Ferritina alta: causas, sintomas e tratamentos

Ferritina alta

Para manter nossa saúde em dia, é importante realizar com a devida frequência alguns exames, os chamados “exames de rotina”. Dentre eles, encontram-se alguns bem conhecidos, como os exames de sangue (hemograma, colesterol), o exame de urina, de glicemia, entre outros. A frequência e variedade de exames varia conforme a pessoa e a idade, seguindo recomendação médica.

É comum, porém, que as pessoas recebam o resultado desses exames e não saibam como interpretá-lo. Os exames comumente apresentam uma longa lista de substâncias e seus níveis medidos e, a depender do laboratório, também apresentam os níveis normais delas.

O médico que realiza o acompanhamento acaba sendo o responsável por realizar essa interpretação, devido à formação na área. Embora essa consulta ao profissional seja importante e necessária, é também importante que a relação com o paciente seja mais direta e ele tenha conhecimento dos fatores envolvidos nessa avaliação.

Porém, esses exames podem apresentar uma grande variedade de substâncias, e não é possível prover o devido tratamento a cada uma de forma resumida. Cada substância presente nessas análises apresenta décadas de estudo na literatura médica, abrangendo as áreas de medição da mesma, sintomas associados a diferentes concentrações, causas, comorbidades, entre outros.

Dedicaremos este artigo apenas a uma substância, a ferritina, e o que significa ela estar presente em altas concentrações no sangue. Continue a leitura e entenda o que significa ferritina alta e qual o tratamento recomendado.

O que é a ferritina?

A ferritina é uma molécula naturalmente produzida pelo corpo. É possível encontrá-la no interior de todas as células, mas está mais presente no fígado. Sua principal função é controlar os níveis de ferro, impedindo que se mantenham circulando livremente pelo corpo.

O ferro é um dos nutrientes mais importantes para nossa saúde. Ele é uma peça chave da hemoglobina, molécula que compõe os glóbulos vermelhos do sangue, e, portanto, é necessário para a produção deles e para o transporte de oxigênio do pulmão aos tecidos. Além disso, também é importante para a produção de enzimas, para o desenvolvimento embrionário, e para a produção de energia.

Porém, o ferro também apresenta alto potencial de toxicidade. O ferro, quando livre e dissolvido no sangue e nas células, é altamente reativo. Isto é, ele pode reagir com diversas moléculas importantes, como proteínas, DNA e lipídios, quebrando-as e impedindo que realizem suas funções.

O ferro não é facilmente excretado, mas sua presença é necessária para o funcionamento correto de diversos sistemas e órgãos. Portanto, é preciso armazená-lo de forma segura, para que possa ser usado quando necessário sem causar prejuízos. E é para isso que serve a ferritina.

A ferritina é a molécula responsável por armazenar o ferro e diminuir sua toxicidade. Cada molécula é capaz de armazenar por volta de quatro mil átomos de ferro. Em geral, a ferritina presente nas células armazena 25% do total do nutriente presente no corpo.

A sua presença e atuação são vitais para ter uma boa saúde. Porém, a ferritina não é perfeita. Quando presente em grandes quantidades, ela também apresenta certo nível de toxicidade, causando danos aos órgãos e tecidos.

Leia também: Por quanto tempo posso tomar suplemento vitamínico?

Causas da ferritina alta

A ocorrência da ferritina alta está associada a diversas condições e diversos estilos de vida. Não é possível identificar as causas apenas pelo aumento da ferritina. Porém, os níveis de outras substâncias presentes no exame, assim como os resultados de outros exames, apresentam outras informações que contribuem para um diagnóstico mais preciso.

Porém, um dos fatores a se considerar é a presença ou ausência de excesso de ferro.

Como a ferritina é produzida para controlar os níveis de ferro, com o aumento das concentrações desse mineral, há o aumento da produção da molécula. Como o corpo não é capaz de excretar o ferro em grandes quantidades, a ferritina se acumula e começa a se tornar tóxica.

Nem sempre a causa é o excesso de ferro. O mais comum, na verdade, é que a ferritina seja produzida em casos de elevada inflamação interna, por exemplo, devido a infecções, doenças no fígado, diabetes, entre outros.

Ferritina alta devido ao excesso de ferro

Embora o corpo apresente grande dificuldade de excretar o excesso de ferro no organismo, ele apresenta alta capacidade de controlar a absorção do mesmo. Isto é, ele apresenta alto controle sobre a quantidade de ferro que absorve da alimentação, regulando-a conforme as necessidades do corpo.

Por isso, a ocorrência de excesso de ferro no organismo é um caso raro. Mesmo o uso de suplementos de ferro não é capaz de aumentar essa absorção a níveis tóxicos, o que contribui para manter a saúde do organismo.

Existe, porém, uma exceção. Uma condição genética rara prejudica a capacidade de regular essa absorção de ferro, tornando a pessoa mais suscetível a apresentar excesso de ferro no sangue, condição conhecida como hemocromatose hereditária. Essa condição comumente só é diagnosticada quando surgem os sintomas da hemocromatose, visto que não há testagem genética regular da mesma.

Outra possível causa é a transfusão frequente de sangue. Pessoas que precisaram receber grandes quantidades de sangue estão mais suscetíveis a acumular ferro no organismo. As células vermelhas recebidas por transfusão apresentam um tempo de vida mais curto, portanto, o ferro presente nelas é liberado com maior frequência, ocasionando esse acúmulo.

Os níveis de ferritina, por si só, não são capazes de diferenciar a presença ou ausência de excesso de ferro, visto que a alta desses níveis pode ter outras causas. Para essa diferenciação, é medido também os níveis de transferrina, proteína responsável pelo transporte de ferro pelo organismo. Altos níveis de transferrina indicam com maior precisão a presença de altos níveis de ferro no corpo.

Ferritina alta sem excesso de ferro

Como a ocorrência de excesso de ferro é um caso mais raro e mais específico, a ocorrência de ferritina alta comumente se deve a outros fatores.

Dentre esses fatores, o principal é a ocorrência de inflamação dos tecidos e órgãos. Esse tipo de inflamação é semelhante à inflamação que ocorre no exterior do corpo ou na garganta, em que é uma resposta do organismo a situações de estresse, como infecções e sangramentos.

Embora seja um método de defesa do organismo, ele comumente apresenta alguns efeitos adversos que não são inicialmente notáveis. Por exemplo, ela pode danificar os tecidos, prejudicar sua regeneração e prejudicar o funcionamento dos órgãos.

A ocorrência de episódios de inflamação uma vez ou outra, devido, por exemplo, a infecções ou ao estresse, geralmente não causa danos significativos, e o corpo consegue se regenerar após o fim desse episódio. Porém, a inflamação crônica apresenta grande potencial destrutivo, e tende a resultar em complicações a longo prazo.

Ferritina alta pode indicar, portanto, a ocorrência de inflamação interna, embora a causa dessa inflamação nem sempre seja clara.

Infecções virais ou bacterianas, incluindo a da COVID-19, podem elevar os níveis de ferritina. A COVID-19, em especial, é conhecida por causar um aumento súbito e nocivo dos níveis de inflamação, conhecido como “tempestade de citocinas”, portanto, causando rápidos aumentos dos níveis dessa proteína.

Outras possíveis causas incluem: o alcoolismo, a obesidade, problemas no fígado (como hepatite ou esteatose), anemia, alguns tipos de câncer (como leucemia e doença de Hodgkin), entre outros.

Sintomas da ferritina alta

A longo prazo, altos níveis de ferritina são tóxicos para o organismo, e podem resultar em complicações de alta severidade. Os sintomas a longo prazo podem apresentar certa variação, dependendo se a ferritina é causada ou não por excesso de ferro.

A presença do ferro livre pelo corpo, consequência dos níveis excedentes, leva à danificação dos tecidos e órgãos. A consequência mais notável disso é a aceleração do envelhecimento. O ferro prejudica a capacidade do corpo de se regenerar e sua capacidade de produzir as substâncias necessárias para isso. Como resultado, a pele torna-se mais flácida e mais escura.

Dependendo dos órgãos em que o ferro se acumula, outras condições podem ser desenvolvidas também. O órgão em que tende a estar mais presente, o fígado, tende a ser o mais afetado. O acúmulo de ferro tende a estimular o acúmulo de gordura, e pode resultar em disfunções no fígado e inclusive cirrose.

Esses acúmulos podem também afetar o pâncreas (causando diabetes tipo 2), o coração (causando arritmias), e inclusive os testículos (causando hipogonadismo masculino, isto é, diminuição da produção de testosterona e queda na fertilidade).

No caso da ferritina alta sem excesso de ferro, como é um marcador de inflamação, os sintomas possíveis são os mesmos da inflamação crônica a longo prazo, como diabetes, doenças do coração, desenvolvimento de alergias, artrite, entre outros.

Sintomas a curto prazo

Em ambos os casos, é comum que não haja sintomas a curto prazo, e que os sintomas comecem a se desenvolver apenas por volta da meia idade. Isso se mostra especialmente no caso da inflamação, que tende a ser mais sutil durante seu acúmulo.

No caso do acúmulo de ferro, embora os sintomas mais perceptíveis e mais graves surjam apenas a longo prazo, é possível que alguns sintomas mais sutis apareçam ao longo do tempo, como resultado do processo de envelhecimento acelerado.

O excesso de ferro prejudica o funcionamento dos órgãos, portanto, é possível notar o surgimento de algumas dificuldades durante o dia a dia.

Um dos sintomas mais notáveis é a dor nas articulações. O processo de envelhecimento acelerado prejudica a produção de colágeno e elastina, duas proteínas que, além de serem importantes para a manutenção da pele, também são vitais para a saúde das articulações. A presença delas em menores quantidades pode causar essa dor.

O excesso de ferro pode prejudicar também o transporte de oxigênio. Disso, é possível surgir sintomas como cansaço, falta de ar, e até dor abdominal.

São sintomas um tanto sutis, que podem passar despercebidos, visto que, em geral, estão associados ao envelhecimento normal. O fato da hemocromatose genética ser uma doença rara pode dificultar também a busca por atendimento médico nas fases iniciais desse acúmulo. Por isso, é importante a realização dos exames de rotina.

Leia também: Tiamina (Vitamina B1) – Qual é a sua importância para o corpo?

Tratamentos

Os tratamentos a serem realizados também variam de acordo com a presença ou ausência de excesso de ferro, assim como dependem das causas específicas que resultaram na produção da ferritina alta.

Caso a origem do aumento de ferritina seja a inflamação, é necessário encontrar a causa da mesma para poder cessá-la. Isso pode significar, por exemplo, cessar o consumo de álcool, perder peso, adotar hábitos diários mais saudáveis, se curar de uma infecção, entre outros.

Visto que a ferritina é apenas um dos marcadores de inflamação possíveis, estando associada a uma grande gama de possíveis causas, outros testes poderão ser realizados para encontrar as causas mais específicas. Dessa forma, é possível obter um tratamento mais direcionado, de forma a prevenir a ocorrência de complicações mais graves a longo prazo.

Deve-se ter em mente, porém, que atualmente não existe tratamento que seja eficaz em reverter completamente os efeitos da inflamação crônica, especialmente se ela se manteve por múltiplos anos. Por outro lado, a adoção de hábitos saudáveis e a ingestão de substância antioxidantes, seguindo recomendação médica, podem reverter esses danos parcialmente a longo prazo, e contribuem para impedir o agravamento do quadro.

Quando há excesso de ferro, a questão é um pouco mais complexa. Atualmente, o tratamento mais indicado é a sangria, isto é, a retirada controlada de sangue, como forma de diminuir os níveis de ferro acumulado no organismo. A necessidade de repor esse sangue retirado estimula posteriormente o corpo a utilizar parte do ferro remanescente, contribuindo para reduzir seus níveis.

Isso se mostra efetivo quando a causa é a transfusão de sangue. Após a pessoa se recuperar, o organismo apresenta maior capacidade de produzir e repor o próprio sangue. Sendo realizadas as sangrias necessárias, o organismo pode então se reequilibrar, e a hemocromatose não ocorre novamente.

Caso a causa seja a hemocromatose genética, a tendência ao acúmulo de ferro não cessa. Portanto, a realização de sangrias deverá ser periódica, sendo um pouco mais frequente quando próxima ao diagnóstico da condição, quando o ferro está acumulado a mais tempo.

A hemocromatose genética não apresenta cura atualmente, mas a realização do tratamento contribui para prolongar a vida do paciente e desacelerar a progressão dos sintomas. O diagnóstico precoce, portanto, apresenta os melhores resultados a longo prazo.

Dr. Marcus Yu Bin Pai

CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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CRM 158074 / RQE 65523, 65524 | Médico especialista em Acupuntura e Fisiatria pela USP. Área de Atuação em Dor pela Associação Médica Brasileira. Doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Professor e Colaborador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).

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