Anosognosia é uma condição neurológica caracterizada por uma falta de consciência ou negação de uma doença ou deficiência, mais comumente observada em pacientes com danos cerebrais ou distúrbios neurológicos.
Esquecimentos são comuns, principalmente em fases de estresse na nossa vida. Contudo, principalmente com o avançar da idade, alguns sintomas devem ser monitorados de perto, pois podem ser um sinal do início de doenças neurológicas, como o Alzheimer, tumores cerebrais, AVCs, esquizofrenia, demência, etc[1]Heilman KM. Anosognosia: possible neuropsychological mechanisms. Awareness of deficit after brain injury: Clinical and theoretical issues. 1991:53-62..
Uma condição que pode estar presente em todas essas doenças é a anosognosia, a falta de consciência de que o indivíduo está doente.
Mesmo para pessoas saudáveis, é comum passar por uma fase de negação ao descobrir qualquer doença, ainda mais se for uma condição que irá permanecer por um tempo ou que não tenha cura, como as doenças autoimunes, por exemplo[2]Tagai K, Nagata T, Shinagawa S, Shigeta M. Anosognosia in patients with Alzheimer’s disease: current perspectives. Psychogeriatrics. 2020 May;20(3):345-52..
Contudo, há um limite para essa negação, e também, a interpretação de que, mesmo negando, a pessoa entende que está com problemas de saúde. Caso seja possível detectar que realmente não há esse entendimento, é hora de procurar um profissional para buscar a fundo a causa de base da anosognosia.
Quer saber mais sobre essa condição, seu sintomas e tratamentos? Vem com a gente e continue a leitura!
O que é a anosognosia?
O bom funcionamento da nossa mente é primordial para os afazeres do dia a dia, nosso bem-estar e o desempenho das nossas atividades cotidianas.
Contudo, há doenças que podem prejudicar nossas habilidades cognitivas, geralmente, nessas condições há um sintoma em comum que se chama anosognosia, que pode dificultar o tratamento e até mesmo a evolução positiva dos resultados das terapias aplicadas ao paciente.
Apesar de ser um termo desconhecido para o público em geral, é de extrema importância que cada vez mais pessoas conheçam a condição, e dessa forma, captem com mais clareza e facilidade os sinais de que algo não vai bem, principalmente com idosos acima de 60 anos.
A anosognosia é uma condição neurológica em que o indivíduo não tem consciência da sua própria doença. Foi descrita pela primeira vez em 1914 pelo médico Joseph Babinski. Não é considerada uma doença, mas um sintoma ou condição que se junta a outros problemas de saúde.
De forma resumida, a anosognosia é a negação da própria doença e a dificuldade em realizar um tratamento, já que acredita não necessitar de acompanhamento, por não estar de fato doente.
A anosognosia pode ser, também, uma consequência de outras doenças neurológicas, e é bastante comum em fases iniciais ou estágios graves da doença de Alzheimer, tumores cerebrais, demência e esquizofrenia, sendo mais frequente em idosos acima de 60 anos.
Definição: Anosognosia refere-se a uma falta de insight ou consciência sobre os próprios déficits ou deficiências, apesar de evidências claras de sua presença. Pacientes com anosognosia podem negar ou minimizar problemas com paralisia, perda sensorial, comprometimento da memória e outros sintomas.
Como foi descoberto o quadro de anosognosia?
A anosognosia é um diagnóstico bastante delicado, apesar de ser uma condição, e não uma doença . Às vezes os profissionais da saúde levam mais tempo que o esperado para chegar a um acordo sobre o que está acontecendo com o paciente. Além disso, a falta de adesão ao tratamento ou de alguém que esteja sempre por perto do indivíduo para manter o seu bem-estar, é um agravante.
A anosognosia foi descoberta junto a outros problemas físicos em pacientes com paralisia e hemiplegia que não tinham consciência de sua falha motora, em um quadro chamado de heminegligência, em que o paciente não reconhece a metade do seu próprio corpo como seu.
Uma vez que o diagnóstico é feito, é preciso manter o acompanhamento médico com foco em proporcionar a qualidade de vida ao paciente.
Subtipos de Anosognosia
Diferentes formas de anosognosia foram descritas com base no déficit específico que não é reconhecido:
- Anosognosia para hemiplegia: inconsciência da paralisia em um lado do corpo
- Anosognosia para perda de memória: falta de insight sobre o comprometimento da memória, comum no início da doença de Alzheimer
- Anosognosia para déficits visuais como cegueira cortical (síndrome de Anton)
Quais são os sintomas e sinais da anosognosia?
A anosognosia tem sintomas muito semelhantes a outras doenças neurológicas, e pode ser percebida em mudanças repentinas de comportamentos, como:
- Dificuldade em identificar seus próprios déficits: Pessoas com anosognosia são incapazes de reconhecer e identificar com precisão os déficits que estão experimentando. Isso pode levá-los a minimizar ou negar a existência de seus déficits, mesmo quando são apontados por familiares e amigos.
- Negação da existência de seus déficits: Pessoas com anosognosia geralmente são incapazes de reconhecer a gravidade de seus déficits e negam a existência deles, mesmo diante de evidências que sugerem o contrário.<
- Dificuldade em reconhecer a gravidade de seus déficits: pessoas com anosognosia muitas vezes não conseguem reconhecer ou entender a gravidade de seus déficits, o que pode levar a dificuldades em tomar decisões ou iniciar ações para melhorá-los.
- Dificuldade em compreender as consequências de seus déficits: Pessoas com aosognosia geralmente não conseguem compreender totalmente as consequências de seus déficits, o que pode levar a dificuldades em tomar decisões ou iniciar ações para melhorar seus déficits.
- Dificuldade em tomar decisões de forma independente: Pessoas com anosognosia geralmente acham difícil tomar decisões de forma independente devido à dificuldade de entender as consequências de seus déficits.
- Dificuldade em iniciar ações para melhorar seus déficits: pessoas com anosognosia geralmente lutam para iniciar ações para melhorar seus déficits devido à falta de percepção da causa de seus déficits e à dificuldade em reconhecer a gravidade dos déficits seus déficits.
- Dificuldade em aceitar ajuda para compensar seus déficits: Pessoas com anosognosia podem achar difícil aceitar ajuda para compensar seus déficits devido à dificuldade em reconhecer a gravidade de seus déficits.
- Dificuldade em entender como seus déficits afetam seu funcionamento diário: Pessoas com anosognosia geralmente lutam para compreender como seus déficits afetam seu funcionamento diário devido à falta de percepção sobre a causa de seus déficits.
- Dificuldade em entender como seus déficits estão afetando sua vida: Pessoas com anosognosia muitas vezes não conseguem entender como seus déficits estão afetando sua vida devido à dificuldade em reconhecer a gravidade de seus déficits.
- Percepção insuficiente sobre a causa de seus déficits: pessoas com anosognosia geralmente têm percepção insuficiente sobre a causa de seus déficits, o que pode levar a dificuldades em tomar decisões ou iniciar ações para melhorá-los.
É sempre importante ficar de olho no paciente e em qualquer sinal de declínio cognitivo, para preservar o bem-estar do indivíduo e otimizar o seu tratamento e qualidade de vida.
Avaliação
A anosognosia é tipicamente avaliada comparando o autorrelato dos sintomas do paciente com medidas objetivas de comprometimento ou o relato de um cuidador. Entrevistas estruturadas e questionários podem ser usados para quantificar o grau de anosognosia.
Como evitar a anosognosia?
As medidas que podem ser tomadas para evitar a anosognosia são as mesmas para evitar a doença de alzheimer ou qualquer problema neurológico que afete de forma negativa a qualidade de vida dos pacientes, sobretudo os idosos, como:
- Ensinar os pacientes e idosos como detectar sinais de deficiência ou problemas de memória;
- Incentivar a prática de atividades que tragam prazer e alegria ao paciente;
- Proporcionar conforto físico e mental,
- Estimular a capacidade cognitiva, principalmente de idosos acima de 60 anos, de maneira que o indivíduo se mantenha interessado nessas atividades e continue com a mente sempre ativa.
O método mais eficaz para evitar qualquer sintoma relacionado a essa condição ou doenças parecidas ainda é se manter de olho em sinais dados pelos pacientes, principalmente idosos acima de 60 anos.
Qualquer mudança de comportamento, esquecimento maior que o esperado ou dificuldade para compreender a sua condição clínica são pontos importantes a se considerar e procurar com urgência um geriatra ou neurologista.
Quais são as principais causas da anosognosia?
Apesar de a anosognosia ser, geralmente, consequência ou sintoma de condições neurológicas diversas, as principais causas desse problema são:
- AVC (Acidente Vascular Cerebral): O AVC é a interrupção do fluxo sanguíneo para determinadas regiões do cérebro, o que pode ocasionar a paralisia de uma parte do corpo para falar ou se movimentar, tortura, etc;
- Demência: Perda progressiva e irreversível das funções intelectuais, o que pode resultar em perda da memória, declínio neurológico, do raciocínio e linguagem, etc;
- Esquizofrenia: Doença psiquiátrica que se caracteriza pela alteração na forma como a mente funciona, levando o paciente a ter mudanças bruscas em seu comportamento e pensamento;
- Hemiplegia: Paralisia cerebral que atinge apenas um dos lados do corpo, comum em AVCs e AVEs;
- Transtornos de humor, em especial o transtorno bipolar: Transtorno que se caracteriza pela alternância de humor que pode durar dias ou meses;
- Doença de Alzheimer: Condição neurodegenerativa que se caracteriza pela perda e degradação progressiva da memória.
A anosognosia tem cura ou tratamento?
Não há cura para a anosognosia, pois não se trata de uma doença, mas sim de uma condição ou sintoma comum a diversas doenças neurológicas. Também não existe nenhum tratamento específico para esse problema, e que tenha a eficácia esperada para diminuir a sua intensidade. O que mais dificulta a melhora do sintoma é a negação da condição por parte do paciente, já que não acredita estar doente.
O tratamento recomendado é sempre tratar a doença de base do sintoma: caso o paciente seja portador do transtorno bipolar, por exemplo, deverá estar sempre em dia com o seu psiquiatra e usar antidepressivos, antipsicóticos ou estabilizadores de humor, de acordo com a prescrição do profissional. Se o paciente for portador da doença de Alzheimer, deverá fazer o uso das medicações prescritas pelo neurologista e fazer as demais terapias alternativas recomendadas.
Além disso, o estímulo neurológico com atividades prazerosas, como quebra-cabeças, caça-palavras, palavras cruzadas e outras também ajudam a amenizar o sintoma, assim como exercícios físicos, terapia em grupo, psicoterapia, etc.
Correlatos Neurais
Estudos de imagem têm relacionado a anosognosia à disfunção em regiões cerebrais envolvidas no automonitoramento, incluindo o córtex pré-frontal, a junção temporoparietal, o córtex cingulado posterior e o pré-cúneo.
A desconexão entre essas áreas pode interromper a integração das informações necessárias para a autoconsciência.
A anosognosia está presente em uma proporção significativa de pacientes com doença de Alzheimer leve e aumenta com a progressão da doença. Está ligado à apatia, menores pontuações de depressão e ansiedade, sobrecarga do cuidador e comportamentos perigosos
Conheça a relação da anosognosia com o Alzheimer
A anosognosia é frequentemente relacionada ao Alzheimer, sendo uma condição adjunta a perda de memória, perdas sensoriais e motoras e, claro, a dificuldade de entender que está passando por um problema de saúde.
A anosognosia é mais comum na doença de Alzheimer do que em qualquer outra condição de saúde, sendo assim, o doente não tem consciência da deterioração da sua saúde, dos esquecimentos e das dificuldades motoras, podendo até mesmo achar que essa é a forma normal de se viver.
O Alzheimer e a anosognosia podem apresentar sintomas como:
- Redução ou perda da cognição;
- Perdas sensoriais;
- Perdas motoras;
- Perda do senso de espaço e tempo;
- Esquecimentos e falta de consciência.
A perigosa combinação dessas duas condições faz com que o paciente precise de constante cuidado. Além disso, faz com que se negue a acreditar na sua condição e de que realmente há problemas acontecendo em sua mente e saúde em geral.
Como é feito o diagnóstico de anosognosia?
O diagnóstico da anosognosia é feito pelo neurologista ou médico geriatra, especialista em idosos, a partir dos relatos da família em relação aos sintomas do paciente, seus comportamentos, memória, alterações de personalidade, linguagem, habilidades para realizar as tarefas do dia a dia, autonomia para comer, tomar banho, se vestir, etc.
Por não ser uma doença em si, mas sim uma condição relacionada a diversas doenças, o diagnóstico pode demorar, o que coloca a qualidade de vida dos pacientes em risco. Por isso, é de extrema importância, em qualquer sinal de mudança de comportamento e habilidades, consultar um médico de confiança.
Logo, de forma resumida, o diagnóstico é feito através de avaliação clínica e observação, ou, também, da progressão de outras doenças neurológicas, como Alzheimer, tumor cerebral, demência, esquizofrenia, etc. Por ser um diagnóstico sem cura, é importante que seja detectado ainda no estágio inicial das doenças, para que assim haja um avanço positivo com os tratamentos e terapias disponíveis atualmente.
Ainda que não tenha cura, o diagnóstico serve para entender o porquê de alguns comportamentos do paciente, e também para decidir quais serão as melhores formas de cuidar do indivíduo, quais manobras de saúde investir ou quais especialidades médicas buscar, etc.
Teste de Anosognosia
Exame de diagnóstico | Descrição |
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Mini exame do estado mental (MMSE) | Um questionário de 30 pontos usado para avaliar o comprometimento cognitivo. |
Escala de Conscientização sobre Doenças (AIS) | Um questionário de 30 pontos usado para avaliar a consciência de uma pessoa sobre sua própria doença. |
Teste de Bell | Uma avaliação que avalia a capacidade de uma pessoa de reconhecer o lado direito do corpo. |
Teste Stroop | Um teste de palavras coloridas usado para medir a atenção seletiva. |
Teste de classificação de cartas de Wisconsin (WCST) | Um teste psicológico usado para medir o funcionamento executivo de uma pessoa. |
Escala de percepção cognitiva de Beck (BCIS) | Um questionário de 15 itens usado para medir a visão de uma pessoa sobre seu próprio funcionamento cognitivo. |
O que fazer ao receber o diagnóstico de anosognosia?
Ao receber o diagnóstico de anosognosia, o mais prudente é buscar ajuda imediata para o paciente, já que o próprio indivíduo não entende que se trata de uma condição de saúde delicada. É a melhor saída para trazer mais qualidade de vida, até mesmo para a família do portador dos sintomas e cuidadores.
Sendo assim, além dos especialistas médicos, se certificar de que os medicamentos estão em dia e as terapias alternativas também estão sendo feitas é a melhor forma de conduzir o pós-diagnóstico. Além disso, ficar de olho em outros sintomas e alterações de comportamento, além de check ups constantes, é outra forma de prevenir a recidiva das doenças de base.
Por fim, manter cuidado constante, vigilância e atenção a todas as necessidades do paciente, oferecer mais qualidade de vida e chance de amenizar os sintomas e problemas que a anosognosia pode causar ao indivíduo.
O paciente, enquanto não tiver consciência da condição, precisará de ajuda constante com higiene, medicação, compras, alimentação e tudo que envolva seu bem-estar e cuidados pessoais. Caso não seja possível manter alguém da família sempre por perto, um cuidador ou enfermeiro(a) é a melhor opção para manter o bem-estar e saúde do portador da anosognosia.
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Se você tem notado qualquer um dos sintomas citados ao longo do artigo, não hesite em buscar auxílio médico e terapêutico, e assim, resgatar o bem-estar e qualidade de vida de quem você ama.
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Referências Bibliográficas
↑1 | Heilman KM. Anosognosia: possible neuropsychological mechanisms. Awareness of deficit after brain injury: Clinical and theoretical issues. 1991:53-62. |
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↑2 | Tagai K, Nagata T, Shinagawa S, Shigeta M. Anosognosia in patients with Alzheimer’s disease: current perspectives. Psychogeriatrics. 2020 May;20(3):345-52. |