou agressões verbais) ou agressão física dirigida a propriedade, animais ou outros indivíduos, ocorrendo em uma média de duas vezes por semana, durante um período de três meses. A agressão física não resulta em danos ou destruição de propriedade nem em lesões físicas em animais ou em outros indivíduos.
  • Três explosões comportamentais envolvendo danos ou destruição de propriedade e/ou agressão física envolvendo lesões físicas contra animais ou outros indivíduos ocorrendo dentro de um período de 12 meses.

B. A magnitude da agressividade expressa durante as explosões recorrentes é grosseiramente desproporcional em relação à provocação ou a quaisquer estressores psicossociais precipitantes.

C. As explosões de agressividade recorrentes não são premeditadas (i.e., são impulsivas e/ou decorrentes de raiva) e não têm por finalidade atingir algum objetivo tangível (p. ex., dinheiro, poder, intimidação).

D. As explosões de agressividade recorrentes causam sofrimento acentuado ao indivíduo ou prejuízo no funcionamento profissional, ou interpessoal ou estão associadas a consequências financeiras, ou legais.
E. A idade cronológica é de pelo menos 6 anos (ou nível de desenvolvimento equivalente).

F. As explosões de agressividade recorrentes não são mais bem explicadas por outro transtorno mental (p. ex., transtorno depressivo maior, transtorno bipolar, transtorno disruptivo da desregulação do humor, um transtorno psicótico, transtorno da personalidade antissocial, transtorno da personalidade borderline) e não são atribuíveis a outra condição médica (p. ex., traumatismo craniano, doença de Alzheimer) ou aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento). No caso de crianças com idade entre 6 e 18 anos, o comportamento agressivo que ocorre como parte do transtorno de adaptação não deve ser considerado para esse diagnóstico.

*Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (American Psychiatric Association) 5ed. Porto alegre: Artmed, 2014.


Nota: Este diagnóstico pode ser feito em adição ao diagnóstico de transtorno de defícit de atenção/ hiperatividade, transtorno da conduta, transtorno de oposição desafiante ou transtorno do espectro autista nos casos em que as explosões de agressividade impulsiva recorrente excederem aquelas normalmente observadas nesses transtornos e justificarem atenção clínica independente.

A indicação de intervenções cognitivos comportamentais baseadas em psicoeducação são bem-vindas e eficazes para esses casos.

Os ensinamentos são voltados para a identificação de sinais envolvidos na ativação emocional de processos físicos, emocionais, cognitivos e comportamentais que possam auxiliar a reagir de modo mais adaptativo.


Medicamentos utilizados

Os medicamentos mais utilizados no tratamento de pacientes com as explosões comportamentais e impulsividade são: estabilizadores do humor, antiepiléticos, antipsicóticos e betabloqueadores.


Tratamento pela psicologia

Na terapia cognitivo comportamental a etapa a principal etapa do tratamento é o vínculo. Estabelecer uma relação de confiança aumenta a colaboração do paciente com o processo terapêutico, diminuindo autodefesas e negações pessoais.

O treino do controle da raiva é uma ferramenta importante dentro da modalidade, como aprender a ter a percepção das sensações físicas e emocionais que acontecem antes da expressão da raiva; trabalhar a reestruturação cognitiva com o objetivo de propor mudanças nas distorções avaliativas no processo de raiva em excesso; exercício de respiração controlada e relaxamento podem ajudar diminuindo o momento de excitação fisiológica; e a busca do autocontrole da raiva.

A psicopatologia do Transtorno Explosivo Intermitente aponta que oscilações de sentimentos e emoções são um fator de risco, reforçando a influência que o desequilíbrio tem ao falhar no controle da impulsividade.

Terapias para relaxamento

Psicoterapias orientadas ao relaxamento, treinamento de habilidades sociais e enfrentamento de problemas tem demonstrado resposta positiva no tratamento desses pacientes.

Parece que o mais interesse é uma abordagem eclética e flexível constituindo elemento de: habilidades de resolução de problemas, técnicas de reestruturação cognitiva e prevenção de recaída, trabalhando o pensamento e as atitudes organizadamente com maiores chances de sucesso.

A participação da família no tratamento é fundamental ao processo terapêutico. Por vezes, o comportamento desmedido pode trazer consequências a família também, sendo afetado por meio de conflitos e discussões.

A psicoterapia, mais uma vez, pode contribuir com a reconciliação e resolução de desentendimentos.


Referências:

Galvão, D. O., Pereira, C. T. D., & Forti, M. D. C. P. (2015). Transtorno explosivo intermitente-revisão de literatura. Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria, 19(2).

Ito, P. D. C. P., & Guzzo, R. S. L. (2002). Temperamento: características e determinação genética. Psicologia: Reflexão e Crítica,15, 425-436.

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 (American Psychiatric Association) 5ed. Porto alegre: Artmed, 2014.

Oliveira, S., Silva, K., & Souza, G. (2021). Projeto de Intervenção-Transtorno Explosivo Intermitente.

Rech, D. L., Schmidt, K. E. S., Rudnicki, T., & Schmidt, M. M. (2022). Técnicas para Manejo da Emoção de Raiva: Uma Revisão Sistemática. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 22(1), 292-307.

Adhila Carlos Oliveira de Espírito

CRP 06/109972
Psicóloga.
Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

Compartilhe Esse Conteúdo
Facebook
Twitter
LinkedIn
Adhila Carlos Oliveira de Espírito

Adhila Carlos Oliveira de Espírito

CRP 06/109972
Psicóloga.
Experiência em Triagem, Atendimento e Pesquisa de Saúde Mental pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Atuação na Área de Psicologia com Avaliação e/ou Atendimento Psicológico e
Acompanhamento Terapêutico de Alta Complexidade em Equipamentos de Saúde de Nível Terciário ou Autônomo.
Colaboração em Pesquisa Científica de Projetos da Área da Saúde e Atividades Acadêmicas Correlatas, a saber: Medicina Preventiva, Psiquiatria e Psicobiologia.

Últimos Posts

newsletter

Receba Novidades Por E-mail

Deixe um Comentário

Postagens Relacionadas

Anosognosia: tudo sobre o assunto

Anosognosia: o que é, sintomas e principais causas

Anosognosia é uma condição neurológica caracterizada por uma falta de consciência ou negação de uma doença ou deficiência, mais comumente observada em pacientes com danos cerebrais ou distúrbios neurológicos.  Esquecimentos são comuns,

Continue Lendo
categorias

Pesquise por Categoria

Urologia

Sintomas

Reumatologia

Radiologia

Psiquiatria

Psicologia

Pediatria

Otorrinolarigonlogia

Ortopedia

Oncologia

Oftalmologia

Nutrição

Notícias

Neurologia

Neurocirurgia

Nefrologia

Medicina Esportiva

Mastologia

Infectologia

Ginecologia e Obstetrícia

Gerontologia

Geriatria

Gastroenterologia

Fisioterapia

Fisiatria

Farmácia

Endocrinologia

Educação Física

Dor

Doenças

Dermatologia

Curiosidades

Clínica Médica

Cirurgia Vascular

Cirurgia Plástica

Canabidiol

Biomedicina

Artigos

Alergia

Acupuntura

newsletter

Receba Novidades Por E-mail