O diabetes mellitus é uma doença metabólica caracterizada pela elevação das concentrações de glicose no sangue resultante da ausência, deficiência e/ou resistência à ação da insulina.
A insulina é um hormônio anabólico sintetizado pelas células betapancreáticas que está envolvido no metabolismo dos carboidratos, proteínas e gordura.
No caso do Diabetes Mellitus Tipo 1, a hiperglicemia ocorre pela deficiência na secreção de insulina, que progride para ausência total deste hormônio.
No Diabetes Mellitus Tipo 2, a hiperglicemia é resultado tanto da resistência à ação da insulina como por deficiência na secreção deste hormônio.
Os gastos médicos relacionados ao tratamento do paciente a nível hospitalar, ambulatorial e o cuidado total em domicílio, além do custo indireto, como a incapacidade, a perda do emprego e a morte prematura são bastante elevadas.
Dessa forma, o aporte da terapia nutricional no tratamento do diabetes representa um grande potencial para reduzir custos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes devido à redução do risco de complicações e mortalidade prematura.
Importância da Nutrição
Importância da dieta e nutrição para diabetes tipo 2 |
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Manter uma dieta saudável e seguir as orientações nutricionais pode ajudar as pessoas com diabetes tipo 2 a controlar seus níveis de açúcar no sangue, reduzir o risco de complicações e se sentir melhor. |
Comer uma variedade de alimentos ricos em nutrientes nas proporções certas pode ajudar a prevenir flutuações de açúcar no sangue. |
Escolher alimentos com baixo índice glicêmico ajuda a manter os níveis de açúcar no sangue estáveis. |
Limitar o tamanho das porções e comer lanches saudáveis pode evitar comer demais. |
Manter-se hidratado bebendo quantidades adequadas de água pode ajudar a manter os níveis de açúcar no sangue sob controle. |
Reduzir a ingestão de sódio pode ajudar a melhorar a pressão arterial. |
Incluir alimentos ricos em fibras na dieta ajuda a retardar a absorção de glicose. |
Consumir gorduras saudáveis pode ajudar a reduzir os níveis de colesterol. |
Influência do Diabetes Mellitus no metabolismo e estado nutricional
A disglicemia, termo que se refere a uma anormalidade na estabilidade da glicose sanguínea, resulta em consequências no metabolismo energético. Na incapacidade de usar a glicose como fonte de energia, por ausência de insulina, o organismo utiliza as proteínas e gorduras como substrato energético.
Assim, essa alteração metabólica causa frequentemente perda de peso involuntária no indivíduo, compromete seu estado nutricional e pode piorar o quadro de hiperglicemia, desenvolver cetoacidose diabética e até coma.
A desnutrição em decorrência da hiperglicemia e do catabolismo orgânico pode levar ao comprometimento do sistema imunológico e aumentar o risco de infecções, o que piora o estado geral do paciente.
Já nos casos em que há resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, o corpo provoca um aumento de glucagon com estímulo à proteólise e à lipólise, consequentemente, desenvolve o quadro de hiperglicemia. Entretanto, a cetose é raramente encontrada e o paciente mantém um estado nutricional de eutrofia ou na faixa de sobrepeso e obesidade.
Impacto do estado nutricional no desenvolvimento do Diabetes Mellitus
O estado nutricional tem impacto tanto no desenvolvimento quanto na evolução do diabetes. Existe um risco maior de desenvolvimento do diabetes tipo 2 em pessoas com sobrepeso ou obesidade.
Em pacientes com excesso de peso e resistência à insulina, a intervenção dietética, com a restrição energética e redução no consumo de gorduras saturadas, associado à prática de atividade física regular e redução moderada de peso, definida como a redução sustentada de 5 a 7% do peso corporal inicial, melhoram a sensibilidade à insulina, logo, contribuem no controle glicêmico.
Então, a avaliação do estado nutricional nos indivíduos com Diabetes Mellitus é uma ferramenta importante para identificar e tratar possíveis alterações no peso. Os dados usados para avaliação antropométrica na prática clínica compreendem o peso, altura, índice de massa corporal, pregas cutâneas e circunferências.
Nos adultos, em especial, a circunferência da cintura considerada elevada (Homens ≥ 102 e Mulheres ≥ 88), pode estimar o risco cardiovascular que é a principal causa de mortalidade no Diabetes tipo 2.
Por isso, é fundamental classificar a obesidade com base na distribuição da gordura corporal, e não apenas através do índice de massa corporal.
Pacientes com Diabetes Mellitus Tipo 2 que não são classificados com obesidade, segundo o IMC, quase sempre apresentam aumento no percentual de gordura corporal, sobretudo na região abdominal.
Quando indicar a terapia nutricional?
A indicação da Terapia Nutricional, independente da sua via de administração (oral, enteral ou parenteral), leva em consideração os mesmo parâmetros para os pacientes não diabéticos: no geral em situações de contraindicação da via oral e/ou enteral; ou quando a via oral for insuficiente, mesmo com a prescrição de suplemento oral; e com a função gastrintestinal preservada ou não.
O que difere é que normalmente os pacientes diabéticos seguem um regime alimentar específico.
Além disso, para atingir seus objetivos, a terapia nutricional deve ser individualizada e ajustada às necessidades de cada paciente, pois a manutenção do adequado estado nutricional pode sofrer interferência, como nos casos de aumento das necessidades nutricionais pelo estresse catabólico, uso de medicações que interferem no controle glicêmico e inapetência causada pela doença.
Terapia Nutricional Clínica para Diabetes
Por muito tempo, foi encorajada a prescrição nutricional restritiva e com exclusão total de alimentos com sacarose. De fato, o consumo de carboidrato influencia diretamente os níveis de glicose pós-prandial, sendo este o macronutriente de maior atenção no manejo glicêmico.
No entanto, a terapia nutricional está mais focada no equilíbrio dos macronutrientes para a manutenção de um bom controle metabólico.
Atualmente, o tratamento dietético no diabetes engloba uma abordagem não somente prescritiva, mas também de caráter mais subjetivo, ter um olhar comportamental, colocando o paciente no centro do cuidado.
Esse manejo considera o quão disposto o paciente está para mudar, suas preferências pessoas, possibilitando, adaptações às recomendações e realizando uma tomada de decisão conjunta (profissional e paciente).
O Guia Alimentar para a População Brasileira incentiva o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias em vez de alimentos ultraprocessados, visando o consumo saudável e o combate à obesidade.
Para auxiliar na prescrição nutricional, existem algumas diretrizes baseadas em evidências científicas, que descrevem as recomendações nutricionais nos pacientes com diabetes, levando em consideração o controle metabólico e glicêmico.
Veja a seguir algumas das principais recomendações de macronutrientes:
Quadro 1. Recomendação das necessidades nutricionais para pessoas com diabetes mellitus
VET | CHO | Sacarose | PTN | LIP | Fibras | Vitaminas e minerais | |
Projeto Diretrizes, 2005 | De acordo com as necessidades individuais | 55% do VET | – | 12-16% do VET | menos de 30% do VET | 20 a 35g/d | Seguem as recomendações da população sem diabetes |
ADA, 2019 | De acordo com as necessidades individuais | De acordo com as necessidades individuais | Os Açúcares são fortemente desencorajados | 1-1,5 g/kg/dia (15-20% do VET) | 20 a 25% do VET | Mínimo 14g/1.000 kcal | Seguem as recomendações da população sem diabetes |
SBD, 2019-2020 | De acordo com as necessidades individuais | 45 a 60%; é possível usar padrões alimentares com menor teor de carboidratos para DM2 de forma individualizada e acompanhada por profissional especializado | Máximo 5 a 10% do VET | 1-1,5 g/kg/dia (15-20% do VET) | 20 a 35% do VET | Mínimo 14g/1.000 kcal para DM1; 20g/1.000 kcal para DM2 | Seguem as recomendações da população sem diabetes |
BRASPEN, 2020 | 25 a 35 kcal/kg de peso, em Hospitalização ou terapia nutricional domiciliar | 45-60%, mas é essencial que a distribuição seja individualizada | menos de 5% do VET | 1-1,5 g/kg/dia | menos de 30% do VET | Mínimo 14g/1.000 kcal | Seguem as recomendações da população sem diabetes |
VET: valor energético total; CHO: carboidrato; PTN: proteína; LIP: lipídeos.
ADA: American Diabetes Association; SBD: Sociedade Brasileira de Diabetes;
BRASPEN: Brazilian Society of Parenteral and Enteral Nutrition
Na leitura de hoje, você conferiu a importância da terapia nutricional no tratamento do diabetes, melhorando a qualidade de vida do indivíduo, seu quadro clínico e contribuindo para a prevenção de complicações da doença.