A tendinopatia do supraespinhal, popularmente chamada de tendinite do ombro, é uma condição clínica caracterizada pela dor e degeneração das fibras de colágeno no tendão do músculo supraespinhal. É a causa mais frequente de dor no ombro, afetando predominantemente adultos acima dos 40 anos e idosos, impactando diretamente a qualidade de vida e o sono.
O músculo supraespinhal é uma peça chave na articulação do ombro. Seu tendão conecta o músculo ao úmero (osso do braço) e sua função primordial é iniciar o movimento de elevação do braço (abdução) e estabilizar a articulação durante movimentos complexos.
Diferente de uma simples inflamação aguda, a tendinopatia envolve um processo de desgaste. Frequentemente, é resultado de sobrecarga repetitiva — seja por esportes, trabalho ou movimentos cotidianos — que excede a capacidade natural de regeneração do tecido.
Além do uso excessivo (overuse), fatores como envelhecimento natural (que reduz a vascularização local), traumas diretos e desequilíbrios musculares contribuem para o quadro. O tratamento médico é essencial e varia desde medidas conservadoras e reabilitação motora até intervenções minimamente invasivas, dependendo do grau da lesão.
Anatomia Interativa: Onde está a dor?
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O que é tendinopatia do músculo supraespinhal?
O termo “tendinopatia” é clinicamente mais preciso que “tendinite”. Enquanto a tendinite sugere apenas inflamação, a tendinopatia engloba a dor, a inflamação e, crucialmente, a falha estrutural do tendão em se curar. O tecido saudável é substituído por um tecido fibroso e desorganizado, menos resistente à carga.
Lesões no manguito rotador são a queixa mais comum nos consultórios de Fisiatria e Ortopedia. O supraespinhal é o mais vulnerável dos quatro tendões que compõem este grupo, devido à sua localização anatômica, onde sofre compressão constante entre os ossos do ombro.
Anatomia e Fisiologia
O manguito rotador é formado por quatro músculos: supraespinhal, subescapular, infraespinhal e redondo menor. Juntos, eles abraçam a cabeça do úmero, mantendo-a centralizada na cavidade da escápula (glenoide), permitindo que o braço se mova com força e estabilidade.
O tendão do supraespinhal possui uma arquitetura complexa dividida em camadas. Ele precisa resistir a forças de tração (quando puxamos algo) e compressão (quando o osso do ombro aperta o tendão). Para suportar isso, ele possui uma matriz rica em colágeno.
No entanto, existe uma “zona crítica” perto de sua inserção no osso que é naturalmente pouco irrigada por vasos sanguíneos. Essa hipovascularização é um fator determinante para a dificuldade de cicatrização espontânea após os 40 anos, tornando o tratamento médico especializado indispensável para estimular a recuperação biológica.
Fatores de Risco: Checklist
Selecione os itens que se aplicam a você para entender seus fatores de risco:
A Evolução da Lesão
A doença não surge da noite para o dia. É um processo contínuo que chamamos de "espectro da tendinopatia". Inicialmente, ocorre uma reação aguda (tendinite reativa) onde o tendão fica inchado e dolorido. Se o estímulo agressivo continua e não há tratamento adequado, o tendão entra em um estado de falha de reparo (tendinose).
Nesta fase crônica, as células do tendão (tenócitos) morrem ou se alteram, e as fibras de colágeno se desorganizam. O tendão torna-se mais espesso, porém mais fraco e quebradiço. Em estágios avançados, essa degeneração pode levar a micro rupturas que evoluem para a ruptura total do manguito rotador, exigindo tratamentos mais complexos.
Causas e Fatores Associados
A etiologia é multifatorial, combinando características do próprio paciente e do ambiente:
Fatores Intrínsecos (Do Paciente): A idade é o principal preditor. A partir dos 40 anos, a biologia do tendão muda. Doenças metabólicas como diabetes, obesidade e dislipidemias (colesterol alto) também afetam negativamente a microcirculação do tendão, facilitando lesões.
Fatores Extrínsecos (Biomecânicos): Alterações na anatomia, como o formato do acrômio (osso acima do ombro), podem diminuir o espaço por onde o tendão passa, causando atrito constante (Síndrome do Impacto). A discinesia escapular (movimento incorreto da escápula) também sobrecarrega o supraespinhal.
Sinais de Alerta
Dor Noturna
Acordar com dor ao virar sobre o ombro afetado é um sinal clássico de inflamação ativa ou bursite associada.
Arco Doloroso
Dor aguda ao levantar o braço lateralmente, especificamente entre 60º e 120º de elevação.
Fraqueza
Dificuldade súbita de segurar objetos longe do corpo ou pentear o cabelo pode indicar ruptura.
Rigidez
Perda progressiva de movimento, sugerindo evolução para capsulite adesiva secundária.
Diagnóstico Médico Especializado
O diagnóstico correto é feito pelo médico especialista (Fisiatra, Ortopedista ou Médico da Dor). A avaliação clínica inclui testes provocativos específicos, onde o médico movimenta o braço do paciente para isolar o tendão supraespinhal e verificar a presença de dor ou fraqueza.
É fundamental diferenciar a tendinopatia de outras condições, como a bursite, a capsulite adesiva (ombro congelado) ou dores referidas da coluna cervical.
| Diagnóstico Diferencial | Como Distinguir |
|---|---|
| Ruptura do Manguito | Geralmente apresenta fraqueza súbita e incapacidade de manter o braço elevado (teste de queda do braço). |
| Síndrome do Impacto | Dor mecânica ao elevar o braço acima da cabeça, sem necessariamente haver fraqueza significativa. |
| Bursite | Dor à palpação direta e dor noturna intensa, frequentemente associada à tendinopatia. |
| Osteoartrite (Artrose) | Dor profunda com crepitação ("areia" na articulação) e limitação de movimento passivo e ativo. |
| Capsulite Adesiva | Bloqueio severo do movimento em todas as direções, especialmente rotação externa. |
Exames de Imagem
Embora o raio-X ajude a descartar problemas ósseos e visualizar calcificações, a Ressonância Magnética (RM) e o Ultrassom são os exames de escolha. A RM permite visualizar o grau de degeneração do tendão (tendinose), a presença de rupturas parciais ou totais e a qualidade do músculo (se há atrofia ou infiltração de gordura), dados cruciais para definir se o tratamento será conservador ou cirúrgico.
Tratamentos Médicos Avançados
Na atualidade, a Fisiatria Intervencionista oferece diversas opções para tratar a tendinopatia do supraespinhal sem a necessidade de cirurgia imediata. O objetivo é controlar a dor e, principalmente, estimular a biologia do tendão para cicatrizar.
1. Infiltrações e Bloqueios
Procedimentos guiados por ultrassom garantem precisão:
Corticosteroides: Usados com parcimônia para apagar o "incêndio" inflamatório agudo e a dor intensa da bursite. Não devem ser repetidos muitas vezes para não enfraquecer o tendão.
Viscossuplementação (Ácido Hialurônico): Injeções que lubrificam a articulação e o espaço subacromial, melhorando o deslizamento do tendão e reduzindo o atrito doloroso.
Medicina Regenerativa: Em casos selecionados, terapias que estimulam a regeneração tecidual podem ser indicadas para tendinopatias crônicas.
Opções de Tratamento Não Cirúrgico
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2. Terapia por Ondas de Choque
O tratamento por ondas de choque é uma das ferramentas mais potentes na Fisiatria para tendinopatias. Não se trata de choque elétrico, mas sim de ondas acústicas de alta energia que impactam mecanicamente o tecido.
Este estímulo mecânico provoca uma resposta biológica imediata: aumento da circulação sanguínea local e quebra de fibroses ou calcificações. Isso "acorda" o processo de cura do corpo em lesões que estavam estagnadas. É um procedimento realizado em consultório, sem necessidade de internação.
Reabilitação Motora e Exercícios

O repouso absoluto é prejudicial para tendões. O tendão precisa de carga controlada para alinhar suas fibras de colágeno. O plano de reabilitação, prescrito pelo médico e executado em conjunto com a equipe de reabilitação, envolve fases:
1. Fase de Proteção e Analgesia: Uso de laser, acupuntura médica e exercícios isométricos (contração sem movimento) para manter a força sem irritar o tendão.
2. Restauração da Mecânica: Correção da postura, exercícios para a escápula e fortalecimento progressivo do manguito rotador.
3. Exercícios Excêntricos e Funcionais: Considerados essenciais na fase de remodelagem (mecanotransdução). Envolvem o fortalecimento do músculo enquanto ele se alonga sob tensão. Isso gera um sinal biológico para que o tendão se torne mais forte e resistente.
Mitos e Verdades sobre Reabilitação
Mito: "Tenho que ficar com o braço na tipóia até passar a dor."
Verdade: A imobilização prolongada causa rigidez e atrofia, piorando o quadro. O movimento protegido deve começar cedo.
Mito: "Se dói no exercício, é porque está piorando."
Verdade: Algum desconforto tolerável durante o exercício de fortalecimento é aceitável e às vezes necessário para estimular o tendão, desde que monitorado.
A cirurgia é reservada para casos de ruptura traumática aguda em jovens ou quando o tratamento conservador bem executado falha após 3 a 6 meses. Na grande maioria dos casos, a abordagem integrativa não-cirúrgica é eficaz para devolver a função e eliminar a dor.
Sobre a Clínica Dr. Hong Jin Pai:
Somos referência em tratamento de dor e reabilitação em São Paulo. Nossa equipe, liderada por médicos do Grupo de Dor da USP, oferece uma abordagem multidisciplinar que integra Acupuntura Médica, Fisiatria, Ondas de Choque e terapias regenerativas em um único local, garantindo um cuidado completo para a recuperação do seu ombro.
Localização: Al. Jaú 687 - Jardim Paulista - São Paulo - SP.
Referências Bibliográficas:
Desjardins-Charbonneau A, Roy JS, Dionne CE, Frémont P, MacDermid JC, Desmeules F. 2015. The efficacy of manual therapy for rotator cuff tendinopathy: a systematic review and meta-analysis. J Orthop Sports Phys Ther. 45(5):330-50. doi: 10.2519/jospt.2015.5455
McCreesh KM, Purtill H,Donnelly AE, et al. 2017. Increased supraspinatus tendon thickness following fatigue loading in rotator cuff tendinopathy: potential implications for exercise therapy. BMJ Open Sport & Exercise Medicine. 3:e000279. doi:10.1136/bmjsem-2017-000279
Spargoli G. 2018. Supraspinatus Tendon Pathomechanics: A Current Concepts Review. Int J Sports Phys Ther. 13(6):1083-1094. doi: 10.26603/ijspt20181083















































