A betaína é conhecida como trimetilglicina, um derivado de aminoácidos neutro de cadeia curta. Ela é sintetizada endogenamente através da oxidação da colina na membrana interna da mitocôndria das células hepáticas e renais1.
Após ser submetida a sucessivas desmetilações, na mitocôndria, a betaína dá origem à glicina, atuando nesse processo como um competente doador do grupo metil em muitas vias bioquímicas1,3.
Além disso, a betaína é considerada um osmólito orgânico, responsável pela retenção de água e proteção das células sob estresse.
Também substitui os sais inorgânicos e protege as enzimas intracelulares contra a inativação osmótica ou induzida pela temperatura, diferente da uréia, que é um vigoroso desnaturante proteico.
Então, essa função é particularmente importante no rim devido à presença de alta concentração de eletrólitos e uréia1,2.
Quais São As Fontes Alimentares de Betaína?
No século 19, A betaína foi identificada pela primeira vez na beterraba (Beta vulgaris )2. Porém, ela está presente também em outras fontes alimentares tais como: farelo de trigo, gérmen de trigo, espinafre e frutos-do-mar, especialmente invertebrados marinhos1,2.
Além da ingestão alimentar direta de betaína, os humanos também podem produzi-la através da oxidação da colina que ocorre principalmente no fígado e nos rins4.
Para Que Serve A Betaína?
Conforme comentado resumidamente no parágrafo acima, a betaína é utilizada como osmoprotetor em grande parte dos tecidos (por exemplo, os rins e o cérebro) e como função principal é a sua atuação como doador de grupos metil no metabolismo hepático.
As funções da betaína foram subdivididas em quatro categorias: osmoprotetor, doador do grupo metil, efeito anti-inflamatório e regulador do metabolismo energético.
1. A Atuação da Betaína Como Osmoprotetor
Os pequenos compostos orgânicos altamente solúveis, chamados de osmoprotetores, se acumulam nas células sem interromper a função celular e as protege contra o estresse osmótico.
Porém, para equilibrar a hiperosmose, evitando a morte celular, é fundamental o acúmulo de diferentes tipos de osmoprotetores, a exemplo da betaína, sorbitol e taurina3.
A betaína atua na regulação do volume celular e diminui a capacidade geral das moléculas de água de solvatar proteínas, garantindo, assim, a estabilização das estruturas proteicas nativas3.
2. A Betaína Atua Como Um Doador do Grupo Metil
A betaína é um dos mais importantes doadores de grupo metil (transmetilação) através do ciclo da metionina nas mitocôndrias das células hepáticas e renais.
Nessa reação, a enzima betaína-homocisteína metiltransferase catalisa a transferência de um grupo metil da betaína para converter o metabólico tóxico, a homocisteína, em metionina e depois se tornar dimetilglicina.
Os dois grupos metil disponíveis na dimetilglicina são possivelmente degradados em sacosina e, posteriormente, em glicina2.
O consumo inadequada de grupos metil leva à hipometilação em importantes vias bioquímicas, incluindo:
- Desregulação no metabolismo de proteínas hepáticas (metionina), levando à altas concentrações plasmáticas de homocisteína e redução da enzima S-adenosilmetionina;
- Inadequação no metabolismo hepático da gordura, acarretando em esteatose hepática e dislipidemia plasmática;
- Pode contribuir para o desenvolvimento de muitas doenças crônicas, tais como doenças coronarianas, cerebrais, hepáticas e vasculares.
3. A Betaína Tem Efeito Anti-inflamatório Nas Doenças
O processo exacerbado e prolongado de inflamação no organismo pode resultar na patogênese de diversas doenças.
Devido a esse fato, o uso de substâncias naturais, como a betaína, para o tratamento de doenças, tem sido estudado como uma boa estratégia para regular a intensidade da reação inflamatória.
Os subprodutos de reações biológicas geradoras de energia, chamados de espécies reativas de oxigênio, são produzidos nas mitocôndrias, através do metabolismo oxidativo.
No entanto, o excesso de espécies reativas de oxigênio são prejudiciais para as células, porque alteram a estabilidade dos ácidos nucléicos, proteínas e membranas lipídicas, e também causam inflamação3.
A hiper-homocisteinemia induz o estresse oxidativo e apoptose celular, logo o tratamento com betaína pode influenciar diretamente nas concentrações de homocisteína, pois ela converte a homocisteína em metionina.
Sabe-se que a metionina tem um papel importante como antioxidante através da redução do estresse oxidativo viaquelação e pode ser utilizada pelos hepatócitos para a síntese da glutationa reduzida (importante agente neutralizador do estresse oxidativo)3.
Além disso, muitas doenças inflamatórias ativam o fator de transcrição NF-Κb, pois ele controla muitos genes envolvidos na cascata inflamatória. Esses genes são: as citocinas pró-inflamatórias, o fator de necrose tumoral (TNF-α), a interleucina 1 (IL-1β) e a interleucina 23 (IL-23).
Os pesquisadores identificaram também que a betaína pode suprimir a atividade do NF-κB e de muitos outros genes pró inflamatórios3.
4. A Betaína Regula O Metabolismo Energético Para Aliviar A Inflamação Crônica
Diversas doenças crônicas, como obesidade e diabetes, estão relacionamdas a distúrbios no metabolismo energético.
Logo, para reduzir a inflamação crônica é necessário restaurar a normalidade do metabolismo. Alguns estudos relataram que a betaína atua no metabolismo lipídico e da glicose3.
Com relação ao metabolismo de lipídeos, o acúmulo excessivo de gordura, relacionado ao aparecimento de muitas doenças crônicas, pode ser atenuado com a betaína.
Isso porque ela restaura o equilíbrio entre a síntese e a oxidação de lipídeos3.
A respeito do metabolismo da glicose, estudos demonstraram uma associação entre a resistência à insulina e a inflamação.
Descobriu-se que a suplementação com betaína poderia atuar na via da insulina para melhorar a Doença hepática gordurosa não alcoólica (um mecanismo potencial para a hepatoproteção) 3.
Atuação da Betaína Nas Doenças Humanas
Pesquisas demonstraram que a betaína tem efeitos positivos contra várias doenças, como obesidade, diabetes, câncer e doença de Alzheimer.
Foi observado que as concentrações plasmáticas de betaína são inversamente correlacionadas com a porcentagem de gordura corporal em adultos; aqueles indivíduos com concentrações mais elevadas de betaína costumavam ter melhor perfil e distribuição de gordura pelo corpo3.
Outros estudos, identificaram que uma maior consumo de betaína resulta em redução do risco para diversos tipos de câncer (mama, pulmão, fígado, colorretal, etc) 3.
Recentemente, um estudo observou que a ingestão de betaína pode reduzir a hiper-homocisteína, que é um achado na doença de Alzheimer e pode minimizar a resposta inflamatória nas pessoas com Alzheimer3.
Com conclusão, existe também alguns resultados contraditórios de outros estudos, porém a betaína parece ter propriedades anti-inflamatórias fundamentais para a redução do risco para várias doenças crônicas.
De fato, os cientistas devem continuar explorando os mecanismo da betaína na saúde humana.
Referências Bibliográficas:
- Arumugam MK, Paal MC, Donohue TM, Ganesan M, Osna NA, Kharbanda KK. Beneficial Effects of Betaine: A Comprehensive Review. Biology. 2021 May 22;10(6):456.
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- Zhao G, He F, Wu C, Li P, Li N, Deng J, et al. Betaine in Inflammation: Mechanistic Aspects and Applications. Frontiers in Immunology. 2018 May 24.
- Wiedeman AM, Barr SI, Green TJ, Xu Z, Innis SM, Kitts DD. Dietary Choline Intake: Current State of Knowledge Across the Life Cycle. Nutrients. 2018 Oct 16;10(10).