O Que É Betaterapia?
A BETATERAPIA, também chamada de radioterapia superficial ou eletronterapia, é um tipo de tratamento em que a fonte de raios beta é colocada diretamente na área a ser tratada.
Os raios beta são radiações de tipo corpuscular e têm baixo poder de entrada nos tecidos. Na radioterapia, a utilização da betaterapia tem sido atualmente indicada para o tratamento preventivo de feridas na pele, como queloides e cicatrizes hipertróficas.
Na oftalmologia, a betaterapia mostrou resultados fantásticos na prevenção de pterígios repetitivos após cirurgias.
O Que São Queloides E Cicatrizes Hipertróficas?
Queloides são feridas dérmicas fibróticas, desenvolvidas a partir do tecido conjuntivo como resposta a lesões como inflamações, irritações, queimaduras, “piercings” ou processos cirúrgicos em áreas de alta tensão no corpo, em indivíduos que possuem pré-disposição.
Os queloides surgem em qualquer idade e não tem inclinação por gênero, no entanto, muitas vezes acontece habitualmente em pessoas entre 10 e 30 anos de idade.
Há uma predominância maior em pessoas com pele morena e nas regiões da orelha, ombro e tórax.
Os queloides surgem como uma cicatriz grossa e lisa, ultrapassando os limites da lesão original. Podem apresentar elevação na pele, provocando desfiguração local.
Eles geralmente começam a se desenvolver em um ano após a lesão e raramente acontece uma recidiva.
Sintomas relacionados a queloides
Os principais sintomas relacionados a queloides incluem ardência e coceira, provocando mudanças funcionais e até mesmo desconforto.
A cicatriz hipertrófica é espessa, larga e frequentemente elevada, manifestando-se onde a pele é danificada.
As cicatrizes são desenvolvimentos normais durante o processo de recuperação de uma lesão, porém uma cicatriz hipertrófica é consequência de uma reação incomum a uma lesão ou trauma.
As cicatrizes hipertróficas e os queloides estão incluídos no espectro de problemas fibroproliferativos.
A expansão excessiva de tecido cicatricial normal resulta em cicatrizes, hipertróficas e queloides.
A produção de proteínas da matriz extracelular (ou seja, colágeno, elastina e proteoglicanos) surgem em virtude de uma interação inflamatória prolongada na lesão.
Como são as cicatrizes?
As cicatrizes hipertróficas são elevadas, eritematosas e fibróticas que normalmente ficam mantidos nas bordas da lesão original.
Podem acontecer pouco tempo após a lesão subjacente e tem uma inclinação a permanecer estável ou recair a longo prazo.
A cicatriz hipertrófica não cresce além dos limites da cicatriz original, como acontece com os queloides.
Como É O Mecanismo de Ação da Betaterapia?
A betaterapia possui impacto positivo na cicatrização de feridas em pacientes com queloides, reduzindo tanto o ciclo regular quanto a superexpressão da cicatriz e a multiplicação que acontece no desenvolvimento do queloide, além de diminuir o tempo de desenvolvimento dos fibroblastos e causar uma rápida degranulação dos mastócitos, os secretores de histamina.
Se o tratamento for realizado pouco tempo após a ressecção cirúrgica de um queloide, a betaterapia pode diminuir e restringir a cicatriz a níveis típicos, descartando uma porção significativa de fibroblastos que se multiplicam rapidamente.
A melhor opção é que seja realizada entre 24 a 48 horas após a excisão.
Como é feita a betaterapia?
A betaterapia é realizada com placas de estrôncio, geralmente de 2 cm, acondicionada em um suporte. De acordo com as instruções de uso, a placa de estrôncio precisa ser mantida fora do suporte apenas durante o período de tratamento.
O especialista deve manter a maior distância possível durante a aplicação, e a fonte de radiação ainda tem uma placa de acrílico que serve como um limite para a radiação. O paciente é instruído a lavar o local que será irradiado, secando bem a pele.
Durante a aplicação, não é utilizado nenhum produto ou aplicação no local. A duração e quantidade de irradiação dependerá de acordo com a necessidade de cada paciente, levando em conta a extensão e grau da ferida.
Geralmente, são necessárias em média 10 sessões, prescritas pelo médico radioterapeuta.
Benefícios da Radiação Beta Com Estrôncio Utilizada na Betaterapia
A radiação beta é uma molécula de radiação composta por elétrons de alta velocidade, que são rapidamente contraídos pelos tecidos naturais.
Isso o torna excepcionalmente útil para terapias de radiação de superfície, em que a penetração profunda do tecido é indesejável e incômoda.
Em 1950, Friedell criou implementos de estrôncio e ítrio para uso em seres humanos, com o objetivo de substituir os implementos de rádio, que eram utilizados na época.
Após o início de sua utilização, foi possível confirmar que os implementos de estrôncio e ítrio demonstraram benefícios em relação aos de rádio, como por exemplo, baixa contaminação gama, não aparecimento de itens de podridão vaporosa e curto alcance de partículas beta produzidas.
Friedell e colaboradores, em um estudo publicado no The American Journal of Roentgenology Radium Therapy and Nuclear Medicine, observaram que o estrôncio radioativo é a melhor fonte de radiação beta e foram os pioneiros na aplicação deste método.
Sua atividade repetitiva não ultrapassa 8 mm de profundidade, sendo o maior impacto corretivo em torno de 3 a 4 mm.
A Betaterapia Tem Efeitos Colaterais? E Quais São As Recomendações Após O Tratamento?
Nenhum tratamento clínico está isento de efeitos adversos. A betaterapia é um tratamento totalmente fácil e indolor, que pode essencialmente diminuir as possibilidades de formação de uma cicatriz queloide ou hipertrófica.
De qualquer forma, a radiação beta criada pela placa de estrôncio, que impede o movimento dos fibroblastos, dificultando o desenvolvimento de queloides, é a mesma que desencadeia uma suave reação de inflamação local, o que estimula assim os melanócitos que pigmentam o local da cicatriz.
Existem algumas recomendações úteis que podem limitar a hipercromia que geralmente se manifesta após as sessões de betaterapia:
- Mantenha-se longe da exposição solar algumas semanas antes do procedimento e do tratamento, para que os melanócitos não apareçam revigorados para a terapia.
- Mantenha-se longe da exposição solar durante as sessões do tratamento.
- Mantenha-se longe da exposição solar depois de completar o tratamento, por pelo menos 90 dias.
Referências
CARVALHO, B. et al. Tratamento de queloide retroauricular: revisão dos casos tratados no serviço de otorrinolaringologia do HC/UFPR. International Archives of Otorhinolaryngology, v. 16, n. 2, p. 195-200. 2012.
FRIEDELL, H. L.; THOMAS, C. I.; KROH-MER, J. S. Description of an Sr90 be-ta-ray applicaton and its use on the eye. The American Journal Toentgenology Radium Therapy and Nuclear Medicine. v. 65, n. 1, p. 232-244. 1951.
OLIVEIRA, A. L. P. Radioterapia pós-cirúrgica em queloides: uma meta-análise e revisão da literatura. 2019. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia Médica) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, 2019.
VETTORATO, M. C. Desenvolvimento de metodologia para uso de betaterapia intraoperatória em Medicina Veterinária. 2020. Tese (Doutorado em Animais Selvagens) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2020.