A temperatura normal da parte externa do corpo humano varia entre 36 e 36,7º C, já a temperatura dos órgãos internos é superior, devendo se manter a 37º C. Quando há uma alteração na temperatura, pode ser sinal de alguma condição de saúde.
No entanto, há alguns casos em que se faz necessário aumentar ou reduzir a temperatura de alguma região dolorosa. É muito comum aplicar compressa quente ou gelada quando ocorrem determinados problemas causadores de dor, mas nem sempre as pessoas aplicam a compressa adequada para cada situação.
A forma como o organismo funciona é muito complexa, por isso, os mecanismos de aquecer ou resfriar têm um embasamento de acordo com o efeito que se deve alcançar, isto é, o calor causa um efeito e o frio causa outro. Por isso, é interessante entender tais mecanismos e utilizar a estratégia adequada no alívio de dores.
Para o entendimento destes efeitos, é preciso conhecer a respeito do sangue, ele é composto pela parte líquida, que recebe o nome de plasma, rico em elementos nutritivos e em resíduos de células, no plasma encontram-se os glóbulos sanguíneos e as plaquetas.
Há dois tipos de glóbulos, os brancos e os vermelhos, o primeiro são os leucócitos, células responsáveis pela defesa do organismo, quando saudável, em um milímetro de sangue, estão presentes cerca de 5 a 9 mil leucócitos; as hemácias são os glóbulos vermelhos, são as células de maior volume no sangue, podendo chegar a cinco milhões por milímetro cúbico de sangue, as hemácias possuem hemoglobina, um pigmento responsável pelo tom vermelho do sangue e responsável pelo transporte de oxigênio às células.
As plaquetas, por sua vez, são fragmentos citoplasmáticos de origem da medula óssea, cuja principal função é a coagulação do sangue. Estima-se que em um milímetro cubico de sangue, haja cerca de 100 a 400 mil plaquetas.
O sangue é transportado por todo o organismo, alimentando todas as células, através dos vasos sanguíneos, que são tubos que partem do coração e se ramificam, tornando o sistema venoso composto por vasos de diferentes calibres. Os vasos sanguíneos têm a capacidade de dilatar-se e de comprimir-se, isto é, seu calibre aumenta e diminui em um certo limite, a isto se dá o nome de vasodilatação e vasoconstrição, respectivamente.
A vasodilatação e vasoconstrição pode ser feita através de mecanismos do próprio organismo, para controlar o fluxo de sangue. Pode ser feita também por meios artificiais, isto é, provocar a vasodilatação ou a vasoconstrição de acordo com a situação, a saber: através de medicamentos vasodilatadores ou vasoconstritores, através de aplicação de calor ou de frio ou ainda, através de exercícios.
Compressas quentes
Em casos de lesões esporádicas, não frequentes, recomenda-se a aplicação de calor a partir de terceiro dia após a lesão, não se recomenda aplicar calor logo após a ocorrência de lesão.
O efeito que a compressa quente promove é a interrupção do processo inflamatório, pois o calor dilata os vasos sanguíneos, melhorando a circulação sanguínea na região, o que faz com que seja mais rápido o processo de cicatrização, pois o fluxo de sangue facilitado aumenta a oxigenação das células da região afetada, bem como facilita a chegada de plaquetas, leucócitos e hemácias e devido às substâncias dos medicamentos ingeridos, que com a melhora da circulação, chegam de forma mais eficaz ao local afetado e, assim, ocorre o alívio das dores como consequência.
Assim, indica-se a aplicação de calor em casos de lesões esporádicas, não frequentes, a partir de terceiro dia após a lesão, não se recomenda aplicar calor logo após a ocorrência de lesão. Além disso, recomenda-se compressas quentes para dores nas costas, como lombalgia e cervicalgia, torcicolo, doenças reumáticas, tensão muscular, alívio de cólica menstrual, dores de dente, artrite, etc.
Nestes casos, a temperatura não pode ser muito alta, apenas morna para aliviar a sensação de dor. No entanto, não é permitida a aplicação de compressas quentes em caso de enxaqueca, patologias vasculares, sensibilidade ao calor, queimadura cutânea, feridas abertas e hematomas.
O calor costuma ser aplicado à região através de compressas com bolsas de água quente, com bolsa de gel aquecido ou com compressa de toalha umedecida em água quente, ou mesmo friccionando as mãos no local álgico. Vale alertar que ao aplicar uma compressa quente, é preciso ter cuidado para que a alta temperatura não cause queimaduras na pele. O ideal é que a compressa atinja até 37,5º C e que o tempo de aplicação seja cerca de trinta minutos.
Mas além das compressa, é possível aumentar a temperatura do local através do uso de acessórios, como faixas, cotoveleira, joelheira, tornozeleira. Estes acessórios, além de dar suporte à articulação, aumentam a temperatura do local, são muito usados como medida preventiva de lesões em esportes, como uma forma de tornar possível que o atleta continue a treinar ou competir mesmo após uma microlesão, pois uma vez que a região esteja aquecida, com bom fluxo sanguíneo, ocorre uma diminuição da rigidez na articulação e o atleta sente alívio das dores.
É muito comum ver atletas usando tais acessórios em jogos de basquete, de futebol e vôlei, porém, é um modo de aplicar calor que deve ser indicado pelo fisioterapeuta.
Compressas frias ou geladas
A compressa fria é indicada logo após a lesão e com continuidade até o terceiro dia, para que haja vasoconstrição, diminuindo o fluxo sanguíneo no local e com isso, ocorre o alívio das dores imediatas, diminuição do inchaço, evita o aparecimento de hematomas, diminuição da sensibilidade.
As lesões nas quais se aplica frio não incluem apenas lesões esportivas, podendo ser também pancadas, contusões, dores musculares após atividade física intensa e batidas.
Exemplos: quando se aperta o dedo na porta, deve-se aplicar gelo imediatamente para evitar o sangramento que causaria hematoma na unha; quando alguém bate a perna na quina de um móvel, para evitar a dor e um grande hematoma, aplica-se também o gelo, ou ainda em casos mais graves, quando se torce o tornozelo, a dor pode ser muito intensa, é preciso aplicar gelo imediatamente evitando um grande inchaço e dor.
Vale alertar que em casos de pacientes cardíacos (arritmia, hipertensão), fratura exposta, lesões na pele, alergia ao frio ou perda da sensibilidade, não é permitida a aplicação de compressa fria. Além disso, não se deve aplicar frio antes da prática de atividade física ou alongamento, pois para a saúde e o desempenho muscular e articular não serem prejudicados, é preciso que haja bom fluxo sanguíneo e aquecimento em tais regiões, de forma contrária, o frio pode contribuir com lesões em ligamento e em músculos.
Recomenda-se que a aplicação tenha a duração de vinte a quarenta minutos, dependendo da gravidade, podendo haver intervalos, pois o frio também pode causar queimaduras.
Recomenda-se o uso de um pano abaixo da compressa, devendo ser trocado quando apresentar-se totalmente molhado pelo derretimento de gelo ou pode-se optar por uma compressa com bolsa de gel congelada, bolsa de água fria ou, quando a lesão for nos pés, pode-se utilizar uma bacia com água fria, sempre com cuidado com a extrema temperatura, devendo-se suspender os pés para fora d’água periodicamente.
Compressas mistas
Alternar entre compressa quente e compressa fria também é uma estratégia muito utilizada em alguns casos com o objetivo de dilatar e constringir os vasos de forma alternada, ou seja, inicia-se com aplicação de calor e depois frio, para que aumente o fluxo sanguíneo e, em seguida, limite.
O contraste funciona como uma bomba, fazendo com que a circulação sanguínea seja obrigada a efetivar seu fluxo, isto é, após algumas alternâncias, o organismo entende que haverá um tempo limite para agir na região, tornando assim a ação do sangue mais eficiente e logo em seguida, a vasoconstrição auxilia no alívio das dores e evitando a resposta de agentes inflamatórios no local.
Este mecanismo é indicado para a drenagem do edema, para reabilitar movimentos, após retirada de gesso ortopédico, após cirurgias ortopédicas, na reabilitação de atletas de alto nível, etc.
A forma de aplicação pode ser através do uso de duas bolsas de gel, uma congelada e outra aquecida ou com o posicionamento de duas bacias, uma com água morna e outra com agua fria, podendo haver pedras de gelo. A alternância entre as aplicações deve variar em três minutos na compressa quente e um minuto na compressa fria, todo o processo deve durar até aproximadamente trinta minutos.
Conclusão
Vimos que alterar a temperatura da região afetada pode contribuir muito com o alívio das dores e a melhora de diversos sintomas, porém o calor e o frio têm efeitos diferentes, adequados para objetivos distintos.
Por isso, é preciso entender cada efeito e assim, promover a melhora esperada, bem como deve-se conhecer as contraindicações para evitar danos mais sérios.
Em síntese, o calor aumenta o fluxo sanguíneo e atua como anti-inflamatório, indicado a partir do terceiro dia do trauma, o frio diminui o fluxo sanguíneo, com isso reduz a sensibilidade e alivia as dores, bem como evita inchaço e hematomas, deve ser aplicado logo após o trauma e, por fim, o contraste entre ambos funciona como uma bomba que torna a ação do organismo mais eficiente.